Eurocépticos podem ter maioria
dos votos em Itália
A desilusão é palpável: 53% dos italianos dizem não se sentir cidadãos da
União Europeia, segundo o Eurobarómetro
Maria João
Guimarães / 13-5-2014 / PÚBLICO
Mais de metade
dos eleitores italianos poderão votar em partidos com discurso eurocéptico:
isto se juntarmos partidos que defendem abertamente um referendo ao euro, como
o Movimento 5 Estrelas, do comediante Beppe Grillo, ao Força Itália, do antigo
primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que encontrou na UE um bode expiatório
para os males de Itália e fez desta linha a sua campanha, à Liga Norte, que
extremou o discurso anti-UE, a par do discurso anti-imigração, para estas
eleições.
O sentimento de
desilusão com a União Europeia é grande em Itália: 53% dos italianos não se
sentem cidadãos da União Europeia, segundo o Eurobarómetro. Ainda que a maioria
continue a apoiar o euro, essa é uma maioria cada vez menos — hoje apenas 53%,
muito menos do que os 73% que o faziam nos anos 1990.
Ainda assim,
analistas sublinham que o partido mais votado, segundo o que prevêem as
sondagens, é o Partido Democrático (PD) do primeiro-ministro, Matteo Renzi, com
32,2%. Enquanto Grillo está com 25,4% (Poll Watch), e seguese a Força Itália,
com 19,2%. A Liga Norte aparece com 5,3%.
Renzi tem
defendido a Europa, mas não a abordagem da União Europeia à crise, martelando
na necessidade de permitir crescimento e estímulo do consumo interno.
O partido de
Grillo quer o fim da política de austeridade, a introdução de eurobonds (ou
seja, a mutualização da dívida de todos os países do euro), e um pacote de
ajuda para o Sul da Europa semelhante ao Plano Marshall para a Alemanha do pós-
guerra. Quer, para além disso, um referendo à permanência da Itália no euro.
O euro está
rapidamente a transformar-se no bode expiatório para as dificuldades económicas
de Itália (40% de desemprego jovem, por exemplo) e o efeito é que a campanha
está a debruçar-se como nunca nas questões europeias justamente numa altura em
que o apoio ao projecto europeu parece estar num mínimo.
O partido de
Berlusconi está a fazer campanha com o slogan: “Mais Itália na Europa, menos
Europa em Itália.” A Liga Norte tem o mote “Basta euro” e tenta reafirmar-se (a
votação prevista é metade da que obteve nas últimas europeias). “Os nossos
movimentos na Europa — a Liga, Le Pen, Ukip — vão conseguir ter 200
eurodeputados. Não vai ser Grillo a conseguir este tipo de impacto”, disse o
líder do partido, Matteo Salvini.
Contra esta
descrença geral, o Presidente, Giorgio Napolitano, deu uma entrevista na TV
pública para sublinhar os méritos da União Europeia: “Às vezes há a impressão
de que para muitos a Europa é apenas a política de austeridade dos últimos
cinco anos. Mas a Europa nasceu há 60 anos e o seu maior objectivo foi garantir
a paz no coração da Europa”, defendeu.
A este cocktail
junta-se uma desconfiança nas instituições e nos políticos em geral, para a
qual contribuiu ainda um escândalo recente: na semana passada foram detidos
nove responsáveis da Expo 2015 em Milão, acusados de subornos e manipulação de
concursos públicos. Analistas dizem que, apesar de não envolver ainda políticos
no activo (embora entre os detidos estejam antigos deputados), pode ser uma
prenda para o partido anti- establishment de Beppe Grillo.
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