quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Há cinco anos que não havia tantos fogos em Julho


Há cinco anos que não havia tantos fogos em Julho
Também a área ardida disparou nesse período, mas mantém-se muito abaixo da média dos últimos dez anos

3-8-2016 / PÚBLICO

O número de incêndios florestais aumentou significativamente na última quinzena de Julho, quando se registaram 2178 ocorrências, fazendo subir para 5058 o total de fogos ocorridos este ano no país.

Os números foram avançados ontem pela Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), segundo a qual os 3331 incêndios do último mês superaram em 11% a média dos últimos dez anos. Desde 2011 que não se registavam tantos incêndios em Julho, um mês que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera já classificou como o segundo Julho mais quente desde 1931.

No entanto, a área ardida mantémse significativamente abaixo, correspondendo a metade da média dos últimos dez anos. Durante o mês de Julho arderam 5943 hectares de floresta em Portugal, cerca de 80% do total (7532 hectares) deste ano.

Segundo a ANPC, o Porto foi o distrito com maior número de ocorrências no último mês, sendo Castelo Branco, com cerca de 1200 hectares ardidos, o distrito com mais área ardida. Destes, 921 hectares foram consumidos num único grande incêndio, o pior do ano até agora em Portugal, ocorrido a 26 de Julho em Monforte da Beira.

José Manuel Moura, comandante operacional nacional da ANPC, esclareceu que apenas se consideram grandes incêndios aqueles em que a área ardida é superior a 500 hectares. Até agora houve dois este ano em Portugal, incluindo, além de Monforte da Beira, o ocorrido a 25 de Julho no concelho de Coruche (Santarém), que consumiu um total de 547 hectares.

Dispositivo “mais oleado”

José Manuel Moura avançou ainda que em três dias de Julho o número de ocorrências diárias foi superior a 150 — o que dá uma média de mais de seis incêndios por hora. Os dias 24, 25 e 27 de Julho, em que os termómetros subiram bem acima dos 30 graus Celsius em grande parte do território continental, foram os que contabilizaram mais ocorrências, com 197, 196 e 153, respectivamente. As estatísticas mostram igualmente que metade (47%) das ignições ocorre no período entre as 12h e as 17h.

Os números ontem apresentados pela ANPC confirmam assim o cenário que vários especialistas tinham avançado na última semana ao PÚBLICO: que com o aumento gradual das temperaturas vão-se diluindo os efeitos de uma Primavera extremamente chuvosa que retardou o aparecimento de condições propícias a incêndios florestais. “A chuva atrasou o início dos fogos, mas o acumular da secura pode complicar o cenário nas próximas semanas”, dizia então Joaquim Sande Silva, professor na Escola Superior Agrária de Coimbra.

Apesar do agravamento da situação, José Manuel Moura revelou que os objectivos do comando da ANPC para a fase Charlie do dispositivo especial de combate a incêndios florestais estão a ser “amplamente conseguidos”. E recusou atribuir os louros do sucesso apenas à meteorologia, sublinhando que o dispositivo “está mais oleado”.

Os últimos incêndios mais significativos do mês foram os do passado fim-de-semana em Manteigas, na Mata do Cabeço e no Sameiro, o último dos quais foi o primeiro em 2016 a demorar mais de 24 horas a ser dominado. Ambos tiveram mais de 430 operacionais envolvidos, acompanhados cada um por 132 viaturas e dez meios aéreos. Estima-se que a área ardida no conjunto dos dois fogos tenha atingido os 370 hectares.

Na fase Charlie, que decorre de 1 de Julho a 30 de Setembro e é considerada a mais crítica do ano em matéria de incêndios, estão envolvidos 9708 operacionais, 2043 viaturas e 47 meios aéreos. O comandante da ANPC disse que até agora não há vítimas a registar, à excepção de pequenos ferimentos em bombeiros provocados na maioria dos casos por inalação de fumo. José Manuel Moura revelou ainda que a partir do próximo fim-de-semana a situação no terreno pode voltar a agravar-se devido à subida significativa das temperaturas prevista para essa altura.

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