REPORTAGEM
CORONAVÍRUS
Muitas dúvidas e esplanadas sob grande pressão no
primeiro dia com novas regras nos restaurantes
No Grande Porto, os clientes optaram, este sábado, por
ficar nas esplanadas. Longas filas de espera, aglomerados de pessoas à entrada
dos restaurantes e muito tempo para validar certificados digitais covid-19.
Daniela Carmo
(texto) e Paulo Pimenta (fotografia)
10 de Julho de
2021, 23:22
Ao percorrer as
ruas da Baixa do Porto, o cenário é idêntico um pouco por toda a parte:
esplanadas cheias, filas à entrada e o interior dos restaurantes pouco ou nada
preenchido. Este sábado é o dia em que entra em vigor a medida de
obrigatoriedade de apresentação de certificado digital covid-19 ou de um
teste com resultado negativo ao SARS-CoV-2 nos concelhos de risco,
anunciada pelo Governo na quinta-feira. O PÚBLICO visitou quatro restaurantes,
três no Porto e um em Matosinhos, e o balanço é negativo para todos os
comerciantes, como dizem.
No Café Santiago,
na Baixa portuense, conhecido pela especialidade nas francesinhas, encontrámos
a esplanada cheia. Rui Pereira, proprietário e gerente, começa por lamentar o
tempo perdido para a validação dos certificados digitais, “que, por si só, são
poucos”. “As pessoas não têm certificados válidos, outros têm só uma dose da
vacina [contra a covid-19] e temos também pessoas que estão a fazer os testes
rápidos, mas que não sabem muito bem onde os hão-de fazer, se cá dentro ou lá
fora”, explica.
Por ali, o
cenário deste primeiro dia de trabalho com novas regras já levou a gerência a
decidir que este domingo não vão abrir portas. “Já optámos por fechar no
domingo porque não conseguimos aguentar esta pressão do público à entrada,
algumas pessoas insistem até em entrar sem terem um certificado válido”,
lamenta.
Já a terminar a
refeição, encontrámos Lídia (54 anos), Manuela (51 anos) e Fátima (53 anos) na
esplanada. Apesar de duas das três amigas já terem o certificado digital
covid-19 optaram por ficar no exterior porque, como dizem, se sentem mais
seguras do que no interior dos restaurantes.
“Tenho só uma
dose da vacina ainda, por isso, tive mesmo que ficar cá fora. De qualquer
forma, também me sinto mais segura do que lá dentro”, explica Manuela. Para
Lídia a exigência de apresentar o certificado ou um teste negativo é “injusta
para quem ainda não tomou a vacina porque não pôde, como os jovens que ainda
não têm o certificado digital que estão a ser penalizados”.
Mais abaixo, a
meio caminho entre a Praça do Poveiros, onde nos encontramos, e a Praça da
Batalha, no restaurante éLeBê Baixa há apenas meia dúzia de clientes a jantar.
Como não existe esplanada, quem não vem precavido com o certificado digital é
obrigado a fazer um teste rápido à entrada.
Marlene Maia,
funcionária, fala numa quebra na facturação superior a 90%. “Num fim-de-semana
que costumamos ter 50 ou 60 jantares, hoje temos seis”, lamenta. “Acho que é
muito limitador, vai mexer muito com as nossas facturações, com o nosso
trabalho e é mais um acréscimo a todos os outros que temos tido com a
pandemia”.
Já na Praça da
Batalha, quem chega à Cervejaria Gazela pergunta por mesa e a resposta vem
rápida: “Cá fora ou dentro? Dentro tem de ter certificado”. A maioria opta pelo
exterior e as filas começam a formar-se. O cenário agrava-se e, com o passar
das horas, onde antes existia nem uma dezena de pessoas, agora estão
dezenas.
“Querem que
façamos de polícia ou de enfermeiros ao obrigar a pedir às pessoas o teste e
algumas ainda não estão bem informadas, há até quem leve a mal. Tem sido um
problema para controlar”, refere Américo Pinto, proprietário do
estabelecimento.
Já no Restaurante
Bar Bermelho, José Moreira, proprietário, optou por fechar a sala interior a
partir das 15h30 deste sábado, passando a funcionar apenas com a
esplanada. “Não somos nenhuma autoridade para estarmos a fazer testes aos
clientes. A medida não tem sentido e é completamente descabida”, lamenta,
notando que há muitas pessoas que chegam e acabam por ir embora por não terem
espaço para se sentarem, “as filas são enormes”.
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