Qual
é afinal a estratégia para o comércio?
Carla Salsinha /
3-8-2016 / PÚBLICO
Ao longo das últimas
décadas, as estruturas associativas têm vindo a debater-se perante
os sucessivos governos por uma estratégia para o comércio das
cidades. Sempre se defendeu a existência de um urbanismo comercial
que definiria qual a visão para o nosso setor, mas de uma forma
nacional. existência de tal plano teria permitido uma
sustentabilidade efetiva do comércio das cidades, a sua preservação
e também aquando da alteração da lei do arrendamento que provocou
esta avalanche de encerramentos, ao contrário da tão afamada forma
de equilíbrio do mercado, salvar centenas de lojas hoje encerradas e
que são parte da identidade das cidades.
Contudo, é com
pesar que verificamos que não temos memória de um governo se
interessar por tal, certamente que o urbanismo comercial traria
limitações menos desejadas, como a abertura de muitas das grandes
superfícies comerciais. No entanto, os que uns veem como
condicionantes nós entendemos como sustentabilidade, a
sustentabilidade de todo o comércio, seja ele de multinacionais, de
pequenas empresas ou de comércio de proximidade. O impacto das
grandes superfícies comerciais no comércio de proximidade tem sido
enorme e a juntar a isto surge a nova lei do arrendamento. As
estruturas que ao longo das décadas têm apoiado os empresários
lutaram e defenderam uma lei específica para o comércio, à parte
da lei do arrendamento, mas também em vão. Falta percebermos o
porquê de estas estruturas não serem escutadas quando representam
uma enorme parte dos empresários, dos que diariamente trabalham e
contribuem para a economia nacional, desde sempre, desde há séculos,
e não é apenas uma expressão.
Fossem precisos
exemplos e não teríamos espaço para os enumerar. Começamos por um
mais recente: foi publicado no Diário da República a constituição
da Comissão para a Revitalização do Comércio Local de
Proximidade, bem como os respetivos membros que a compõem. Como
presidente de uma das estruturas representativas do setor do Comércio
e Serviços, a UACS, desconheço quais os objetivos e fins desta
comissão e quais os temas que serão colocados na sua agenda. Espero
que sejam efetivamente os que aos milhares de empresários que
diariamente exercem a sua atividade interessem, em particular, as
questões do arrendamento e não somente as Lojas com História, as
questões laborais e em especial a atratividade de uma classe mais
jovem para este setor, as questões fiscais e tributárias, bem como
exigências iguais para todos os agentes que exercem a atividade
comercial, as questões de mobilidade, as questões da desertificação
e da turistificação das cidades.
Por outro lado,
espero que nesta comissão a escolha dos seus membros e das entidades
tenha recaído sobre aqueles que mais sabem sobre o setor do comércio
local, aqueles que diariamente exercem esta atividade, bem como das
estruturas associativas que ao longo dos séculos destas matérias do
comércio de proximidade têm tratado, e não sobre os ditos
especialistas que, sem dúvida, nas suas matérias serão excelentes
profissionais mas que do setor não entendem (como na lei do
arrendamento) e dos quais as nossas classes profissionais já começam
a estar saturadas e aos quais dizemos claramente EXIT.
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