quarta-feira, 23 de agosto de 2023

“You want to be Esmigalhated in Sintra?” (IV)

 

Isabel Stilwell in Jornal de Negócios, 23 de agosto 2023

https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/isabel-stilwell/detalhe/you-want-to-be-esmigalhated--in-sintra-iv

 

“You want to be Esmigalhated in Sintra?”

(IV) 

 

É a quarta vez, desde 2014, que faço esta pergunta publicamente. Tragicamente, desta vez, a resposta é “sim”. Aconteceu na minha rua. 

 

 Temos de começar pelo princípio. O Esmigalhated I, foi publicado em 2014, quando sugeri que se tornasse no slogan de uma campanha de turismo para Sintra, já que a publicidade bonitinha, não passava de uma fraude. Qual lugar idílico para luas-de-mel ou fins-de-semana em contacto com a natureza, qual carapuça — na prática, os turistas deste lugar património da humanidade caminhavam em fila indiana, colados às paredes, em risco constante de apanharem com um carro em cima.

 

O Esmigalhated II, surgiu um ano e meio depois do presidente da Câmara, Basílio Horta, ter afirmado: “Ninguém nos perdoava se chegássemos ao Verão e não fizéssemos nada. Não podíamos conviver com o caos de trânsito que foi o ano passado”. Pois sim, mas em agosto de 2016, a situação estava ainda mais insuportável, e o risco para os visitantes crescera com a multiplicação desenfreada de tuc-tucs, que os abafavam com o ruído e a poluição dos seus motores, que ainda hoje não são obrigatoriamente elétricos.

 

Passou mais um ano, e como a função de um jornalista não é a de administrar absolvições, mas de acompanhar os assuntos, o Esmigalhated III saiu em Junho de 2017, quando o número de cinco milhões de visitantes anuais a Sintra já tinha sido largamente ultrapassado, mas mantinha-se o risco de ficarem esborrachados, atropelados, surdos e intoxicados, sem que estivesse implementado um verdadeiro plano de mobilidade. Desse texto constava uma denúncia nova: responsáveis pela segurança no centro histórico, bombeiros incluídos, confessavam-me que não sabiam o que aconteceria na eventualidade de um acidente grave ou de um incêndio em “hora de ponta”.

 

 Agora que, no dia 10 de agosto de 2023, vi as suas previsões tornarem-se realidade, e logo na minha rua, o Esmigalhated IV era também inevitável.

 

Os desastres com Tuk- Tuks têm-se sucedido, nesta Eurodisney sem Código da Estrada, mas é

diferente quando nos calha diretamente a nós, e assistimos ao desespero de uma família de turistas que precisa de socorro e a ambulância não chega... Quando escutamos a sirene tão perto que parece que está quase, quase, só para tomar consciência de que, claro!, ficou presa no engarrafamento ininterrupto, e que os automobilistas não lhe podem abrir alas, porque as bermas estão compactadas com carros mal-estacionados que, dia após dia, ninguém fiscaliza ou multa.

 

Enquanto isto, uma mãe e um filho que tiveram o inacreditável azar de serem literalmente esmigalhados por um pedregulho que, do nada, lhes caiu em cima, soltando-se de um dos muros que ladeiam o caminho, corriam o risco de se esvaírem em sangue, perante a impotência das duas filhas mais novas. Neste sítio que, em condições de circulação normais, está a cinco minutos do quartel dos bombeiros, mas que neste dia levou quatro vezes mais a percorrer.

 

Quando os paramédicos constataram que precisavam de uma segunda ambulância, tudo se repete, para angústia dos motoristas, para desespero da própria GNR, que apesar de estar a menos de um quilómetro de distância, chegou ao local depois, para se ver logo obrigada a deslindar o absoluto caos do trânsito entretanto criado, sobrando-lhe muito pouca disponibilidade para atender as duas crianças desamparadas.

 

Na manhã seguinte, a senhora saía de uma cirurgia para lhe salvar a perna e o pé, iniciando um longo processo de internamento com muitas outras operações previstas, aliviada, apesar de tudo, porque o filho, escapou apenas com pontos na cabeça. Aqui na rua, as pedras do longo muro continuam a ameaçar quem passa, porque “ainda não foi possível notificar o proprietário”, e o trânsito, o ruído e a poluição — e o risco! —continuam indiferentes a tudo. Dia após dia, semana após semana, Esmigalhated após Esmigalhated.

Dr. Basílio Horta, com todo o respeito, duvido que estas vítimas e as próximas lhe consigam perdoar.


Isabel Stilwell in Business Journal, 23 August 2023

https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/isabel-stilwell/detalhe/you-want-to-be-esmigalhated--in-sintra-iv

 

“You want to be Esmigalhated in Sintra?”

(IV) 

 

This is the fourth time since 2014 that I have asked this question publicly. Tragically, this time, the answer is "yes." It happened on my street. 

 

 We have to start at the beginning. The Esmigalhated I, was published in 2014, when I suggested that it become the slogan of a tourism campaign for Sintra, since the cute advertising, was nothing more than a fraud. What an idyllic place for honeymoons or weekends in contact with nature, what a carapuça — in practice, tourists from this world heritage site walked in Indian queues, glued to the walls, at constant risk of being caught with a car on top.

 

Esmigalhated II came a year and a half after the mayor, Basílio Horta, said: "No one would forgive us if we came to summer and did nothing. We couldn't live with the traffic chaos that was last year." Yes, but in August 2016, the situation was even more unbearable, and the risk to visitors had grown with the rampant multiplication of tuc-tucs, which drowned them out with the noise and pollution of their engines, which are still not necessarily electric.

 

Another year has passed, and since the function of a journalist is not to administer acquittals, but to follow the issues, Esmigalhated III came out in June 2017, when the number of five million annual visitors to Sintra had already been widely exceeded, but the risk of becoming rubbery, run over, deaf and intoxicated remained,  without a true mobility plan being implemented. That text contained a new complaint: those responsible for safety in the historic center, firefighters included, confessed to me that they did not know what would happen in the event of a serious accident or a fire at "rush hour."

 

 Now that, on August 10, 2023, I saw his predictions come true, and right on my street, Esmigalhated IV was also inevitable.

 

Tuk-Tuk disasters have been happening, in this Eurodisney without Highway Code, but it is

different when it comes directly to us, and we watch the desperation of a family of tourists who need help and the ambulance does not arrive... When we hear the siren so close that it seems like it is almost, almost, only to become aware that, of course!, it has been stuck in the uninterrupted traffic jam, and that motorists can not open wings, because the berms are compacted with poorly parked cars that, day after day, no one checks or fines.

 

Meanwhile, a mother and son who had the unbelievable misfortune of being literally crushed by a boulder that, out of nowhere, fell on top of them, breaking free from one of the walls that flank the path, were in danger of fading into blood, in the face of the impotence of the two youngest daughters. In this place that, under normal traffic conditions, is five minutes from the fire station, but that on this day took four times more to travel.

 

When the paramedics found that they needed a second ambulance, everything is repeated, to the anguish of the drivers, to the despair of the GNR itself, which despite being less than a kilometer away, arrived at the scene later, to be soon forced to unravel the absolute chaos of the traffic meanwhile created, leaving it very little availability to meet the two helpless children.

 

The next morning, the lady came out of surgery to save her leg and foot, beginning a long process of hospitalization with many other operations planned, relieved, despite everything, because her son escaped only with stitches on his head. Here on the street, the stones of the long wall continue to threaten passers-by, because "it has not yet been possible to notify the owner," and traffic, noise and pollution — and the risk! —remain indifferent to everything. Day after day, week after week, Esmigalhated after Esmigalhated.

Dr. Basilio Horta, with all due respect, I doubt that these victims and the next ones will be able to forgive him.


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