terça-feira, 30 de abril de 2024

24 de Dezembro de 2023 : ENTREVISTA CATARINA PORTAS

 


(...) “Há uma hiperespecialização no turismo?

Há, muito. Não é só o turismo, atenção! Porque as lojas de souvenirs — se estamos a falar daquelas de origem hindustânica, de propriedade de pessoas com origem no Bangladesh, na Índia, no Paquistão… — não são para o turismo. São para o turismo de fachada. Na realidade, não são para o turismo. Têm outros objectivos.

 

 Acha que as autoridades já deveriam ter agido há mais tempo? Se o diz desta forma, é porque é um dado adquirido...

É um dado adquirido, claro. Isso toda a gente sabe. Faz algum sentido económico que existam mais de 20 lojas iguais na Rua da Prata, que, em geral, têm zero pessoas lá dentro, mas estão a pagar rendas de milhares e milhares de euros? Há 15 dias, estive no Porto, na Rua das Flores, que, neste momento, é uma das duas ou três com mais pressão imobiliária e turística da cidade. Foi-me assegurado tanto por um agente imobiliário como pelo empreiteiro que estava a fazer a obra que uma loja de 200 metros quadrados está a pagar 18 mil euros de renda. Uma loja que vende ímanes e garrafas de água...

 

 Certamente, há qualquer coisa aí que não bate certo...

Não, isto é verdade. Basta ver que nenhuma fechou na pandemia. Eu tinha cinco e tive de fechar duas para conseguir sobreviver. Quantas lojas desse género é que fecharam durante a pandemia? Zero.

 

 Estamos a falar de actividades criminosas?

Estamos a falar de coisas, no mínimo, ilegais, não é? Estamos a falar de máfias internacionais que, de facto, têm esta rede em que as pessoas vêm, são os empregados que pagam aos patrões, não são os patrões que pagam aos empregados. Porque assim têm contratos de trabalho e, passados cinco anos, têm nacionalidade portuguesa — estão a comprar a nacionalidade. Ora, que eu saiba, isto não é legal. Portanto, sim, seria interessante que alguém... não sei se é a Polícia Judiciária, se é o Ministério Público, se é a PSP, não sei se é o Serviço de Estrangeiros na sua nova configuração… Não sei se é a ASAE, que adora multar-nos por tudo e por nada… Gostava de saber por que mistério absoluto é que, de facto, há aqui um negócio que é de fachada, que está a dar cabo de imensas ruas no centro de Lisboa. Basta ir a Alfama. Na Rua de São João da Praça, que era uma das mais bonitas da cidade... hoje é um terror, com as lojas todas iguais, com luz néon branca, com música aos gritos. Todo o charme desapareceu.”(…)

 

ENTREVISTA CATARINA PORTAS

Samuel Alemão (texto) e Rui Gaudêncio (fotografia)

24 de Dezembro de 2023, 6:30

https://www.publico.pt/2023/12/24/local/entrevista/precisamos-dez-lojas-pasteis-nata-rua-2074612

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