quinta-feira, 3 de julho de 2014

Costa rejeita o pisca-pisca. Porquê? / Fundador do PS afasta-se de António Costa “em bicos de pés”


Costa rejeita o pisca-pisca. Porquê?
Por Ana Sá Lopes
publicado em 3 Jul 2014 / in (jornal) i online
Acreditar numa aliança à esquerda com Costa é cegueira ou propaganda
António Costa decidiu não entrar na discussão daquilo a que chama a teoria do pisca-pisca – o PS sem maioria coliga-se à esquerda ou à direita? A pergunta deveria ser obrigatória no debate interno, já que uma das mais ferozes teses anti-Seguro é que este teria na agenda, depois da “abstenção violenta” ao primeiro Orçamento de Passos, uma coligação futura com o PSD. Para desespero de alguns que propagandearam Costa como o “candidato da esquerda”, o próprio optou por excluir a questão.

A eliminação do debate do pisca-pisca revela a aguda capacidade estratégica de Costa e protege-o de, se ganhar o partido, ter de aparecer a justificar uma aliança com o PSD. Não deixa de ser um aborrecimento: a proclamação desarma alguns dos seus mais próximos (e, vá lá, um bocadinho ingénuos) apoiantes. Depois de os ter levado aos píncaros com aquela frase agradável no arranque da campanha interna – “se pensarmos como a direita, acabamos a governar como a direita” – e de ter recolhido apoios de pessoas-mesmo-muito-à-esquerda convencidas de que o PS finalmente ia transmutar-se, Costa manda acalmar as hostes. É mais sério para António Costa não se comprometer naquilo que nunca poderá fazer: tirando o Livre (que não sabemos quanto vale em legislativas se efectivamente o PS se tornar uma força política mais forte), não há programa para coligações à esquerda. E quanto a currículo sobre coligações à esquerda na Câmara de Lisboa, é bom registar que Costa se coligou com o PS (Helena Roseta era uma militante socialista desavinda que entregou o cartão por motivos conhecidos) e com José Sá Fernandes, que nunca militou no Bloco de Esquerda. Os pergaminhos de coligações à esquerda do PS recuam ao século passado, quando Jorge Sampaio conseguiu aliar-se com o PCP na mesma Câmara de Lisboa. E uma câmara é uma câmara. Como é que se governa o país submetido ao tratado orçamental e ao “consenso europeu” com os partidos de esquerda? Infelizmente isso não existe no nosso mundo.


O que resta a Costa é a esperança no “outro PSD” que suceda a Passos e tenha alguma chama social-democrata mais acesa. Esse “outro PSD” chama-se Rui Rio, que uma vez por mês “não exclui” vir a ser líder na próxima vaga. É com ele – e com outros notáveis de direita que “estão contra este governo” – que Costa vai consensualizar no futuro. Acreditar noutra coisa é cegueira ou propaganda. As duas, infelizmente, costumam andar de mãos dadas.




Fundador do PS afasta-se de António Costa “em bicos de pés”
NUNO SÁ LOURENÇO 03/07/2014 - PÚBLICO
Alfredo Barroso foi um dos fundadores do partido que apoiou num manifesto o autarca de Lisboa. Na altura, avisou que punha condições. Que Costa, aparentemente, não está a cumprir.
Foi o discurso de António Costa do “pisca-pisca” que fez Alfredo Barroso suspeitar que a “inusitada atitude” de Costa “não augura nada de bom”.

O ex-chefe da Casa Civil de Mário Soares, quando este foi Presidente da República, classificou esta quinta-feira como uma “fanfarronice” as alusões do edil de Lisboa à “política do pisca-pisca”. No passado fim-de-semana, em Évora, António Costa criticou as referências a acordos do PS com outras forças políticas, considerando essas “discussões” como um “sinal de fraqueza”.

“É, no mínimo, uma deselegância em relação àqueles que, como eu, acham que esse é um debate incontornável, face ao estado a que o partido chegou”, reagiu Alfredo Barroso na rede social Facebook.

Assumindo a leitura de que essa postura de Costa pode ser interpretada como um sinal de que não se pretende debater “questões importantes” como o Tratado Orçamental, a “renegociação e/ou reestruturação da dívida”, a “questão das privatizações e a questão da promiscuidade entre o PS e os negócios”. “Se nada de essencial é para discutir porque não é oportuno, afasto-me já em bicos de pés para não perturbar o sono das hostes”, rematou o também fundador do PS.

Foi precisamente nessa condição que, há dias, Barroso subescrevera um manifesto onde partilhava com outros 25 históricos do partido o apoio à candidatura de Costa.

Mário Soares, Arons de Carvalho, Mário Mesquita, entre outros, considaravam ser “indispensável que António Costa seja o candidato a primeiro-ministro”, por estar em “melhores condições externas e internas para ganhar as próximas eleições legislativas e oferecer a Portugal uma alternativa sólida, clara e de esquerda”.


Na altura, avisou que tal não era um cheque em branco, avisando o autarca que tinha ainda de "esclarecer" alguns pontos que o fundador tinha como fundamentais, como a sua posição face ao Tratado Orçamental - "um colete de forças imposto do exterior que leva a mais austeridade" -, ou a sua política de coligações. Aparentemente, esta quinta-feira ficou elucidado

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