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updated: June 24, 2014 5:28 pm
By Giulia
Segreti and Guy Dinmore in Rome
/ http://www.ft.com/intl/cms/s/0/dbc4b624-fb80-11e3-9a03-00144feab7de.html#axzz36g1WOgOq
The EU has
to change course and stop behaving like an “old boring aunt”, Matteo
Renzi , Italy ’s
centre-left prime minister, has told parliament in Rome , warning “conservatives” and Jean-Claude
Juncker that economic policies have to focus on growth.
Enjoying
his status as leader of the party that won the most votes in last month’s
European Parliament elections, Mr Renzi set out his vision for the EU in a
speech lasting nearly an hour. It was replete with colourful metaphors but
short on specifics.
“Those who
imagine that the gap in Europe is filled with the nomination of Juncker are
living on Mars,” said Mr Renzi, seemingly reaffirming Italy ’s support for the former Luxembourg prime minister as the
next head of the European Commission, while warning a new direction is needed.
“A technocratic cut and paste” was not enough to heal the wounds in Europe ’s institutions, he said.
Reinforcing
his call for a new direction from Brussels ,
Mr Renzi urged Herman Van Rompuy, the European Council president mediating in
the dispute over top positions, to ensure that the next president of the commission
be a “catalyst for change”.
“The European
elections showed a widespread and still unanswered demand for change. The
choice is ours. We can turn a blind eye and let this demand turn sour, fuelling
anti-European, even xenophobic sentiment. Or we can address the underlying
needs,” Mr Renzi said in a letter to Mr Van Rompuy.
Mr Renzi
made clear that fiscal flexibility, jobs, growth and immigration would be his
priorities when Italy
takes over the rotating six-month presidency of the EU next week. Italy would keep to its 3 per cent deficit limit
set by Brussels ,
Mr Renzi said, and made clear the rules of the stability pact were not up for
discussion.
But he said
there were “different ways” of dealing with these rules, hinting at Italy ’s demands for more flexibility – a theme
dominating Italy ’s
front pages. He railed against what he called the “shopping list” of
recommendations set by the commission, which he compared with “an old boring
aunt telling us what to do”.
But any
hope of substantially reducing its debt-to-GDP ratio, which is about 136 per
cent and the second-highest in the eurozone after Greece ,
depends on an economic recovery that is still eluding Italy , which
has posted only one quarter of marginal growth in nearly three years.
The head of
Germany ’s
central bank on Tuesday attacked the push by European centre-left leaders, led
by Mr Renzi, to loosen the EU’s budget deficit rules.
Jens
Weidmann, Bundesbank president, told the Süddeutsche Zeitung daily that the
rules, introduced at the height of the eurozone’s sovereign debt crisis, needed
to be strengthened rather than weakened.
“The fiscal
rules have not, under any stretch of the imagination, proven to be particularly
tough,” he said, adding that it was “sobering” that the waning of market
pressure on member states to reform their economies had so quickly been
followed by a chorus of political voices calling for the rules to be relaxed.
Mr Weidmann
hit out at the “particularly loud” calls for reform emanating from Paris , where French
president François Hollande backs Mr Renzi’s push.
“There the
deficit has exceeded 3 per cent in nine out of the 15 years since monetary
union was established,” Mr Weidmann said. “This is anything but an ‘austerity
diktat’.”
Additional
reporting by Claire Jones
OPINIÃO
Notícias da velha tia chata
EDUARDO PAZ
FERREIRA 06/07/2014 - PÚBLICO
A ideia de que a
Europa é uma velha tia chata, que mais não faz do que ameaçar-nos com uma lista
de tarefas, não é, como todos sabem, uma expressão minha, mas retive-a, com
muito prazer, da intervenção do actual primeiro-ministro italiano, Matteo
Renzi, no Senado do seu país.
Renzi utiliza,
aliás, uma linguagem metafórica exuberantemente sedutora e a sua primeira
intervenção perante o Parlamento Europeu, pela inteligência, cultura, firmeza e
percepção da globalidade dos problemas, ficará como uma data marcante num
auditório habituado a discursos cinzentos ou insultos grosseiros.
São ainda muito
débeis os sinais de que a velha tia chata pode fazer com que reencontremos o
amor de família e a saibamos perdoar e com ela viver e ser felizes. A simples
ideia de que alguns dos seus mais fiéis capatazes, como Olli Rehn (o Rehn do
terror de Krugman), vão procurar outro emprego dá espaço para um suspiro de
alívio, embalado na esperança de que o seu substituto finlandês não venha a
assumir o mesmo pelouro. Permito-me até sugerir à tia que, na impossibilidade
de o manter como comissário sem pasta, o coloque na Administração ou no dos
Assuntos Internos.
A primeira
notícia interessante da velha tia chata veio do Conselho Europeu de 27-28 de
Julho – finalmente um que ficará para a história, como Bruxelas sempre
considera que acontece com as mais abstrusas reuniões –, porque esta assinala a
admissão de que é o Parlamento Europeu que escolhe o presidente da Comissão e
que, depois, o confirmará, bem como aos restantes membros da sua equipa.
Para a história
ficará, também, o final dos consensos sempre proclamados a propósito de todas
as grandes decisões, numa prática muito pouco democrática. Cameron opôs-se à
eleição e saiu derrotado na má companhia do primeiro-ministro húngaro, que, se
a velha tia se recordasse das regras relativas aos princípios do Estado de
direito, muito provavelmente não estaria naquela sala.
Aqui chegado e
fazendo questão de, enquanto cidadão europeu, reconhecer toda a legitimidade a
Juncker para exercer o cargo, na medida em que foi o candidato do partido mais
votado, não tenho muitas ilusões sobre o que se poderá esperar do novo
presidente e da sua capacidade para humanizar a tia.
Com respeito,
lembro que, quando, dez anos atrás, Juncker foi convidado para o cargo, se
escusou, afirmando que tinha que cumprir o mandato que assumira como
primeiro-ministro do seu país, mas essa imagem é facilmente obnubilada pela
forma como exerceu o cargo de presidente do Eurogrupo, cúmplice e protagonista
das políticas de austeridade que foram estruturando o carácter da velha tia.
Sobre Portugal,
lembrava-me de ter ouvido Juncker confessar que fora opositor à ditadura na sua
juventude a até partira vidros do consulado português no Luxemburgo, mas,
infelizmente, numa recente acção de campanha em Portugal, ouvi-o proclamar algo
que não resisto a recordar aos mais distraídos e que não há vidros partidos que
possam apagar. A propósito dos socialistas portugueses, ofereceu esta pérola: "Não
acreditem nos socialistas. Eles lembram-me um dos vossos compatriotas mais
prestigiados: Cristóvão Colombo. Quando partia, nunca sabia para onde ia;
quando chegava, nunca sabia onde estava – e era o contribuinte que pagava a
viagem. É desta forma que procedem os socialistas dos nossos dias".
Mesmo admitindo
que a súbita adesão à teoria dos amigos de Cuba (Alentejo) sobre a
nacionalidade de Colombo mais não representou que um excesso de eleitoralismo,
a desvalorização da descoberta dos Estados Unidos é verdadeiramente
desconcertante. O eurocentrismo em todo o seu esplendor? Enfim…
Mas este é um
assunto que já deu matéria para uma primorosa crónica de Ricardo Araújo Pereira
e, por isso, retomemos os débeis sinais de mudança da velha tia chata, que
nenhum de nós gosta de ver fazer estas figuras públicas e ainda menos quer que
venha a falecer por recusa de medicação, ou por insistência nos tratamentos
medievais de extracção do sangue dos familiares, como alguns dos seus mais
maçadores amigos, como Von Rompuy, lhe sugerem, no desenho que apresentaram ao
último Conselho Europeu.
Ainda assim,
eternos optimistas, conseguimos vislumbrar alguns sinais nas Conclusões que
mostram que um dos seus mais irrequietos sobrinhos, Matteo Renzi, capaz de uma
grande politesse, após uma cuidadosa conversa com a zelosa governanta alemã,
logrou obter da tia umas vagas – mas, apesar de tudo, mais avançadas –,
promessas quanto ao crescimento e à flexibilização do diktat financeiro com que
dá cabo das nossas vidas. É pouco, claro está, mas esperemos que seja um
começo.
Preferimos,
aliás, ignorar as espertezas e manhas com que esperam reconduzir o tresmalhado
sobrinho Cameron ao redil, acenando-lhe com um não-aprofundamento da
integração, na esperança de que na Inglaterra, como em Portugal, com papas e
bolos se enganem os tolos.
Mas, aqui
chegados, não será legitimo deduzir que a velha tia é uma fiel leitora de
Tomaso de Lampedusa ou pelo menos que o absorveu através do extraordinário Burt
Lancaster no belíssimo Leopardo e que o que está a fazer é mudar o acessório
para assegurar que nada mude?
Essa é uma
interpretação mais do que legítima, mas que se confronta com algumas
dificuldades. A governanta, na sua fixação nas finanças sãs, semelhante a
qualquer coisa que já conhecemos por cá, tem um bom pé-de-meia arrecadado, mas
não dá sinais de querer qualquer forma de cooperação com os primos. E alguns
estão mesmo nas lonas e outros totalmente fartos e atrevem-se a explicar à tia
certas coisas que nós também sabemos, mas a que temos medo de nos referirmos
sequer.
E é aí que surge
o primo Renzi – de quem não sabemos qual será o futuro, porque definitivamente
Hollande nos deixou numa condição de gatos totalmente escaldados –, que resolve
ir ao Parlamento e alegrar-nos a nós e seguramente a Nanni Moretti, fazendo-nos
esquecer os sucessivos D’Alema da esquerda italiana.
E com intenso
júbilo ouvimos Renzi recordar as grandes raízes grega e italiana da cultura
europeia, congratulando-se por suceder à Grécia na presidência do semestre, em
vez de a esconjurar como um primo leproso, dizendo que somos uma comunidade
(família, tia?) em vez de uma expressão geográfica.
Na
impossibilidade de seguir tudo o que de inteligente e motivador disse Renzi,
aqui fica uma breve passagem: “Não creio que possamos desvalorizar a questão
financeira (....), mas a Itália defende que o grande desafio do semestre não é
só marcar reuniões (...), mas que o grande desafio é reencontrar a alma da
Europa. O sentido profundo da nossa vida comum. Se se trata só de unir
burocracias, chega-nos a nossa e com ela avançaremos. Há uma identidade comum a
reencontrar”.
Mas, tia,
permita-me que lhe lembre, sobretudo, um alerta muito particular de Renzi: é
que ele próprio ainda não era maior quando foi assinado Maastricht, como sucede
com tantos europeus para os quais usou a bela expressão "geração Telémaco"
(o filho de Ulisses, que aguardou 20 anos o regresso do pai) e que esta geração
não vê “... o fruto dos nossos pais como um dado permanente, mas como uma
conquista que é preciso renovar todos os dias, sabendo que não é simplesmente
na moeda que está na nossa algibeira que reside o nosso destino: é no termos o
direito de nos chamarmos herdeiros e de assegurar um futuro a esta tradição. Devemo-lo
aos que morreram no decurso dos séculos para que a Europa não fosse apenas uma
expressão geográfica, mas uma expressão de ânimo”.
Tia: são já os
seus sobrinhos-netos que a interpelam. É preciso que saibamos dar-lhes uma
resposta e não enfadá-los ou conduzi-los à ira, porque os dias da ira não são
os dias da Europa.
Presidente do
Instituto Europeu da FDUL e catedrático Jean Monnet
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