sábado, 14 de dezembro de 2024

Imigração e responsabilidade

 


Editorial

14 dezembro 2024 às 01:49

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Imigração e responsabilidade

 

Atrair e contratar os tão essenciais imigrantes para o mercado nacional não pode ser feito de outra forma que não seja a da responsabilidade de um Estado de Direito e do Estado Social de que nos orgulhamos. Como já escreveu neste jornal a especialista em Direitos Humanos nas Migrações, Ana Rita Gil, “ao erigir como princípio basilar da nossa República a dignidade da pessoa humana, Portugal fez um compromisso para com qualquer pessoa que se encontre no seu território de que não a deixará viver abaixo do limiar dessa mesma dignidade. Isso demanda várias responsabilidades para com todos os que aqui vivam, muitas delas de índole material”. Não é, por isso, de estranhar que o Governo esteja a procurar junto das entidades patronais de setores que tanto têm reclamado a necessidade de mão de obra que estas assumam também essa responsabilidade. Noticiou o Expresso na sexta-feira que o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, propôs  aos representantes das Confederações Empresarial, do Comércio de Serviços, dos Agricultores, do Turismo, da Construção e do Imobiliário, uma maior celeridade na concessão de vistos de trabalho para os seus trabalhadores imigrantes em troca de lhes ser garantida uma casa digna e formação profissional paga. Já se sabe que, possivelmente, só as grandes empresas poderão conseguir este compromisso, uma prática, aliás, que algumas delas já têm noutros países onde estão presentes.

 

Este desígnio é uma das 41 medidas previstas no Plano de Ação para as Migrações desenhado pelo executivo de Luís Montenegro apenas em dois meses depois da tomada de posse, para responder a uma herança muito pesada, como temos sempre aqui sublinhado, do Governo socialista, em matéria migratória.

 

“Instituir um sistema de atração de capital humano, recorrendo a um levantamento de necessidades que alinhe as carências atuais e futuras de mão de obra da economia nacional (com definição, a partir das empresas e seus representantes, de metas quantitativas para a atração)”, determina o Plano de Ação, estipulando que “as medidas que concedam incentivos aos empregadores devem incluir compromissos relativamente à integração digna dos imigrantes que aqueles acolhem (incluindo ao nível da habitação e formação profissional)”.

 

É assim que devia ter sempre sido. Teria evitado tanta desumanidade a que fomos assistindo em resultado de políticas que se baseavam nas “manifestações de interesse”, só vigentes em Portugal, que permitiam a entrada ilegal, sob exploração das máfias de tráfico de seres humanos e que, ainda assim, não resolveram o problema da falta de mão de obra para os setores que mais dela precisavam. Porque, simplesmente, não tinham as qualificações necessárias. Agora que as regras estão definidas e são conhecidas é preciso também criar as condições nos serviços diretamente envolvidos nestes processos. As redes consulares devem mesmo ver garantido o reforço de funcionários para poderem processar os novos pedidos; a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) deve ser dotar de recursos humanos e técnicos e as autoridades, coordenadas pelo Sistema de Segurança Interna (SSI), devem ter todas as condições e estatuto para fazerem o essencial filtro securitário e afastar quem não o cumpra. Portugal pode passar a ser uma referência no acolhimento e integração dos imigrantes. Basta que cada um cumpra o seu papel, sem preconceitos, sem extremismos e, principalmente, com noção da realidade e da nossa capacidade de manter a coesão nacional.

 

Diretora adjunta do Diário de Notícias

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