França
indignada com nomeação de Durão Barroso para o Goldman Sachs
PÚBLICO e LUSA
09/07/2016 – PÚBLICO
"Conflito
de interesses", uma "indecência" e um "manguito
à Europa" são algumas das críticas. Eurodeputados socialistas
de França querem novas regras para evitar recrutamento dos
ex-comissários. No Expresso , Durão responde que se é “criticado
por ter cão e por não ter”.
“Barroso na
Goldman Sachs, um manguito à Europa”, é o título no jornal
francês Libération. O diário de esquerda talvez seja o mais
atrevido mas não é o único na imprensa francesa que faz eco do
coro de críticas e da polémica que se instalou após o anúncio
sobre a nomeação do ex-presidente da Comissão Europeia, Durão
Barroso, para a presidência do maior banco de investimento do mundo,
a Goldman Sachs International, como chairman (presidente não
executivo). Vários líderes políticos franceses criticaram este
sábado a nomeação de Durão Barroso para presidente não-executivo
do banco norte-americano, considerando que há “conflito de
interesses” e que é uma “indecência”.
“Servir os
cidadãos para se servir da Goldman Sachs: Barroso representante
indecente de uma velha Europa que a nossa geração vai mudar”,
escreveu no Twitter o secretário de Estado do Comércio Externo
francês, Matthias Fekl.
Tal como o
responsável governamental socialista francês, os eurodeputados do
PS de França consideraram que há um “escandaloso conflito de
interesses”. “Exigimos a revisão das regras para evitar o
recrutamento de antigos comissários europeus”, referiram, em
comunicado, aqueles eurodeputados.
A presidente do
partido de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, também
usou a rede social do Twitter para declarar que esta nomeação "não
tem nada de surpreendente para quem sabe que a UE não serve os
povos, mas a alta finança".
Segundo a imprensa
francesa, o banco de Wall Street é dos que vendeu os produtos
financeiros mais complexos – hipotecas de alto risco – que
estiveram na origem da crise em 2008. “O Goldman Sachs é também o
banco que ajudou os gregos a mexer nas suas contas no início de
2000”, acrescenta o semanário francês Obs, sublinhando que a
União Europeia “não precisa disto”.
“Este é o pior
momento, um símbolo desastroso para a União Europeia e uma bênção
para os ‘eurofóbicos’”, acrescentou o diário francês
Liberation.
“Criticado por ter
cão e por não ter”
Em declarações ao
semanário Expresso deste sábado, Durão Barroso afirmou que se é
“criticado por ter cão e por não ter”. “Se se fica na vida
política é porque se vive à conta do Estado, se se vai para a vida
privada é porque se está a aproveitar a experiência adquirida na
política”, acrescentou o antigo primeiro-ministro ao semanário.
O ex-presidente da
Comissão Europeia nota ainda que por causa da crise de 2008 teve de
lidar com um programa de reformas vasto e ambicioso e que possui
grande experiência e independência na área financeira. Durão
Barroso refere ainda que aceitou este convite pelo desafio e que o
considera um reconhecimento das suas competências. O PS português
já veio lembrar que o ex-primeiro-ministro social-democrata presidiu
à Comissão Europeia nos piores anos.
As reacções em
Portugal à polémica nomeação surgiram mal a notícia se soube,
com a esquerda a criticar, a direita remetida ao silêncio e o
Presidente da República a elogiar. O Presidente da República
considerou que Durão Barroso atingiu "o topo da vida
empresarial" ao ser nomeado presidente não executivo da Goldman
Sachs International e disse gostar "de ver portugueses
reconhecidos em lugar cimeiros".
Em declarações à
AFP, um porta-voz da Comissão Europeia defende ainda que os
ex-comissários têm o direito de prosseguir a sua carreira
profissional ou política e conclui: "É legítimo que as
pessoas dotadas de uma grande experiência e qualificações
continuem a ter papéis de destaque no sector público ou privado"
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