EDITORIAL / PÚBLICO
Guerra
aberta na Síria, falhanço em Genebra
DIRECÇÃO EDITORIAL
05/02/2016 - PÚBLICO
Assad
recupera, à bala e à bomba, o terreno perdido para os rebeldes. Luz
vermelha para a diplomacia.
Desde que se fala em
pôr termo à guerra na Síria que as várias “soluções”
propostas giram em torno de Assad como lobos em redor de um animal
inatacável. Com ele, sem ele, idealmente à margem do seu poder e do
seu exército, imaginam-se negociações onde se gize uma qualquer
transição para um futuro de onde Assad já não conste. A isso tem
ele respondido com o poder que ainda lhe resta, e não é pouco: o
exército e o apoio de fortes aliados, como a Rússia. E dos seus
planos não consta um afastamento, forçado ou voluntário, antes
pelo contrário. É por isso que, no meio do caos em que se encontra
a Europa face à vaga de refugiados – que da Síria emana como
torrente imparável – ele decidiu intensificar o ataque às cidades
ou territórios em poder dos rebeldes. Alepo, um dos bastiões do
chamado Exército livre da Síria (oposição armada com apoio
ocidental), está agora sob fogo, terrestre e aéreo. A Rússia
confirmou, através do seu ministério da Defesa, que desde o início
da semana foram realizadas 237 missões da aviação russa, atingindo
875 alvos nas províncias sírias de Alepo, Latakia, Homs, Hama e
Deir-al-Zor. Esta ofensiva, a coberto da ajuda militar russa, com a
qual Assad pretende recuperar o seu poder nas áreas antes perdidas,
inviabilizou as cândidas negociações de Genebra (onde a ONU
procurava uma solução diplomática para o conflito) e acirrou ainda
mais a onda de refugiados, devido ao intensificar dos combates. Em
Londres, numa reunião de promitentes doadores na ajuda aos
refugiados, David Cameron ainda sugeriu que se pode “impedir que as
pessoas pensem que não têm outra opção a não ser arriscar a vida
numa viagem perigosa para a Europa”. Lamentavelmente, para Cameron
e para a União Europeia no seu todo, as balas e as bombas que
dilaceram a Síria gritam o contrário. Arriscar a vida, ficando ou
partindo, é a sina única de milhares. E sem solução à vista.
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