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CAPA DO INIMIGO PÚBLICO (...) "A justiça tem de ultrapassar a síndrome Vale e Azevedo, que leva a que os poderosos só sejam incomodados após saírem de cargos importantes. As autoridades não podem dar--se ao luxo de esperar que Salgado e outros gestores saiam dos seus cargos. Têm de actuar e dar mostras públicas dessa actuação para tranquilidade da comunidade – um valor que vale mais que a família Espírito Santo.
Luís Rosa in "BESgate: hora de agir" |
BESgate: hora de agir
A justiça tem de ultrapassar a síndrome Vale e Azevedo. Os poderosos têm de
ser incomodados antes de sair dos cargos
Por Luís Rosa
publicado em 4 Jul
2014 / IN (JORNAL) I ONLINE
1. O Banco de
Portugal começou a reagir. Começou por assegurar ontem em comunicado a
solvabilidade do BES para tranquilizar os depositantes e sinalizou, através da
Reuters, o que já sabíamos: Morais Pires não vai ser o sucessor de Ricardo
Salgado.
É uma vitória do
bom senso. Foi necessária uma pequena amostra do que estava para vir, através
da notícia do “Expresso” de sábado passado relativa a transferências do Banco
Espírito Santo de Angola para sociedades offshore dominadas por ambos, para o
regulador e os accionistas do BES fazerem o óbvio: retirar o chief financial
officer da lista da nova administração. Esta decisão, juntamente com uma lista
apoiada por ampla maioria dos accionistas do BES, pode ajudar a serenar os
ânimos.
A queda de Morais
Pires é uma derrota pessoal de Salgado. Obanqueiro mais influente dos últimos
20 anos ainda não se convenceu de que já não é o dono disto tudo. É um ex-DDT
em queda acelerada, mas que ainda não consegue vislumbrar com precisão a altura
que o separa do chão para avaliar os danos que a sua queda provocará no BES e
no país.
2. A justiça e o escrutínio regulatório são
áreas a que a influência de Ricardo Salgado, contudo, já não pode chegar. Os
casos do BESgate já são tantos e tão graves que o silêncio da
Procuradoria-Geral da República e dos reguladores não pode continuar por muito
mais tempo. É tão importante assegurar a solvabilidade do banco e esclarecer
que os problemas da família Espírito Santo não serão resolvidos com a ajuda dos
contribuintes como assegurar à comunidade que as alegadas irregularidades estão
a ser investigadas. Ninguém acredita que o Ministério Público ou os reguladores
fiquem de braços cruzados e não actuem em conjunto perante confissões de
falsificação da contabilidade de uma sociedade de controlo desde 2008, perante
transferências de 27 milhões de dólares de um banco controlado pelo BES para
contas bancárias na Suíça de Salgado e Morais Pires ou perante indícios de
inside trading como os que publicamos hoje sobre a privatização da EDP (faça
zoom nas págs. 18-19). A justiça tem de ultrapassar a síndrome Vale e Azevedo,
que leva a que os poderosos só sejam incomodados após saírem de cargos
importantes. As autoridades não podem dar--se ao luxo de esperar que Salgado e
outros gestores saiam dos seus cargos. Têm de actuar e dar mostras públicas
dessa actuação para tranquilidade da comunidade – um valor que vale mais que a
família Espírito Santo.
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