Há
cinco anos que não havia tantos fogos em Julho
Também
a área ardida disparou nesse período, mas mantém-se muito abaixo
da média dos últimos dez anos
3-8-2016 / PÚBLICO
O número de
incêndios florestais aumentou significativamente na última quinzena
de Julho, quando se registaram 2178 ocorrências, fazendo subir para
5058 o total de fogos ocorridos este ano no país.
Os números foram
avançados ontem pela Autoridade Nacional de Protecção Civil
(ANPC), segundo a qual os 3331 incêndios do último mês superaram
em 11% a média dos últimos dez anos. Desde 2011 que não se
registavam tantos incêndios em Julho, um mês que o Instituto
Português do Mar e da Atmosfera já classificou como o segundo Julho
mais quente desde 1931.
No entanto, a área
ardida mantémse significativamente abaixo, correspondendo a metade
da média dos últimos dez anos. Durante o mês de Julho arderam 5943
hectares de floresta em Portugal, cerca de 80% do total (7532
hectares) deste ano.
Segundo a ANPC, o
Porto foi o distrito com maior número de ocorrências no último
mês, sendo Castelo Branco, com cerca de 1200 hectares ardidos, o
distrito com mais área ardida. Destes, 921 hectares foram consumidos
num único grande incêndio, o pior do ano até agora em Portugal,
ocorrido a 26 de Julho em Monforte da Beira.
José Manuel Moura,
comandante operacional nacional da ANPC, esclareceu que apenas se
consideram grandes incêndios aqueles em que a área ardida é
superior a 500 hectares. Até agora houve dois este ano em Portugal,
incluindo, além de Monforte da Beira, o ocorrido a 25 de Julho no
concelho de Coruche (Santarém), que consumiu um total de 547
hectares.
Dispositivo “mais
oleado”
José Manuel Moura
avançou ainda que em três dias de Julho o número de ocorrências
diárias foi superior a 150 — o que dá uma média de mais de seis
incêndios por hora. Os dias 24, 25 e 27 de Julho, em que os
termómetros subiram bem acima dos 30 graus Celsius em grande parte
do território continental, foram os que contabilizaram mais
ocorrências, com 197, 196 e 153, respectivamente. As estatísticas
mostram igualmente que metade (47%) das ignições ocorre no período
entre as 12h e as 17h.
Os números ontem
apresentados pela ANPC confirmam assim o cenário que vários
especialistas tinham avançado na última semana ao PÚBLICO: que com
o aumento gradual das temperaturas vão-se diluindo os efeitos de uma
Primavera extremamente chuvosa que retardou o aparecimento de
condições propícias a incêndios florestais. “A chuva atrasou o
início dos fogos, mas o acumular da secura pode complicar o cenário
nas próximas semanas”, dizia então Joaquim Sande Silva, professor
na Escola Superior Agrária de Coimbra.
Apesar do
agravamento da situação, José Manuel Moura revelou que os
objectivos do comando da ANPC para a fase Charlie do dispositivo
especial de combate a incêndios florestais estão a ser “amplamente
conseguidos”. E recusou atribuir os louros do sucesso apenas à
meteorologia, sublinhando que o dispositivo “está mais oleado”.
Os últimos
incêndios mais significativos do mês foram os do passado
fim-de-semana em Manteigas, na Mata do Cabeço e no Sameiro, o último
dos quais foi o primeiro em 2016 a demorar mais de 24 horas a ser
dominado. Ambos tiveram mais de 430 operacionais envolvidos,
acompanhados cada um por 132 viaturas e dez meios aéreos. Estima-se
que a área ardida no conjunto dos dois fogos tenha atingido os 370
hectares.
Na fase Charlie, que
decorre de 1 de Julho a 30 de Setembro e é considerada a mais
crítica do ano em matéria de incêndios, estão envolvidos 9708
operacionais, 2043 viaturas e 47 meios aéreos. O comandante da ANPC
disse que até agora não há vítimas a registar, à excepção de
pequenos ferimentos em bombeiros provocados na maioria dos casos por
inalação de fumo. José Manuel Moura revelou ainda que a partir do
próximo fim-de-semana a situação no terreno pode voltar a
agravar-se devido à subida significativa das temperaturas prevista
para essa altura.
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