Costa
oferece a Merkel duas mil vagas no ensino superior para refugiados
TERESA DE SOUSA
05/02/2016 - PÚBLICO
Uma
outra proposta do Governo destina-se ao recrutamento de refugiados
que estejam disponíveis para trabalhar na agricultura.
António Costa leva
nesta sexta-feira a Berlim um conjunto de propostas “significativas”
para ajudar Angela Merkel a lidar com a pressão dos refugiados na
Alemanha, que recebeu inicialmente de braços abertos mas que hoje
estão a gerar uma grande polémica, incluindo dentro do seu próprio
partido, a CDU.
O primeiro-ministro
disse ao PÚBLICO, antes de partir para Berlim, na noite de
quinta-feira, que quer renovar a velha tradição europeia de António
Guterres, para quem Portugal deveria ser sempre “uma ajuda para as
soluções europeias” em todos os tabuleiros políticos, e não
mais um problema. É “com esse espírito” que se vai encontrar
com a chanceler alemã.
Com o Orçamento
para 2016 fechado e aprovado em Conselho de Ministros, António Costa
leva à chanceler, com quem almoça nesta sexta-feira, um conjunto de
medidas concretas destinadas a favorecer a integração dos
refugiados e já devidamente quantificadas.
Uma dessas medidas
visa oferecer duas mil vagas que hoje existem nas universidades e nos
politécnicos portugueses para receber estudantes, que podem assim
seguir o seu percurso universitário, ajudando ao mesmo tempo as
instituições do ensino superior a encontrarem novas formas de
financiamento.
Esta proposta vem no
seguimento da iniciativa de Jorge Sampaio para integrar refugiados
sírios nas universidades portuguesas, que agora ganha uma nova
dimensão. Uma outra proposta do Governo destina-se ao recrutamento
de refugiados que estejam disponíveis para trabalhar na agricultura,
nomeadamente em sectores que são já hoje muito competitivos, como a
produção em estufas, e que se vêem obrigados a recrutar
trabalhadores vietnamitas ou tailandeses por falta de mão-de-obra. A
abertura do mercado alemão a estes produtos agrícolas é um dos
seus objectivos. Costa visita esta manhã uma grande feira ligada ao
sector, a Fruit Logistica 2016, que está a decorrer em Berlim.
A questão dos
refugiados, que hoje ocupa o topo da agenda política de muitos
governos europeus, alimentando os partidos xenófobos e
anti-europeus, já tinha sido um dos temas abordados durante a sua
visita a Haia, para conversações com o seu homólogo holandês Mark
Rutte, que preside à União Europeia no primeiro semestre deste ano.
Até agora, a Europa
não conseguiu sequer um esboço do que poderia ser uma estratégia
comum para enfrentar um desafio que não vai desaparecer nos próximos
tempos. As medidas aprovadas não são cumpridas. Sucedem-se os
casos, como a Dinamarca, em que são tomadas medidas extremas para
manter os refugiados fora das suas fronteiras. Angela Merkel foi
praticamente a única líder europeia que valorizou a chegada de
quase um milhão de refugiados à Alemanha, na sua maioria vindos da
Síria e do Iraque. A chanceler considera que, no médio prazo, os
refugiados podem ser uma contribuição preciosa para contrariar o
envelhecimento da população alemã e lembra que os valores europeus
não são para deixar na gaveta. Esta atitude levou-a pela primeira
vez a perder o apoio maioritário dos alemães, que manteve enquanto
geria a crise do euro. Na quinta-feira, o diário alemão
Handelsblatt escrevia que as críticas à chanceler passaram a ser “o
novo passatempo nacional”. Em termos de popularidade, a chanceler
já está abaixo do chefe da Diplomacia, Franz-Walter Steinmeier
(SPD) e do ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble.
Sem problemas com a
chegada de refugiados, Portugal está em condições de dar o seu
contributo numa matéria em que o Governo pensa basicamente o mesmo
que a chanceler e em que não há grandes divergências políticas
entre os partidos.
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