Sociedade
Mentores
da petição “Devolver o Mercado do Bolhão ao Porto” querem 10.000 assinaturas e
levar o debate à AR
CDU,
Livre, ADN, Chega e Bloco de Esquerda estão solidários com as pretensões
enunciadas na petição. Ao DN, Pedro Duarte, do PSD, não comenta e o socialista
Manuel Pizarro não tomou posição.
Alexandra
Tavares-Teles
Publicado
a:
18 Set
2025, 09:27
Atualizado
a:
18 Set
2025, 09:27
A
Associação do Comércio Tradicional Bolha de Água, mentora e primeira
subscritora da petição pública Devolver o Mercado do Bolhão ao Porto, quer
levar a debate na Assembleia da República “a descaracterização progressiva e o
reiterado desrespeito pelos regulamentos municipais” que regem o famoso mercado
portuense, património classificado “tomado de assalto por um turismo
desenfreado”, segundo dizem.
Lançada a
15 de setembro, data do terceiro aniversário da reabertura do mercado, após
obras de reabilitação, a iniciativa tem como objetivo recolher dez mil
assinaturas até ao início de janeiro 2026, prevendo os promotores conseguir as
primeiras mil na semana inaugural.
“No
lançamento, há 36 horas, tínhamos como pretensão conseguir as primeiras 1000
assinaturas nos primeiros 15 dias. Porém, a adesão dos cidadãos está a superar
as nossas expectativas. Sentimos que existe uma urgência abafada sobre o
sentimento de perda da identidade portuense que agora está a ser canalizada
para esta defesa do Mercado do Bolhão. Para nós, neste momento, é claro que em
poucos dias atingiremos as 1000 assinaturas”, diz ao DN Helena Ferreira, a
presidente da direção, em representação dos órgãos sociais daquela
associação.
A
associação pretende constituir, nas próximas semanas, uma comissão de honra,
enviando convites a várias personalidades da cidade. “Todos os candidatos à
presidência da Câmara Municipal do Porto estão a ser convidados para integrar
essa comissão. Já temos confirmação de várias adesões, que a seu tempo serão
tornadas públicas”, acrescenta Helena Ferreira.
Segundo o
DN apurou junto dos próprios partidos, CDU, Bloco de Esquerda, Livre, Chega e
ADN estão solidários com o texto da petição. Também o candidato Nuno Cardoso se
associa ao espírito da iniciativa.
“A
petição para que o Bolhão se mantenha como um mercado de frescos é justa e
corresponde a uma luta de muitos anos da CDU. Acrescentamos que o mercado de
frescos deve continuar a ser público, na propriedade e na gestão”, diz ao DN a
candidatura da CDU à câmara Municipal do Porto.
“Estamos
completamente solidários com o texto da petição”, afirma Miguel Corte-Real,
candidato do Chega à câmara municipal da cidade.
Sérgio
Aires, cabeça de lista do BE é claro: “O Bloco de Esquerda voltou a sublinhar a
importância do Mercado do Bolhão como símbolo da cidade e espaço de comércio
tradicional de frescos”. O candidato recorda que o partido “se opôs sempre à
privatização do mercado e à sua transformação em mero polo turístico,
defendendo que o espaço deve manter-se sob gestão pública e ao serviço da
população”.
Para o
BE, a requalificação do Bolhão sem recurso a privados representou uma vitória
da cidade e um passo decisivo para proteger as vendedoras, os lojistas e o
comércio local”, insistindo neste ponto: “Os trabalhadores do mercado devem ter
condições dignas e participação ativa nas decisões, assegurando que o Bolhão
continue a cumprir a sua função social, económica e cultural”.
Hélder
Sousa, candidato à câmara pelo Livre, tem acompanhado "o processo e os
conflitos entre a gestão do mercado (a autarquia) e os movimentos de cidadãos e
a associação Bolha de Água.
"Defendemos
que o Bolhão deve ser um mercado que sirva e forneça residentes e pequenos
negócios da cidade, deve recuperar a missão de mercado local, acolher
cooperativas de consumo e outros negócios locais que reduzam a pegada carbónica
dos consumos alimentares". Continua:" Isto não é incompatível com o
uso turístico que um edifício património e histórico deve ter, mas os
interesses de serviço público deste mercado municipal devem ser salvaguardados.
E neste momento não o estão a ser. Nesse sentido, acompanhamos algumas das
preocupações da petição sim. E defendemos também que a gestão do mercado deve
manter-se na esfera municipal e, como em tudo o que é gestão pública, deve ser
feita de forma democrática, transparente e em diálogo com todos os interessados".
Eduarda
Vieira, do ADN, diz que o partido se opõe “ao que está a acontecer no Bolhão”,
e que “não foi para o vermos transformado numa praça da alimentação que se
disponibilizou um financiamento de 500 milhões de euros”. A dirigente do ADN
lembra que “rendas de milhares de euros levam a que se vendam produtos de má
qualidade, produtos que não são nossos, nem estão nas nossas tradições, a
preços altos”.
Também
Nuno Cardoso, ex-presidente da câmara e atual candidato, diz ao DN: “Devolver o
mercado ao Porto é uma promessa feita à cidade. Não bastam as obras de
recuperação. É preciso cultivar de novo a alma do Porto no Bolhão. Neste
momento, entregou-se o mercado ao turismo, não que os turistas não sejam
bem-vindos, mas em primeiro lugar devem estar sempre os portuenses”.
Contactada
pelo DN, a candidatura de Pedro Duarte (PSD,CDS,IL) “não comenta” o texto da
petição.
Francisca
Carneiro Fernandes: Da Go Porto de Moreira para a lista de Manuel Pizarro
Silêncio
também obtivemos da parte de Manuel Pizarro. Francisca Carneiro Fernandes, da
equipa de Rui Moreira, acumula o lugar de dirigente da Go Porto, a empresa
municipal responsável pela gestão das grandes obras públicas na cidade, a quem
compete a gestão do mercado, com o terceiro lugar da lista do socialista Manuel
Pizarro.
O DN
solicitou à Go Porto um comentário à petição, cujo texto, de acordo com os
promotores, foi aprovado por unanimidade em reunião de direção da Associação do
Comércio Tradicional Bolha de Água, com base na declaração de princípios da
mesma, distribuídos e apresentados publicamente há mais de um ano. Para a Go
Porto, porém, “a petição em causa é lançada por iniciativa exclusiva da
presidente da Associação Bolha de Água”, colocando em causa a
representatividade da associação. “Tal petição não corresponde à vontade nem à
visão dos seus comerciantes”, acusa.
Sobre o
ponto D da petição -- onde se lê: “as vias de acesso encontram-se
sistematicamente, ocupadas por clientes das bancas de restauração e bebidas,
não permitidas, a consumir os produtos cozinhados e bebidas, no chão, em
material descartável, sem as mais básicas condições de higiene e civilidade,
criando constrangimentos à circulação, colocando em perigo os clientes em
termos de segurança contra incêndios e/ou outras calamidades e degradando a
imagem e reputação do Mercado do Bolhão (...) --, a GO Porto considera que o
“Mercado do Bolhão é feito por comerciantes portuenses, que têm feito os seus
negócios funcionar, adaptando-se aos tempos de hoje”. E vai mais longe: “Servem
com orgulho e alegria, clientes da cidade, assim como outros clientes que
procuram o espaço pela sua beleza e atratividade”.
Para a Go
Porto “o mercado é, e deverá continuar a ser, um mercado de produtos frescos na
sua essência, o que não impede que sejam servidos produtos prontos a consumir
por quem nos procura”.
Argumentos
que não convencem Helena Ferreira, que considera que a cidade “está a perder o
Mercado do Bolhão para uma caótica praça de alimentação que não traduz a
cultura gastronómica portuguesa, que hostiliza o cliente do mercado de frescos
e do comércio tradicional".
"O
Mercado do Bolhão, numa conjugação inteligente e competente na integração dos
dois públicos, o residente e o turístico, pode ter um futuro promissor”,
acredita. Só que feito de outra forma, na sua perspetiva. E para alertar para a
situação quer que os partidos debatam o caso no Parlamento, em Lisboa.
Society
Mentors
of the petition "Return the Bolhão Market to Porto" want 10,000
signatures and take the debate to the AR
CDU,
Livre, ADN, Chega and Bloco de Esquerda are in solidarity with the claims set
out in the petition. To DN, Pedro Duarte, from the PSD, does not comment and
the socialist Manuel Pizarro did not take a position.
Alexandra
Tavares-Teles
Published
to:
18 Sep
2025, 09:27
Updated
to:
18 Sep
2025, 09:27
The
Association of Traditional Commerce Water Bubble, mentor and first signatory of
the public petition Return the Bolhão Market to Porto, wants to bring to debate
in the Assembly of the Republic "the progressive mischaracterization and
the repeated disrespect for municipal regulations" that govern the famous
Porto market, classified heritage "taken by storm by unbridled
tourism", according to them.
Launched
on September 15, the date of the third anniversary of the reopening of the
market, after rehabilitation works, the initiative aims to collect ten thousand
signatures by the beginning of January 2026, with promoters expecting to
achieve the first thousand in the opening week.
"At
the launch, 36 hours ago, we intended to get the first 1000 signatures in the
first 15 days. However, the support of the citizens is exceeding our
expectations. We feel that there is a muffled urgency about the feeling of loss
of Porto's identity that is now being channeled into this defense of the Bolhão
Market. For us, at this moment, it is clear that in a few days we will reach
1000 signatures", says Helena Ferreira, the president of the board,
representing the governing bodies of that association.
The
association intends to set up, in the coming weeks, an honor committee, sending
invitations to various personalities in the city. "All candidates for the
presidency of the Porto City Council are being invited to join this commission.
We already have confirmation of several adhesions, which will be made public in
due course", adds Helena Ferreira.
According
to DN found out from the parties themselves, CDU, Left Bloc, Livre, Chega and
ADN are in solidarity with the text of the petition. Candidate Nuno Cardoso
also joins the spirit of the initiative.
"The
petition for Bolhão to remain as a fresh market is fair and corresponds to a
struggle of many years by the CDU. We add that the fresh market must continue
to be public, in ownership and management", says the CDU's candidacy for
the Porto City Council.
"We
are completely in solidarity with the text of the petition," says Miguel
Corte-Real, Chega's candidate for the city's city council.
Sérgio
Aires, head of the BE list is clear: "The Left Bloc once again underlined
the importance of the Bolhão Market as a symbol of the city and a space for
traditional fresh produce". The candidate recalls that the party "has
always opposed the privatization of the market and its transformation into a
mere tourist hub, arguing that the space should remain under public management
and at the service of the population".
For BE,
the requalification of Bolhão without recourse to private parties represented a
victory for the city and a decisive step to protect sellers, shopkeepers and
local commerce", insisting on this point: "Market workers must have
decent conditions and active participation in decisions, ensuring that Bolhão
continues to fulfill its social function,
economic and cultural".
Hélder
Sousa, candidate for the Livre city council, has been following "the
process and the conflicts between the management of the market (the
municipality) and the citizens' movements and the Bolha de Água association.
"We
argue that Bolhão should be a market that serves and supplies residents and
small businesses in the city, it should recover the mission of a local market,
welcome consumer cooperatives and other local businesses that reduce the carbon
footprint of food consumption". He continues: "This is not
incompatible with the tourist use that a heritage and historical building
should have, but the public service interests of this municipal market must be
safeguarded. And at the moment they are not. In this sense, we follow some of
the concerns of the yes petition. And we also argue that the management of the
market should remain at the municipal level and, as in everything that is
public management, it should be done in a democratic, transparent way and in
dialogue with all stakeholders".
Eduarda
Vieira, from ADN, says that the party is opposed "to what is happening in
Bolhão", and that "it was not to see it transformed into a food court
that funding of 500 million euros was made available". The ADN leader
recalls that "rents of thousands of euros lead to the sale of poor quality
products, products that are not ours, nor are in our traditions, at high
prices".
Nuno
Cardoso, former mayor and current candidate, also tells DN: "Returning the
market to Porto is a promise made to the city. Recovery works are not enough.
It is necessary to cultivate the soul of Porto again in Bolhão. At this moment,
the market has been given over to tourism, not that tourists are not welcome,
but the people of Porto should always come first".
Contacted
by DN, the candidacy of Pedro Duarte (PSD,CDS,IL) "does not comment"
on the text of the petition.
Francisca
Carneiro Fernandes: From Moreira's Go Porto to Manuel Pizarro's list
We also
obtained silence from Manuel Pizarro. Francisca Carneiro Fernandes, from Rui
Moreira's team, accumulates the place of director of Go Porto, the municipal
company responsible for the management of major public works in the city, which
is responsible for managing the market, with the third place on the list of
socialist Manuel Pizarro.
DN asked
Go Porto for a comment on the petition, whose text, according to the promoters,
was unanimously approved at a board meeting of the Association of Traditional
Water Bubble Commerce, based on its declaration of principles, distributed and
publicly presented more than a year ago. For Go Porto, however, "the
petition in question is launched on the exclusive initiative of the president
of the Water Bubble Association", calling into question the
representativeness of the association. "Such a petition does not
correspond to the will or vision of its merchants", he accuses.
On point
D of the petition - which reads: "the access roads are systematically
occupied by customers of the food and beverage stalls, not allowed, to consume
cooked products and beverages, on the floor, in disposable material, without
the most basic conditions of hygiene and civility, creating constraints to
circulation, endangering customers in terms of safety against fire and/or other
calamities and degrading the image and reputation of the Mercado do Bolhão
(...) --, GO Porto considers that the "Bolhão Market is made by Porto
merchants, who have made their businesses work, adapting to today's
times". And he goes further: "They serve with pride and joy,
customers from the city, as well as other customers who seek the space for its
beauty and attractiveness".
For Go
Porto "the market is, and should continue to be, a market of fresh
products in its essence, which does not prevent ready-to-eat products from
being served by those who seek us".
Arguments
that do not convince Helena Ferreira, who considers that the city "is
losing the Bolhão Market to a chaotic food court that does not reflect the
Portuguese gastronomic culture, which harasses the customer of the fresh market
and traditional commerce".
"The
Bolhão Market, in an intelligent and competent combination in the integration
of the two audiences, the resident and the tourist, can have a promising
future", he believes. But done in another way, from his perspective. And
to alert to the situation, he wants the parties to debate the case in
Parliament, in Lisbon.
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