Protestos contra Erdogan explodem, primeiro-ministro diz que não haverá "Primavera turca"
Por PÚBLICO
03/06/2013 - 08:27
(actualizado às 11:26)
Primeiro-ministro acusa oposição e Twitter de estarem por trás dos protestos. Um manifestante morreu, anunciou associação médica.
O primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, acusou o Partido Republicano Popular, na oposição, de estar a manipular os manifestantes que ocuparam a principal praça de Istambul. A União dos Médicos Turcos anunciou, entretanto, que um manifestante morreu, depois de ter sido atropelado por um veículo desconhecido que investiu contra a multidão. A madrugada desta segunda-feira voltou a ter confrontos não só em Istambul. A contestação alastra mas o governante diz que não há "Primavera turca".
Os protestos começaram há sete dias e a violência eclodiu há quatro. O motivo imediato para esta onda de indignação popular foi o anúncio de que o parque Gezi, junto à praça central de Taksim, em Istambul, seria destruído para ser reconstruída uma caserna militar otomana com um centro comercial no interior.
Erdogan, classificando os manifestantes de "franja extremista", atacou a oposição. "O maior partido da oposição, que todos os dias apela a que se faça resistência nas ruas, está a provocar estes protestos", disse o primeiro-ministro que, no domingo, numa intervenção que passou na televisão turca, considerou as redes sociais um perigo.
Disse ainda haver suspeitas de que há "actores estrangeiros por trás as manifestações e que os serviços secretos turcos vão investigar se há "interferências de potências estrangeiras" nos protestos.: "Não é possível revelar os seus nomes. Mas vamos encontrar-nos com os líderes", assegurou Erdogan, citado pelo site em inglês do jornal turco Hurriyet.
As redes sociais estão também a ser visadas pelos dirigentes turocs: "Agora há uma ameaça chamada Twitter. E os melhores exemplos das mentiras [da oposição] estão ali. Para mim, as redes sociais são a maior ameaça à sociedade", tinha dito o primeiro-ministro no domingo à noite.
Em comunicado, citado pela AFP, a União dos Médicos Turcos atribuiu a morte do manifestante - um jovem membro de uma associação de esquerda - à "intransigência" do primeiro-ministro e à brutalidade que as forças da ordem estão a pôr na repressão dos protestos.
Claques unidas
Na madrugada desta segunda-feira, as ruas próximas da sede do governo forma cortadas pela polícia.
Mesquitas, lojas e a universidade foram, segundo a Reuters, transformadas em hospitais improvisados para acolherem os feridos, em número não determinado, nos confrontos da noite de domingo — uma associação médica disse que desde sexta-feira foram assistidos 484 manifestantes em hospitais de Istambul, onde os protestos têm sido mais intensos. A BBC diz que alguns hotéis também abriram as portas a estes feridos e nota que os protestos estão a criar uma unanimidade pouco habitual, com os adeptos dos clubes rivais — em Istambul não há rivalidade clubística, há ódio — a marcharem juntos.
Na origem deste descontentamento está a política de Erdogan e algumas regras que o governo aprovou nas últimas semanas e que, segundo os observadores, têm como finalidade islamizar a sociedade turca.
Recep Erdogan, líder do Partido do Desenvolvimento e da Justiça, é um conservador. O partido é de inspiração islâmica e está no poder há dez anos. Tem imposto uma visão moralista da sociedade que, apesar de maioritariamente muçulmana, é laica.
Recentemente, foi limitada a venda de álcool, assim como a publicidade a este produto. E numa estação de metro de Ancara foi transmitido um aviso sonoro dizendo a um grupo de adolescentes que lá se encontrava que os beijos em público são proibidos. As hospedeiras da Turkish Airlines foram proibidas de usar saias demasiado curta e justas e baton vermelho — a revista Foreign Policy fala de uma vaga de neo-otomanismo na Turquia, de que faz parte um plano de construção de edifícios de grande envergadura, e o centro comercial da Praça Taksim fará parte desse plano.
Fontes oficiais citadas pela BBC indicam que os protestos de Istambul alastram ao resto do país. Nos últimos dias houve manifestações contra o governo em 67 cidades — foram detidas 1700 pessoas, que na sua maior parte já foram libertadas. Imagens de televisão mostraram parte do edifício do AKP em chamas, em Esmirna, mas a agência Dogan noticiou que os bombeiros dominaram o incêndio.
"Erdogan não ouve ninguém", disse ao jornal britânico The Guardian Koray Caliskan, cientista político de Istambul e professor na Universidade do Bósforo. "Nem sequer ouve os membros do seu partido. Mas depois destes protestos terá que aceitar que é o primeiro-ministro de um país democrático e que não pode governar sozinho". Foi o Presidente, Abdullah Gül, que deu ordem à polícia no fim-de-semana para se retirar da Taksim e não avançar sobre os manifestantes, já que Erdogan se propunha acabar rapidamente com os protestos.
Apelo da União Europeia
O risco de a violência subir de tom e de a Turquia se tornar um país em insurreição — e trata-se de um vizinho da Síria, país que está há mais de dois anos em guerra civil — levou os representantes da União Europeia e dos Estados Unidos a apelarem a Erdogan para manter a calma e evitar a presença da polícia nas manifestações.
"Deve ser aberto um diálogo para se chegar a uma solução pacífica para o problema", disse a comissária europeia dos Negócios Estrangeiros, Catherine Ashton, citada pela Reuters. Uma porta-voz do Governo americano, Laura Lucas, fez apelo idêntico e pediu "um exercício de contenção" ao Governo turco.
Os protestos vão continuar, estando marcadas novas concentrações para esta segunda-feira. Erdogan, por enquanto, mantém a sua agenda e nos próximos dias visitará países do Magrebe.
The continuing anti-government protests in Turkey appear to be turning increasingly violent despite appeals for calm.
http://www.guardian.co.uk/world/middle-east-live/2013/jun/03/turkey-protester-killed-live
Here's a roundup of the latest developments and analysis:
Istanbul
• A 20-year-old man died when a taxi drove into a group of demonstrators during an anti-government protest, the first known death related to the demonstrations, Reuters reports. The protester was named as Mehmet Ayvalitas, according to the Turkish doctors association. Four other people were also injured, one of them seriously.
Ankara
• Turkish riot police used tear gas and water cannons to disperse a thousand demonstrators in the capital Ankara. On the fourth day of protests against the government of Recep Tayyip Erdogan, police intervened in central Kizilay Square, where a crowd had gathered.
Erdogan's response
• The Turkish prime minister Recep Tayyip Erdogan blamed the continuing protests on extremists led by his political opponents, the New York Times reports. It quotes Erdogan as saying:
If we set aside those that joined upon their innocent motives and information they got from the media, there are also ones that attended an event organized by extremists ...
Our intelligence agency has their own investigation on that. There is no need to disclose them as this or that.
Analysis
• The protests expose anxiety over Erdogan's growing autocratic ambitions, according to Simon Tisdall.
Erdogan has overseen rapid economic expansion, job creation and infrastructure strengthening, which has won him wide praise. But he leaves little to chance. His grip on power embraces all the institutions of state. The military, responsible for three past coups, has been politically emasculated in dubious show trials, such as the Sledgehammer proceedings of 2010.
The media are intimidated, with many journalists in jail. The judiciary is cowed, or so critics say. Criticism of Erdogan by the unions, the universities or civil society has become rare.
• The FT says Erdogan's hubris, and the impotence of the traditional opposition, is the key context to ther protests.
These protests are just as much about the [ruling] AKP’s encroachment on public, social and cultural space as the elimination of green space.
The new establishment headed by Erdogan has politically sidelined the secular elites that had ruled the republic created by Mustafa Kemal Ataturk as of right. In particular, he has elbowed aside the army.
That removed an undemocratic check on executive power, but nothing convincing has yet emerged to fill this political space. Thus, the new establishment feels free to redesign the secular school curriculum or trample on the independence of the Turkish Academy of Sciences, to jail journalists or introduce restrictions on alcohol.
Hostility to what many secular Turks see as an assault on their way of life is now crystallising into street protests in large part because the secular opposition – especially the Republican People’s Party of Ataturk – is impotent.
• Over the course of a week a protest about the development of the Gezi park in Istanbul has transformed from what felt like a festival, with yoga, barbecues, and concerts, into what feels like a war, with barricades, plastic bullets, and gas attacks, according to the New Yorker's Elif Batuman.
Nearly every slogan chanted on the streets right now addresses Erdogan by name, and Erdogan hasn’t been talking back much. On Wednesday, he told protesters, “Even if hell breaks loose, those trees will be uprooted”; on Saturday, he issued a statement accusing the demonstrators of manipulating environmentalist concerns for their own ideological agendas.
It’s hard to argue with him there; there’s little doubt that the demonstrations are less about six hundred and six trees than about a spreading perception that Erdogan refuses to hear what people are trying to tell him. In recent weeks, he has overridden objections to the construction of a controversial third bridge across the Bosphorus, to be named after a sultanconsidered by some Turkish Alevis (members of a religious minority combining elements of Shi’ia Islam and Sufism) to be an “Alevi slayer.”
Earlier this month, thousands of unionized Turkish Airlines workers went on strike to protest the firing of three hundred and five other unionized Turkish Airlines workers for participating in an earlier strike. The original workers were not rehired. Last week, he passed anti-alcohol laws, which outraged many secularists as well as the national beer manufacturers. On May Day, peaceful demonstrations were quashed by riot police with tear gas and hoses. Looking back, it seems inevitable that a larger uprising was to come.
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