sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Costa oferece a Merkel duas mil vagas no ensino superior para refugiados

Na quinta-feira, o diário alemão Handelsblatt escrevia que as críticas à chanceler passaram a ser “o novo passatempo nacional”. Em termos de popularidade, a chanceler já está abaixo do chefe da Diplomacia, Franz-Walter Steinmeier (SPD) e do ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble.

Costa oferece a Merkel duas mil vagas no ensino superior para refugiados
TERESA DE SOUSA 05/02/2016 - PÚBLICO

Uma outra proposta do Governo destina-se ao recrutamento de refugiados que estejam disponíveis para trabalhar na agricultura.

António Costa leva nesta sexta-feira a Berlim um conjunto de propostas “significativas” para ajudar Angela Merkel a lidar com a pressão dos refugiados na Alemanha, que recebeu inicialmente de braços abertos mas que hoje estão a gerar uma grande polémica, incluindo dentro do seu próprio partido, a CDU.

O primeiro-ministro disse ao PÚBLICO, antes de partir para Berlim, na noite de quinta-feira, que quer renovar a velha tradição europeia de António Guterres, para quem Portugal deveria ser sempre “uma ajuda para as soluções europeias” em todos os tabuleiros políticos, e não mais um problema. É “com esse espírito” que se vai encontrar com a chanceler alemã.

Com o Orçamento para 2016 fechado e aprovado em Conselho de Ministros, António Costa leva à chanceler, com quem almoça nesta sexta-feira, um conjunto de medidas concretas destinadas a favorecer a integração dos refugiados e já devidamente quantificadas.

Uma dessas medidas visa oferecer duas mil vagas que hoje existem nas universidades e nos politécnicos portugueses para receber estudantes, que podem assim seguir o seu percurso universitário, ajudando ao mesmo tempo as instituições do ensino superior a encontrarem novas formas de financiamento.

Esta proposta vem no seguimento da iniciativa de Jorge Sampaio para integrar refugiados sírios nas universidades portuguesas, que agora ganha uma nova dimensão. Uma outra proposta do Governo destina-se ao recrutamento de refugiados que estejam disponíveis para trabalhar na agricultura, nomeadamente em sectores que são já hoje muito competitivos, como a produção em estufas, e que se vêem obrigados a recrutar trabalhadores vietnamitas ou tailandeses por falta de mão-de-obra. A abertura do mercado alemão a estes produtos agrícolas é um dos seus objectivos. Costa visita esta manhã uma grande feira ligada ao sector, a Fruit Logistica 2016, que está a decorrer em Berlim.

A questão dos refugiados, que hoje ocupa o topo da agenda política de muitos governos europeus, alimentando os partidos xenófobos e anti-europeus, já tinha sido um dos temas abordados durante a sua visita a Haia, para conversações com o seu homólogo holandês Mark Rutte, que preside à União Europeia no primeiro semestre deste ano.

Até agora, a Europa não conseguiu sequer um esboço do que poderia ser uma estratégia comum para enfrentar um desafio que não vai desaparecer nos próximos tempos. As medidas aprovadas não são cumpridas. Sucedem-se os casos, como a Dinamarca, em que são tomadas medidas extremas para manter os refugiados fora das suas fronteiras. Angela Merkel foi praticamente a única líder europeia que valorizou a chegada de quase um milhão de refugiados à Alemanha, na sua maioria vindos da Síria e do Iraque. A chanceler considera que, no médio prazo, os refugiados podem ser uma contribuição preciosa para contrariar o envelhecimento da população alemã e lembra que os valores europeus não são para deixar na gaveta. Esta atitude levou-a pela primeira vez a perder o apoio maioritário dos alemães, que manteve enquanto geria a crise do euro. Na quinta-feira, o diário alemão Handelsblatt escrevia que as críticas à chanceler passaram a ser “o novo passatempo nacional”. Em termos de popularidade, a chanceler já está abaixo do chefe da Diplomacia, Franz-Walter Steinmeier (SPD) e do ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble.


Sem problemas com a chegada de refugiados, Portugal está em condições de dar o seu contributo numa matéria em que o Governo pensa basicamente o mesmo que a chanceler e em que não há grandes divergências políticas entre os partidos.  

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