quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Pré-publicação: Os jogos obscuros dos partidos / SÁBADO.


Pré-publicação: Os jogos obscuros dos partidos
Uma dentadura para comprar votos. Urnas roubadas. Militantes inventados. Como Passos Coelho distribuiu lugares. Como António Costa deu emprego a amigos. Vítor Matos, jornalista da SÁBADO, desvenda algumas histórias do seu novo livro Os Predadores, que chega às livrarias a 10 de Setembro
08:03 • SÁBADO

Orlando Gaspar, velha raposa do PS/Porto, observou a rapariga num evento do partido. Era namorada de um cacique de bairro que ia empenhar todo o seu sindicato de votos no apoio a um rival. Ficou admirado com o que viu, mas o seu instinto disse-lhe que era uma oportunidade. A rapariga estava desdentada. "Que é isso?", perguntou. Ela respondeu que não tinha dinheiro para arranjar os dentes. Estávamos em 2003. Orlando Gaspar liderara a concelhia dos socialistas portuenses durante 15 anos e comandava agora a campanha de Nuno Cardoso – ex-presidente da Câmara – para lhe suceder, contra o ex-vereador José Luís Catarino. Nunca tinha perdido uma eleição interna. Não era agora que ia ser derrotado. Fez os seus contactos. E a amante do dirigente recebeu uma dentadura nova. Os votos mudaram de sentido. Nuno Cardoso ganhou a José Luís Catarino naquela secção. E conquistou a concelhia socialista do Porto.

Estas moedas de troca existem, segundo o livro Os Predadores, do jornalista da SÁBADO Vítor Matos, sobre o funcionamento interno dos partidos políticos, que é lançado esta semana. Pode ser assim, com mais ou menos bizarrias, que as eleições internas se decidem nos maiores partidos. É através de pequenas ou grandes vigarices, truques, manipulações e chapeladas, ou compra de apoios com cargos, que uma parte da classe política nos dois maiores partidos vai subindo na pirâmide partidária.

Para quem quiser ascender na política através do PS e do PSD, o que conta são as disputas internas: "O Poder nos partidos é conquistado a partir do seu interior, contra os companheiros ou contra os camaradas. As disputas com os rivais de outros partidos acabam por ser quase secundárias. O que interessa é garantir o controlo das estruturas", explica Carlos Reis, o social-democrata que mais tempo dirigiu a JSD/Lisboa e que presidiu ao PSD da Amadora. "Se ganhamos umas eleições passamos a ganhar todas as eleições seguintes. Quem fica na oposição interna não tem meios nem capacidade para o fazer". E é o domínio das estruturas que dá acesso aos cargos electivos e de nomeação.


Apesar das promessas em sentido contrário e mesmo com a criação da CRESAP, o aparelho do PSD (e do CDS) enxameou os lugares no Estado. No caso de António Costa, a rede de empregos na câmara de Lisboa é extensa, incluindo lugares dados a familiares de dirigentes do PS.

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