Costa rejeita o pisca-pisca.
Porquê?
Por Ana Sá Lopes
publicado em 3
Jul 2014 / in (jornal) i online
Acreditar numa
aliança à esquerda com Costa é cegueira ou propaganda
António Costa
decidiu não entrar na discussão daquilo a que chama a teoria do pisca-pisca – o
PS sem maioria coliga-se à esquerda ou à direita? A pergunta deveria ser
obrigatória no debate interno, já que uma das mais ferozes teses anti-Seguro é
que este teria na agenda, depois da “abstenção violenta” ao primeiro Orçamento
de Passos, uma coligação futura com o PSD. Para desespero de alguns que
propagandearam Costa como o “candidato da esquerda”, o próprio optou por
excluir a questão.
A eliminação do
debate do pisca-pisca revela a aguda capacidade estratégica de Costa e
protege-o de, se ganhar o partido, ter de aparecer a justificar uma aliança com
o PSD. Não deixa de ser um aborrecimento: a proclamação desarma alguns dos seus
mais próximos (e, vá lá, um bocadinho ingénuos) apoiantes. Depois de os ter
levado aos píncaros com aquela frase agradável no arranque da campanha interna
– “se pensarmos como a direita, acabamos a governar como a direita” – e de ter
recolhido apoios de pessoas-mesmo-muito-à-esquerda convencidas de que o PS
finalmente ia transmutar-se, Costa manda acalmar as hostes. É mais sério para
António Costa não se comprometer naquilo que nunca poderá fazer: tirando o
Livre (que não sabemos quanto vale em legislativas se efectivamente o PS se
tornar uma força política mais forte), não há programa para coligações à
esquerda. E quanto a currículo sobre coligações à esquerda na Câmara de Lisboa,
é bom registar que Costa se coligou com o PS (Helena Roseta era uma militante
socialista desavinda que entregou o cartão por motivos conhecidos) e com José
Sá Fernandes, que nunca militou no Bloco de Esquerda. Os pergaminhos de
coligações à esquerda do PS recuam ao século passado, quando Jorge Sampaio
conseguiu aliar-se com o PCP na mesma Câmara de Lisboa. E uma câmara é uma
câmara. Como é que se governa o país submetido ao tratado orçamental e ao
“consenso europeu” com os partidos de esquerda? Infelizmente
isso não existe no nosso mundo.
O que resta a
Costa é a esperança no “outro PSD” que suceda a Passos e tenha alguma chama
social-democrata mais acesa. Esse “outro PSD” chama-se Rui Rio, que uma vez por
mês “não exclui” vir a ser líder na próxima vaga. É com ele – e com outros
notáveis de direita que “estão contra este governo” – que Costa vai
consensualizar no futuro. Acreditar noutra coisa é cegueira ou propaganda. As
duas, infelizmente, costumam andar de mãos dadas.
Fundador do PS afasta-se de
António Costa “em bicos de pés”
NUNO SÁ LOURENÇO
03/07/2014 - PÚBLICO
Alfredo Barroso foi um dos fundadores do partido que apoiou num manifesto o
autarca de Lisboa. Na altura, avisou que punha condições. Que Costa,
aparentemente, não está a cumprir.
Foi o discurso de António Costa do “pisca-pisca” que fez Alfredo Barroso
suspeitar que a “inusitada atitude” de Costa “não augura nada de bom”.
O ex-chefe da
Casa Civil de Mário Soares, quando este foi Presidente da República,
classificou esta quinta-feira como uma “fanfarronice” as alusões do edil de
Lisboa à “política do pisca-pisca”. No passado fim-de-semana, em Évora, António
Costa criticou as referências a acordos do PS com outras forças políticas,
considerando essas “discussões” como um “sinal de fraqueza”.
“É, no mínimo,
uma deselegância em relação àqueles que, como eu, acham que esse é um debate
incontornável, face ao estado a que o partido chegou”, reagiu Alfredo Barroso
na rede social Facebook.
Assumindo a
leitura de que essa postura de Costa pode ser interpretada como um sinal de que
não se pretende debater “questões importantes” como o Tratado Orçamental, a
“renegociação e/ou reestruturação da dívida”, a “questão das privatizações e a
questão da promiscuidade entre o PS e os negócios”. “Se nada de essencial é
para discutir porque não é oportuno, afasto-me já em bicos de pés para não
perturbar o sono das hostes”, rematou o também fundador do PS.
Foi precisamente
nessa condição que, há dias, Barroso subescrevera um manifesto onde partilhava
com outros 25 históricos do partido o apoio à candidatura de Costa.
Mário Soares,
Arons de Carvalho, Mário Mesquita, entre outros, considaravam ser
“indispensável que António Costa seja o candidato a primeiro-ministro”, por
estar em “melhores condições externas e internas para ganhar as próximas
eleições legislativas e oferecer a Portugal uma alternativa sólida, clara e de
esquerda”.
Na altura, avisou
que tal não era um cheque em branco, avisando o autarca que tinha ainda de
"esclarecer" alguns pontos que o fundador tinha como fundamentais,
como a sua posição face ao Tratado Orçamental - "um colete de forças
imposto do exterior que leva a mais austeridade" -, ou a sua política de
coligações. Aparentemente, esta quinta-feira ficou
elucidado
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