Letta pede desculpa aos que têm de emigrar.
Por Clara Barata in Público
03/06/2013
Primeiro-ministro italiano publicou carta num jornal, assumindo culpa dos políticos. Mas diz que todos têm de se envolver.
O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, pediu desculpa a todos os compatriotas que se vêem forçados a emigrar. Desculpou-se em nome dos políticos que, "durante anos, fizeram de conta que não percebiam e que, por palavras, acções e omissões, consentiram esta dissipação de paixão, de sacrifícios, de competências".
A carta divulgada ontem no diário La Stampa é a resposta a um artigo publicado no sábado, em que se dá conta da emigração de mais um italiano - para Singapura, onde conseguiu um emprego que em Itália lhe fugia persistentemente. O que não admira, porque segundo o último boletim da Confederação Italiana dos Sindidatos dos Trabalhadores (CISL), citados ontem pelo La Stampa, perderam-se 674 mil empregos nos últimos cinco anos, e outros 123 mil estão em risco em 2013.
Letta assume as culpas em nome dos políticos: "Disse-o no meu discurso [de tomada de posse]. Estamos todos envolvidos." Quando a esperança e a confiança são roubadas a uma geração inteira - não de repente, mas pior ainda: lentamente dia após dia -, não pode haver álibis, ninguém se pode dissociar pessoal ou politicamente", escreveu.
"Nunca acreditei em salvadores da pátria. Acredito na comunidade. Só unidos poderemos reencontrar o sentimento nobre do serviço ao país", afirmou Letta, que dirige um governo de união nacional, que junta o Partido Democrático, de centro esquerda, com o Povo da Liberdade (centro-direita) de Silvio Berlusconi, com os centristas que apoiaram Mario Monti nas últimas legislativas.
Estima-se que pelo menos dois milhões de italianos com menos de 40 anos tenham seguido o rumo da emigração nos últimos anos, segundo a associação Italents, que promove os talentos italianos no mundo.
O primeiro-ministro italiano tornou a questão do desemprego jovem uma bandeira, batendo-se para colocar o tema na agenda da próxima cimeira de chefes de Estado e de governo da União Europeia, no fim do mês - com sucesso.
O melhor que os competentes têm a fazer é emigrar, diz Mira Amaral
A melhor opção para os portugueses competentes é emigrar, defendeu o presidente do Banco BIC, Luís Mira Amaral.
“Já está a acontecer com as empresas que têm operações na Polónia, no Brasil, em Moçambique: os funcionários mais novos e com mais capacidade dizem: “‘Vejam lá se me arranjam lugar aí, que com esta carga fiscal não aguento’”, disse Mira Amaral, durante a conferência Finanças Públicas e a Pressão sobre a Economia, na sede da Ordem dos Engenheiros.
“O melhor que os portugueses competentes [com menos de 40 anos] têm a fazer é votar com os pés [emigrar]”, afirmou o antigo ministro da Indústria dos Governos de Cavaco Silva.
Mira Amaral acrescentou que a consolidação orçamental é “um ajustamento de má qualidade”, em que “80% é do lado da receita”: “Mesmo o corte na despesa é sobretudo nos vencimentos de funcionários e pensionistas, e apenas um terço são cortes estruturais da despesa.”
O reequilíbrio das contas públicas, disse ainda Mira Amaral, “é um equilíbrio manhoso, sem sustentabilidade, a meu ver”.
O presidente do Banco BIC rejeita a ideia de que foram “políticas neoliberais” e “a sra. Merkel e a troika” que geraram a crise: “Isso é ver ao contrário; isto já estava estragado.”
Luís Mira Amaral escreveu uma carta aberta dirigida a António Sérgio Azenha, autor do livro "Como os políticos enriquecem em Portugal".
O jornalista investigou e analisou os rendimentos de 15 políticos antes e depois de passarem pelo Governo português. Mira Amaral, antigo ministro de Cavaco Silva, é um dos visados no livro da editora Lua de Papel. E responde:
http://expresso.sapo.pt/mira-amaral-responde-a-antonio-azenha=f680733
Exmo. Senhor António Sérgio Azenha,
Estou verdadeiramente chocado coma inclusão domeu nome no livro que acabou de escrever.
É que a sua análise sofre dum grave erro metodológico. Com efeito, a sua análise sobre rendimentos
deveria incidir sobre a totalidade da vida profissional, antes e depois do governo e não apenas a
comparação entre o que se recebia no governo e depois do governo. Comparar omagro vencimento
que tinha no governo em 1994 com um vencimento perfeitamente “normal” num grupo privado em
2001 é comparar alhos com bugalhos. Recordo‐me aliás do meu colega Engº Alves Monteiro no dia
em que saiu comigo do governo e regressar ao Banco de Fomento como Director duplicar o
vencimento emrelação ao que ganhava comomeu Secretário de Estado da Indústria!
É que eu já trabalhava antes de ir para o governo. Fui quadro da EDP e do Banco de Fomento e
quando cheguei ao governo já tinha 16 anos de vida profissional. E toda a gente sabe que no
governo se ganha menos do que na vida empresarial, onde já estava antes de ter tido essa infeliz
ideia.
Se tivesse feito uma análise dinâmica desse tipo, começando pela minha vida profissional antes do
governo, concluiria facilmente que só perdi dinheiro coma passagempelo governo.
Se tivesse comparado a minha posição profissional antes de entrar no governo com a de outros
colegasmeus nessa altura e depois verificasse a evolução deles, concluiria facilmente que aquilo que
auferi depois do governo teve um atraso e no fundo foi inferior ao desses colegas. A dinâmica
profissional que tive depois do governo não se deveu pois apenas a este mas sim às minhas
competências e, como referido, nem sequer consegui obter posiçõesidênticas às desses colegas que
tiveramo bomsenso de não aceitaremcargos políticos.
Ao sair do governo, regressei ao meu banco de origem, aquele em que estava antes, o qual foi
depois comprado pelo Grupo BPI e onde cheguei a Administrador. Não andei pois como gestor
público emempresas públicas.
Tive depois a infelizideia de ir ajudar o governo na CGD, onde perdi dinheiro em relação ao pacote
financeiro que tinha no BPI, tendo sido aí enxovalhado e vigarizado pelos governos PSD/PP. Aí
nesses dois anos como gestor público ganhavamenos do que auferia no sector privado.
Reformei‐me da CGD, ao abrigo do regime de pensão unificada, para o qual contaram as
contribuições que fiz ao longo de 38 anos de carreira contributiva para a Segurança Social e para a
Caixa Geral de Aposentações. Esse é o erro factual do seu texto pois a minha reforma não é devida
apenas aos dois anos da CGD mas sim aos 38 anos de carreira contributiva para a qual contam
obviamente os dois anos da CGD.
Infelizmente, a minha reforma não é de 18 000 euros como diz mas sim de 11 000 euros. Se não
tivesse ido para a CGD, ter‐me‐ia reformado como Administrador do BPI com 10 000 euros, apenas
menos 1 000 euros! Como vê, fui mais uma vítima duma especulação e de uma pulhice
inqualificável desse senhor Bagão Félix.
Ao contrário de outros, alguns referidos no livro, eu não conheci a banca e a energia depois do
governo.Já lá estava antes.
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