domingo, 5 de maio de 2013

Ana Leal suspensa na TVI: Ataque ao jornalismo.


Ana Leal suspensa na TVI: Ataque ao jornalismo.


O caso ocorrido na TVI com uma reportagem de Ana Leal, que resultou na sua suspensão e proibição de entrar na empresa, é difícil de avaliar sem os factos concretos. Li e falei com o máximo número de pessoas para escrever este artigo. Mas já há medo de falar.

Por:Eduardo Cintra Torres (ectorres@cmjornal.pt)

Do que apurei e li, fica confirmado que a reportagem de Ana Leal complementava outra, de Carlos Enes, indo além do contexto: incluía informação nova e relevante sobre o escândalo tratado (SIRESP).

Apesar da legitimidade de Judite Sousa para a retirar do alinhamento do Jornal das 8, invocando razões editoriais, os espectadores ficaram a perder com a omissão da peça; e é também legítimo (profissional e legalmente) que Ana Leal solicitasse esclarecimentos ao director de Informação e ao Conselho de Redacção. A jornalista nunca falou em censura, antes mostrava a sua incompreensão e manifestava o seu empenho na produção de bom jornalismo na estação.
Os poderosos da TVI aproveitaram o momento. Sem ter cometido qualquer falha ética, deontológica ou de lealdade, Ana Leal foi objecto de um inquérito, de que resultou a a abertura de um processo disciplinar, a suspensão e proibição de trabalhar. Esta decisão da administração da TVI é não só injusta como totalmente desproporcionada.
A proprietária da TVI, espanhola, bem como Paes do Amaral, defendem uma informação "institucional", que nunca ponha em causa os principais poderes do país e a sua relação com eles. Embora com excessos formais, a informação no tempo de Moniz e Moura Guedes era livre e irreverente. Atacada pelo governo Sócrates, a TVI cedeu, afastou--os e substituiu-os por José Alberto Carvalho, que é, digamos assim, um respeitador do poder que estiver no momento, e por Judite Sousa, que já formara equipa com ele na TV do Estado.
Carvalho e Sousa encontraram uma redacção com rotinas de liberdade de escolha de temas e empenho no jornalismo de investigação, o qual está precisamente vocacionado para descobrir podres do sistema, como fez aquela reportagem. Essa liberdade de parte da redacção contrariava o tipo de autoridade que a direcção pretende sobre a redacção e os seus critérios editoriais – mais ao género de entrevistar poderosos do que na revelação de podres. No procedimento desproporcional, vexatório e autoritário contra Leal, coincidiram os interesses da dupla Carvalho-Sousa e da administração em domesticar e intimidar a redacção e em fazer um jornalismo ainda mais institucional, com mais fait-divers e reportagens que, digamos assim, não levantem "problemas", nem a eles, nem aos poderosos.

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