O VOO DO CORVO .......
O Voo do Corvo pretende informar e contextualizar .
Assim acompanhará diáriamente diversos temas e acontecimentos, de forma variada e abrangente nas áreas da Opinião e Noticiário. Nacional e Internacional.
O critério Editorial é pluralista e multifacetado embora existam dois “partis/ pris”:
A Defesa do Património e do Ambiente.
António Sérgio Rosa de Carvalho.
Marcelo, de tanto falar, parece já
não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.
O que a entrevista ao Diário de
Notícias mostra é um cenário pior. Marcelo Rebelo de Sousa, de tanto falar, já
parece não ter nada para dizer. Ficou preso dentro do vazio que criou.
Sempre que eu perguntava a Henrique Medina Carreira se o
governo “A”, “B” ou “C” o tinha desiludido, invariavelmente, a resposta era a
mesma: só se desilude quem se iludiu.
A gestão das expectativas é isso. E eu, iludido, me
confesso.
A actual situação política, com o Governo a sofrer o seu
mais forte abanão desde que tomou posse, criou-me a ilusão de que a entrevista
de Marcelo Rebelo de Sousa ao Diário de Notícias, seria “O momento”, para ouvir
o Presidente. Pura ilusão. Marcelo foi confrontado sobre temas importantes, mas
preferiu nada dizer.
O Presidente falou da necessidade de reduzir o défice
orçamental. Disse o óbvio. Invocou os compromissos internacionais. Mas preferiu
não dar uma palavra sobre o Estado comatoso em que se encontram muitos serviços
do Estado, por via das restrições e cativações orçamentais, em particular o
Serviço Nacional de Saúde. E se não o fez, não foi por falta de informação. Foi
um dos seus antecessores, Jorge Sampaio, que lhe deixou o alerta no último
Conselho de Estado.
O comandante supremo das forças armadas falou do roubo em
Tancos. Mas limitou-se a repetir o que tinha dito. É preciso esperar pela
investigação em curso. Mas nada disse se aquele foi um caso isolado ou se o
estado em que estão as forças armadas permite que outros roubos, com a
facilidade do que foi feito em Tancos, podem ocorrer em qualquer outro
estabelecimento das forças armadas. Do comandante esperar-se-iam garantias de
que nunca mais o país passará por aquela vergonha.
Marcelo falou da tragédia de Pedrógão Grande. Mais uma vez
repetiu-se. E para um Presidente que é sempre tão impulsivo na acção, não deixa
de fazer “comichão” quando diz que “já não falta tanto tempo assim” para ter
conclusões do Ministério Público e da comissão independente a funcionar no
Parlamento. São só um mês e meio, dois meses.
O Presidente também fala da crise dos media. Nunca ninguém
tinha ouvido tal coisa: os media são indispensáveis para a democracia. Mas
soluções para os problemas? “Essa questão está nas preocupações do Governo”,
assegura Marcelo. E o negócio da compra da TVI pela Altice? Aqui, o Presidente
só pode estar a ironizar quando diz que não é “nada de melindroso”, afinal, as
entidades reguladoras estão a acompanhar.
Um dos pontos a que não se podia fugir era o pacto para a
Justiça. Pouco ou nada se fez, mas Marcelo está tranquilo. A seguir ao Verão
haverá qualquer coisa. E o aumento das comissões cobradas pela CGD? É a vida,
não havia alternativa. E as relações com Angola? Vão melhorar no futuro.
Já se sabe que Marcelo Rebelo de Sousa fala muito, comenta
tudo, e essa actuação poderia levar a que quando tivesse algo de importante
para dizer, ninguém ouvisse. A entrevista mostra um cenário pior. Marcelo, de
tanto falar, parece já não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.
Vuelvo agotado de Lisboa de pelearme con los miles de
turistas que llenan de día y de noche las calles de la ciudad blanca, de moda
últimamente según parece como otras ciudades del centro y del sur de Europa.
Hacía tiempo que no la visitaba y, aparte de las vistas y de los monumentos
históricos y de las calles con sus tranvías característicos, muchos de ellos ya
solo usados por los turistas, me costó reconocerla, tanto ha cambiado en los
años últimos. La famosa gentrificación, esa epidemia económica y estética que
el consumismo impone allí donde llega el turismo en masa, ha convertido a
Lisboa en una nueva Barcelona de la misma manera en que Barcelona es el reflejo
de Roma o Praga. Fuera de los monumentos y de los barrios modernos y algunos
pocos rincones, todo se ha homologado en esas ciudades, desaparecido el
comercio y la hostelería tradicional, sustituido por las franquicias y por las
tiendas de moda, y entregadas sus poblaciones al esquileo sin escrúpulos de los
turistas, convertidos en víctimas más que en viajeros de un nuevo bandolerismo
legal y aceptado por todos o por casi todos. Poderoso caballero es Don Dinero
como para andarse con consideraciones éticas.
Pero el problema de la gentrificación y del exceso de
turistas empieza a afectar también a esas poblaciones, que ven como sus
ciudades se vuelven cada vez más caras y prácticamente invivibles, lo que las
empuja hacia al extrarradio o hacia la locura, tal es el ruido y la
aglomeración de gente. Estando precisamente en Lisboa leí en este periódico que
para los barceloneses el turismo es ya el principal problema por encima del
desempleo o la crisis, antes en primer lugar. Es decir, que lo que era una
solución económica se empieza a ver ya como un problema por muchos, incluidos
bastantes de los que viven de él. Pues, aunque el turismo cree puestos de
trabajo, la precariedad de estos y el encarecimiento de la vida que provoca
repercuten negativamente en ellos. Y lo mismo sucede con el medio ambiente, que
se intenta recuperar con nuevas tasas a los turistas, que en el fondo no son
más que una nueva forma de esquileo.
Uno de los grandes cambios de las últimas décadas del siglo
XX y primeras del XXI es la masificación del viaje, hasta entonces privativo de
las clases altas o de románticos vagabundos que se buscaban en los paisajes de
otros lugares del mundo. No creo que nadie esté contra de la democratización
del viaje, como nadie puede estarlo de la del conocimiento, pero, si no se
regula de alguna manera, el turismo va a ser (lo está siendo ya en muchos
sitios) la última plaga de la humanidad.
Heading to Venice? Don’t forget your
pollution mask
Venetians regularly protest against
the huge cruise ships docking in the city, but mass tourism is not the only
problem they bring – the toxic air they pump out is harmful to locals and
visitors alike
Demonstrators in boats try to block the
passage of large ships to demonstrate against their impact on Venice
If you’re heading to Venice on holiday this summer, don’t
forget to pack your pollution mask. Worrying about toxic air might seem strange
in a city with few roads and cars, but Venice’s air carries hidden risks.
Every day five or six of the world’s largest cruise ships
chug into the heart of the ancient city, which hosts the Mediterranean’s largest
cruise terminal. These ships advertise luxurious restaurants, vast swimming
pools and exotic entertainment – but keep quiet about the hidden fumes they
pump into the city’s air.
It’s one reason locals are so enraged over the impact of
tourism on their famous city. Protests against cruise ships are now
commonplace. In May nearly 20,000 Venetians voted in an unofficial referendum,
with 99% backing a motion to keep cruise ships away.
They are right to be angry.
Ship operators claim they use low-emission fuel when they
are near big cities, but measurements I have taken near the port of Venice tell
a different story. The fuel they burn while at berth contains more than 100
times as much sulphur as truck diesel.
As big ships sailed down the main canal, just a stone’s
throw from the shore, my team recorded up to 500 ultra-fine particles per cubic
centimetre – 500 times higher than clean sea air.
These particles linger in the air long after the ships have
passed, and are carried hundreds of kilometres inland by the winds. Particulate
matter is linked to severe health problems such as cardiovascular and
respiratory diseases, including strokes and cancer.
The World Health Organisation places diesel particles in the
same carcinogenic category as smoking and asbestos.
And it’s not just particulates we should worry about. The
dieselgate scandal has reminded us that diesel engines produce a range of other
pollutants that damage human health, the environment and the climate, including
carcinogenic soot and sulphur and nitrogen oxides.
Figures by the European commission estimate that about
50,000 people die prematurely every year in Europe because of pollution from
the shipping sector. This is a scandal because there are measures available to
fix the problem cost-effectively, from using cleaner fuels to installing
filters and using battery technology near the coast.
But the very profitable cruise industry has proven unwilling
to engage with the problem. Nearly a million Britons take a cruise holiday
every year, many paying up to £1,000 each for a week-long trip around the
Mediterranean. With more than 6,000 passengers packing the larger ships, that’s
a decent revenue.
Despite this, major shipping lines still refuse to spend
money on proper exhaust gas technology, creating a massive threat to the
health, not only of citizens and guests of the ports they visit, but of
citizens along the coasts and even inland.
The fumes can also endanger the passengers: the German lung
doctors association recently gave a warning to passengers with pre-existing
conditions not to go on the deck of a cruise vessel. Even newer ships still
pump out incredible levels of pollution.
The cruise industry is failing to meet basic public
standards on the environment and human health. The good news for Venetians is
that the Port Authority expects 10% fewer vessels this year, which may allow
residents to breathe slightly easier.
But until ships are fitted with better filters and burn
cleaner fuel, I’d advise you to pack a mask for when they sail by.
• Axel Friedrich is an international shipping consultant
working with German environmental group Nabu, and was formerly head of the
transport department in the German federal environmental agency.
With the sequel to his blockbuster
documentary An Inconvenient Truth about to be released, Al Gore tells Carole
Cadwalladr how his role at the forefront of the fight against climate change
consumes his life
Al Gore
Champion of the
world: Al Gore.
Carole Cadwalladr
Sunday 30 July 2017 00.05 BST Last modified on Sunday 30
July 2017 05.17 BST
In the ballroom of a conference centre in Denver, Colorado,
972 people from 42 countries have come together to talk about climate change.
It is March 2017, six weeks since Trump’s inauguration; eight weeks before
Trump will announce to the world that he is withdrawing America from the Paris
Climate Agreement.
These are the early dark days of the new America and yet, in
the conference centre, the crowd is upbeat. They’ve all paid out of their own
pockets to travel to Denver. They have taken time off work. And they are here,
in the presence of their master, Al Gore. Because Al Gore is to climate change…
well, what Donald Trump is to climate change denial.
It’s 10 years since the reason for this, the documentary An
Inconvenient Truth, was released into cinemas. It was an improbable project on
almost every level: a film about what was then practically a non-subject,
starring the man best known for not winning the 2000 US election, its beating
heart and the engine of its narrative drive a PowerPoint presentation.
When the filmmakers approached him, he explains to the room,
“I thought they were nuts. A movie of a slideshow, delivered by Al Gore, what
doesn’t scream blockbuster about it?” Except it was a blockbuster. In
documentary terms, anyway. The careful accretion of facts and figures genuinely
shocked people. And it’s a measure of the impact it had, and still continues to
have, that Gore delivers this vignette to a rapt crowd who, over the course of
three days, are learning how to be “Climate Reality Leaders”.
Large carbon polluters have spent up to $2bn spreading false
doubt
It’s the reason why we are all here – his foundation, the
Climate Reality Project, an initiative that grew out of the film, provides
intensive training in talking about climate change, combating climate change
denial – and the tone might be described as “activist upbeat”. This is a crisis
that is solvable, we’re told. Trump is just another hitch, another hurdle to
overcome. And it will be overcome. Only occasionally does a sliver of despair
leak around the edges. You have to stay positive, a man called David
Ellenberger tells the audience. Though sometimes, he admits: “There’s not
enough Prozac to get through the day.”
It’s almost a relief to hear someone acknowledge this.
Because before there was “FAKE NEWS!!!” and the “FAILING New York Times!” Trump
was tweeting about “GLOBAL WARMING hoaxsters!” and “GLOBAL WARMING bullshit!”
The war on the mainstream media may capture the headlines currently, but the
war on climate change science has been in play for years. And it’s this that is
one of the most fascinating aspects of Gore’s new film, An Inconvenient Sequel:
Truth to Power. Because if the US had a subtitle at the moment, it might be
that, too, and the struggle to overcome fake facts and false narratives funded
by corporate interests and politically motivated billionaires is one that Gore
has been at the frontline of for more than a decade.
The film runs through a host of facts – that 14 of the 15
hottest years on record have occurred since 2001 is just one. And the
accompanying footage is biblical, terrifying: tornadoes, floods, “rain bombs”,
exploding glaciers. We see roads falling into rivers and fish swimming through
the streets of Miami.
Brexit, Trump, climate change, oil producers, dark money,
Russian influence, it’s all connected
The nightly news, Gore says, has become “a nature hike
through the Book of Revelations”. But what his work has shown and continues to
show is that evidence is not enough. The film opens with clips from Fox News
ridiculing global warming. In recent weeks, the New York Times has started
describing the Trump administration as waging a “war on science”, a full-on
assault against evidence-based science that runs in parallel with his attacks
on evidence-based reporting. And Gore is in something of a unique position to
understand this. What becomes clear over the course of several conversations is
how entwined he believes it all is – climate change denial, the interests of
big capital, “dark money”, billionaire political funders, the ascendancy of
Trump and what he calls (he’s written a book on it) “the assault against
reason”. They are all pieces of the same puzzle; a puzzle that Gore has been
tracking for years, because it turns out that climate change denial was the
canary in the coal mine.
“In order to fix the climate crisis, we need to first fix
the government crisis,” he says. “Big money has so much influence now.” And he
says a phrase that is as dramatic as it is multilayered: “Our democracy has
been hacked.” It’s something I hear him repeat – to the audience in the
ballroom, in a room backstage, a few weeks later in London, and finally on the
phone earlier this month.
What do you mean by it exactly? “I mean that those with
access to large amounts of money and raw power,” says Gore, “have been able to
subvert all reason and fact in collective decision making. The Koch brothers
are the largest funders of climate change denial. And ExxonMobil claims it has
stopped, but it really hasn’t. It has given a quarter of a billion dollars in
donations to climate denial groups. It’s clear they are trying to cripple our
ability to respond to this existential threat.”
One of Trump’s first acts after his inauguration was to
remove all mentions of climate change from federal websites. More overlooked is
that one of Theresa May’s first actions on becoming prime minister – within 24
hours of taking office – was to close the Department for Energy and Climate
Change; subsequently donations from oil and gas companies to the Conservative
party continued to roll in. And what is increasingly apparent is that the same
think tanks that operate in the States are also at work in Britain, and climate
change denial operates as a bridgehead: uniting the right and providing an
entry route for other tenets of Alt-Right belief. And, it’s this network of
power that Gore has had to try to understand, in order to find a way to combat
it.
“In Tennessee we have an expression: ‘If you see a turtle on
top of a fence post, you can be pretty sure it didn’t get there by itself.’ And
if you see these levels of climate denial, you can be pretty sure it didn’t
just spread itself. The large carbon polluters have spent between $1bn and $2bn
spreading false doubt. Do you know the book, Merchants of Doubt? It documents
how the tobacco industry discredited the consensus on cigarette smoking and
cancer by creating doubt, and shows how it’s linked to the climate denial
movement. They hired many of the same PR firms and some of the same think
tanks. And, in fact, some of those who work on climate change denial actually
still dispute the links between cigarette smoking and lung cancer.”
The big change between our first conversation in Denver and
our last, on the phone this month, is the news that Gore had been desperately
hoping wouldn’t happen: Trump’s announcement on 1 June that he was pulling
America out of the Paris Agreement. The negotiations in Paris are right at the
heart of the new film, its emotional centre, and when I watch it in March, the
ending still sees Gore expressing guarded optimism.
So, what happened? “I was wrong,” he says on the phone from
Australia, where he’s been promoting the film. “Based on what he told me, I
definitely thought there was a better than even chance he might choose to stay
in. But I was wrong. I was fearful that other countries for whom it was a close
call would follow his lead, but I’m thrilled the reaction has been exactly the
opposite. The other 19 members of the G20 have reiterated that Paris is
irreversible. And governors and mayors all over the country have been saying we
are all still in and, in fact, it’s just going to make us redouble our commitments.”
Big money has so much influence now. Our democracy has been
hacked
The film had to be recut, the ending changed, the gloves are
now off. What changed Trump’s mind? “I think Steve Bannon and his crowd put a
big push on Trump and convinced him that he needed to give this to his base
supporters. He had blood in his eyes.” It’s instructive because Bannon, Trump’s
chief strategist, is also the ideologue behind Trump’s assault on the media.
And Bannon’s understanding of the news and information space, and efforts to
manipulate it via Breitbart News and Cambridge Analytica, both funded by
another key climate change denier, Robert Mercer, are at the heart of the Trump
agenda.
And what becomes clear if you Google “climate change” is how
effective the right has been in owning the subject. YouTube’s results are
dominated by nothing but climate change denial videos. This isn’t news for
Gore. He has multiple high-level links to Silicon Valley. He’s on the board of
Apple and used to be an adviser for Google. “We are fully aware of the
problem,” he says with what sounds like resigned understatement. Gore has had
more than a decade fighting climate change denial, and in some respects, the
problem has simply worsened and deepened.
“On the other hand, two-thirds of the American people are
convinced that it’s an extremely serious crisis and we have to take it on,” he
says. “And there is a law of physics that every action produces an equal and
opposite reaction. And I do think there is a reaction to the Trump/Brexit/Alt-Right
populist authoritarianism around the world. People who took liberal democracy
more or less for granted are now awakening to a sense that it can only be defended
by the people themselves.
And it’s in this, his belief in social progress against all
odds, that he takes his lead from the civil rights movement. The cut of the
film I see compares the climate change movement to the other great social
movements that eventually won out: the abolition of slavery, women’s suffrage,
civil rights. Something profound and disturbing is happening right now, though,
he admits. “The information system is in such a chaotic transition and people
are deluged with so much noise that it gives an opening for Trump and his
forces to wage war against facts and reason.”
Is it, as some people describe, an information war?
“Absolutely,” he says. “There’s no question about it.”
What there isn’t much of, in the film, is Al Gore, the man.
In 2010, he split from Tipper, his wife of 40 years and the mother of his two
grown-up daughters, and what becomes clear is just how much of his life the
fight takes up. When I catch up with him next, he’s in London for a board
meeting of his green-focused investment firm, Generation Investment Management,
and I ask him to tell me about his recent travels.
“Two weeks ago, I had three red-eyes in five days. I’ve been
in Sweden, the Netherlands, Sharjah, then let’s see, San Francisco, New York,
Los Angeles. Where else?” he asks his assistant.
“Vegas,” she says. “We did CinemaCon.”
“Vegas, we did that. And then, let’s see, Nashville, on my
farm.”
I assume this amount of travel is connected to the release
of the film, but no. “I’ve been at this level for the past 10 years and
longer.” He hesitates to use the word “mission”, he says, and then uses it.
“When you feel a sense of purpose that seems to justify pouring everything you
can into it, it makes it easier to get up in the morning.”
He does tell me a bit about his parents though. He describes
his father, Al Gore Sr, who grew up poor then became a lawyer and a politician,
as “a hero to me”. And it was at the family farm in Carthage, Tennessee, that
he held the first Climate Reality training, an informal get-together of 50
people that has morphed into the event I witnessed in Denver. There’s no “type”
or demographic, I shared a table with a disparate group – including a
consultant for the aerospace industry, a French lawyer and an American chef.
And they seemed to have almost nothing in common aside from their passion to do
something about climate change. “I’m a gardener so I’m seeing what’s happening
with my own eyes,” the chef, Susan Kutner, told me. “You can’t ignore it.”
In light of Trump’s fixation with fake news, it’s
fascinating to see. Gore has been fighting disinformation for more than a
decade. And, he’s developed his training programme counter to the prevailing
ideology. The answer is not online. Social media will not save us. We will not
click climate change away. The answer he’s come up with is low-tech,
old-fashioned, human. He takes the time to talk to people directly, one to one,
in the hope they will speak to other people – who will speak to other people.
The course is run by Gore. He is on stage almost the entire
time over three intensive days. And the heart of it is still the slideshow. One
of his aides tells me how he was up until 2am the night before. “He’s obsessed
with his slides, he has 30,000 of them and he switches them around all the
time.”
In the film, you see him perpetually hustling, calling world
leaders, rounding up solar energy entrepreneurs, training activists. Hearing
information from “people you know” is at the heart of his strategy. “You need
people who will look you in the eye and say: ‘Look, this is what I’ve learned,
this is what you need to know.’ It works. I’ve seen it work. It is working. And
it’s just getting started. We’ve got 12,000 trained leaders now.”
How many people do you think it’s impacted?
“Millions. Honestly, millions. And a non- trivial percentage
of them have gone on to become ministers in their countries’ governments or
take leadership roles in international organisations. They’ve had an outsized
impact. Christiana Figueres [the UN climate chief], who ran the Paris meeting,
she was in the second training session I did in Tennessee. And, right now,
people are getting really fired up.”
Al Gore shared the Nobel Prize in 2007 for his efforts in
combating climate change, but in some ways it feels like he’s just getting
started. The rest of the world is only now cottoning on to the enlightenment
struggle that’s at the heart of it – a battle royal to defend facts and reason
against people and forces for whom it’s a truth too inconvenient to allow. For
Gore, the US oil companies are the ultimate culprits, but it’s only just
becoming apparent that Russia has also played a role, amplifying messages
around climate change as it did around the other issues at the heart of Trump’s
agenda, and we segue into his visits to Russia in the early 90s, during one of
which he met Putin for the first time.
What did you make of him? “I would not have thought of him
as the future president of Russia. I once did a televised town hall event to
the whole of Russia and Putin was the one who was in charge of making sure all
the cables were connected and whatnot.”
What does he make of the investigations into Russian
interference? “I think the investigation of the Trump campaign’s collusions
with the Russians and the existence of financial levers of Putin over Trump is
proceeding with its own rhythm beneath the news cycle, and may well strike pay
dirt.” It’s also worth pointing out that when someone passed his campaign
stolen information about George W Bush’s debate research, he handed it to the
FBI.
And then he amazes me by pulling out a reference to an
interview I conducted with Arron Banks, the Bristol businessman who funded
Nigel Farage’s Leave campaign. He’s been reading up about the links between
Brexit and Trump, and Banks’s and Farage’s support of Putin and Russia. “He
told you: ‘Russia needs a strong man,’ didn’t he? And you hear that in the US,
and I don’t think it’s fair to the Russians. I am a true believer in the
superiority of representative democracy where there is a healthy ecosystem characterised
by free speech and an informed citizenry. I really resist the slur against any
nation that they’re incapable of governing themselves.”
Brexit, Trump, climate change, oil producers, dark money,
Russian influence, a full- frontal assault on facts, evidence, journalism,
science, it’s all connected. Ask Al Gore. You may want to watch Wonder Woman
this summer, but to understand the new reality we’re living in, you really
should watch An Inconvenient Sequel: Truth to Power. Because, terrifying as they
are, in some ways the typhoons and exploding glaciers are just the start of it.
An Inconvenient Sequel: Truth to Power is in cinemas
everywhere from 18 August
E nós estamos chocados com a Máventura do Professor. Sofre
de Arteriosclerose empedernida em estado caquético de demência. E continua a
dirigir um Departamento ou a dar aulas ?
OVOODOCORVO
OPINIÃO
Em defesa da Venezuela
Estou chocado com a parcialidade da
comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da
Venezuela.
A Venezuela vive um dos momentos mais críticos da sua
história. Acompanho crítica e solidariamente a revolução bolivariana desde o
início. As conquistas sociais das últimas duas décadas são indiscutíveis. Para
o provar basta consultar o relatório da ONU de 2016 sobre a evolução do índice
de desenvolvimento humano. Diz o relatório: “O índice de desenvolvimento humano
(IDH) da Venezuela em 2015 foi de 0.767 — o que colocou o país na categoria de
elevado desenvolvimento humano —, posicionando-o em 71.º de entre 188 países e
territórios. Tal classificação é partilhada com a Turquia.” De 1990 a 2015, o
IDH da Venezuela aumentou de 0.634 para 0.767, um aumento de 20.9%. Entre 1990
e 2015, a esperança de vida ao nascer subiu 4,6 anos, o período médio de
escolaridade aumentou 4,8 anos e os anos de escolaridade média geral aumentaram
3,8 anos. O rendimento nacional bruto (RNB) per capita aumentou cerca de 5,4%
entre 1990 e 2015. De notar que estes progressos foram obtidos em democracia,
apenas momentaneamente interrompida pela tentativa de golpe de Estado em 2002
protagonizada pela oposição com o apoio ativo dos EUA.
A morte prematura de Hugo Chávez em 2013 e a queda do preço
do petróleo em 2014 causou um abalo profundo nos processos de transformação
social então em curso. A liderança carismática de Chávez não tinha sucessor, a
vitória de Nicolás Maduro nas eleições que se seguiram foi por escassa margem,
o novo Presidente não estava preparado para tão complexas tarefas de governo e
a oposição (internamente muito dividida) sentiu que o seu momento tinha
chegado, no que foi, mais uma vez, apoiada pelos EUA, sobretudo quando em 2015
e de novo em 2017 o Presidente Obama considerou a Venezuela como uma
"ameaça à segurança nacional dos EUA", uma declaração que muita gente
considerou exagerada, se não mesmo ridícula, mas que, como explico adiante, tinha
toda a lógica (do ponto de vista dos EUA, claro). A situação foi-se
deteriorando até que, em dezembro de 2015, a oposição conquistou a maioria na
Assembleia Nacional. O Tribunal Supremo suspendeu quatro deputados por alegada
fraude eleitoral, a Assembleia Nacional desobedeceu, e a partir daí a
confrontação institucional agravou-se e foi progressivamente alastrando para a
rua, alimentada também pela grave crise económica e de abastecimentos que
entretanto explodiu. Mais de cem mortos, uma situação caótica. Entretanto, o
Presidente Maduro tomou a iniciativa de convocar uma Assembleia Constituinte
(AC) para o dia 30 de Julho e os EUA ameaçam com mais sanções se as eleições
ocorrerem. É sabido que esta iniciativa visa ultrapassar a obstrução da
Assembleia Nacional dominada pela oposição.
Em 26 de maio passado assinei um manifesto elaborado por
intelectuais e políticos venezuelanos de várias tendências políticas, apelando
aos partidos e grupos sociais em confronto para parar a violência nas ruas e
iniciar um debate que permitisse uma saída não violenta, democrática e sem
ingerência dos EUA. Decidi então não voltar a pronunciar-me sobre a crise
venezuelana. Por que o faço hoje? Porque estou chocado com a parcialidade da
comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela,
um enviesamento que recorre a todos os meios para demonizar um governo
legitimamente eleito, atiçar o incêndio social e político e legitimar uma
intervenção estrangeira de consequências incalculáveis. A imprensa espanhola
vai ao ponto de embarcar na pós-verdade, difundindo notícias falsas a respeito
da posição do Governo português. Pronuncio-me animado pelo bom senso e
equilíbrio que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, tem
revelado sobre este tema. A história recente diz-nos que as sanções económicas
afetam mais os cidadãos inocentes que os governos. Basta recordar as mais de
500.000 crianças que, segundo o relatório da ONU de 1995, morreram no Iraque em
resultado das sanções impostas depois da guerra do Golfo Pérsico. Lembremos
também que vive na Venezuela meio milhão de portugueses ou lusodescendentes. A
história recente também nos diz que nenhuma democracia sai fortalecida de uma
intervenção estrangeira.
O
s desacertos de um governo democrático resolvem-se por via
democrática, e ela será tanto mais consistente quanto menos interferência
externa sofrer. O governo da revolução bolivariana é democraticamente legítimo
e ao longo de muitas eleições nos últimos 20 anos nunca deu sinais de não
respeitar os resultados destas. Perdeu várias e pode perder a próxima, e só
será de criticar se não respeitar os resultados. Mas não se pode negar que o
Presidente Maduro tem legitimidade constitucional para convocar a Assembleia
Constituinte. Claro que os venezuelanos (incluindo muitos chavistas críticos)
podem legitimamente questionar a sua oportunidade, sobretudo tendo em mente que
dispõem da Constituição de 1999, promovida pelo Presidente Chávez, e têm meios
democráticos para manifestar esse questionamento no próximo domingo. Mas nada
disso justifica o clima insurrecional que a oposição radicalizou nas últimas
semanas e que tem por objetivo, não corrigir os erros da revolução bolivariana,
mas sim pôr-lhe fim e impor as receitas neoliberais (como está a acontecer no
Brasil e na Argentina), com tudo o que isso significará para as maiorias pobres
da Venezuela. O que deve preocupar os democratas, embora tal não preocupe os
media globais que já tomaram partido pela oposição, é o modo como estão a ser
selecionados os candidatos. Se, como se suspeita, os aparelhos burocráticos do
partido do governo sequestrarem o impulso participativo das classes populares,
o objetivo da AC de ampliar democraticamente a força política da base social de
apoio à revolução terá sido frustrado.
Para compreendermos por que provavelmente não haverá saída
não violenta para a crise da Venezuela temos de saber o que está em causa no
plano geoestratégico global. O que está em causa são as maiores reservas de
petróleo do mundo existentes na Venezuela. Para os EUA, é crucial para o seu
domínio global manter o controlo das reservas de petróleo do mundo. Qualquer
país, por mais democrático, que tenha este recurso estratégico e não o torne
acessível às multinacionais petrolíferas, na maioria, norte-americanas, põe-se
na mira de uma intervenção imperial. A ameaça à segurança nacional, de que fala
o Presidente dos EUA, não está sequer apenas no acesso ao petróleo, está
sobretudo no facto de o comércio mundial do petróleo ser denominado em dólares,
o verdadeiro núcleo do poder dos EUA, já que nenhum outro país tem o privilégio
de imprimir as notas que bem entender sem isso afetar significativamente o seu
valor monetário. Foi por esta razão que o Iraque foi invadido e o Médio Oriente
e a Líbia arrasados (neste último caso, com a cumplicidade ativa da França de
Sarkozy). Pela mesma razão, houve ingerência, hoje documentada, na crise brasileira,
pois a exploração do petróleo do pré-sal estava nas mãos dos brasileiros. Pela
mesma razão, o Irão voltou a estar em perigo. Pela mesma razão, a revolução
bolivariana tem de cair sem ter tido a oportunidade de corrigir
democraticamente os graves erros que os seus dirigentes cometeram nos últimos
anos. Sem ingerência externa, estou seguro de que a Venezuela saberia encontrar
uma solução não violenta e democrática. Infelizmente, o que está no terreno é
usar todos os meios para virar os pobres contra o chavismo, a base social da
revolução bolivariana e os que mais beneficiaram com ela. E, concomitantemente
com isso, provocar uma ruptura nas Forças Armadas e um consequente golpe
militar que deponha Maduro. A política externa da Europa (se de tal se pode falar)
podia ser uma força moderadora se, entretanto, não tivesse perdido a alma.
"A pessoa não existe ou o cartão foi anulado." Foi
com esta mensagem que o sistema de voto electrónico venezuelano respondeu ao
Presidente, Nicolás Maduro, quando este se tentava identificar para votar, ao
lado da mulher, Cilia Flores, este domingo, noticiam os jornais espanhóis El País
e El Mundo.
Maduro, que tinha convocado a imprensa para assistir à sua
votação ao meio-dia, quis ser o “primeiro a dar o voto para a paz, a soberania
e a independência da Venezuela” e apareceu às seis da manhã na sua mesa de voto
em Catia, uma zona a oeste de Caracas, contou o jornal espanhol El Mundo. Fez
questão de votar diante de alguns convidados internacionais do Conselho
Nacional de Eleições para observar o sufrágio. “Oxalá o mundo ponha os olhos na
nossa amada Venezuela e desista da campanha imperial que tem feito”, apelou o
Presidente.
Mas o que se viu pelo ecrã da televisão estatal venezuelana
VTV não foi assim tão espectacular como Nicolás Maduro desejaria. O Presidente
fez finca-pé em usar, para se identificar perante a mesa de voto, o seu Cartão
da Pátria, um instrumento de controlo social lançado este ano através do qual
se venda a comida racionada ou se registam os benefícios sociais de cada
cidadão.
“Vamos verificar o meu Cartão da Pátria para que fique
registado para sempre que eu vim votar no dia histórico da Constituinte, o 30
de Julho”, enfatizou, orgulhoso, citado também pelo diário espanhol El País.
Uma assistente passou o código do documento presidencial por
uma espécie de smathphone, e em poucos segundos apareceu uma mensagem
surpreendente no ecrã: “A pessoa não existe ou o cartão foi anulado”. O momento
foi registado em directo pela televisão nacional e imediatamente alvo de
chacota pela oposição, que apontou o caso como a prova de que as eleições serão
uma fraude.
A imagem do ecrã do dispositivo que a assistente da mesa de
voto estava a usar foi tirada do ar e Maduro disfarçou como pôde, falando com a
mulher, Cilia Flores, que é também candidata à Assembleia Nacional Constituinte,
continuou a sessão de fotografias perante a imprensa e depois dirigiu-se a uma
pequena mesa, encoberta por uma caixa de papelão desmontada, onde votou usando
o boletim, que depois depositou numa pequena urna.
“Eles querem que acreditemos que o cartão funciona para nos
controlar, mas o sistema não funciona nem com Maduro. Que ninguém se
intimide!”, escreveu Julio Borges, presidente do Parlamento, na rede social
Twitter, ao publicar o vídeo da tentativa de Maduro votar.
Maduro clama vitória contestada pela
oposição e marcada por mortes
Segundo a comissão eleitoral,
participação chegou aos 41,5%, o que corresponde a mais de oito milhões de
votos. Oposição estima que foram 12%. Pelo menos dez pessoas morreram.
PÚBLICO 31 de Julho de 2017, 6:52 actualizada às 7:09
Mais de oito milhões de venezuelanos (41,5% dos eleitores)
votaram na eleição dos 545 membros da Assembleia Constituinte, segundo os dados
da Comissão Nacional Eleitoral. Um valor contestado pela oposição, que estima
uma participação eleitoral de 12%, num acto marcado pela violência: segundo o
Ministério Público, morreram dez pessoas no domingo.
A oposição já anunciou que não reconhece este resultados e
agendou novos protestos para esta segunda-feira.
"Não reconhecemos este processo fraudulento, para nós é
nulo, não existe", disse o líder da oposição Henrique Capriles, pedindo
aos venezuelanos que voltem hoje a sair às ruas para contestar aquilo que
qualificou como "um massacre" e "uma fraude eleitoral".
Capriles agendou ainda um protesto para quarta-feira, dia em que a Assembleia
Constituinte toma posse.
Já Nicolás Maduro clamou vitória. "Temos Assembleia
Constituinte (...) oito milhões (de votos) no meio de ameaças (...) foi a maior
votação que teve a revolução bolivariana em 18 anos. O povo deu uma lição de
coragem, de valentia. O que vimos foi admirável", afiirmou Maduro, perante
centenas de apoiantes que se concentraram na Praça Bolívar, em Caracas.
A Comissão Nacional Eleitoral anunciou que foram registados
8.089.320 votos, o que corresponde a 41,5% dos eleitores.
Esta jornada eleitoral ficou marcada pela violência. Segundo
o Ministério Público, morreram dez pessoas, incluindo dois adolescentes de 13 e
17 anos. Quatro pessoas morreram no estado de Tachira (Oeste), na fronteira com
a Colômbia, durante manifestações. Três homens foram mortos no estado de Merida
(Oeste), um no estado de Lara (Norte), um no estado de Zulia (Norte) e um
dirigente da oposição no estado de Sucre (Norte), indicou num novo balanço o
Ministério Público venezuelano, citado pela Lusa.
O período de votação deveria ter terminado às 18h locais
(23h em Portugal continental), mas a comissão nacional de eleições venezuelana
decidiu prolongá-lo por mais uma hora.
Segundo diferentes jornais locais, como o Noticias24, o
anúncio do prolongamento da votação foi feito pela presidente daquele órgão,
justificando a decisão com o facto de "haver venezuelanos a aguardar em
filas, para ainda exercerem o seu direito de voto". Sandra Oblitas
acrescentou que o processo eleitorial se desenrolou com "total
normalidade" – um conceito no mínimo impreciso, neste caso, visto que o
Governo de Caracas proibiu, dois dias antes das eleições, as manifestações da
oposição, colocou mais de 300 mil efectivos policiais e militares nas ruas e,
pior que tudo, há mortes a lamentar.
Ainda as urnas não tinham fechado e os EUA reiteravam
a sua posição face ao acto eleitoral, agora pela voz da embaixadora
norte-americana na ONU, Nikki Haley. Num tweet publicado neste domingo à noite,
a embaixadora dos EUA garantiu de novo que a sua administração não reconhecerá
validade aos resultados. "Estas eleições fraudulentas são mais um passo
rumo à ditadura", escreveu a representante de Washington na ONU. "Não
aceitaremos nenhum governo ilegítimo. O povo venezuelano e a democracia
prevalecerão", acrescentou na mensage
Primeiros
síntomas do anunciado progressivo processo de desetificação da Península
Ibérica, através do Aquecimento Global/ Alterações Climáticas ?
OVOODOCORVO
Em Mértola falta água para tudo, até
mesmo para amassar o pão
A total secura que atinge furos,
charcas e ribeiras em grandes extensões do território alentejano coloca os
criadores de gado em situação dramática, obrigados a percorrer dezenas de
quilómetros à procura de água.
CARLOS DIAS (texto) e RUI GAUDÊNCIO (fotos) 29 de Julho de
2017, 7:11
Vales Mortos é o nome de uma pequena aldeia no limite do
concelho de Serpa que partilha uma realidade comum há muitos séculos no
interior sul alentejano: terras pobres, improdutivas, mais dadas à criação de
gado, com problemas que se agudizam em anos de seca severa ou extrema. E é o
ponto de partida para um itinerário por umas das regiões mais flageladas pela
seca. Para onde quer que se olhe, apenas surgem grandes extensões de terra
despidas de vegetação. O verde das árvores que pontuam o território, com
destaque para as florestações de pinheiro manso, já no concelho de Mértola, não
basta para disfarçar a secura. Só a esteva, a última barreira à desertificação
do solo, pela sua robustez e capacidade de sobrevivência em solos pobres e sem
água, resiste.
Quanto mais se caminha para sul mais se acentuam os sinais
da seca. Em Monte Vale Pereiro, na freguesia de Corte do Pinto, Mértola, José
Almeida reparava a vedação de uma herdade onde era visível uma charca ainda com
água. “Só está cheia porque a água não é utilizada.” Mas onde há gado, o caso
“está complicado”, sobretudo no interior do concelho de Mértola, onde o relevo
do terreno não facilita a retenção da água, explica o agricultor.
Chegados a S. Miguel do Pinheiro, freguesia que faz
fronteira com a região algarvia, as consequências da escassez de água
acentuam-se. António Peleja, presidente da União de Freguesias de S. Miguel do
Pinheiro, S. Sebastião dos Carros e S. Pedro de Solis, diz que a população já
está a ser abastecida de água potável através de autotanques.
“Primeiro deparámo-nos com o problema das rupturas na rede,
que só por si representavam um desperdício de água incomportável. Depois, os
furos começaram a baixar e o débito que se obtinha não assegurava o
abastecimento público, sobretudo em S. Miguel e S. Pedro”, resume o autarca.
Ao fim de três anos seguidos de seca, e dada a baixa
pluviosidade ocorrido no Outono/Inverno, os aquíferos subterrâneos não
recarregaram o suficiente para assegurar o volume de água necessário para
abastecer a população das três freguesias que, no seu conjunto, somam 946
pessoas, dispersas por um território com 275 quilómetros quadrados.
Os autotanques fazem a transferência da água para o depósito
que serve as povoações e entra na rede assegurando, assim, o abastecimento,
explica António Peleja, que descreve a dimensão da tarefa: “Temos cerca de 40
povoações com um número de habitantes que varia entre as duas pessoas e a
centena”, sublinha. Esta realidade obriga a que tenha de ser implementado um
sistema de distribuição de água em tempo de escassez muito complexo e exigente
em custos, meios humanos e equipamento de transporte de água.
As consequências da escassez de água não se observam apenas
no abastecimento público e no abeberamento do gado. Manuela Marques Bonito tem
uma panificadora em S. Miguel do Pinheiro, onde fabrica pão alentejano. “Se não
temos água, não temos pão”, sintetiza. Tornou-se frequente ir às 4h da
madrugada buscar água ao furo que existe próximo da sua empresa, aproveitando o
recarregamento nocturno do aquífero, para amassar entre 400 a 500 pães.
A ajuda de Alqueva
Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola, diz que os
problemas de falta de água já persistem “há cerca de um mês”. Neste tempo, os
serviços municipais foram confrontados com a possibilidade de terem de ser
desactivados “entre dez a 12 furos” que abastecem diversos aglomerados
populacionais sobretudo no sul do concelho. A alternativa passa por mitigar a
escassez de água através do recurso a autotanques e abrindo novos furos, explica
o autarca, destacando ainda um pormenor: as altas temperaturas levam a uma
maior procura do já escasso líquido, sobretudo por parte de residentes
temporários que surgem nesta altura, quer sejam turistas ou emigrantes que vêm
de férias, que “têm hábitos de consumo que acabam por ter impacto no aumento
dos gastos de água”.
Mas a solução que vai garantir o abastecimento sem
sobressaltos “reside em Alqueva”, refere Jorge Rosa, que fica a aguardar pelo
cumprimento da decisão já anunciada pelo Governo de reforçar os caudais na
barragem do Monte da Rocha, localizada no concelho de Ourique, e a partir daqui
consolidar o abastecimento a parte do concelho de Mértola. É o que está a ser
feito noutro ponto da bacia do Sado, na barragem do Roxo, onde a situação já não
é, neste momento, tão dramática por estar a receber água da grande albufeira
alentejana.
Mas enquanto essa ajuda de Alqueva não chega, o panorama
nesta barragem é desolador. A capacidade de armazenamento máximo da sua
albufeira é de 103 milhões de metros cúbicos. Neste momento está nos 13
milhões, que asseguram, com água de muito má qualidade, o abastecimento público
dos concelhos de Castro Verde, Ourique e Almodôvar.
Na agricultura, o problema complica-se à medida que as
charcas e os pegos das ribeiras secam. Alqueva, a mãe de água que prometeu
matar a sede aos alentejanos, é ainda madrasta para um extenso território, ao
qual ainda não chega. Mas este é um problema que está a começar a ser debelado,
uma vez que anos seguidos de seca e fraca pluviosidade fizeram aumentar as
solicitações de água à grande albufeira, obrigando a levar o precioso líquido
cada vez mais longe e a mais gente.
Situação-limite
Com as temperaturas acima de 40 graus, o consumo de água nos
animais duplica, explica José da Luz, presidente da Associação de Agricultores
do Campo Branco (AACB), que abrange os concelhos de Castro Verde, Mértola,
Ourique, Almodôvar e Aljustrel. Uma vaca consome a temperaturas normais (20 a
25 graus Celsius) cerca de 50 litros de água por dia, mas quando os termómetros
tocam ou superam os 40 graus “consome cerca de 100 litros”. Na área do Campo
Branco apascentam 145 mil ruminantes, entre ovinos e caprinos, e 25 mil vacas
reprodutoras, efectivo que “duplica com as crias”. Fornecer água a um tão
elevado número de animais obrigou os agricultores a “instalar, ao longo das
duas últimas décadas, charcas e a abrir furos”, salienta o dirigente
associativo. Mesmo assim, quando chegam períodos de seca severa ou extrema, o
recurso aos autotanques dos bombeiros voluntários revela que se chegou a uma
situação-limite, como está a acontecer.
José da Luz admitiu ao PÚBLICO que a “tendência” de
agravamento que se observa neste momento pode conduzir a uma situação crítica
em meados de Agosto se as temperaturas permanecerem altas. Apesar de algumas
charcas ainda apresentarem alguma reserva de água, o presidente da AACB adverte
para as consequências que podem resultar “para a saúde e até a vida dos
animais” se consumirem uma água altamente poluída. Por isso, quando as reservas
de água descem até um certo nível, “não são utilizadas”, realça José da Luz. E
os criadores deixam de poder contar com estas soluções que implementaram nos
últimos tempos.
Mais a sul, em S. Miguel do Pinheiro, António Jerónimo
Almeida, 70 anos, é um dos poucos produtores pecuários que ainda se mantém em
actividade. Preocupado, assegura que a falta de água para os animais “é, neste
momento, um grande problema”. Tem os seus animais, 180 bovinos e 400 ovelhas, a
consumir de pontos de água que estão “praticamente secos” e “ainda faltam dois
meses até ao Outono” lembra.
Recolhe água de furos e de pegos que ainda apresentam algum
caudal nas ribeiras que atravessam a freguesia, “mas dentro de dias está tudo
seco”, antecipa. Acresce ainda um outro problema: a água que é descarregada a
partir da mina de Neves Corvo para uma das ribeiras que deveria suportar o
consumo do gado “cheira mal e até deixa as pedras negras”. A sorte é que os
animais “nem as patas molham naquela água”, refere o agricultor.
As dificuldades impostas pelo tempo quente e a escassez de
água recorrente reduziram substancialmente a actividade pecuária nas freguesias
mais a sul do concelho de Mértola. “Na minha freguesia [S. Miguel do Pinheiro]
já tivemos oito mil animais. Agora não haverá dois mil.” Só três agricultores é
que ainda se mantêm. “Dá muito trabalho”, argumenta Jerónimo Almeida,
acrescentando que “a rapaziada nova vai toda para o Algarve trabalhar” e “os
mais velhos é que ficam”.
O receio por dias piores para o sector pecuário também está
no centro das preocupações de Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola. E dá
conta dos constrangimentos que estão a afectar os criadores de gado do seu
concelho, que já estão a recorrer aos autotanques para ir buscar água onde esta
ainda existe, seja “nos pegos, nas ribeiras, nas pequenas barragens e até no
rio Guadiana”. Contudo, esta está longe de ser a solução adequada para os
problemas que a situação de seca impõe.
Os agricultores são forçados a percorrer dezenas de
quilómetros até encontrar água para os seus animais, o que é “insustentável”,
refere o autarca, frisando que ainda existem algumas reservas que entretanto
irão desaparecer. Mas, à medida que crescem as dificuldades, aumenta também a
solidariedade entre agricultores, com aqueles que ainda têm algumas reservas a
permitirem aos que nada têm que levem água.
Esta notícia é dedicada ao autarca de
Albufeira e aos responsáveis da estratégia do Turismo no Algarva ( e, claro …
não só … incluíndo Lisboa e Porto, ou mesmo, todo o País )
OVOODOCORVO
Is this the end of the tits and
tequila culture of package holidays?
Boozy Brits in tabloid photos, sex
games going viral: a stay in Crete’s party town of Malia helped me understand
why hotels want to ban binge-drinking teenagers
‘A week of surnburnt binge-drinking at chlamydia-ridden foam
parties has become, in the last decade or two, a rite of passage for young
British people keen to blow off steam after exams.’
Friday 28 July 2017 15.03 BST Last modified on Saturday 29
July 2017 05.56 BST
Could it be curtains for the “great” boozy British package
holiday? In a blow for teenage holidaymakers across the nation looking for a
post-exams blowout, one of the country’s favourite party destinations – Malia
in Crete – is restricting access to groups of pissed-up clubbers in favour of
families from better-behaved countries. Up to 95% of the town’s hotels have
banned package deals for the 18 to 30 age group (really it should be 18 to 20,
because anyone who has been there will tell you that by 21 you’re already too
ancient for Malia’s notorious strip), and 10,000 British holidaymakers have now
been turned away.
It serves us right.
A week of surnburnt binge-drinking at chlamydia-ridden foam
parties (followed, next morning, by a dose of emergency contraception and an
interpretation of a “full English” involving inexplicable frankfurters) has
become, in the last decade or two, a rite of passage for young British people
keen to blow off steam after their exams. Resorts such as Magaluf, Faliraki,
Ayia Napa, Kavos and, of course, Malia have become synonymous with a certain
type of party-goer.
This is nothing new – the paralytic “Brits on tour” genre of
fly-on-the-wall reality TV programming has proved itself to have much mileage,
its interpretations ranging from Sun, Sex and Suspicious Parents to The
Inbetweeners film. Tabloids relish the photographs of scantily-clad,
vomit-strewn young women that emerge each summer, and videos of the tawdry “sex
games” played in bars at the behest of tour operators go viral.
This coverage often carries an unpleasantly shaming tone,
not to mention an unsavoury dollop of classism. There’s historically been a
snobbery around package holidays on the part of those who seem to believe that
working-class people don’t deserve or aren’t fit to travel, which ignores the
fact that bad behaviour in resorts such as Malia transcends class boundaries
(not to mention that a large proportion of these kids are middle class).
There’s also the uncomfortable fact of our reputation as holidaymakers abroad –
it’s wretched, and we all know it.
I doubt that this will have been helped by Brexit … Much of
Brits’ behaviour abroad is what might be termed Brexity
I doubt that this will have been helped by Brexit. Our
standing on the continent is at an all-time low. Indeed, much of Brits’
behaviour abroad – the sense of entitlement, the determination to behave in
ways one never would at home, the lack of respect for cultural or linguistic
diversity, the pig-headed belief (even when your head is in a toilet) that
you’re somehow superior to other countries – is what might be termed Brexity.
This isn’t about being a puritan who feels holidaymakers should be banned from
enjoying themselves; it’s about accepting that we have a certain reputation
because we have a certain genre of tourists who believe themselves to be better
than everyone else, and that we should be ashamed of it.
I’ve been to Malia – despite, at 26, being far too old for
it – because flying into Crete is a cheap way to get to the more sedate
Cyclades islands. It has a beautiful beach and coastline, and a stunning old
town full of excellent restaurants with little tables under clusters of
bougainvillea, where they welcome you with open arms and serve raki that their
mothers made in their bathtubs. Yet turn a corner, and you’re confronted with a
teeming approximation of Watford High Street on a Saturday night (even the
revolving dancefloor is imported).
You might simply conclude that I’m a stuck-up old lady for
preferring the traditional side of Malia, but you have to admit that a tourist
industry so focused on hammered British teenagers is going to be unpleasant for
the locals. Our hotel room had a sign listing the cost of everything that
wasn’t nailed down in case of breakage. Imagine dealing with that on a
day-to-day basis. No wonder enraged locals in the Corfu town of Kavos have set
up a Facebook group documenting bad behaviour.
There’s an assumption on the part of many British people
that we can simply continue to behave this way in perpetuity, and that others
should count themselves lucky that we deign to spend our tourist euros in their
backyard. But people do not have infinite reserves of friendship and goodwill.
Greece is one of the most beautiful and welcoming countries that I have
visited, not to mention the birthplace of democracy and fried cheese (the food
of the gods). Seeing how British binge-drinking culture has destroyed Malia and
other resorts like it would make many of us blush.
As hoteliers begin to realise that they’d rather have a nice
Dutch family as guests, and tourists become increasingly aware of the appeal of
flexible travel offered by budget airlines and Airbnb, you wonder how long the
tits and tequila culture of the 18 to 30 holiday can last. Perhaps we’ll mourn
its demise when it comes – as the end of an era – but it would do wonders for
Britain’s reputation.
O mais elementar respeito pelo país e
pelos que nele habitam – aqueles que votam e elegem o poder político – obrigava
Governo e oposição a terem o mais básico bom-senso
Como é possível o país continuar a arder sem que as
populações sintam a mais leve réstia de segurança? As alterações climatéricas
são uma realidade vinda para ficar, mas não chegaram de repente este Verão.
Elas estão anunciadas, como anunciada estava há décadas a descoordenação e a
inoperância de uma política de prevenção e de combate a incêndios descurada por
sucessivos governos. Também em Espanha e França há incêndios de novo tipo,
milhares de habitantes retirados das zonas ameaçadas pelas chamas. Bem pode
Marta Soares vociferar contra tudo e todos, mas a verdade é que os bombeiros
parecem viver ainda no século XX, à imagem de toda a estrutura de Estado
relacionada com o assunto. E, enquanto o país arde, como escrevia Amílcar
Correia no PÚBLICO, oposição e Governo mostram desnorte e incapacidade de
responder às preocupações da população.
Ninguém espera que num mês fiquem operacionais estruturas
delapidadas e retalhadas ao longo de décadas ou sejam criadas outras. Mas o
mais elementar respeito pelo país e pelos que nele habitam — aqueles que votam
e elegem o poder político — obrigava Governo e oposição a terem o mais básico
bom senso. Pelo contrário, assiste-se a tácticas politiqueiras, sem nenhuma
noção de interesse público ou dimensão de serviço público. Correm à frente ou
atrás das chamas de modo a não saírem chamuscados ou a incendiarem
politicamente os outros.
Do lado da oposição — e neste domínio o PCP e o BE só
parecem existir para impor braços-de-ferro em votações parlamentares — o CDS
apenas se mostra interessado em capitalizar politicamente através da ameaça de
uma moção de censura. Ninguém percebe bem para quê, num Parlamento em que a
esquerda está unida para uma legislatura. A ideia que Assunção Cristas dá, cada
vez que volta à ameaça, é tão confrangedora como a imagem das populações
atingidas pelo fogo a combaterem as chamas com baldes de plástico. Só que no
caso das vítimas de incêndio há danos e falta de meios alternativos. No CDS
parece haver tão-só chico-espertismo e ausência de qualquer ideia de país.
Isto, quando a líder do CDS foi ministra da Agricultura quatro anos e não reza
a história que algo tenha feito para contrariar o disparate geral das políticas
florestais.
Depois da gaffe de Passos Coelho sobre os alegados suicídios
— algo inexplicável em alguém minimamente preparado e que só revela desespero
político —, o PSD entrou num jogo táctico de exploração de casos e casinhos —
seguindo a onda da histeria das redes sociais —, numa tentativa, também ela de
chicos-espertos, de provocar erosão na imagem do executivo.
Quanto ao Governo, revela uma face do primeiro-ministro
ocultada nos dois primeiros anos de governação. O político hábil deixou-se
desequilibrar pela turba dos acontecimentos. Não tanto pela pressão da
oposição, mas pela da comunicação social, a qual reaprendeu que não tem de
seguir apenas a agenda ditada pelos políticos, ainda que muitas vezes siga a
histeria das redes sociais e adira a um sensacionalismo nada esclarecedor, como
foi o caso do Expresso no sábado, cuja manchete não correspondia à notícia no
interior, ou os vários órgãos de comunicação social que noticiaram uma lista de
72 mortos sem o confirmarem.
António Costa optou por uma táctica de disseminação de
responsabilidades — como bem notou António Barreto no Diário de Notícias. Num
primeiro momento, cedeu ao PSD a criação de uma equipa de peritos no âmbito do
Parlamento e disparou perguntas e inquéritos, para, depois, impor a "lei
da rolha" aos bombeiros. E, desde o início, desvalorizou o papel de
esclarecimento público do Estado e a responsabilidade política do Governo.
Mas, perante a pressão da comunicação social, Costa
despistou-se. Levado pelo seu excesso de auto-suficiência, começou a
precipitar-se nas respostas, como na declaração de que estava tudo esclarecido
sobre os mortos de Pedrógão. E colocou-se no "olho do furacão". Nada
indica estar em causa a solidez da maioria que apoia o Governo, mas pode até
acontecer que o Governo arda este Verão. Se isso acontecer, dever-se-á apenas à
incapacidade do primeiro-ministro de evitar tropeçar no novelo que criou.
Tinha prometido a mim mesma não voltar a escrever sobre
incêndios por estes dias. E sobretudo tentar não o fazer emotivamente. Porque é
fácil, quando as coisas nos tocam muito, que nos falhe a lucidez. E o
jornalismo exige-a. Mas esta tarde, ao abrir o Facebook, fui surpreendida pela
partilha incessante de uma publicação que fiz esta semana, a acompanhar
fotografias das terras dos meus pais após a passagem das chamas.
"Nunca me esqueço de onde venho. Do meio das estevas.
Do pó. O fogo arrasa a superfície. Mas não nos leva as raízes".
Ao ver Proença-a-Nova mobilizada pela reconstrução a partir
de meia dúzia de palavras, tive um sentimento misto. De imediato a confiança na
resiliência e na capacidade infinita de regeneração da natureza e de quem vive
em comunhão com ela. Mas logo a seguir um desconforto. Porque a vida rompe
sempre, sim, mas neste caso não basta o otimismo.
Embora com características e dimensões diferentes, concelhos
como Pedrógão, Sertã, Proença e Mação, ligados entre si, lidam com o mesmo
drama do despovoamento. Sabem que só são notícia no verão quando as chamas
dominam a agenda mediática. Sabem que os políticos do poder central raramente
passam por ali. E que anos e anos de promessas de desenvolvimento do interior
ficaram por cumprir.
Sem capacidade para atrair grandes empresas, com agravantes
como as elevadas portagens das antigas scut, apostaram nos recursos naturais
como via de desenvolvimento. As praias fluviais, os passeios pedestres, as
aldeias de xisto, tudo sai enfraquecido pelas cinzas. E em territórios já de si
frágeis, qual será o real impacto, nas economias locais, de incêndios tão
graves?
Por agora, o Governo tem tido sorte com a incapacidade da
Oposição, perdida em declarações suicidas e ultimatos caricatos. Mas há de
facto um antes e um depois de Pedrógão. Não apenas pela dimensão única da
tragédia, como em entrevista considerou Pedro Nuno Santos, secretário de Estado
dos Assuntos Parlamentares, mas porque a equipa de António Costa tem de
demonstrar que é capaz de ir além da gestão dos compromissos à Esquerda.
Não basta fazer declarações de amor ao interior. Os
incêndios têm de ser uma oportunidade para repensar muito mais do que reformas
florestais. Para olhar de uma vez por todas para esse país rural envelhecido,
vazio e cansado de ver anunciadas medidas sem efeitos. Sem políticas novas,
acompanhadas de investimento, por mais que as populações batalhem será difícil
sair das cinzas.
Uma das poucas boas notícias no meio deste terrível Verão
tem sido o papel que a comunicação social tem desempenhado desde a tragédia de
Pedrógão. Há vários meios que têm razões para estar orgulhosos do trabalho que
têm feito — o PÚBLICO é um deles —, e eu sinto-me tanto mais à-vontade para
dizer isto quanto sou altamente crítico da capacidade dos jornais nacionais
para desempenharem o seu papel de watchdogs e actuarem como efectivo contrapeso
num país onde o Estado detém demasiado poder e os meios de comunicação se
encontram, por razões económicas, profundamente fragilizados.
A comunicação social portuguesa tem muito pouco de que se
orgulhar na última década, e nalguns momentos foi até vergonhosamente cúmplice daquilo que aconteceu ao
país — sim, estou a falar dos anos socráticos. Felizmente, o pós-Pedrógão tem
sido outra coisa. Pela sua actuação e pela sua resiliência, os jornais têm
obrigado as instituições públicas a serem mais transparentes, e têm exposto as
fragilidades e contradições do Governo, exigindo mais competência ao poder
executivo e colocando-se do lado das vítimas e dos cidadãos que reclamam o
direito a serem informados sem subterfúgios, leis da rolha ou habilidades
burocráticas. A divulgação da lista dos mortos de Pedrógão por parte do
Ministério Público, e a mudança de atitude por parte do Governo depois do “está
tudo esclarecido” de António Costa, devem-se ao papel da comunicação social,
que não se sentiu intimidada por aqueles que a acusaram de “populismo” ou de
“aproveitamento político”. Como já referi várias vezes, este país é especialista
em invocar os grandes princípios para fugir às mais básicas responsabilidades
na prestação de contas — os anos socráticos, mais uma vez, servem como
excelente demostração desta táctica rasteira.
Agora que o número de mortos evoluiu de 64 para 64+2, há
quem nos venha dizer que o Governo e os seus apoiantes é que tinham razão, e
que assim se demonstrou que ninguém estava a mentir, nem a esconder vítimas. Eu
próprio fui acusado de ter escrito um artigo “deplorável” na terça-feira, e de
ser um dos que andam a promover a utilização “sem vergonha” dos mortos para
obter dividendos políticos. Não me lixem, senhores. Quem isto afirma comete
mais uma vez o prodígio de não perceber coisa alguma.
O importante não é sequer o facto de o número de mortos ter
efectivamente crescido, e de se ter provado o rigor da notícia do Expresso
quanto à 65.ª vítima. O importante é que isto nunca foi uma questão de números,
mas de básica transparência no acesso à informação. É obviamente inaceitável
num país civilizado considerar o nome de quem morre numa tragédia natural como
informação privilegiada ou ao abrigo do segredo de justiça. Aliás, era tão
fundamental, mas tão fundamental, que a lista se mantivesse secreta, e tão crucial,
mas tão crucial, manter todos os poderes minuciosamente separados neste tema,
que a lista dos mortos foi divulgada pela Procuradoria-Geral da República assim
que a temperatura começou a atingir níveis proibitivos ali para os lados de São
Bento.
Se alguém falhou aqui — e muito — foi a política de
comunicação do Governo e das instituições do Estado, que através da costumeira
falta de transparência alimentaram as teorias da conspiração. Os jornais — e os
partidos da oposição — fizeram o seu papel. E conseguiram, pela sua
insistência, obter com provas a verdade dos factos. Se é isto o populismo,
então eu quero continuar a ser populista.
O telefone tocou, era o Governo a
pedir calma. "Sr. ministro, mande isso por escrito"
Adalberto Campos Fernandes não
esperou pela volta do correio para responder às inquietações da Assembleia
Municipal de Lisboa sobre o futuro hospital de Chelas. Ao telefone, garantiu
que "não haverá menos cuidados de saúde em Lisboa, mas mais". Os
deputados não querem só 31 de boca.
Ministro da Saúde telefonou para a
Assembleia Municipal durante o debate sobre os terrenos do novo hospital
A menos que tenha
seguido por Correio Azul, a carta pouco meiga que Helena Roseta escreveu ao
ministro da Saúde ainda não tinha tido tempo de chegar à Av. João Crisóstomo
quando, esta quinta-feira, Adalberto Campos Fernandes decidiu não perder tempo
e telefonou directamente a Roseta para lhe transmitir “um conjunto de coisas”
sobre o Hospital de Lisboa Oriental, a construir em Chelas.
Teve muita pontaria. A assembleia municipal, a que Roseta
preside, votava nesse preciso momento a venda de mais um terreno municipal ao
Estado para permitir a construção do dito hospital.
“Senhores deputados,
vão poder criticar-me, mas sucedeu aqui uma questão”, disse a autarca logo
depois de ter sido aprovada a venda de 28 mil metros quadrados de terreno por
4,2 milhões de euros. “Enquanto estava um dos senhores deputados a falar sobre
esta matéria, eu recebi uma chamada telefónica do senhor ministro da Saúde, que
eu nem sabia que tinha aquele número de telefone, directa, para me dizer um
conjunto de coisas”, anunciou Helena Roseta.
Adalberto Campos Fernandes terá tentado aplacar a irritação
que Roseta demonstrou na missiva que lhe escreveu na terça-feira. “O que o
senhor ministro me disse foi que assumia o compromisso de que nada será feito
sem o acordo da assembleia municipal, que as 875 camas do novo hospital
resultam do seu desenho funcional, mas que não serão encerradas camas em Lisboa
e que não haverá menos cuidados de saúde em Lisboa, mas mais”, explicou.
Por partes. A presidente da assembleia municipal decidiu
escrever uma carta ao ministro porque, como o PÚBLICO deu conta, a
Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo deu uma resposta às
dúvidas dos deputados que a autarca considerou pouco satisfatória. E não se
coibiu de dizer claramente a Adalberto Campos Fernandes que, por um lado, havia
uma questão democrática: “A cidade não foi ouvida e certamente não aceitará ser
assim subalternizada.”
Por outro lado, e perante a informação de que a abertura do
hospital em Chelas vai implicar o encerramento total ou parcial de seis
hospitais do centro da cidade, Roseta assumia “não se compreender como é que um
hospital de 875 camas pode substituir as 1307 camas do Centro Hospitalar de
Lisboa Central”.
Com o telefonema, o ministro tentou dar resposta às duas
questões. A autarca pediu-lhe que as coisas não se ficassem por um 31 de boca.
“E eu disse ao senhor ministro que, em primeiro lugar, estamos em final de
mandato; em segundo lugar, ‘essa informação que o senhor ministro me está a
dar, tem de a mandar por escrito’ e [por fim] que irá lá receber as
deliberações que nós estamos a tomar”, disse Roseta. A presidente explicou
ainda que não informou os deputados deste telefonema durante a votação das
propostas para não “influenciar o processo decisório”.
À semelhança do que já tinham dito na terça-feira, os
deputados mostraram desagrado pela forma como a assembleia municipal foi
tratada pelo ministério. “Faço-lhe notar que, formalmente, o senhor ministro
não se dignou responder à presidente da assembleia. A menos que ultimamente se
considere um telefonema particular [como] parte de qualquer procedimento
administrativo válido, agradeço-lhe a sua posição de nos informar, mas é uma
conversa telefónica particular, esta assembleia não a pode sequer levar em
consideração”, observou Margarida Saavedra, do PSD. “[O ministro] quis fazer
boa figura, mas, ó senhora presidente, à nossa custa o senhor ministro não faz
boa figura a não ser que use os mecanismos formais”, acrescentou.
Pelo MPT, também Vasco Santos criticou o ministro. “Só agora
quando sentiu que este processo estava muito molhado é que houve um telefonema
salgado para resolver a situação.”
A venda dos terrenos foi aprovada com os votos contra de PSD
e PAN e a abstenção de CDS e MPT. Os deputados destes partidos alegaram que se
devia ter usado os terrenos como “arma” para pressionar o Ministério da Saúde.