quinta-feira, 17 de abril de 2025

Descodificador: o que se passou com as três casas de Pedro Nuno Santos

 


Descodificador: o que se passou com as três casas de Pedro Nuno Santos

Marco Alves

16 de abril

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/descodificador-o-que-se-passa-com-as-tres-casas-de-pedro-nuno-santos

 

O líder do PS está a ser alvo de uma averiguação preventiva do Ministério Público com base em denúncias anónimas e numa notícia da SÁBADO de 2023. Não estarão em causa problemas com as declarações de rendimentos, mas sim com os fundos para compra das casas

 

O Ministério Público (MP) abriu uma averiguação preventiva ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos (PNS). "Na sequência de receção de denúncias e tendo em vista a recolha de elementos, o Ministério Público determinou a abertura de averiguação preventiva, a qual corre termos no DCIAP", refere a Procuradoria-Geral da República (PGR) em resposta à SÁBADO.

 

De acordo com o Observador em causa está a aquisição de dois imóveis, um em Lisboa e outro em Montemor-o-Novo, com base num artigo da SÁBADO de novembro de 2023. Esse artigo levantava duas questões: uma relacionada com as declarações de rendimentos de PNS ao Tribunal Constitucional (que não estará em causa nesta averiguação preventiva) e outra sobre a origem dos fundos para compra das casas (é o que estará em causa).

 

Casa de Telheiras (Lisboa)

Em setembro de 2018, PNS comprou uma casa em Telheiras (onde ainda hoje vive) por €740.000, sendo que €450.000 eram de um crédito da CGD e €290.000 de fundos próprios da mulher. No entanto, como a SÁBADO referiu nesse artigo, essa foi uma segunda versão. Inicialmente, PNS disse à SÁBADO, por telefone, que os €290.000 vieram do pai. “Foi o meu pai”, afirmou.

 

Trata-se de Américo Santos, bem-sucedido empresário de São João da Madeira ligado à indústria do calçado. Pedro Nuno Santos não entrou em mais detalhes nesse telefonema inicial (quanto lhe deu o pai, quando e como o fez), dizendo que seriam referidos depois por escrito, como prometido, mas no email posterior o pai desapareceu da equação.

 

 

Terá sido então a mulher a entrar com os €290.000. "Em 2018 adquiri, em copropriedade com a minha mulher, a nossa atual habitação permanente em Lisboa, tendo contraído, para o efeito, um crédito habitação em nome de ambos, no valor de €450 mil, e tendo o pagamento a pronto a que se refere [€290 mil] sido efetuado pela minha mulher", explicou na altura Pedro Nuno Santos em declarações à SÁBADO, mas não respondeu a perguntas adicionais sobre a origem dos €290 mil da mulher.

 

Catarina Gamboa estava na altura (e já desde 2013) a trabalhar com Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com uma avença mensal de €2.562 brutos (em 2013-17), que depois passou para €3.752 brutos mensais (2017-18).

 

Segundo a escritura, essa casa de Telheiras não foi paga de uma forma assim tão simples, com duas operações, ou seja, com €290 mil à cabeça mais uma transferência de €450 mil a partir de uma conta do banco que concedeu o crédito. A casa foi paga com um cheque da CGD no valor de €647.500 (deduz-se que da conta já aprovisionada com o crédito) e mais duas transferências de duas outras contas, uma no valor de €50.000 (não é possível determinar o titular porque o IBAN constante na escritura tem um lapso, contendo apenas 20 algarismos, e não 21) e outra de €42.500 (titulada por Pedro Nuno Santos).

 

Numa resposta enviada à SÁBADO (a propósito de um outro artigo), Catarina Gamboa deu a sua versão sobre a compra da casa: "O valor do sinal foi de €92.500, pago pelo Pedro no momento da escritura, o remanescente foi pago através da nossa conta conjunta, onde foi depositado o valor do crédito habitação de €450.000 (concedido pela CGD) e um montante proveniente do meu património pessoal."

 

Segundo esta terceira versão, €450.000 vieram do crédito, €92.500 de PNS e €197.500 de Catarina Gamboa.

 

Nas quatro declarações que Catarina Gamboa apresentou no Tribunal Constitucional (porque entretanto passou a chefe de gabinete de um ministro, mais uma vez Duarte Cordeiro, na pasta do Ambiente), manteve sempre o mesmo carro, um Volkswagen de 2016. Em 2019 apresentou rendimentos de €11.348 de trabalho dependente e €29.420 de trabalho independente. Estes rendimentos serão do ano anterior, 2018, ano da compra da casa e quando fez a referida entrada em dinheiro para a casa de Telheiras. Tinha ainda €35 mil à ordem e €13 mil em títulos.

 

Em 2022, declarou €63.669 de rendimentos de trabalho dependente no ano anterior (2021), como chefe de gabinete de Duarte Cordeiro, além de €62 mil à ordem e €12 mil em títulos.

 

Casa de São Bento (Lisboa)

Em janeiro 2019, PNS vendeu a casa que tinha em São Bento por 485.000, sendo que, desse dinheiro, usou €449.480 para amortizar o crédito da casa de Telheiras (que, recorde-se, era de €450.000).

 

Acrescente-se que a existência desta casa em São Bento, já há vários anos, motivou outro artigo da SÁBADO, este sobre os €203 mil em subsídio de deslocação que PNS recebeu, apesar de ter essa casa em Lisboa.

 

Casa de Montemor-o-Novo (Alentejo)

Em fevereiro 2022, PNS comprou outra casa, a de Montemor-o-Novo, por €570.000 com recurso a um crédito de 455.950 - que, na última declaração do político no TC (à data do artigo da SÁBADO na altura), de 12 de setembro de 2023, tinha reduzido ligeiramente para €437.957. O restante (€114.050) terá tido origem em fundos próprios do casal.

 

A casa tem licença de utilização de 2013, tendo a piscina de 30 m2 sido legalizada pouco meses antes da revenda, em novembro de 2021, segundo informação urbanística obtida pela SÁBADO junto da câmara municipal.

 

Em junho de 2022, quatro meses depois, Pedro Nuno Santos (na altura ministro das Infraestruturas) anunciou unilateralmente que o novo aeroporto internacional de Lisboa seria localizado em Alcochete. A decisão foi revogada imediatamente pelo primeiro-ministro e por causa disso, durante horas, a demissão de Pedro Nuno Santos era dada como certa. Não caiu e assumiu a falha.

 

Alcochete dista 80 km da propriedade de Montemor-o-Novo, o que lhe pode dar um potencial de valorização. Mais ainda, em 2023, quando já não era ministro, foi proposto à Comissão Técnica Independente para o novo aeroporto uma nova opção a 40 km de Montemor-o-Novo: Vendas Novas. Várias reportagens da SIC em outubro davam já conta de ser a escolha mais bem colocada. Um autarca da região confidenciava à SÁBADO na altura que "um aeroporto em Vendas Novas ficaria muito perto de Montemor-o-Novo, mas não suficientemente perto para sofrer com os seus malefícios".

 

Pedro Nuno Santos recusou à SÁBADO qualquer relação entre a compra da propriedade e a escolha do novo aeroporto. "Trata-se de uma segunda habitação, para usufruto familiar e não está à venda, pelo que as questões suscitadas acerca disso se encontram respondidas. Por fim, não tive, direta ou indiretamente, por mim ou por interposta pessoa, qualquer influência ou ação na apresentação da proposta de Vendas Novas no âmbito da Comissão Independente de Avaliação do Novo Aeroporto."

 

Com Diogo Barreto

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