Líder do Ergue-te e Mário Machado detidos após
"manif" não autorizada
25 abr, 2025 - 16:04 • Vasco Bertrand Franco ,
Daniela Espírito Santo com Lusa
Momentos de tensão em Lisboa contra a ação
organizada por parte de movimentos de extrema-direita, sem aval da câmara
municipal.
Pelo menos duas pessoas foram detidas esta
sexta-feira à tarde na sequência de confrontos entre manifestantes e PSP.
Tratam-se do conhecido neonazi Mário Machado e Rui Fonseca e Castro, presidente
do Ergue-te.
Mais de uma centena de pessoas manifestam-se esta
sexta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, contra a ação organizada para este
local por parte de movimentos de extrema-direita, sem aval da câmara municipal,
registando-se alguns momentos de tensão.
O presidente do Ergue-te, Rui Fonseca e Castro,
acabou mesmo por ser algemado e detido pelas autoridades, já no Largo de São
Domingos, em Lisboa.
Antes da detenção, a PSP avisou o ex-juiz de que
estava a incorrer num crime de desobediência. Momentos depois Fonseca e Castro
acabou por se entregar, criando momentos de tensão, o que exigiu a intervenção
do dispositivo policial para conter a agitação.
Mais de uma centena de apoiantes de grupos de
extrema-direita como o Habeas Corpus e o 1143 gritaram: "prendem um,
prendem todos".
O partido Ergue-te e o movimento Habeas Corpus,
com o apoio do grupo de extrema-direita 1143, tinham anunciado uma manifestação
com "porco no espeto" no Martim Moniz, a partir das 15h00 desta
sexta-feira, feriado do dia 25 de Abril de 1974 - Revolução dos Cravos.
A PSP deu um parecer negativo à realização desta
ação e a Câmara Municipal de Lisboa seguiu a recomendação e a avaliação da PSP
e não deu aval à realização das iniciativas de movimentos de extrema-direita
marcadas para o Martim Moniz.
Mesmo existindo um parecer negativo da PSP e sem
aval da CML, Rui Fonseca e Castro apareceu, garantindo estar em pré-campanha
eleitoral.
Na quinta-feira, num vídeo partilhado nas redes
sociais, já tinha garantido que o partido se iria manifestar esta sexta-feira
no Martim Moniz "para uma festa da família portuguesa, para uma celebração
da portugalidade, mas sobretudo para uma demonstração de civilidade e de
irmandade".
"Fascistas, racistas, chegou a vossa hora,
os imigrantes ficam e vocês vão embora"
Em contracorrente, mais de uma centena de pessoas
compareceu para mostrar o seu desagrado com tal iniciativa.
"Fascistas, racistas, chegou a vossa hora,
os imigrantes ficam e vocês vão embora", gritaram os manifestantes contra
a iniciativa da extrema-direita, para a qual surgem alguns apoiantes, de forma
isolada, e afirmam "Portugal é para os portugueses".
"Somos todos antifascistas", respondeu,
em uníssono, o grupo de mais de uma centena de pessoas contra a ação da
extrema-direita.
No Martim Moniz há um forte dispositivo policial
mobilizado, com a PSP a impedir a permanência em grande parte da praça.
Registaram-se alguns momentos de tensão entre elementos da extrema-direita e a
maioria dos manifestantes antifascistas, mas não houve necessidade de a PSP
intervir.
Estas iniciativas no Martim Moniz decorrem
enquanto, ao mesmo tempo, na Avenida da Liberdade, muito próxima desta praça,
decorre o tradicional desfile do 25 de Abril.
Em declarações à Lusa, Bruna Alves, uma das
manifestantes contra a extrema-direita disse que se deslocou à Praça do Martim
Moniz de forma espontânea, não tendo sido a indicação de qual organização nesse
sentido.
De férias em Lisboa, natural de Guimarães, Bruna
Alves disse que decidiu por iniciativa ir ao Martim Moniz antes de ir para o
desfile da Avenida da Liberdade, para se manifestar "contra a violência da
extrema-direita" e "a favor de uma postura humanitária de que os
direitos humanos são para todos e não são só para os portugueses".
Pelas 15h30, ainda não se verificava um grupo
organizado da extrema-direita, surgindo, pontualmente, alguns elementos na
Praça do Martim Moniz.
No vídeo publicado em canais públicos do
Ergue-te, anterior Partido Nacional Renovador (PNR), e partilhado por
movimentos de extrema-direita, como o 1143, Fonseca e Castro defendeu que se
trata de "um evento organizado por um partido político", inserido na
campanha para as eleições legislativas de 18 de maio, e, por isso, "não
pode ser proibido".
Nesse âmbito, o líder do Ergue-te acrescentou que
o partido pediu um parecer à Comissão Nacional de Eleições (CNE) e que este
órgão permitiu a realização do evento como "se encontra configurado".
No entanto, ainda na quinta-feira, fonte oficial
da CNE negou ter recebido qualquer pedido de parecer do Ergue-te sobre a
realização esta sexta-feira, 25 de Abril, de uma manifestação no Martim Moniz.
Sobre a possibilidade de uma manifestação
convocada por um partido político poder ser proibida ou o seu percurso
alterado, esclareceu que "não compete à CNE pronunciar-se sobre as
circunstâncias de tempo, lugar e modo em que o exercício daquele direito se
processa".
[Notícia atualizada às 16h21 de 25 de Abril de
2025 para acrescentar mais detalhes]
Mário
Machado também foi detido
O militante
neonazi Mário Machado, líder do grupo 1143, também foi detido esta tarde pela
PSP, pouco tempo depois da detenção do juiz Rui Fonseca e Castro, na sequência
de incidentes graves entre grupos de extrema-direita e elementos antifascistas
no Largo de São Domingos.
A repórter
do DN Amanda Lima registou o momento no local e dá conta de que houve também
algumas pessoas que nada tinham a ver com qualquer dos grupos e que ficaram
feridas por terem sido apanhadas no meio da confusão.
Um repórter
de imagem da CNN Portugal foi atingido com gás pimenta numa altura em que se
encontrava em direto.
No momento
da detenção de Mário Machado, os antifascistas comemoraram com cânticos de
"25 de abril sempre, Fascismo nunca mais!".
O líder do
grupo 1143, recorde-se, já tinha anunciado que ia entregar-se à justiça em
maio, para começar a cumprir pena por incitamento ao ódio e à violência, depois
de rejeitado o recurso pelo Tribunal Constitucional.
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