Há 20 gestores que ganharam mais de 1 milhão de euros o ano passado.
Por Ana Suspiro
publicado em 4 Maio 2013 in (jornal) i online
A maioria das empresas reduziu os salários dos seus gestores, mas prémios de fim de mandato e mudanças nas administrações fizeram subir as remunerações de topo no ano passado
No ano passado, cerca de 20 gestores das principais empresas da bolsa portuguesa receberam uma remuneração bruta anual superior a um milhão de euros. A maioria são presidentes-executivos (CEO), mas também há administradores e até chairmans (presidentes não executivos).
O número de remunerações brutas a ultrapassar a fasquia de um milhão de euros cresceu em 2012 face a 2011, ano em que tinha beneficiado 15 administradores. Este salto tem duas explicações. O pagamento de prémios plurianuais de final de mandato na EDP, que coloca seis dos sete gestores executivos da eléctrica no topo dos vencimentos. O fim antecipado de mandato dos gestores da Cimpor deu origem ao pagamento de indemnizações e até de reformas.
Os 20 gestores que fazem parte do clube dos mais bem pagos representam 18% do número total de administradores executivos das 22 empresas que o ano passado estiveram no índice PSI 20 da bolsa de Lisboa. Além da EDP e da Cimpor, a lista das empresas que melhor pagam inclui a Portugal Telecom, a Sonae SGPS, a Galp, a Jerónimo Martins, a Portucel e a Semapa. Em praticamente todos os casos, a remuneração bruta anual inclui uma componente relevante de prémios de gestão em função do desempenho da empresa, ultrapassando a componente fixa dos salários em alguns casos.
As contas feitas pelo i são recolhidas dos relatórios do governo da sociedade das empresas cotadas, onde são divulgadas as políticas de remuneração, os critérios para a atribuição dos prémios e os valores atribuídos naquele ano. Nem sempre estes números coincidem com a verba efectivamente recebida pelos gestores, já que cada vez mais empresas seguem as recomendações de boas práticas no sentido de fasearem o pagamento da remuneração variável para assegurar maior alinhamento entre o interesse do gestor e da empresa.
Os valores divulgados neste trabalho são brutos. A maioria cai no escalão máximo e paga a taxa mais alta de IRS, que no ano passado era de 46,5%, mais uma taxa de solidariedade de 2% (este ano a taxa saltou para 54%), pelo que os gestores mais bem pagos da bolsa estão entre os maiores contribuintes de IRS. Também as empresas que lideram, na maioria dos casos, serão das maiores pagadoras de IRC. Apesar da queda de 12% no lucro global das empresas não financeiras, acabaram por pagar mais 21% em impostos, devido ao agravamento fiscal.
As 22 empresas analisadas atribuíram no ano passado remunerações totais de aproximadamente 106 milhões de euros a um universo de 330 administradores, o que dá um vencimento médio de 320 mil euros por ano. Mas, se dividirmos os valores pagos às comissões executivas pelos cerca de 116 administradores executivos, a remuneração média duplica para 668 mil euros.
A soma dos vencimentos das 22 administrações, excluindo órgãos fiscais autónomos, traduz uma subida de 5,3% em relação aos montantes de 2011. A explicação da subida resulta, uma vez mais, das excepções da EDP e da Cimpor. Sem estes dois efeitos, os vencimentos brutos das administrações teriam caído 10%, para 90,2 milhões de euros em 2012. Da cimenteira, que passou para mãos brasileiras, saíram quatro administradores que elevaram os vencimentos acima de um milhão de euros com indemnizações. Num caso, a compensação incluiu o valor devido pela reforma, o que elevou o valor pago a cerca de 4 milhões de euros. Foi também a mudança de administração que fez crescer as remunerações atribuídas pelo BCP.
Olhando caso a caso, verificamos que apenas cinco empresas aumentaram os valores atribuídos às suas administrações: BCP, Cimpor, EDP, Brisa e Portucel. O caso da empresa de pasta também merece explicações, porque os dois gestores com vencimento superior a um milhão de euros receberam também remunerações acima desse valor na Semapa, que é a maior accionista da Portucel. Os relatórios das duas empresas do Grupo Queiroz Pereira não permitem concluir se acumularam os dois vencimentos.
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