Pré-publicação: Os jogos obscuros
dos partidos
Uma dentadura para comprar votos.
Urnas roubadas. Militantes inventados. Como Passos Coelho distribuiu lugares.
Como António Costa deu emprego a amigos. Vítor Matos, jornalista da SÁBADO,
desvenda algumas histórias do seu novo livro Os Predadores, que chega às
livrarias a 10 de Setembro
08:03 • SÁBADO
Orlando Gaspar,
velha raposa do PS/Porto, observou a rapariga num evento do partido. Era
namorada de um cacique de bairro que ia empenhar todo o seu sindicato de votos
no apoio a um rival. Ficou admirado com o que viu, mas o seu instinto disse-lhe
que era uma oportunidade. A rapariga estava desdentada. "Que é
isso?", perguntou. Ela respondeu que não tinha dinheiro para arranjar os
dentes. Estávamos em 2003. Orlando Gaspar liderara a concelhia dos socialistas
portuenses durante 15 anos e comandava agora a campanha de Nuno Cardoso –
ex-presidente da Câmara – para lhe suceder, contra o ex-vereador José Luís
Catarino. Nunca tinha perdido uma eleição interna. Não era agora que ia ser
derrotado. Fez os seus contactos. E a amante do dirigente recebeu uma dentadura
nova. Os votos mudaram de sentido. Nuno Cardoso ganhou a José Luís Catarino
naquela secção. E conquistou a concelhia socialista do Porto.
Estas moedas de
troca existem, segundo o livro Os Predadores, do jornalista da SÁBADO Vítor
Matos, sobre o funcionamento interno dos partidos políticos, que é lançado esta
semana. Pode ser assim, com mais ou menos bizarrias, que as eleições internas
se decidem nos maiores partidos. É através de pequenas ou grandes vigarices,
truques, manipulações e chapeladas, ou compra de apoios com cargos, que uma
parte da classe política nos dois maiores partidos vai subindo na pirâmide
partidária.
Para quem quiser
ascender na política através do PS e do PSD, o que conta são as disputas
internas: "O Poder nos partidos é conquistado a partir do seu interior,
contra os companheiros ou contra os camaradas. As disputas com os rivais de
outros partidos acabam por ser quase secundárias. O que interessa é garantir o
controlo das estruturas", explica Carlos Reis, o social-democrata que mais
tempo dirigiu a JSD/Lisboa e que presidiu ao PSD da Amadora. "Se ganhamos
umas eleições passamos a ganhar todas as eleições seguintes. Quem fica na
oposição interna não tem meios nem capacidade para o fazer". E é o domínio
das estruturas que dá acesso aos cargos electivos e de nomeação.
Apesar das
promessas em sentido contrário e mesmo com a criação da CRESAP, o aparelho do
PSD (e do CDS) enxameou os lugares no Estado. No caso de António Costa, a rede
de empregos na câmara de Lisboa é extensa, incluindo lugares dados a familiares
de dirigentes do PS.
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