OPINIÃO
Quem ganha e quem perde com a vitória de Rui Rio
O PSD de Rio e o PS de Costa podem, de facto,
entender-se. Rio quer reformas, Costa nem por isso, mas ambos partilham a fé no
poder do Estado, para guiar os destinos da pátria, e a fé em si próprios, para
guiar os destinos do Estado.
João Miguel
Tavares
30 de Novembro de
2021, 0:43
https://www.publico.pt/2021/11/30/opiniao/opiniao/ganha-perde-vitoria-rui-rio-1986866
Esta análise
parte das seguintes premissas: 1) O PSD de Rui Rio está mais ao centro do que o
PSD de Paulo Rangel. 2) Rio é mais autoritário e menos liberal do que Rangel.
3) Rio é um candidato mais forte do que Rangel na disputa do espaço do PS. A
partir daqui, eis os partidos que ganham e que perdem com a vitória de Rui Rio,
avançando dos mais pequenos para os maiores.
Iniciativa
Liberal – ganha. Rangel era uma ameaça, no sentido em que podia captar o voto
útil dos liberais do PSD. Com Rui Rio, essa ameaça desapareceu. O seu espaço
político não terá concorrência em Janeiro de 2022. Boas notícias para a
afirmação da IL.
Chega – perde.
André Ventura, com a elegância habitual, chamou várias vezes “frouxo” a Paulo
Rangel, mas para chegar aos ambicionados 15%, o “frouxo” ser-lhe-ia muito mais
útil. Rui Rio, com os seus tiques autocráticos, a alergia ao “folclore
parlamentar”, e o cheirinho frequente a alto quadro da União Nacional, é uma
ameaça bem maior para Ventura. Pela ideologia, capta votos ao centro; pelo
estilo, é capaz de captar votos à direita autoritária.
PAN – perde. Não
perde por causa do charme de Rui Rio entre os ambientalistas – que não existe
–, mas porque Rio pode colocar o PS mais longe da maioria absoluta. Para o PAN
ser realmente decisivo, o PS teria de ficar a dois ou três deputados dos 115, e
precisar dos deputados do PAN para chegar lá. Sem Rangel, vai ser mais difícil
acertar no Euromilhões.
CDS – ganha. Na
noite de sábado só vimos Rui Rio abrir garrafas de champanhe, mas Francisco
Rodrigues dos Santos também abriu a sua. A única forma de o CDS escapar à
irrelevância em 2022 é através de uma coligação com o PSD, aproveitando os seus
melhores quadros para compor listas conjuntas. Rangel não queria. Rio quer. Até
porque é uma excelente desculpa para dar outra vassourada na ala descontente do
partido. A fome junta-se à vontade de comer.
PCP e Bloco –
perdem. A tese é válida para os dois partidos. Nem o PSD de Rio nem o PSD de
Rangel irão alguma vez buscar votos ao Bloco ou ao PCP. Mas o PSD de Rio
oferece a António Costa aquilo que Rangel disse que não oferecia: uma
alternativa viável de governação. Rio pode polarizar as eleições, o que
significa menos lugares no Parlamento para a esquerda e menos influência no
país. Quanto mais acesa estiver a luta ao centro, mais o PS precisará de ir
buscar votos à sua esquerda para continuar no poder. Más notícias para PCP e
para Bloco.
PSD – ganha (no
presente). Estou com as sondagens: Rio é um nome mais forte do que Rangel para
disputar as eleições com António Costa. E é, sobretudo, um nome menos
arriscado. Os militantes do PSD preferiram ter um pássaro na mão (um acordo
futuro com o PS), do que dois a voar (a hipótese miraculosa de uma maioria
absoluta, ou perto disso). O PSD de Rio e o PS de Costa podem, de facto,
entender-se. Rio quer reformas, Costa nem por isso, mas ambos partilham a fé no
poder do Estado para guiar os destinos da pátria, e a fé em si próprios para
guiar os destinos do Estado. Nenhum deles desfaz este nó: onde superabundam os
candidatos disponíveis para salvar o país, escasseiam os candidatos dispostos a
oferecer ao país os meios para ele se salvar a si próprio.
PS – depende. Por
um lado, Rio vai roubar votos a Costa. Por outro, oferece-lhe um governo viável
ao centro. Em qualquer dos casos, o mais provável é Costa acabar com menos
poder em 2022 do que tinha em 2019. Irá conformar-se com isso? Tenho
muitas dúvidas.
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