EDITORIAL
Demagogia toma conta do discurso
europeu
DIRECÇÃO
EDITORIAL/ PÚBLICO 05/05/2014 -
Os líderes europeus estão a felicitar Portugal por ter feito uma escolha
que, na realidade, não fez.
Quando Passos
Coelho anunciou no domingo que Portugal iria sair do resgate “sem recorrer a
qualquer programa cautelar”, o primeiro-ministro tentou passar a ideia de que o
Governo teria ponderado entre duas hipóteses, ambas ao nosso alcance e ambas à
mão de semear: uma saída limpa ou um programa cautelar. Passos repetiu até à
exaustão que o Governo fez uma escolha: “Concluímos que esta é a escolha
certa...”; “é a escolha que defende mais eficazmente os interesses de
Portugal”; “podemos fazer agora esta escolha...”; “fazemos esta escolha porque...”
e “a nossa escolha está alicerçada no...”.
Uma ideia errada
porque a Portugal nunca foi dada a opção de escolher. Aliás, o país vai
terminar o resgate sem sequer saber quais seriam os condicionalismos que teria
se escolhesse um programa cautelar. Os parceiros europeus colocaram à nossa
frente duas portas, mas só nos deram a chave para abrir uma delas. E a
demagogia é pedir a Portugal que agora escolha uma porta. E a demagogia é
Portugal entrar na única porta acessível e dizer que fez uma escolha. E a demagogia
é ver os nossos parceiros europeus felicitarem Portugal pela escolha que fez.
Há cinco meses,
também se pensou que a Irlanda tinha escolhido uma saída limpa. Só algumas
semanas mais tarde é que se descobriu que Dublin afinal não pôde escolher; tal
como em Portugal lhe foi imposta uma saída sem rede. Há poucas semanas, quando
Olli Rehn despiu o fato de comissário europeu e colocou as vestes de candidato
às eleições europeias disse a verdade: que países como a Finlândia tinham
exigido à Irlanda e estavam a exigir a Portugal garantias reais (a hipoteca de
activos) para aceitarem disponibilizar nova ajuda.
Não está em causa
a bondade de termos escolhido a saída limpa. O que está em causa é a demagogia
de alguns líderes europeus que ontem nos vieram felicitar por termos feito uma
escolha que não fizemos.
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