(...) “Há uma
hiperespecialização no turismo?
Há, muito. Não é
só o turismo, atenção! Porque as lojas de souvenirs — se estamos a falar
daquelas de origem hindustânica, de propriedade de pessoas com origem no
Bangladesh, na Índia, no Paquistão… — não são para o turismo. São para o
turismo de fachada. Na realidade, não são para o turismo. Têm outros
objectivos.
Acha que as autoridades já deveriam ter agido
há mais tempo? Se o diz desta forma, é porque é um dado adquirido...
É um dado
adquirido, claro. Isso toda a gente sabe. Faz algum sentido económico que
existam mais de 20 lojas iguais na Rua da Prata, que, em geral, têm zero
pessoas lá dentro, mas estão a pagar rendas de milhares e milhares de euros? Há
15 dias, estive no Porto, na Rua das Flores, que, neste momento, é uma das duas
ou três com mais pressão imobiliária e turística da cidade. Foi-me assegurado
tanto por um agente imobiliário como pelo empreiteiro que estava a fazer a obra
que uma loja de 200 metros quadrados está a pagar 18 mil euros de renda. Uma
loja que vende ímanes e garrafas de água...
Certamente, há qualquer coisa aí que não bate
certo...
Não, isto é
verdade. Basta ver que nenhuma fechou na pandemia. Eu tinha cinco e tive de
fechar duas para conseguir sobreviver. Quantas lojas desse género é que
fecharam durante a pandemia? Zero.
Estamos a falar de
actividades criminosas?
Estamos a falar
de coisas, no mínimo, ilegais, não é? Estamos a falar de máfias internacionais
que, de facto, têm esta rede em que as pessoas vêm, são os empregados que pagam
aos patrões, não são os patrões que pagam aos empregados. Porque assim têm contratos
de trabalho e, passados cinco anos, têm nacionalidade portuguesa — estão a
comprar a nacionalidade. Ora, que eu saiba, isto não é legal. Portanto, sim,
seria interessante que alguém... não sei se é a Polícia Judiciária, se é o
Ministério Público, se é a PSP, não sei se é o Serviço de Estrangeiros na sua
nova configuração… Não sei se é a ASAE, que adora multar-nos por tudo e por
nada… Gostava de saber por que mistério absoluto é que, de facto, há aqui um
negócio que é de fachada, que está a dar cabo de imensas ruas no centro de
Lisboa. Basta ir a Alfama. Na Rua de São João da Praça, que era uma das mais
bonitas da cidade... hoje é um terror, com as lojas todas iguais, com luz néon
branca, com música aos gritos. Todo o charme desapareceu.”(…)
ENTREVISTA
CATARINA PORTAS
Samuel Alemão
(texto) e Rui Gaudêncio (fotografia)
24 de Dezembro de
2023, 6:30
https://www.publico.pt/2023/12/24/local/entrevista/precisamos-dez-lojas-pasteis-nata-rua-2074612
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