sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Mais um Hotel, agora no conjunto Patrimonial -Arquétipo do Pombalino no largo de S. Paulo!?



 Mais um Hotel, agora no conjunto Patrimonial -Arquétipo do Pombalino no largo de S. Paulo!?
O Largo de S.Paulo, constitui (e o Rossio) com as suas tipologias, o Arquétipo do Pombalino como conjunto urbano, desenvolvido com Mardel na Casa do Risco, por Eugénio dos Santos ...incluindo as mansardas de Mardel, as tipologias tipologias das janelas de Guilhotina, portas , azulejaria e interiores  que ainda lá estão, no Largo de S. Paulo .
“O primeiro edifício Pombalino era um extenso conjunto de quatro pisos, com telhado de águas duplas e mansardas, surgindo uma marcação de sacadas no segundo piso dos edifícios da face Sul e no segundo e terceiro pisos dos da face Oriental.
As propostas para as novas habitações, conhecidas pela designação de “estilo / prédio pombalino”, eram idênticas, incorporavam um sistema construtivo de madeira ligado por elementos de ferro designado por “gaiola” e apresentavam a elevação das paredes laterais acima do nível dos telhados (segurança contra incêndios). Compreendiam habitualmente três pisos (alguns um quarto piso denominado por “águas furtadas”); as fachadas dos prédios eram hierarquizadas de acordo com a importância concedida às ruas (principais ou secundárias) apresentando, no entanto, uma certa monotonia estética e uma sistematização de padrões.”


O turismo deu ainda mais visibilidade às questões da habitação


HABITAÇÃO
O turismo deu ainda mais visibilidade às questões da habitação

Em Lisboa e no Porto os candidatos assumem, nos programas, a necessidade de garantir habitação a preços acessíveis para os residentes.

 Abel Coentrão
ABEL COENTRÃO 29 de Setembro de 2017, 7:16

Não há volta a dar. As políticas de habitação estão, como sempre estiveram, no centro dos programas eleitorais de todos os principais candidatos de Lisboa e Porto, duas cidades que há muito vêm perdendo habitantes. A novidade nesta campanha é a associação, generalizada, entre um tema que é um clássico e a recente pressão do turísmo, desejado pelo efeito de dinamização da economia e da reabilitação urbana, já comprovado, mas apontado como uma das causas para o aumento dos preços na habitação.

Nem a líder do CDS e candidata Assunção Cristas - cuja passagem pelo Governo ficou ligada à nova Lei das Rendas - deixa de dissociar, nem que seja em parte, o problema do aumento do preço das rendas da pressão do investimento destinado ao turismo. A palavra de ordem, encontrada no texto dos programas da maior parte dos candidatos é, por isso, o de prosseguir a aposta neste sector, mas de forma sustentável, tendo em conta que, como admite o próprio presidente da Câmara de LIsboa e candidato Socialista, Fernando Medina, os seus efeitos fazem-se sentir também sobre o transporte e a limpeza urbana.

Procura-se: cidade com casas acessíveis e turismo equilibrado
Concentrando atenções na questão da habitação, emerge nesta campanha, em todas as forças políticas e nas duas cidades, um discurso que vai para lá daquela que tem sido a política de sempre dos municípios - a construção de habitação social - e atira para os ombros dos próximos executivos de Lisboa e Porto a tarefa de regular os mercados locais, ou intervir proactivamente, por via de parcerias com agentes privados, na edificação de casas destinadas à classe média. Fruto do envelhecimento da população, um dos alvos das preocupações transpostas para os manifestos eleitorais são os jovens, cujo nível de rendimento, no início da respectiva vida laboral, está muito aquém dos preços praticados para aquisição ou arrendamento de casas nas duas cidades.

Ao mesmo tempo que promete pôr seis mil casas no mercado, a preços acessíveis, Medina propõe por exemplo “a implementação urgente da redução da tributação em sede de IRS para 10% nos contratos de arrendamento habitacional de duração superior a 10 anos, como meio para garantir o aumento da oferta de arrendamento no mercado e a consequente diminuição do valor das rendas”. O investimento municipal, como forma de mexer com o mercado, é também um compromisso de Teresa Leal Coelho (PSD). Já Assunção Cristas defende, à semelhança do que Rui Moreira está a propor no Porto, que a Taxa Turística que Lisboa já cobra seja aplicada na melhoria da qualidade de vida dos residentes.

A CDU e o Bloco, que acusam Cristas de ter provocado o problema, com a Lei das Rendas, e Medina de pouco ou nada ter feito para o debelar, insistem também que o município deve ter um papel activo, reabilitando para arrendar a preços acessíveis. Os bloquistas, que pedem um aumento de um euro na taxa turística, e o seu investimento na habitação, especificam que as casas estritamente dedicadas àquilo que designam como turismo habitacional fiquem sujeitas “a licenciamento específico e com quotas territoriais, assim como a hotelaria tradicional”.

No Porto, onde o PSD se apresenta com o slogan Porto autêntico, Rui Moreira, actual presidente da câmara e recandidato, assume que é preciso mitigar o risco de o turismo globalizador vir a fazer desaparecer “o encanto natural” e a autenticidade da região. Não escamoteando a existência de uma “falha” no mercado habitacional, o independente apoiado pelo CDS já disse que usará a receita de uma futura taxa turística para comprar habitação no centro da cidade, colocando-a depois no mercado, a preços acessíveis para a classe média e promete impedir, por via da regulamentação, a proliferação de casas com tipologia T1 nos novos projectos de reabilitação.

A candidatura Porto Autêntico, encabeçada também por um independente, Álvaro Almeida, aposta em parcerias com privados e nos benefícios fiscais para reabilitação que garantam habitação com preços comportáveis pelos mais jovens. O socialista Manuel Pizarro pretende reduzir a taxa de IMI em 40% para os fogos arrendados em regime de renda controlada e entregar terrenos municipais a promotores privados, com vista à construção ou reabilitação, garantindo a colocação no mercado, no espaço de um mandato, de 3000 fogos, distribuídos por toda a cidade, com rendas máximas entre 275 euros (T1) e 400 euros (T4).


À esquerda, o Bloco, encabeçado por João Teixeira Lopes, quer construir mil casas de habitação social e 1500 outras com rendas acessíveis à classe média, usando, entre outras fontes de financiamento, a receita da taxa turística a criar. Os bloquistas defendem um travão à proliferação de casas exclusivamente dedicadas ao arrendamento turístico e propõe até uma moratória de um ano no licenciamento de novos hotéis. A CDU, que candidata Ilda Figueiredo, defende também o reforço da regulamentação, com o objectivo de travar novos licenciamentos e, para além do investimento municipal em casas com rendas acessíveis, propõe o apoio às cooperativas de habitação.

Procura-se: cidade com casas acessíveis e turismo equilibrado


HABITAÇÃO
Procura-se: cidade com casas acessíveis e turismo equilibrado

Invasão de turistas está a criar desafios na oferta de habitação nas grandes cidades
As dificuldades em alugar casas em Lisboa e Porto têm gerado diversas reacções, que envolvem também o alojamento local. Ponto de acordo é o de que algo tem ser feito para evitar cidades com centros esvaziados de habitantes permanentes.

ROSA SOARES e LUÍS VILLALOBOS 29 de Setembro de 2017, 7:15

Tema crucial nas grandes cidades, a habitação é alvo de constantes debates e embates, com os respectivos fluxos sociais e financeiros (ou financeiros e sociais). Na actual conjuntura, e olhando para as duas grandes urbes, Lisboa e Porto, o enfoque tem estado na questão da oferta de habitação para residentes permanentes e para turistas, com destaque para o grande crescimento do alojamento local (AL), tendo como pano de fundo o elevado preço das rendas. O tema, complexo, requer pensar no caminho percorrido até aqui, com uma reduzida oferta de imóveis para arrendamento tradicional, rendas elevadas, e crescimento da oferta do alojamento para turistas.

Em grandes números, é possível ver que o índice de preços da habitação, calculado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) aumento 24,8% desde o segundo trimestre de 2013, data em que atingiu o mínimo da série, iniciada em 2009. Entre 1991 e 2011, a população residente no centro histórico do Porto caiu para mais de metade (em 2011 eram 9334 indivíduos) e a do centro histórico de Lisboa 34% (para cerca de 47.000). O Índice de Rendas Residenciais, da Confidencial Imobiliário, mostra, nos mesmos quatro anos, um aumento de 34 % nos preços em Lisboa e de apenas 3% no Porto.

O turismo deu ainda mais visibilidade às questões da habitação
Sónia Alves, especialista em ambiente urbano e investigadora de pós-doutoramento no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, entende que as razões do desequilíbrio actual entre os dois tipos de alojamento vêm de longe. “As políticas públicas que foram implementadas ao longo das últimas décadas contribuíram para o desequilíbrio entre a oferta de habitação para arrendamento/compra e de ocupação permanente/temporária”, destacando que as decisões políticas, ao longo de um ciclo de 25 anos, foram no sentido de apoiar sobretudo os empréstimos bancários para a construção e aquisição de nova habitação, em vez da reabilitação e do arrendamento.

O resultado, nos dias de hoje, é haver dificuldades em alugar casas, com destaque para Lisboa, com preços comportáveis para cidadãos nacionais. Aqui, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, diz ser redutor, e até mesmo errado, afirmar que o alojamento local (AL) está na base dos males do valor das rendas nas cidades. De acordo com a governante, há todo um outro conjunto de factores ligados a esta questão, como um maior fluxo de investimentos estrangeiros, e o efeito da alteração da lei das rendas. Recordando que há poucos anos os centros históricos de Lisboa e Porto estavam esvaziados e hoje recuperaram um novo fôlego com o turismo – posição partilhada pela Associação de Hotelaria de Portugal – afirma que a ideia de que o AL está a fazer subir os valores dos arrendamentos é “demagógica” e “simplista” e que surge porque este elemento da oferta é “a face mais visível das mudanças” que ocorreram nas cidades.

Destacando que as zonas de grande pressão do AL estão circunscritas a duas ou três freguesias em Lisboa e Porto, a governante não deixa de sublinhar que é preciso “acompanhar a evolução do que vai acontecendo e ir encontrando mecanismos que permitam a sã convivência entre as várias realidades”.

Numa altura em que se preparam alterações à lei que regula o AL, a Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), pela voz da sua presidente executiva, Cristina Siza Vieira, defende que há vários instrumentos que podem ser usados para estimular os arrendamentos de longa duração e recorda que já propôs mudanças no AL, como a distinção entre quem aluga apartamentos esporadicamente ou de forma permanente.

Por parte do executivo, a secretária de Estado do Turismo recorda a recente criação da nova secretaria de Estado da Habitação, tutelada pela arquitecta Ana Pinho, e que a entrada de mais imóveis no mercado de arrendamento é “uma prioridade do Governo”.

No que toca ao AL, o presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), Reis Campos, defende que este e o arrendamento tradicional “são duas realidades distintas que terão, necessariamente, de coexistir à semelhança do que sucede na maioria das cidades europeias”, e que “não são, nem têm de ser alternativas”, e o equilíbrio depende “da criação de condições que permitam o regular funcionamento do mercado”.  

Sónia Alves, do ICS, destaca o uso de “os instrumentos de tipo fiscal para apoiar o arrendamento de longa duração e para penalizar a subutilização e abandono dos imóveis”.

Ao nível do licenciamento urbanístico refere “a cedência de terrenos ou edifícios para a execução de programas de habitação cujos fogos se destinem ao arrendamento nos regimes de renda apoiada ou de renda condicionada e a proibição da instalação de novos hotéis e alojamentos turísticos em áreas onde estes estão já sobre representados”. E ainda “a obrigatoriedade da inclusão de habitação para arrendamento em novas áreas de expansão ou de requalificação habitacional”.

Já o líder da CPCI também destaca a importância da fiscalidade, que é bem mais elevada no arrendamento permanente face à do alojamento, e travão à captação de investimento para o arrendamento tradicional. Mas também alerta para a necessidade de ser apoiar o acesso ao financiamento de particulares que pretendam realizar obras de reabilitação das suas casas e, assim, aumentar a oferta de habitações no arrendamento.

Francisco Carballo-Cruz, professor de Economia da Universidade do Minho, entende que “ dinâmica do mercado irá dificultar a implementação de políticas públicas que limitem os efeitos indesejados”. Em termos de quantidade da oferta, entende que “as políticas de restrição da expansão do alojamento local ou de reserva de oferta para residentes podem resolver parte do problema, mas irão provocar distorções no mercado” e, neste domínio, considera que “seria mais adequado expandir localmente a oferta de habitação de promoção ou com regulação pública para determinados grupos de residentes e/ou incentivar a descentralização da oferta de alojamento local”.

O objectivo final, esse, deve ser o de procurar uma harmonia entre residentes de longo e curto prazo, entre locais e visitantes. Com isso, evitar riscos como o identificado por Sónia Alves, com centros históricos mais bonitos, “mas possivelmente mais desinteressantes, sem a sua população original e sem as actividades que lhe davam um cunho distintivo”. Francisco Carballo-Cruz acredita que o processo de reabilitação de propriedades continuará nos próximos anos, e que os efeitos positivos “ver-se-ão contrabalançados por efeitos negativos de carácter económico, nomeadamente o aumento significativo das rendas, e social, designadamente a expulsão de residentes, especialmente dos mais vulneráveis”.

O grande desafio, diz Ana Mendes Godinho, é a gestão inteligente dos territórios, e “desenvolver, cada vez mais, projectos e infra-estruturas a pensar nas pessoas” que usufruem os territórios. Um exemplo é da gestão dos transportes públicos, que tem de ser feita tendo em conta residentes e visitantes e minimizar tensões de carga. Para esta responsável, é preciso “que o turismo seja incorporado na cidade como uma parte dela própria”, enquanto factor positivo, nomeadamente com novas centralidades (como o Beato e a Ajuda, em Lisboa) e menos concentrações.


“Há tensões e desafios que a gestão articulada das várias necessidades nas cidades coloca”, destaca a responsável da AHP, Cristina Siza Vieira, afirmando que deve ser encontrado “um modelo que permita monitorizar o volume de turistas versus capacidade de alojamento vs capacidade de habitação vs capacidade das infra-estruturas, designadamente de transporte, aeroportuária, segurança e higiene urbana”. E que a expectativa é a de que Porto e Lisboa continuem “a ter a capacidade de atracção de turistas, visitantes e residentes que hoje têm”.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Moradores de rua de Lisboa que iam ser despejados assinam contratos de arrendamento


Moradores de rua de Lisboa que iam ser despejados assinam contratos de arrendamento
Inquilinos viram os seus contratos serem renovados por cinco anos.

LUSA 27 de Setembro de 2017, 19:03

As 16 famílias em risco de serem despejadas de um prédio na Rua dos Lagares, em Lisboa, assinaram hoje novos contratos de arrendamento com o senhorio por cinco anos e com os valores anteriormente estipulados, anunciou a Câmara.

"O acordo que fizemos com o proprietário [no início de Agosto] implicava que as pessoas que tinham recebido as cartas de não renovação dos contratos fizessem novos contratos por cinco anos e foi isso que hoje estivemos a acompanhar", disse à agência Lusa a vereadora da Habitação do município de Lisboa, Paula Marques.

Paula Marques precisou que em causa estão os habitantes de "todas as fracções habitacionais e uma não habitacional, que é uma loja que está prestes a abrir", que assinaram "contratos por cinco anos e com os valores de renda dos contratos anteriores".

A autarca adiantou que esteve presente na ocasião para fazer "a ponte" entre os parceiros, isto é, os arrendatários e o proprietário, e assegurou que continuará a acompanhar este caso.

No início de Agosto, a Câmara de Lisboa informou que "foi travada a saída das famílias da rua dos Lagares", na freguesia de Santa Maria Maior, uma vez que o executivo chegou a entendimento com o proprietário, permitindo que as famílias fiquem nas suas casas.

Na altura, a autarquia indicou que o proprietário iria realizar obras nas infra-estruturas, na sequência de intimações feitas pelo município.

Paula Marques avançou à Lusa que "as primeiras obras têm de se iniciar até ao final deste ano", mas os trabalhos são "de vários níveis" e, por isso, têm diferentes prazos.

"Algumas [obras] são dentro das casas, e isso será coordenado com cada um dos moradores, e outras são nos espaços comuns e na cobertura, que é o que está mais degradado", adiantou.

Em causa estão 16 famílias que habitam no prédio número 25 da Rua dos Lagares, no bairro lisboeta da Mouraria, e que poderiam ter de abandonar as suas casas depois de o imóvel ter sido vendido a um investidor privado.


Por várias vezes, estes moradores pediram ajuda à Câmara e à Assembleia Municipal de Lisboa, tendo também levado a cabo diversas iniciativas (como churrascadas ou sardinhadas) para tornar o caso público.

Imagens do Dia / OVOODOCORVO / O triunfo do híbrido


Imagens do Dia / OVOODOCORVO
O triunfo do híbrido
A maravilhosa, autêntica e genuínamente interessante para o Turismo ( Cultural e não massificado ) Casa Oriental no Porto, foi substituida por este “pastiche Las Vegas”, que pretende representar o “Mundo” da sardinha …


Associação de Alfama recorre à Justiça para travar Museu Judaico

«Obra de autor” em assumida ruptura e arrogante desprezo pela envolvente Patrimonial e pelo contexto histórico. Nào se discute o direito à existência do Museu Judaico neste local. Discute-se a violência afirmativa por demarcação e arrogância autista da linguagem arquitectónica escolhida e "aprovada"!»   António Sérgio Rosa de Carvalho

Associação de Alfama recorre à Justiça para travar Museu Judaico

Moradores e comerciantes estão contra a instalação do museu no Largo de São Miguel. Cancelamento de reunião foi a gota de água.

 João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 27 de Setembro de 2017, 7:50 Partilhar notícia

A Associação do Património e População de Alfama (APPA) apresentou uma providência cautelar para travar a construção do Museu Judaico no Largo de São Miguel. Há já muitos meses que a associação vem dizendo que considera que aquele largo de Alfama é um sítio desadequado à instalação do museu, mas a Câmara Municipal de Lisboa tem-se mostrado inflexível.

Em Abril, perante as críticas de moradores e comerciantes do bairro, criou-se uma comissão de acompanhamento do museu, que apenas se reuniu pela primeira vez em Julho. Nesse encontro decidiu-se que a localização era um ponto inegociável, mas que o projecto – assinado por Graça Bachmann e com arquitectura contemporânea – podia ser alterado. Decidiu-se inclusivamente que os lisboetas podiam enviar sugestões de alteração até meio de Agosto. Na altura, o PÚBLICO tentou perceber como é que se podiam apresentar propostas, quem é que as podia fazer e como é que elas seriam ponderadas. Nunca houve resposta da câmara.

Museu Judaico, em Lisboa, "tem sido discutido intensamente"
Estava marcada uma nova reunião dessa comissão para 11 de Setembro, mas a dirigente da APPA diz que ela foi cancelada “na véspera”. Essa foi a gota de água, explica Lurdes Pinheiro – que, além de presidente da associação, é também candidata da CDU à Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.

“Mandámos moradas de edifícios na Rua Jardim do Tabaco que estão fechados e serviam perfeitamente”, diz Lurdes Pinheiro. “Na véspera da reunião, recebi um telefonema do gabinete da vereadora Catarina Vaz Pinto [pelouro da Cultura] a dizer que afinal não havia reunião, que só ia haver depois das eleições.”

O PÚBLICO procurou confirmar esta informação junto da autarquia, mas não obteve resposta. Também tentou perceber quantas propostas de alteração ao projecto foram recebidas, mas esta questão ficou igualmente por esclarecer.

Para a APPA, que apresentou a providência cautelar esta terça-feira de manhã, “a principal reivindicação é que o museu não seja construído no Largo de São Miguel” e não que o projecto seja revisto (embora também não goste dele). A associação, apoiada por alguns membros do Fórum Cidadania Lx e outros activistas de defesa do património, considera que o espaço reservado para o museu devia antes ser utilizado para construir habitação. E que há prédios na Rua Jardim do Tabaco, onde já está o Museu do Fado, onde este museu podia ser instalado.

Inicialmente, a abertura do museu estava prevista para Setembro deste ano. O prazo está quase a ser ultrapassado e nem um tijolo foi colocado. Se a providência cautelar tiver sucesso, o processo vai arrastar-se ainda mais. Resta saber até quando.


tp.ocilbup@ahcnip.oaoj

Guerra de preços da cerveja entre bares leva à degradação do ambiente na Bica / Como se faz o tráfico de droga no centro de Lisboa. O bairro da Bica, em Lisboa, foi tomado de assalto por traficantes que vendem haxixe de dia e de noite.





Guerra de preços da cerveja entre bares leva à degradação do ambiente na Bica
POR O CORVO • 27 SETEMBRO, 2017 •

A competição comercial entre dois pequenos estabelecimentos de diversão nocturna, no topo da Rua da Bica de Duarte Belo, tem-se agudizado. Os preços da cerveja, fornecida por marcas rivais, desceram tanto que o local atrai cada vez mais gente. Os residentes e os comerciantes mais antigos dizem que se tem assistido ao agravamento do “mau ambiente” e da insegurança. Há barulho toda a noite, feito de gritos e tambores, lixo, tráfico e consumo de droga, cerveja e urina a escorrer pelo chão e graffiti cada vez mais visível. Os donos dos bares em causa, que vendem a imperial a 50 e a 60 cêntimos, dizem não se sentir responsáveis por tal cenário. A junta da Misericórdia tem outra opinião e fala na aplicação de sanções aos “prevaricadores”. A Polícia Municipal está a acompanhar a situação.

 Texto: Samuel Alemão

 Há mais de quatro décadas à frente dos destinos do restaurante Alto Minho, no 61 da Rua da Bica de Duarte Belo, João Antunes, 68 anos, não se lembra de alguma vez ter passado por tal coisa. “Ando a tomar comprimidos para dormir, pela primeira vez na minha vida. Durmo três a quatro horas e, depois, já não consigo mais”, conta, sentado a uma das mesas, numa pausa a meio da tarde, depois de terminado o reboliço dos almoços.

 Residente num dos pisos situados por cima do estabelecimento, conhece como poucos o arruamento que tem no ascensor o seu ex-líbris e, este ano, até já deu que falar por ter ganho uma suposta eleição da “mais bonita rua do mundo”. Mas nunca viu ou ouviu nada como isto. “Está impossível. A partir das dez da noite, começa a chegar gente aos magotes, sentam-se e enchem os degraus, fazem barulho, conversam alto, cantam, batem tambores, há lixo no chão”, queixa-se. “Parece um autêntico Santo António”, sintetiza.

 A feroz competição pela captação de clientela, através de uma campanha de promoções no preço das bebidas, sobretudo da cerveja, entre dois bares situados no topo da rua, abertos no último par de anos, tem feito do local um novo chamariz da vida nocturna. Mas tem contribuído também, de forma decisiva, para uma alteração substancial da vivência naquela que, até há não muito tempo, era vista como uma das zonas emblemáticas da movida lisboeta. À imagem do que sucedeu no Bairro Alto, a boémia sofisticada e exigente de outrora terá dado lugar a magotes de gente atraída pelo álcool barato, ouve-se por ali.

 Existem reclamações abundantes sobre o ruído excessivo, o consumo desregrado de álcool – também alimentado pelo recrudescimento da venda ambulante ilegal de bebidas -, de drogas leves, de lixo e urina abundantes, bem como a criação de um sentimento generalizado da existência de “mau-ambiente”. Os residentes e os comerciantes de longa data falam já de um “nivelamento por baixo” da ambiência na Bica, o que estará a pôr em causa não apenas a qualidade de vida, mas também a sustentabilidade dos negócios ali existentes.

 “Se isto continua, vai haver um dia em que não aguentamos mais”, avisa Hugo Sousa, gerente há três anos do Bicaense, um dos bares mais icónicos da área – e no qual trabalha há 13 anos. O pessimismo é, aliás, a nota dominante entre vários empresários. Uma visão contestada pelos donos dos bares alvo de todas as críticas, que se queixam da incompreensão da vizinhança. Embora, admitam, até tenham algumas razões de queixa.

 Elas têm sido em número suficiente para levar a Junta de Freguesia da Misericórdia a pedir a intervenção da Câmara de Lisboa e da Polícia Municipal. Há ali um problema relacionado com o “funcionamento de portas abertas e uso abusivo do espaço público”, diz a presidente da autarquia, Carla Madeira (PS), que se diz empenhada em encontrar soluções para devolver tranquilidade a quem ali vive. O que poderá passara pela aplicação de restrições ao funcionamento dos estabelecimentos em causa. Até que tal aconteça, as queixas vão-se multiplicando.

“O preço baixo das bebidas atraiu um novo tipo de clientela, menos exigente. Assistiu-se a um nivelar por baixo. E isto aconteceu a partir do momento em que abriu um bar novo, há cerca de dois anos. E, depois, veio outro logo ao lado”, queixa-se Sara Pinto, gerente do Baliza, juntamente com Bruno Abreu. O bar, aberto desde 1999, mesmo em frente do Bicaense, formou com este uma referência incontornável para muita gente que tem da Bica uma outra imagem que não a que agora se revela. “Passou a assistir-se aqui a coisas que nunca havíamos visto. Há gente a urinar contra a paredes, sem qualquer problema e aqui dentro nós a vermos tudo”, conta Bruno, que muitas vezes tem de intervir para afastar vendedores de substâncias ilícitas da porta.

 O tráfico de drogas leves, até recentemente visto como um fenómeno que apoquentava sobretudo a vizinha Rua Marechal Saldanha e as imediações do Miradouro do Adamastor, em Santa Catarina, passou também a fazer parte do quotidiano da Bica. Algo que é visto por ali como consequência indirecta da actuação de dois polícias gratificados, pagos por um novo estabelecimento hoteleiro junto ao miradouro para afugentar a “má frequência”. “Por causa disso, assistiu-se a uma deslocação dos problemas para aqui”, dizem alguns comerciantes. Os traficantes de estupefacientes continuam, porém, a operar à luz do dia em toda a área da Marechal Saldanha e do Adamastor.

 Certo é que, ouve-se por ali em uníssono, a sempre subjectiva qualidade do quotidiano na Rua da Bica de Duarte Belo desceu a uma velocidade mais acelerada que a do ascensor. “Isto deixou de ser uma rua pacífica, que funcionava como alternativa ao Bairro Alto e passou a ser um local inseguro e com mau ambiente. É impossível estar aqui a partir das 23h”, lamenta Sara, apontando o tráfico de droga e o “problema gravíssimo da falta de higiene” como principais razões para a pressentida decadência. Há rios de urina a descerem paralelos ao trilho do ascensor.

 Hugo Sousa, do Bicaense, aponta no chão as marcas dessas escorrências, que se mesclam à cerveja derramada para criar um tapete muito pouco sedutor. A recente colocação, pelos serviços de higiene da Câmara de Lisboa, de contentores de lixo fixos em determinados pontos, sobretudo nas ruas perpendiculares à principal, terá levado ao seu aproveitamento como urinóis públicos pelos menos dados ao rigor cívico. “Acções não devidamente ponderadas criam novos problemas”, constata Hugo, apontando ainda a venda desregrada de cerveja como razão adicional para o estado geral de sujidade. Além da bebida derramada, há frequentemente garrafas a rebolar, calçada abaixo. E vidros partidos, claro.

 Ana Martins, moradora na rua e dona da conhecida Tabacaria Martins, no Largo do Calhariz, mesmo ali ao lado, confirma esta degradação generalizada da vivência naquela que é uma das áreas do centro de Lisboa mais procuradas pelos turistas. “Isto está a tornar-se de mais, com o barulho e o certos comportamentos das pessoas. Não posso entrar na minha casa, sem ter de alçar a perna, pois há sempre gente e garrafas”, queixa-se, sem deixar de referir o que vê como “abaixamento do nível dos turistas”, muitos dos quais com comportamentos a denotar a falta de educação. Nesta zona, mesmo durante o dia, tornou-se comum ver grupos de indivíduos ruidosos, de copo de cerveja na mão e em tronco nu.

 Cenário que piora à noite. Para tal, dizem comerciantes e residentes, muito contribui uma certa sensação de impunidade. “Existe uma clara discrepância entre o policiamento feroz a estabelecimentos que aqui estão há anos, cumprem todos os regulamentos, pagam todos os impostos e taxas e o que não é feito a outros, que surgem agora. Há uma óbvia disparidade de actuação”, afirma Hugo Sousa, gerente do Bicaense.

 “E isso tem óbvias consequências financeiras”, conclui Bruno Abreu, do Baliza, lamentando ainda o que observa como uma certa passividade da Junta de Freguesia da Misericórdia no que diz respeito à limpeza do espaço público. A contribuir para essa sensação geral de desleixo está a profusão de graffiti.

 Do mesmo se queixa Sílvia, 48 anos, a gerente do cabeleireiro Wip, revelando que, ao chegar de manhã ao seu estabelecimento, se depara com uma rua “cheia de lixo, urina, vidros partidos e vómito”. “É claro que isto tem um impacto negativo aqui. Há como que uma energia super-má”, considera a espanhola, originária de Toledo e que se assume como uma bicaense, fruto da sua vivência de década e meia no bairro. Muito mudou por ali, nos últimos tempos, e não foi necessariamente para melhor.

 O mesmo sente o português João Costa, 45 anos, a viver na Bica há meia-dúzia de anos e que se lamenta de não conseguir dormir bem há já seis meses, devido ao “barulho de batuques”. Uma banda-sonora que acompanha, aliás, muitas das transacções ilícitas feitas nas redondezas. “Isto é um fenómeno que veio do Adamastor para aqui. Chegou ao ponto de haver 40 pessoas na rua, 30 eram traficantes”, garante.

 Desiludida com o que vê, e saudosa de uma época em que à Bica se ia com um espírito diferente, Sílvia faz uma constatação: “Deixou de haver meio-termo, com esta onda turística, estamos divididos entre o elitismo e o baixo nível”. É a parte inferior dessa escala imaginária, todavia, a motivadora de quase todos os queixumes da comunidade bicaense.

 Algo inevitavelmente relacionado com o baixo preço do álcool, garante-se por ali. “Andam a vender a imperial a metade do preço do que os outros vendem, isso atrai para aí essa gente toda”, diz João Antunes, o proprietário do restaurante Alto Minho.

 Os visados pelas acusações assumem a prática concorrencial, mas afastam qualquer responsabilidade pelo tal “mau ambiente” de que todos falam. “Estamos a fazer o nosso papel, não temos a culpa dessa gente vir para aqui arranjar problemas”, diz Carmen Xavier, que com o marido, António Araújo, dirige há pouco mais de ano e meio a Petiscaria do Elevador. Além de algumas iguarias brasileiras, o preço da cerveja é um chamariz. 60 cêntimos a imperial é convidativo, admite.

 A empresária concorda ainda que o que se está a viver, por estes dias, no topo da Rua da Bica de Duarte Belo “é uma bagunça”, mas sacode eventuais culpas pelas degradação a que se tem assistido. “Se vemos alguém a consumir drogas, ou com um comportamento indecente, dizemos logo que não queremos nada disso aqui. Estamos aqui para trabalhar, este é o nosso sustento”, diz, queixando-se ainda “preconceito” dos que se queixam em relação à sua nacionalidade.

 A empresária lamenta ainda que se tenha espalhado o boato que os seus funcionários teriam intimidado os funcionários da junta para não procederem à limpeza da rua em frente ao estabelecimento. “É mentira, apenas lhes dissemos que não fazia sentido limpar aqui à porta com a mangueira, às 23h, quando a essa hora ainda temos tantos clientes. Isso só os vais afugentar. Por que não o fazem às 2h, como acontece no Bairro Alto?”, questiona.

 “Os outros armam confusão e a gente é que fica com a má fama”, lamenta-se Carmen, assumindo ainda ter baixado o preço da cerveja para 50 cêntimos a imperial, fornecida pela Sagres, porque o estabelecimento que fica portas-meias, o Let’s Rock, também o terá descido. A competição é feroz, assume. O marido vai mais longe. “Sim, é uma guerra, sim, se é isso que eles querem”, declara, assumindo a importância do que está em jogo. No caso, sua sobrevivência comercial. Para os que se queixam as bebidas em saldo, avisa: “Não vou mudar o preço”. Uma espécie de grito de guerra do proprietário da Petiscaria do Elevador.

 Coisa que Fábio Alexandre, o dono do rival Let’s Rock, garante não existir. “O que se passou foi que, quando abri esta casa, a 15 de outubro de 2015, tinha um acordo com o meu fornecedor de cerveja para que, ao fim de um ano de actividade, baixássemos o preço e conseguíssemos ser mais competitivos”, explica o empresário, que se orgulha de ter ajudado a “dinamizar” aquela parte da rua. “Isto estava completamente vazio, não havia aqui ninguém”, diz, garantindo a O Corvo ter decidido investir na abertura do bar naquele sítio como resultado da experiência acumulada de anos a trabalhar como funcionário de bares do Bairro Alto e ainda na indústria turística.

 A ajuda da Super Bock, o fornecedor de cerveja, também terá, porém, contado na equação proveitosa. “Ao longo dos anos em que trabalhei no Bairro Alto, estabeleci contactos com fornecedores”, admite, afastando, todavia, a possibilidade de que vender a imperial também a 60 cêntimos estará a contribuir para o acicatar de um despique comercial com o vizinho. “Não estou aqui para isso, mas apenas para fazer o meu negócio”, responde, embora admita que os preços que pratica sejam concorrenciais. O objectivo é, precisamente, chamar gente.

 Mas não daquele tipo que traga problemas, que possa ser vista como desestabilizadora. Tanto que, em dois anos, Fábio não tem registo de nenhum incidente sério com a clientela. O empresário garante fazer tudo como mandam as regras. “Só posso controlar quem entra no meu estabelecimento e aqui não vendo nada em copo de vidro. A minha calçada, aqui à porta, está sempre limpa, até tenho duas esfregonas”, informa. Mas o ruído constitui um problema, reconhece. “As pessoas, cá fora, por vezes, falam demasiado alto. E há um grupo de indivíduos, não sei se são músicos, que vêm para aí com tambores e pandeiretas. Isso é o que incomoda mais”, consente, embora sugira que tal situação não lhe diz respeito.

Questionada por escrito por O Corvo, a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia admite que “existem no topo da Rua da Bica Duarte Belo alguns estabelecimentos com comportamentos que provocam incómodo junto dos moradores, tais como funcionamento de portas abertas e uso abusivo do espaço público, o que provoca bastante ruído durante a noite”. Situação que, garante Carla Madeira (PS), está já identificada e a ser alvo de fiscalização por parte da Polícia Municipal.

 A autarca reconhece que os problemas vividos naquela rua “são fruto de uma utilização indevida do espaço público para consumo de álcool de uma forma massiva”, mas também são a consequência da “falta de civismo que os frequentadores dos referidos espaços demonstram. Não só relativamente à higiene urbana mas, principalmente, relativamente ao ruído que provocam, prejudicando o descanso de quem ali vive”.

 Carla Madeira informa que “os funcionários da junta de freguesia, neste momento, não conseguem fazer a lavagem do local durante a noite, tal como o faziam anteriormente, dada a não colaboração por parte dos clientes e dos comerciantes do local”. O que obriga a que tal operação seja feita durante o dia. “A lavagem é efectuada semanalmente, mas tal só é visível no dia da lavagem, dado a enorme produção de sujidade existente no local”, salienta.

 Fazendo questão de sublinhar que não é objectivo da junta por si presidida terminar com a diversão nocturna na freguesia, a autarca diz estar apostada em encontrar “o desejado equilíbrio da função residencial com a função comercial”. Motivo pelo qual, diz, tem estado a acompanhar de perto a situação, juntamente com a CML e a Polícia Municipal. Ainda na semana passada, o vereador com o pelouro da Segurança, Carlos Castro, terá estado no local. “Iremos, juntamente com a CML e a PM, continuar a lutar para devolver aquela rua aos moradores da freguesia, defendendo a aplicação de restrições aos estabelecimentos prevaricadores e estando ao lado da nossa população”, afirma.


 E acrescenta: “Continuaremos a lutar com todas as nossas forças para que a rua mais bonita do mundo volte a ser um local aprazível para quem aqui vive e circula. Não desistiremos enquanto não devolvermos a qualidade de vida a quem reside nesta rua!”.



Como se faz o tráfico de droga no centro de Lisboa
25.09.2017 11:58 por Augusto Freitas de Sousa

O bairro da Bica, em Lisboa, foi tomado de assalto por traficantes que vendem haxixe de dia e de noite. A PSP da zona já prendeu 71 pessoas este ano

O tráfico faz-se à vista de todos. E o esquema não difere de dia para dia. Primeiro chegam os traficantes, por volta da hora de almoço e na maior parte das vezes por caminhos diferentes. A polícia sabe quem são e de onde vêm. Segundo uma fonte da PSP são originários de bairros dos arredores de Lisboa como o "Navegantes" em Oeiras, "Icesa" em Vialonga e outros na Amadora, Póvoa de Santa Iria e Alta de Lisboa. Habitualmente vendem haxixe, mas também há relatos de venda de ecstasy.
O movimento aumenta a partir das 18h – e na passada quarta-feira, 9 de Agosto, a SÁBADO assistiu a todos os passos. Na entrada do bairro, um ou dois traficantes colocam-se em posição estratégica para alertar para a possível chegada da polícia. Se desconfiarem de alguma coisa, assobiam – um som já reconhecido pelos moradores. Entretanto, vão angariando clientes e acompanham-nos para junto dos outros traficantes que se costumam juntar ao cimo das escadas que ligam a Rua Marechal Saldanha e a Rua do Almada. São geralmente dois ou três que aí aguardam pelos clientes ou que vendem directamente a quem passe no local.
O depoimento secreto do traficante O depoimento secreto do traficante Guardam parte da droga na mão, no bolso ou escondem-na na roupa. Num dos casos a que a SÁBADO assistiu, o traficante tirava lixo de um caixote para poder colocar o haxixe por baixo, enquanto um segundo se virava de costas para a rua para contar o dinheiro da venda. Um minuto depois, na esquina mais próxima, outro traficante tirava a droga escondida atrás de um cartaz descolado da parede. Após a transacção, concluída em poucos segundos, as placas de haxixe, que variam entre os cinco e os 10 euros, voltaram ao esconderijo.
Quando a droga chega ao fim, desaparecem nas ruas em redor para se abastecerem em casas do bairro onde moradores cúmplices guardam as maiores quantidades. Voltam rapidamente e o ciclo volta a cumprir-se. Como se fosse um vídeo repetido. Já os consumidores seguem quase sempre para o miradouro de Santa Catarina. Um corrupio que não pára e que não passa despercebido a ninguém.
Em Março deste ano, os moradores entregaram à Câmara Municipal de Lisboa uma petição com mais de 300 assinaturas a pedir o "patrulhamento em permanência da Polícia Municipal ou da PSP nos locais afectados até à reposição da tranquilidade pública e dissuasão do tráfico de droga". Os signatários davam conta que o "território foi colonizado pelo tráfico e consumo de droga bem como pelo binge drinking [consumo rápido de grandes quantidades de álcool] de centenas de jovens.
Quem entra na zona da Bica pela Rua Marechal Saldanha, que termina no miradouro de Santa Catarina, não tem como fugir às perguntas e sinais dos traficantes. Kees Eijrondl, um holandês que se prepara para abrir um hotel de luxo na zona, conta à SÁBADO que a conhecida jornalista brasileira Glória Maria desistiu de visitar o seu hotel porque, quando esperava que baixassem o pilarete da rua para poder passar com o carro, onde seguiam duas crianças, lhe perguntaram várias vezes se queria comprar droga. Conta o holandês que, mais tarde, a jornalista lhe telefonou para dizer que não levava duas crianças para um ambiente como aquele. Morador no bairro há 20 anos, diz que tudo se agravou nos últimos cinco anos numa zona onde "clientes e turistas não se sentem confortáveis com os pequenos gangues que circulam pelas ruas".
Câmara pediu mais polícia
Contactada pela SÁBADO, a Polícia de Segurança Pública afirmou que, desde o início do ano, os responsáveis da esquadra do bairro alto detiveram "71 pessoas, das quais 33 por tráfico ou posse de estupefacientes. Destes detidos, 21 foram apanhados no Miradouro de Santa Catarina (conhecido por Adamastor) ou nas imediações". A polícia confirma ainda estar "a par das reivindicações de comerciantes e moradores" e afirma ter reforçado as equipas mas reconhece estar "perante criminalidade com algum grau de organização, que exige processos de investigação criminal".
Já os moradores e comerciantes acusam a Junta de Freguesia da Misericórdia de não acautelar os interesses da população e reconhecem que a PSP pouco pode fazer. António Mestre, um comerciante local, diz à SÁBADO que "toda a gente sabe quem são os traficantes, onde escondem a droga e quem são os colaboradores do bairro. Miguel Ferreira, outro comerciante, acrescenta que são os próprios agentes da PSP que, relativamente às detenções, deixam um lamento: "rei morto, rei posto".
Contactada pela SÁBADO, a CML confirma a entrega da petição e garante ter solicitado com regularidade o "reforço do policiamento da PSP no local, por inúmeras queixas que recebe de munícipes relativas a tráfico de droga". A autarquia reconhece, porém, que "terá de ser mais efectivo o reforço de policiamento neste local" e disponibiliza os seus meios para "qualquer acção conjunta que a PSP deseje efectuar no âmbito da segurança interna."
Já a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, não respondeu às questões da SÁBADO até ao fecho desta edição.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

10 maneiras de identificar um Verdadeiro Lisboeta




10 maneiras de identificar um Verdadeiro Lisboeta

Por Luís Leal Miranda Publicado Sábado 23 Setembro 2017, 22:03

O que é afinal um "alfacinha de gema"? São aqueles cidadãos, metade hortaliça, metade ovo, nascidos e criados entre as sete colinas e tidos como os Verdadeiros Lisboetas. Sabe como distingui-los entre a multidão? Nós damos um ajuda.

1. O Verdadeiro Lisboeta lembra-se do dia em que as escadas rolantes da estação Baixa-Chiado estavam todas a funcionar.

Um evento tão surpreendente que é provável que, mesmo o mais esquecido, saiba dizer com muita certeza o que tinha vestido nesse dia.

2. Tem sempre uma multa de estacionamento dentro do carro.

Isso faz parte do Kit de Lisboeta Básico. O nível Avançado inclui várias multas da EMEL no porta-luvas e uma folha A4 com a frase “Estou no supermercado” escrita a marcador para quando estaciona em segunda fila. O grau de Lisboeta Superior atinge-se quando, dentro do carro mal estacionado, deixa uma cópia do Código Civil em cima do tablier com a nota: “Estou no tribunal”.

3. Ainda se refere à estação do Marquês de Pombal como “Rotunda”.

Chama “Palhavã” à Praça de Espanha e “Socorro” ao Martim Moniz. Tem sempre de pensar duas vezes quando alguém fala em Aeroporto Humberto Delgado e chama Germania à cervejaria Portugália (ok, o nome mudou em 1925, este exemplo aplica-se só aos lisboetas mais antigos). Parque das Nações? Para o Verdadeiro Lisboeta é Expo e mais nada.
Fotografia: Arlindo Camacho

4. Diz aos turistas que têm de andar no eléctrico 28.

Mas não anda de eléctrico. Recomenda os pastéis de Belém a toda a gente, mas só lá vai quando tem visitas. O mesmo é verdade para o Castelo de S. Jorge ou Alfama.

Fotografia: Arlindo Camacho

5. Tem uma relação forte com um lugar obsoleto da cidade

Há anos que a Brasileira, a Mexicana ou a Suiça não são a mesma coisa, mas o Verdadeiro Lisboeta insiste em frequentar todos esses sítios esporadicamente para poder dizer, “isto já não é a mesma coisa”.

8. Nasceu na MAC e espera que toda a gente saiba o que é a MAC

Maternidade Alfredo da Costa. Mas é preciso explicar tudo? Também é comum o Verdadeiro Lisboeta apresentar-se como um “natural de S. Sebastião da Pedreira”. Dá um toque rústico ao seu olissipocentrismo.

9. Acha que não tem sotaque

Existe uma maneira de falar específica em Lisboa a que chamamos de “silabalismo” ou “etimofagia”, expressões que descrevem o estranho hábito de comer sílabas. Cada conversa é como uma colherada numa sopa de letras invisível. Exemplo: “Oh qu’rida pod t’fnar à emp’gada e pedi’ pa’ela virámnhã?”.

10. Vai dizer “não é nada disto!”.

E mostrar uma quantidade imoderada de indignação depois de ler este texto. Nós não queríamos ter de contar a história do peixe, mas lá vai ter de ser: dois peixes cruzam-se no meio do oceano e um peixe pergunta, “Então, como está a água hoje?”. Ao que o outro responde: “Água? O que é água?”. É normal esquecermo-nos daquilo que nos rodeia quando o que nos rodeia é o que sempre conhecemos.