domingo, 6 de julho de 2014

Italy’s Matteo Renzi likens EU to ‘old boring aunt’ / Financial Times . Notícias da velha tia chata / Público




Last updated: June 24, 2014 5:28 pm
Italy’s Matteo Renzi likens EU to ‘old boring aunt’

The EU has to change course and stop behaving like an “old boring aunt”, Matteo Renzi, Italy’s centre-left prime minister, has told parliament in Rome, warning “conservatives” and Jean-Claude Juncker that economic policies have to focus on growth.
Enjoying his status as leader of the party that won the most votes in last month’s European Parliament elections, Mr Renzi set out his vision for the EU in a speech lasting nearly an hour. It was replete with colourful metaphors but short on specifics.
“Those who imagine that the gap in Europe is filled with the nomination of Juncker are living on Mars,” said Mr Renzi, seemingly reaffirming Italy’s support for the former Luxembourg prime minister as the next head of the European Commission, while warning a new direction is needed. “A technocratic cut and paste” was not enough to heal the wounds in Europe’s institutions, he said.
Italy’s Democratic party won a landslide victory on a programme of pro-European reforms that established Mr Renzi as a leading voice among centre-left leaders on the international stage and strengthened his hand in demanding that Germany accept more “flexibility” in EU fiscal rules. It also gave the former mayor of Florence the legitimacy he lacked at home after being elevated unelected to prime minister through a party coup.
Reinforcing his call for a new direction from Brussels, Mr Renzi urged Herman Van Rompuy, the European Council president mediating in the dispute over top positions, to ensure that the next president of the commission be a “catalyst for change”.
“The European elections showed a widespread and still unanswered demand for change. The choice is ours. We can turn a blind eye and let this demand turn sour, fuelling anti-European, even xenophobic sentiment. Or we can address the underlying needs,” Mr Renzi said in a letter to Mr Van Rompuy.
Mr Renzi made clear that fiscal flexibility, jobs, growth and immigration would be his priorities when Italy takes over the rotating six-month presidency of the EU next week. Italy would keep to its 3 per cent deficit limit set by Brussels, Mr Renzi said, and made clear the rules of the stability pact were not up for discussion.
But he said there were “different ways” of dealing with these rules, hinting at Italy’s demands for more flexibility – a theme dominating Italy’s front pages. He railed against what he called the “shopping list” of recommendations set by the commission, which he compared with “an old boring aunt telling us what to do”.
But any hope of substantially reducing its debt-to-GDP ratio, which is about 136 per cent and the second-highest in the eurozone after Greece, depends on an economic recovery that is still eluding Italy, which has posted only one quarter of marginal growth in nearly three years.
The head of Germany’s central bank on Tuesday attacked the push by European centre-left leaders, led by Mr Renzi, to loosen the EU’s budget deficit rules.
Jens Weidmann, Bundesbank president, told the Süddeutsche Zeitung daily that the rules, introduced at the height of the eurozone’s sovereign debt crisis, needed to be strengthened rather than weakened.
“The fiscal rules have not, under any stretch of the imagination, proven to be particularly tough,” he said, adding that it was “sobering” that the waning of market pressure on member states to reform their economies had so quickly been followed by a chorus of political voices calling for the rules to be relaxed.
Mr Weidmann hit out at the “particularly loud” calls for reform emanating from Paris, where French president François Hollande backs Mr Renzi’s push.
“There the deficit has exceeded 3 per cent in nine out of the 15 years since monetary union was established,” Mr Weidmann said. “This is anything but an ‘austerity diktat’.”

Additional reporting by Claire Jones

OPINIÃO
Notícias da velha tia chata
EDUARDO PAZ FERREIRA 06/07/2014 - PÚBLICO

A ideia de que a Europa é uma velha tia chata, que mais não faz do que ameaçar-nos com uma lista de tarefas, não é, como todos sabem, uma expressão minha, mas retive-a, com muito prazer, da intervenção do actual primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, no Senado do seu país.

Renzi utiliza, aliás, uma linguagem metafórica exuberantemente sedutora e a sua primeira intervenção perante o Parlamento Europeu, pela inteligência, cultura, firmeza e percepção da globalidade dos problemas, ficará como uma data marcante num auditório habituado a discursos cinzentos ou insultos grosseiros.

São ainda muito débeis os sinais de que a velha tia chata pode fazer com que reencontremos o amor de família e a saibamos perdoar e com ela viver e ser felizes. A simples ideia de que alguns dos seus mais fiéis capatazes, como Olli Rehn (o Rehn do terror de Krugman), vão procurar outro emprego dá espaço para um suspiro de alívio, embalado na esperança de que o seu substituto finlandês não venha a assumir o mesmo pelouro. Permito-me até sugerir à tia que, na impossibilidade de o manter como comissário sem pasta, o coloque na Administração ou no dos Assuntos Internos.

A primeira notícia interessante da velha tia chata veio do Conselho Europeu de 27-28 de Julho – finalmente um que ficará para a história, como Bruxelas sempre considera que acontece com as mais abstrusas reuniões –, porque esta assinala a admissão de que é o Parlamento Europeu que escolhe o presidente da Comissão e que, depois, o confirmará, bem como aos restantes membros da sua equipa.

Para a história ficará, também, o final dos consensos sempre proclamados a propósito de todas as grandes decisões, numa prática muito pouco democrática. Cameron opôs-se à eleição e saiu derrotado na má companhia do primeiro-ministro húngaro, que, se a velha tia se recordasse das regras relativas aos princípios do Estado de direito, muito provavelmente não estaria naquela sala.

Aqui chegado e fazendo questão de, enquanto cidadão europeu, reconhecer toda a legitimidade a Juncker para exercer o cargo, na medida em que foi o candidato do partido mais votado, não tenho muitas ilusões sobre o que se poderá esperar do novo presidente e da sua capacidade para humanizar a tia.

Com respeito, lembro que, quando, dez anos atrás, Juncker foi convidado para o cargo, se escusou, afirmando que tinha que cumprir o mandato que assumira como primeiro-ministro do seu país, mas essa imagem é facilmente obnubilada pela forma como exerceu o cargo de presidente do Eurogrupo, cúmplice e protagonista das políticas de austeridade que foram estruturando o carácter da velha tia.

Sobre Portugal, lembrava-me de ter ouvido Juncker confessar que fora opositor à ditadura na sua juventude a até partira vidros do consulado português no Luxemburgo, mas, infelizmente, numa recente acção de campanha em Portugal, ouvi-o proclamar algo que não resisto a recordar aos mais distraídos e que não há vidros partidos que possam apagar. A propósito dos socialistas portugueses, ofereceu esta pérola: "Não acreditem nos socialistas. Eles lembram-me um dos vossos compatriotas mais prestigiados: Cristóvão Colombo. Quando partia, nunca sabia para onde ia; quando chegava, nunca sabia onde estava – e era o contribuinte que pagava a viagem. É desta forma que procedem os socialistas dos nossos dias".

Mesmo admitindo que a súbita adesão à teoria dos amigos de Cuba (Alentejo) sobre a nacionalidade de Colombo mais não representou que um excesso de eleitoralismo, a desvalorização da descoberta dos Estados Unidos é verdadeiramente desconcertante. O eurocentrismo em todo o seu esplendor? Enfim…

Mas este é um assunto que já deu matéria para uma primorosa crónica de Ricardo Araújo Pereira e, por isso, retomemos os débeis sinais de mudança da velha tia chata, que nenhum de nós gosta de ver fazer estas figuras públicas e ainda menos quer que venha a falecer por recusa de medicação, ou por insistência nos tratamentos medievais de extracção do sangue dos familiares, como alguns dos seus mais maçadores amigos, como Von Rompuy, lhe sugerem, no desenho que apresentaram ao último Conselho Europeu.

Ainda assim, eternos optimistas, conseguimos vislumbrar alguns sinais nas Conclusões que mostram que um dos seus mais irrequietos sobrinhos, Matteo Renzi, capaz de uma grande politesse, após uma cuidadosa conversa com a zelosa governanta alemã, logrou obter da tia umas vagas – mas, apesar de tudo, mais avançadas –, promessas quanto ao crescimento e à flexibilização do diktat financeiro com que dá cabo das nossas vidas. É pouco, claro está, mas esperemos que seja um começo.

Preferimos, aliás, ignorar as espertezas e manhas com que esperam reconduzir o tresmalhado sobrinho Cameron ao redil, acenando-lhe com um não-aprofundamento da integração, na esperança de que na Inglaterra, como em Portugal, com papas e bolos se enganem os tolos.

Mas, aqui chegados, não será legitimo deduzir que a velha tia é uma fiel leitora de Tomaso de Lampedusa ou pelo menos que o absorveu através do extraordinário Burt Lancaster no belíssimo Leopardo e que o que está a fazer é mudar o acessório para assegurar que nada mude?

Essa é uma interpretação mais do que legítima, mas que se confronta com algumas dificuldades. A governanta, na sua fixação nas finanças sãs, semelhante a qualquer coisa que já conhecemos por cá, tem um bom pé-de-meia arrecadado, mas não dá sinais de querer qualquer forma de cooperação com os primos. E alguns estão mesmo nas lonas e outros totalmente fartos e atrevem-se a explicar à tia certas coisas que nós também sabemos, mas a que temos medo de nos referirmos sequer.

E é aí que surge o primo Renzi – de quem não sabemos qual será o futuro, porque definitivamente Hollande nos deixou numa condição de gatos totalmente escaldados –, que resolve ir ao Parlamento e alegrar-nos a nós e seguramente a Nanni Moretti, fazendo-nos esquecer os sucessivos D’Alema da esquerda italiana.

E com intenso júbilo ouvimos Renzi recordar as grandes raízes grega e italiana da cultura europeia, congratulando-se por suceder à Grécia na presidência do semestre, em vez de a esconjurar como um primo leproso, dizendo que somos uma comunidade (família, tia?) em vez de uma expressão geográfica.

Na impossibilidade de seguir tudo o que de inteligente e motivador disse Renzi, aqui fica uma breve passagem: “Não creio que possamos desvalorizar a questão financeira (....), mas a Itália defende que o grande desafio do semestre não é só marcar reuniões (...), mas que o grande desafio é reencontrar a alma da Europa. O sentido profundo da nossa vida comum. Se se trata só de unir burocracias, chega-nos a nossa e com ela avançaremos. Há uma identidade comum a reencontrar”.

Mas, tia, permita-me que lhe lembre, sobretudo, um alerta muito particular de Renzi: é que ele próprio ainda não era maior quando foi assinado Maastricht, como sucede com tantos europeus para os quais usou a bela expressão "geração Telémaco" (o filho de Ulisses, que aguardou 20 anos o regresso do pai) e que esta geração não vê “... o fruto dos nossos pais como um dado permanente, mas como uma conquista que é preciso renovar todos os dias, sabendo que não é simplesmente na moeda que está na nossa algibeira que reside o nosso destino: é no termos o direito de nos chamarmos herdeiros e de assegurar um futuro a esta tradição. Devemo-lo aos que morreram no decurso dos séculos para que a Europa não fosse apenas uma expressão geográfica, mas uma expressão de ânimo”.

Tia: são já os seus sobrinhos-netos que a interpelam. É preciso que saibamos dar-lhes uma resposta e não enfadá-los ou conduzi-los à ira, porque os dias da ira não são os dias da Europa.

Presidente do Instituto Europeu da FDUL e catedrático Jean Monnet

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