Eduardo Cabrita pediu demissão ao primeiro-ministro.
Costa já aceitou exoneração
O ministro da Administração Interna fez uma declaração a
partir do ministério. Eduardo Cabrita despediu-se com um balanço positivo do
seu mandato, iniciado no final de 2017.
Liliana Borges e
David Santiago
3 de Dezembro de
2021, 17:52
O ministro da
Administração Interna, Eduardo Cabrita, anunciou a sua demissão. Depois de
meses de polémicas acumuladas, o governante informou ao final da tarde desta
sexta-feira que entregou a sua carta de demissão ao primeiro-ministro para não
prejudicar o Governo. Minutos depois de terminar a sua declaração, António
Costa confirmou que aceitou o pedido de demissão do governante.
A declaração de
Cabrita – sem direito a perguntas – surgiu horas depois de o Observador ter
avançado que a 18 de Junho o carro do ministro circulava a 163km/h,
tendo o Ministério Público deduzido acusação contra o motorista de Cabrita,
agora acusado de homicídio por negligência. “Mais do que ninguém lamento
essa trágica perda irreparável e a minha solidariedade vai para família da
vítima. Desde então, foi com grande sacrifício pessoal que verifiquei com
estupefacção o aproveitamento político que foi feito de uma tragédia pessoal”,
disse Eduardo Cabrita, antes de confirmar a sua demissão.
As polémicas e
pedidos de demissão de Eduardo Cabrita
Sobre o silêncio
em relação ao caso o ministro defendeu-se: “Qualquer que fosse a resposta era
lida como uma interferência, quanto ao ritmo do processo, quanto à sua
substância.” E prosseguiu para dizer que uma das razões que o fizeram continuar
a tutelar a pasta do Ministério da Administração Interna foi a situação
pandémica que o país atravessou nos últimos meses. “Só a lealdade, o tempo
e as circunstâncias que enfrentávamos há seis meses e a solidariedade do
primeiro-ministro” o fizeram continuar na pasta, garantiu.
Agora, a cerca de
um mês da campanha eleitoral para as eleições legislativas antecipadas, o
ministro decidiu afastar-se para não contaminar a acção do executivo
socialista. “Não posso permitir que este aproveitamento político
absolutamente intolerável seja utilizado no actual quadro para penalizar a
acção do Governo contra o senhor primeiro-ministro ou mesmo contra o PS. E
por isso entendi solicitar hoje a exoneração das minhas funções de ministro
da Administração Interna”, justificou.
O início da sua
declaração arrancou com um balanço do seu mandato no ministério, que
herdou em Outubro de 2017, em resultado da demissão de Constança Urbano de
Sousa, após a tragédia dos incêndios florestais de 2017, e realçando a
“sequência de quatro anos positivos” com “o menor número de incêndios da última
década”, nos quais “só profissionais perderam a sua vida, nenhum civil”.
Depois, o
ministro prosseguiu para sublinhar os bons resultados dos indicadores de
criminalidade geral, violenta e grave. “Aos milhares de homens e mulheres que
servem Portugal na protecção civil devemos imenso”, continuou. O ministro falou
até da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, não esquecendo o
papel de coordenação do Ministério da Administração Interna durante “estes dois
anos tão difíceis” no combate à covid-19, elogiando também o trabalho da sua
equipa, parte da qual presente na sala. A secretária de Estado da
Administração Interna, Patrícia Gaspar, foi uma das figuras que acompanharam a
declaração do ministro.
Durante a manhã,
Eduardo Cabrita afirmou que era “só um passageiro” do carro envolvido
no atropelamento na A6, que resultou na morte de um trabalhador de
limpeza de estradas, e defendeu que a dedução da acusação ao motorista
conhecida esta sexta-feira corresponde ao “Estado de direito a funcionar”.
“Sou só um passageiro, é o Estado de direito a funcionar, temos de confiar,
ninguém está acima da lei”, afirmou o governante.
“Ciclo que
termina”
Poucos minutos
depois do anúncio feito por Cabrita, António Costa revelou ter já aceitado o
“pedido de exoneração” feito pelo seu ministro e adiantou ainda ter também
comunicado ao Presidente da República que “oportunamente” será designado um
substituto. “Irei indicar ao senhor Presidente da República, nos próximos
dias, uma personalidade que possa exercer [as funções de
ministro da Administração Interna neste período em que o Governo continua
em funções].”
O
primeiro-ministro sinalizou que com esta saída há um “ciclo que termina”,
altura que Costa quis aproveitar para “agradecer estes seis anos de
colaboração” de Cabrita, primeiro como ministro adjunto e depois na
Administração Interna.
“Quero enfatizar
os resultados e os ganhos em termos de segurança que o país teve ao longo dos
últimos quatro anos. Fruto do trabalho das forças de segurança na redução dos
índices de criminalidade e também graças ao esforço de todos os cidadãos e
da protecção civil [que possibilitaram reduzir tanto o número de incêndios como
de área ardida]”, continuou Costa.
Quando ao momento
escolhido para o pedido de demissão, António Costa precisou que “seguramente
aquilo que determinou” a decisão foi o facto de Cabrita ter “aguardado, ao
longo destes meses, o tempo da Justiça”. “Tendo havido hoje a conclusão de uma
fase importante”, disse Costa, aludindo à dedução da acusação contra o
motorista do ministro, Cabrita entendeu “que devia cessar as suas funções”. O
também líder do PS sublinhou que Eduardo Cabrita “respeitou o tempo da Justiça”
e garantiu “compreender bem as [suas] razões”.
Questionado sobre
se será este o fim da carreira política do agora ex-ministro, o
primeiro-ministro sustentou que “a política não é uma carreira,
é um compromisso cívico”, e defendeu que “há várias formas de
participar na vida política”.
Costa aproveitou
ainda para apontar o dedo a “muita gente que especulou politicamente” em torno
deste caso, ao passo que “o Governo fez o que lhe competia, respeitar as
instituições”. “Vi e ouvi em silêncio acusações sobre falta de idoneidade
da GNR, porventura até do Ministério Público, e espero que todos aqueles que
fizeram essas insinuações tenham consciência de que apontaram o dedo
erradamente”, atirou.
Além de reiterar
a confiança nas “autoridades”, António Costa concluiu dizendo que “a Justiça
agora seguirá o seu caminho”.
tp.ocilbup@segrob.anailil
tp.ocilbup@ogaitnas.diva
Sem comentários:
Enviar um comentário