Caso Miró “não correu bem” mas obras vão ser vendidas
na mesma, diz Passos Coelho
As obras vão voltar para
Portugal e será feito um novo procedimento de alienação, afirmou esta tarde o
primeiro-ministro. O MNE nega que os 85 Miró tenham sido expedidos para Londres
por mala diplomática.
CLÁUDIA CARVALHO 05/02/2014 – in Público
O Governo não tem dúvidas de que as 85 obras de Joan Miró
vão ser vendidas. Não o foram esta semana, como previsto, depois de a
Christie’s ter cancelado o leilão que deveria decorrer terça e quarta-feira em
Londres, mas vão sê-lo no futuro, garantiu esta tarde o primeiro-ministro. Para
Pedro Passos Coelho, não se pode “desviar as atenções do país para um caso que
vale o que vale”.
À semelhança do que já ontem Francisco Nogueira Leite,
presidente do conselho de administração da Parvalorem e Parups (sociedades
criadas no âmbito do Ministério das Finanças para recuperar créditos do BPN e
assim proprietárias das obras) tinha feito, Pedro Passos Coelho responsabiliza
a Christie’s, explicando que no contrato celebrado com a leiloeira ficou
acordado que seria esta a “tratar de tudo”. “É um contrato chave na mão, está
muito claro e bem identificado”, disse o primeiro-ministro aos jornalistas à
saída da apresentação das comissões constituídas no âmbito da abertura do
debate sobre a revisão do sistema de promoção e protecção das crianças e jovens
em perigo e do regime jurídico da adopção.
Em comunicado, Nogueira Leite já tinha defendido que ficou
contratualizado com a Christie’s que esta trataria de todas as diligências a
que o leilão obriga. Isto significa que teria de ser a leiloeira a “requerer e
obter todas as licenças e autorizações necessárias para dar exequibilidade
zelosa e cabal a todos os serviços contratados, nomeadamente, no que diz respeito
à exportação para venda, embalagem, recolha, transporte, depósito, exposição,
leilão, venda e entrega das obras de arte ao respectivo comprador”. Não
suportando a Parvalorem e a Parups qualquer encargo, esclareceu o responsável
no mesmo comunicado enviado terça-feira ao final do dia, rejeitando qualquer
ilegalidade no processo.
No entanto, no despacho que o Tribunal Administrativo do
Círculo de Lisboa considerou ilegal, o secretário de Estado da Cultura Jorge
Barreto Xavier declara “extintos os procedimentos relativos aos pedidos
apresentados por Parvalorem e Parups de expedição temporária para o Reino
Unido, para eventual venda das 85 obras da autoria de Joan Miró”, atribuindo-se
às sociedades gestoras esse acto. O despacho, datado de 31 de Janeiro, foi
considerado ilegal pela juíza Guida Jorge uma vez que nesta data as obras já se
encontravam em Londres há vários dias.
Também no documento enviado segunda-feira ao Parlamento pela
então directora-geral do Património Cultural, Isabel Cordeiro, esta detalha que
já na última semana de Novembro - quando o leilão foi anunciado - que os
advogados da Parvalorem contactaram telefonicamente os serviços da DGPC
"no sentido de saber quais os procedimentos inerentes à expedição de bens
culturais". Isabel Cordeiro diz no mesmo documento que essa informação foi
prestada à sociedade de advogados.
A data em que realmente saíram as obras é para já um dado
desconhecido, uma vez que nenhuma das partes envolvidas o esclarece. Sabe-se
apenas que a Lei de Bases do Património Cultural, que obriga a que a saída de
bens culturais seja precedida de uma comunicação à Direcção-Geral do Património
Cultural com pelo menos 30 dias de antecedência, não foi cumprida. O Expresso
avança esta quarta-feira que as obras saíram do país por mala diplomática - ou
seja, que o seu transporte teria sido efectuado como se se tratassem de
propriedade do Estado, mas fonte oficial do Ministério dos Negócios
Estrangeiros negou ao PÚBLICO esta informação.
Passos Coelho dá como certo que as obras “vão ter voltar
para Portugal” para que se possa depois fazer um novo processo de alienação,
desta vez cumprindo todos os procedimentos legais. As obras vão ser vendidas,
reitera, e o primeiro-ministro espera que a “curto prazo” esta situação, “que
não correu bem”, fique resolvida, não afastando a hipótese de o leilão se
voltar a realizar na Christie’s, que na terça-feira cancelou a venda por falta
de segurança em relação à transacção das obras.
“A decisão [da venda] foi tomada há muito tempo”, atestou
Passos Coelho, explicando que manter a colecção em Portugal implica um custo
para o país. “É preciso um bocadinho de realismo, não podemos inverter as
prioridades”, continuou, explicando que mesmo que tivesse os “30/40 milhões”
desta colecção, teria outras prioridades na Cultura à frente. “Há muitas outras
coisas importantes para fazer na Cultura”, disse, dando o exemplo dos concursos
para os apoios às artes e do património já classificado e que precisa de ser
recuperado e conservado.
com Nuno Ribeiro
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