quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Cavaco Silva apela ao civismo dos lisboetas./09/06/2012.
"Definida uma estratégia, encontrado um rumo, é fundamental que a ação dos poderes públicos seja acompanhada de um incremento da mobilização cívica dos cidadãos", afirmou.
in Jornal de Notícias
O presidente da República, Cavaco Silva, defendeu, este sábado, num discurso durante as comemorações do 10 de Junho, que Lisboa tem de definir prioridades para o seu futuro e "tem de inverter a lógica do despovoamento".
Por outro lado, na sessão solene de boas vindas da Câmara Municipal de Lisboa, no Pátio da Galé, Cavaco Silva apelou à "mobilização cívica" dos lisboetas, pedindo-lhes "um maior cuidado na proteção da sua cidade" e um "maior civismo na segurança e na limpeza das ruas".
No início da sua intervenção, presidente da República lembrou que a capital o acolheu há 55 anos "como estudante vindo dos Algarves" e saudou a reorganização administrativa de Lisboa, considerando-a "um exemplo" para todo o país.
Depois de elogiar a "luz suave", os "contrastes" e o património de Lisboa, Cavaco Silva considerou que a capital "beneficia ainda da circunstância de ser, em simultâneo, um eixo de várias centralidades e uma periferia que serve de ponte ao diálogo com o Atlântico".
"Cidade ágil e aberta, o seu destino é transformar a periferia em centralidade, juntando aquilo que o mar divide. Cidade de imensas potencialidades, Lisboa tem de inverter a lógica do despovoamento. Muito há a fazer. Acima de tudo, temos de olhar o futuro", acrescentou.
Em seguida, falou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, que, embora não tenha centrado o seu discurso neste tema, referiu que se registou "um ligeiro crescimento do número de famílias residentes" na capital.
"A cidade começou a contrariar, nesta última década, a perda de população que sofreu desde 1960, esvaziando o centro da cidade, com milhares de fogos devolutos em degradação e que chegou a atingir em 2001 dos mais altos índices de envelhecimento ao nível nacional", disse o autarca socialista.
Antes, o Presidente da República descreveu Lisboa como uma cidade "cosmopolita e aldeã, tradicional e vanguardista", que "deve atrair os jovens e dar-lhes condições para aqui se fixarem".
"A essência de Lisboa deve estar numa cultura fiel às suas origens, que fomente a inovação na ciência, o empreendedorismo na economia, a profundidade na vida espiritual, a excelência no ensino", defendeu.
Cavaco Silva acrescentou que os poderes públicos precisam de decidir "o que é prioritário para a sua afirmação no confronto com outros espaços urbanos", têm de "escolher onde investir, financeira e politicamente", e apontou como essencial uma "participação ativa" dos lisboetas.
"Definida uma estratégia, encontrado um rumo, é fundamental que a ação dos poderes públicos seja acompanhada de um incremento da mobilização cívica dos cidadãos", afirmou.
"Dos lisboetas reclama-se um maior cuidado na proteção da sua cidade. Uma atitude ativa na preservação do espaço público e dos equipamentos coletivos, maior civismo na segurança e na limpeza das ruas, um empenhamento esclarecido na salvaguarda do património histórico e arquitetónico. Sem o contributo e o brio dos lisboetas, Lisboa não cumprirá o seu desígnio de grande capital europeia", reforçou.
No início da sua intervenção, Cavaco Silva fez uma alusão ao poema de Fernando Pessoa "Mar português", para deixar uma mensagem de esperança: "No sal de todos os mares do mundo foram derramadas lágrimas de Portugal. Mas as comunidades fortes sabem conviver com tempos menos favoráveis. E essas comunidades são tanto mais fortes quanto melhor conseguem tornar as incertezas do presente em esperanças de futuro".
O dia em que Cavaco Silva pediu civismo aos lisboetas./24/06/2012.
O estacionamento em cima dos passeios é uma das mais frequentes manifestações de falta de civismo
Por Ana Henriques in Público
"Dos lisboetas reclama-se um maior cuidado na protecção da sua cidade, uma atitude activa na preservação do espaço público, maior civismo na segurança e na limpeza das ruas", disse o Presidente
Arrepiada, a merceeira que abastece a casa de Cavaco Silva afasta uma mão da outra até ter uns bons 20 centímetros de distância entre elas: "Eram deste tamanho e estavam mortas no chão. As ratazanas devem ter ido comer aos sacos de lixo que se acumularam junto à casa do Presidente." A pacata Travessa do Possolo, onde mora Cavaco, não escapou à avalancha de detritos ensacados na via pública, durante a semana que durou, este mês, a greve parcial da recolha do lixo em Lisboa. "Vivo aqui há 50 anos e nunca vi uma coisa assim. Era lixo por todo o lado", descreve uma reformada, Josefa Guedes. "A porteira do prédio do Presidente teve o cuidado de tirar os sacos de lixo que se foram juntando à porta dele e de os levar para ali mais à frente, para aquele intervalo entre as árvores."
Cavaco parece que adivinhava, mas as suas palavras caíram em saco roto. Dois dias antes de a greve começar tinha feito um apelo no âmbito das comemorações do 10 de Junho, este ano celebradas em Lisboa: "Dos lisboetas reclama-se um maior cuidado na protecção da sua cidade. Uma atitude activa na preservação do espaço público e dos equipamentos colectivos, maior civismo na segurança e na limpeza das ruas, um empenhamento esclarecido na salvaguarda do património histórico e arquitectónico. Sem o contributo e o brio dos lisboetas, Lisboa não cumprirá o seu desígnio de grande capital europeia."
Maior clareza era difícil. No seu discurso, feito na qualidade de lisboeta vindo do Algarve há mais de meio século, o Presidente insistiu no papel fundamental da cidadania. "Não tenhamos dúvidas: sem a participação activa dos lisboetas, sem o envolvimento permanente dos seus moradores, os autarcas desta cidade não poderão construir uma capital de futuro que respeite e defenda a herança do passado."
E se ao longo dos últimos anos se registaram mudanças positivas na relação dos habitantes da cidade com o espaço público, muito falta ainda fazer no que à higiene e ao civismo diz respeito. À frente da pasta da higiene urbana na Câmara de Lisboa durante mais de uma década, nos anos 90, o ex-vereador Rui Godinho fala da necessidade de construir um sentimento de pertença dos cidadãos ao local onde vivem e trabalham. "Se não deixamos dejectos caninos no chão de casa por que razão os deixamos na rua, que é a casa de todos?", interroga.
Mais do que o lixo fora do sítio onde devia ser colocado, os dejectos caninos são uma das pragas que causa mais irritação a quem tem ou teve responsabilidades na autarquia. "Beatas, dejectos dos cães e graffiti são três coisas que dão à cidade um aspecto miserável", observa o vereador responsável pelos espaços públicos e pela recolha do lixo, José Sá Fernandes. "Todos os dias interpelo cidadãos que atiram cigarros para o chão. É uma coisa inacreditável, feita por todo o tipo de pessoas." No caso dos tags e outro graffiti considerados poluição visual, a única maneira de acabar com o problema é fazer limpezas diárias, advoga o autarca. Só que isso custa dinheiro. Em 2012 vão ser gastos 200 mil euros em operações de remoção das pichagens. "Seria necessário à volta de um milhão e tal", estima Sá Fernandes. "O Presidente tem razão, mas as coisas não se resolvem de um dia para o outro", resume, elogiando o comportamento dos lisboetas durante a greve do lixo: "Muitos guardaram lixo em casa; outros acondicionaram-no da melhor maneira que puderam na rua", à espera de serem bafejados pelo escasso pessoal da recolha que não aderira à paralisação.
"A maior demonstração de falta de civismo de muitos lisboetas é levarem os cães a fazer as necessidades aos jardins onde brincam crianças", aponta o vereador social-democrata Victor Gonçalves. "O que a Câmara de Lisboa devia fazer era vedá-los com gradeamentos e colocar lá placas proibindo a entrada de cães, à semelhança do que acontece em muitas cidades europeias."
Especialista em planeamento regional e urbano, Pedro Costa, do Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa, pensa que a civilidade dos lisboetas é fundamental para o dinamismo e a qualidade de vida na cidade. "Mas não pode ser vista de forma cega e preconceituosa, nem partindo de uma retórica demasiado simplista", avisa. "Será fácil acusar o graffiter que se expressa ilegalmente numa parede da cidade. Mas se calhar o seu contributo para o ambiente cosmopolita, a qualidade de vida urbana e a integração social na cidade será bem mais importante que muitas outras "incivilidades" frequentes dos lisboetas - a do automobilista que deixa o carro estacionado em cima do passeio ou da passadeira; ou a do que pára o carro com quatro piscas no meio da rua e vai comprar o jornal; ou a do condutor do autocarro de turistas que pára no meio da rua a descarregar os passageiros e impede o trânsito na mesma rua todas as noites; ou a dos taxistas que se apropriam de uma faixa na via pública quando a praça de táxis está cheia."
São poucas as vezes em que o comportamento dos automobilistas não vem à baila quando se fala de civismo na cidade. Mas será a responsabilidade exclusivamente de quem se senta ao volante? Ex-presidente da Câmara de Cascais e antigo conselheiro de Estado, António Capucho justifica a "rebaldaria completa do estacionamento em Lisboa", os problemas de limpeza e outras maleitas com os milhares de pessoas que todos os dias chegam à cidade para trabalhar, regressando depois aos arrabaldes. "Às vezes é a própria câmara que dá os piores exemplos", acusa Fernando Jorge, da associação Forum Cidadania, para quem o discurso de Cavaco Silva peca por ilibar o poder autárquico. Explica melhor: "A EMEL [Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa] criou lugares de estacionamento numa zona de calçada à portuguesa da Alameda Afonso Henriques, quando no subsolo existe um estacionamento subterrâneo quase sempre vazio." Para o activista, o "desprezo dos portugueses pelo espaço colectivo" radica numa excessiva valorização da propriedade privada. "Ocupados por estacionamento privado, os largos da cidade são retratos perfeitos da falta de civismo", considera. "E o Presidente da República vem falar em civismo quando fez duas marquises em casa! Ora como cidadão tenho direito a não ver a arquitectura da minha cidade desfigurada. Atribuem este tipo de relação com o espaço público à Europa do Sul, mas a verdade é que em Atenas não encontrei uma única marquise. O desprezo pelo espaço público está ligado ao nível civilizacional da sociedade."
Costuma dizer-se que de pequenino é que se torce o pepino. E o desaparecimento da disciplina de Educação Cívica dos currículos escolares pode ter sido uma oportunidade perdida. Membro do Conselho Nacional de Educação, Emília Brederode Santos lamenta-o. "A aprendizagem do "civismo" é tanto melhor - mais eficaz, mais genuína, mais sentida - quanto mais resultar de uma verdadeira participação de quem aprende nas decisões que lhe digam respeito, directa ou indirectamente. Pode e deve começar muito cedo" na vida de cada sujeito, preconiza, ressalvando, no entanto, que a falta de civismo em Lisboa não será com certeza maior do que no resto do país. António Capucho conta como a Câmara de Cascais passou a contar com a ajuda dos chamados tutores de bairro - uma espécie de interlocutores privilegiados da autarquia para os problemas das zonas residenciais no que concerne à recolha de resíduos e à manutenção dos espaços verdes. Também Rui Godinho fala numa partilha de responsabilidades que envolva os responsáveis políticos aos mais diversos níveis, incluindo autarcas, organizações formais e informais da sociedade civil e cidadãos individuais.
A noite foi de arromba na Bica, como sucede sempre que Santo António inspira os festejos. Da avalancha de copos e garrafas com que a escadaria do bairro ficou pejada, nem sombra na tarde seguinte, apesar da greve: os cantoneiros ao serviço foram mobilizados para os bairros onde os arraiais duraram até ser dia. Ficou tudo num brinquinho. Foi já depois de terem varrido a porcaria toda que um punhado de habitantes reivindicou uma vez mais o seu direito a conspurcar o fundo da escadaria. Voltaram a amontoar os seus sacos de lixo a poucos metros do elevador em que todos os dias centenas de turistas sobem ao Bairro Alto.
No talude verdejante que separa a Travessa do Possolo das traseiras da Infante Santo o chilrear dos pássaros à hora de almoço é acompanhado por um pesado cheiro a fezes. O local é usado por homens e animais para urinar e defecar, aponta uma cliente da mercearia de Cavaco Silva. No impasse entre os prédios através do qual se acede à Infante Santo as moscas volteiam em redor dos excrementos de cão. O cartaz de venda de um prédio acabado de construir anuncia uma Lapa "cosmopolita e tranquila". Mas nem por isso mais limpa que o resto da cidade.
Lisboa e o apelo do Presidente.
Lisboa e o apelo do Presidente
Por António Sérgio Rosa de Carvalho in Público ( 17/06/2012 )
Lisboa, Jerónimos, entrega dos prémios Europa Nostra na presença do Presidente da República e princípes de Espanha. Momento institucional digno e conseguido. Momento institucional em tensão com uma realidade ameaçadora do património. As aparências iludem, numa diferença abismal entre aquilo que parece e aquilo que é.
Comecemos pelo paradigmático caso Foz do Tua. Depois de um relatório dos peritos do Icomos, o Governo, que segundo parece já teria a intenção de construir a barragem quando apresentou a Candidatura a Património Mundial, decidiu, com a EDP, avançar com a barragem. Num jogo arriscado para o prestígio internacional de Portugal, resolveram "tirar um coelho da cartola", iludindo num truque impossível uma intervenção que terá profundas consequências na região e que poderá levar à perda do seu estatuto prestigiante.
Entretanto, depois de o secretário de Estado da Cultura ter afirmado que a perda do estatuto seria impensável, vem a ministra informar que seria impossível parar as obras, pois os custos seriam incomportáveis. Teremos que aguardar o desfecho, mas quem será responsável se o Douro Vinhateiro perder o seu estatuto de Património Mundial? Vem isto a propósito do apelo do Presidente da República à participação cívica. Mas não é fácil, acima de tudo porque nunca são dadas respostas.
A ilustração ideal desta tensão entra aparências e realidades - entre "conteúdos" e fachadas - é Lisboa. Ou seja o triunfo sistemático e progressivo do fachadismo, camuflado na chamada "reabilitação urbana".
E o mais grave é que este processo de destruição já se estende à Baixa Pombalina, que a CML paradoxalmente continua a afirmar pretender candidatar a Património Mundial. As características fundamentais que determinam o valor histórico do estilo pombalino - a "gaiola", estrutura-esqueleto flexível e anti-sísmica - e todos os elementos produzidos dos seus interiores estão ameaçados por intervenções "betonizadas" dirigidas à inserção forçada de um conceito contemporâneo de viver e estar. É possível um equilíbrio integrado entre necessidades actuais e preservação de interiores históricos, mas nunca numa filosofia de intervenção onde o tema principal é determinado pelo comando à distância de portas de garagens, sobre o aparente prestígio de fachadas "históricas", transformadas num absurdo pela demolição de todo o seu conteúdo.
Num país onde não se desenvolveu uma cultura de restauro, onde o ensino da história da arquitectura é exercido por arquitectos prisioneiros da síndroma "criadora", que intervêm no património a seu bel-prazer, deixando marcas-fétiche pessoais, assiste-se agora a uma desconstrução da defesa institucional do património.
Todas estas perguntas, formuladas na Net por uma sociedade civil em franco progresso em direcção a uma democracia participativa, são sempre deixadas sem resposta.
Este mesmo jornal tem sido confrontado com esta realidade autista e indiferente perante os eleitores-leitores. Culminando uma série de experiências negativas, o PÚBLICO noticiou esta semana que a CML deixou de anunciar as suas propostas a apresentar em reunião de Câmara e recusa-se a disponibilizá-las. Esta progressiva ausência de transparência ilustra também um acto premeditado contrário ao incentivo da participação cívica a que o Presidente apelou, ilustrando assim tragicamente a diferença abismal entre o parecer e o ser.
Historiador de Arquitectura
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Retrato de um País em profunda crise no Presente, sem memória, sem defesa Institucional e respeito pelo seu Património.Sem Cultura de Preservação e Restauro./11/05/2012.
"Men of perfect genius are known in all centuries by their perfect respect to all law and love of past tradition: their work in the world is never innovation but new creation; without disturbing for an instant the foundations which were laid of old time."
John Ruskin
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Ausência de classificação ditou demolição de capela centenária
Por Romeu SousaOrlando Cardoso in Público
Arquitectos e defensores do património criticam decisão que levou à destruição de um templo em Leiria que dizem remontar ao século XVI, mas a população considerava o edifício "um mono e um estorvo"
A recente demolição da centenária capela da aldeia de Chãs, na freguesia de Regueira de Pontes (Leiria), fez recuperar uma polémica antiga. Os defensores do património lamentam a decisão, mas a autarquia e a paróquia dizem que era essa a vontade da população.
Apesar de a Câmara de Leiria já ter deliberado, há cerca de dois anos, pela demolição do templo, em honra de Nossa Senhora das Necessidades, só agora a licença foi concedida. O presidente da autarquia justifica que a autorização foi dada após parecer do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), o qual informou que a capela "não reúne os valores patrimoniais inerentes a uma distinção como valor cultural e importância nacional" (ver caixa). Raul Castro esclarece que, no entanto, "ficou determinado salvaguardar a torre sineira e o respectivo espólio, tendente à sua exposição num futuro museu, e que no largo da nova igreja ficará marcado o espaço ocupado pela antiga capela".
O Conselho Directivo Regional Sul da Ordem dos Arquitectos já fez saber que "foi com grande desagrado e tristeza" que soube da demolição, "culminando, da pior forma, um longo e polémico debate em torno da preservação da antiga capela, que remontava ao século XVI".
Num comunicado, aquela entidade recorda que já em 2010 esteve contra a demolição da ermida, tendo considerado tratar-se de "uma inestimável obra de arquitectura, testemunho da religiosidade do passado" e "elemento de uma vasta rede patrimonial que caracteriza as nossas paisagens e territórios e se concretiza localmente em arquitecturas construídas de diversas valias, muitas das quais já classificadas aos vários níveis: nacional, interesse público e concelhio".
A Ordem dos Arquitectos "lamenta que as autoridades tenham preferido demolir em vez de reabilitar, ignorando os apelos lançados pelas mais diversas entidades no sentido da preservação do imóvel e ignorando o facto de, hoje em dia, o património ser entendido como potenciador da qualificação dos nossos ambientes de vida, estabelecendo um elo de ligação entre o passado e o futuro e ancorando identidades locais". Assim, a demolição da capela passará a "integrar a vasta galeria de casos de demolição e/ou abandono até à ruína, de imóveis com validade histórica, patrimonial e arquitectónica"
Muitas críticas
Também a Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria (Oikos) lamenta a decisão. Nuno Carvalho, presidente da direcção, refere que "um lugar sem história é como um livro com páginas em branco" e que a não demolição seria, neste caso, um "acto de sabedoria, pois a crescente preocupação pela preservação do património abre novas portas e novas opções para a viabilização destes edifícios".
Defendendo que o imóvel deveria ter sido "preservado e requalificado", Nuno Carvalho recorda que a capela datava do "século XVI e ao longo dos séculos foi acompanhando o desenvolvimento do lugar".
Opinião diferente tem Amílcar Gaspar, presidente da Junta de Freguesia de Regueira de Pontes. Na discussão do assunto em assembleia municipal, o autarca referiu que "a comunidade local nunca quis ali a igreja" e recordou que "foram feitos vários debates" em que a "população teve oportunidade de se expressar e não houve um único argumento a favor da manutenção da igreja no local".
O presidente da junta contesta, também, a data apontada como sendo a de origem da capela. "Na realidade, aquela igreja tem cento e poucos anos", disse, acrescentando que "existia uma antiga capela que quando foi construída a Linha do Oeste foi demolida" e da qual "vieram duas pedras com valor simbólico" para o novo templo. Amílcar Gaspar alegou, também, a falta de "afectividade" entre a capela e a população, afirmando que o imóvel era um "mono e um estorvo". E aponta o dedo ao seu antecessor por ter lutado pela manutenção da capela.
O antigo presidente da junta refere-se à demolição do imóvel como uma "triste notícia". Na sua página no Facebook, João Marques Pereira comentou que "mais um bocadinho da nossa memória e todo o património histórico de Chãs foi destruído". "Finalmente, a capela de Chãs foi abaixo para alargar as vistas da "obra" que lhes construíram nas traseiras", escreveu, considerando tratar-se de "mais um hino ao pato bravíssimo, à insensibilidade e à ignorância".
A Associação para o Desenvolvimento de Leiria (Adlei) também contesta a demolição. "Naturalmente que a Capela da Nossa Senhora das Necessidades não tinha valor nacional, mas era evidentemente de interesse concelhio, situação que caberia à autarquia defender", afirma Rosário Beja Neves, dirigente da Adlei. E recorda que a argumentação para a demolição foi baseada no "elevado custo da sua manutenção" face à construção de uma nova igreja. "Então não há dinheiro para a sua manutenção e há para a sua demolição e para a construção de um museu" para expor o "espólio de interesse", diz, questionando: "Não era a capela o museu mais completo e natural?"
Para o pároco de Regueira de Pontes, o assunto está encerrado. "A demolição correu bem e está tudo pacífico", diz Isidro Alberto. Foi retirado todo o espólio da Capela de Nossa Senhora das Necessidades - altares, coro, alguns azulejos e pedras trabalhadas -, que depois de restaurado integrará um museu a construir junto da nova igreja.
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Texto publicado antes da demolição e em pleno processo de decisão, no blogue local "A nossa terrinha"
PUBLICADO POR ANA EM QUARTA-FEIRA, AGOSTO 04, 2010
A demolição de uma igreja do século XVI
Tinha todas as condições para ser apenas mais uma das muitas demolições de património que vão ocorrendo continuamente na nossa terrinha perante a indiferença quase geral.
No entanto, o caso mudou de figura e transformou-se numa “polémica”, que já conduziu à intervenção da Ordem dos Arquitectos. É possível que neste caso o património sentenciado ainda se salve, apesar de a sentença já ter sido decretada.
O edifício cuja demolição já foi autorizada é uma igreja que remonta ao século XVI (embora com alterações posteriores), localizada em Chãs, concelho de Leiria:
"Tudo começou quando a Paróquia de Regueira de Pontes decidiu construir, no lugar da velha igreja, uma nova igreja - “um templo condigno” para Chãs, dado que a igreja quinhentista já não reunia “as condições necessárias” para as celebrações litúrgicas. A decisão tinha o aval da Comissão de Arte e Património da Diocese de Leiria – Fátima.
Após um processo “difícil”, foi obtido da Câmara Municipal de Leiria o desejado licenciamento para a construção do novo templo. A ideia era construir a nova igreja e demolir a antiga, algo que a autarquia não aceitara em 2005, chumbando o projeto. No ano seguinte, a nova igreja acabou por ser licenciada, mas não foi autorizada a demolição da antiga: o licenciamento terá sido concedido na condição de a igreja antiga ser mantida.
A nova igreja foi construída – nas traseiras da igreja quinhentista - e a velha foi votada ao abandono. E a questão da demolição voltou a ser suscitada, quer pela Paróquia de Regueira de Pontes, quer pela Junta de Freguesia, quer ainda pela população local.
Ao que parece, a "maioria" da população, satisfeita com o novo templo, queria que a igreja antiga fosse deitada abaixo. Também a Igreja o queria fazer. Afinal de contas, a velha igreja está a estragar as vistas do novo templo que custou tanto a erguer ("está a fazer má vista à nova", segundo se diz na povoação). Por outro lado, ambas – população e paróquia – querem um “adro digno da nova igreja” e a velha só ali está a atrapalhar.
De forma que se fizeram novas pressões sobre a Câmara Municipal de Leiria. Que acabaram por resultar: em 6 de Abril de 2010, a autarquia, indiferente ao facto de o PDM de Leiria propor a classificação da igreja antiga como Imóvel de Valor Concelhio, aprovou a sua demolição, com os votos favoráveis dos cinco vereadores do partido da maioria e do vereador de um dos dois partidos da oposição, três abstenções de vereadores do outro partido da oposição e apenas dois votos contra, também deste último partido. Dois votos contra no total de 11 vereadores que compõem a Câmara Municipal de Leiria.
Satisfeito ficou o padre Isidro Alberto (daquela paróquia), que nega, aliás, que a velha igreja seja do século XVI: teria era elementos dessa época que teriam vindo de uma ermida, os quais seriam levados para a nova igreja e, por isso, “nada de valor” se perderia com a demolição.
Satisfeito ficou também o Presidente da Junta de Freguesia de Regueira de Pontes. Embora não totalmente: obtida a autorização para demolir, agora era necessário “negociar com a Câmara” a demolição, pois é preciso maquinaria e dinheiro para deitar abaixo a igreja (e a junta não tem nem uma coisa, nem a outra).
[Isto é, estão a pedir-nos a nós, contribuintes, que paguemos a demolição desta igreja.]
Tudo estava, pois, bem encaminhado no sentido da demolição da igreja, quando alguns cidadãos resolveram "incomodar", contestando publicamente a decisão e fazendo até circular na internet uma petição contra a demolição (que em cerca de dois meses ainda só teve pouco mais de cem subscritores…).
Ainda em Abril de 2010, a OIKOS - Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria reagiu por comunicado à decisão de demolição. Para a OIKOS (que insiste em que a igreja é do século XVI), independentemente do valor arquitetónico que a igreja possa ter, «os edifícios construídos, que serviram múltiplas gerações trazem consigo um património incalculável de história, vivência local e memória colectiva de um lugar. Ao perderem-se tais edifícios, peças únicas e insubstituíveis, são descaracterizados os lugares, com a consequente perda da sua identidade sócio-cultural, muitas vezes só valorizada quando é tarde de mais».
Os nossos autarcas têm, no entanto, muita dificuldade em entender este tipo de linguagem.
Em resultado da contestação, a maioria que tinha aprovado a demolição na câmara esfumou-se: o vereador da oposição que a tinha viabilizado, bem como aqueles que se tinham abstido, mudaram entretanto de posição: todos os vereadores da oposição são agora contra a demolição.
Esta nova situação levou a autarquia a reagir: por comunicado de 4 de Maio de 2010, a Câmara Municipal de Leiria, tendo em conta «a importância da opinião pública para perceber e corresponder ao sentido crítico da comunidade em geral, especialmente no que diz respeito à importância da salvaguarda e promoção do património histórico local», veio dizer que a licença de demolição ainda não estava emitida e que a autarquia está disposta a «apoiar a realização de um debate público, a promover pela Junta de Freguesia ou outras entidades locais», sobre “o conhecimento científico do bem cultural, a valorização da comunidade local, numa perspectiva transparente, despida de demagogia e emoções desprovidas de razão».
A notícia da decisão da demolição chegou, entretanto, ao conhecimento da Ordem dos Arquitectos, que, por comunicado de 1 de Julho de 2010, realçou que esta igreja «é uma estimável obra de arquitectura, testemunho da religiosidade do passado, tal como se pode observar pelo país fora», fazendo parte «de uma vasta rede patrimonial que caracteriza as nossas paisagens e territórios». A Ordem dos Arquitectos lembra também que muitos dos elementos arquitetónicos desta “rede” estão classificados e protegidos, desde o monumento nacional ao imóvel de interesse concelhio.
De acordo com a Ordem dos Arquitectos, a demolição desta igreja «constituiria mais uma machadada nessa rede, que é nacional, bem como na riqueza cultural do concelho de Leiria, da freguesia de Regueira de Pontes e do lugar de Chãs. Infelizmente vários têm sido os casos de demolição ou abandono (com consequente ruína) a começar pelo célebre exemplo da demolição da capela românica de Joanes para se construir um novo templo na passada década de 70, caso que alertou todo o país para estas acções, mas não impediu totalmente a sua repetição». O comunicado recorda que «o património arquitectónico é único e não se repete, e perante a avassaladora transformação das paisagens e povoações que se verificou a partir de meados do século XX em Portugal, está mais que na actualidade a conservação dos bens patrimoniais, sejam eles construídos (arquitectónicos) ou naturais».
Foi rápida a reacção do Padre de Chãs, que afirmou que «mesmo que a Ordem dos Arquitetos esteja contra, não é dona do edifício», que «a diocese também tem arquitetos que são a favor da demolição» e que «a Igreja não é constituída por pessoas analfabetas».
Reagiu também o Presidente da Junta de Freguesia, que afirmou: «Estamos a falar de uma capela que não tem valor patrimonial. Só quem não conhece é que pode estar com demagogias».
Curiosamente, no sítio da Junta de Freguesia, relativamente a “património e turismo”, são indicados como “locais a visitar” na freguesia apenas dois: a igreja matriz de Regueira de Pontes e… a Capela de Chãs (com direito a fotografia e tudo, ao contrário da igreja matriz!):"
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As imagens e outros textos foram acrescentados ao artigo do Público.
António Sérgio Rosa de Carvalho.
Palestra. Atentados ao património lisboeta são hoje tema de conversa em Amesterdão./16/05/2012.
Recente pintura de arco do Cais do Sodré é "uma vandalização do património pombalino"
Palestra. Atentados ao património lisboeta são hoje tema de conversa em Amesterdão.
Por Ana Henriques in Público
Historiador de arquitectura profere palestra em evento do Europa Nostra, organização de defesa do património
Património lisboeta em risco" é o tema de uma palestra que o historiador de arquitectura Sérgio Rosa de Carvalho profere hoje em Amesterdão. O evento é promovido pela organização de defesa do património Europa Nostra, que visita Portugal em Junho, e conta com a presença de membros da secção holandesa do Icomos, o organismo da UNESCO responsável pela atribuição dos títulos de património mundial.
Dividindo o seu tempo entre Amesterdão e Lisboa, o activista da defesa do património conhece como poucos o pombalino e outros estilos arquitectónicos que caracterizam a capital portuguesa. E critica o tipo de reabilitação urbana que a câmara tem vindo a autorizar: "Está a matar-se a galinha dos ovos de ouro." O emprego de materiais pouco consentâneos com o estilo pombalino, como o betão, é uma das principais críticas que faz à recuperação de edifícios na Baixa - juntamente com o emprego de zinco nas mansardas, em vez da tradicional telha de canudo, ou a abertura de amplas portas nos rés-do-chão para albergar garagens. "Em nenhum país europeu civilizado é permitido destruir interiores de edifícios em bom estado, como aqui", observa, indignado, criticando o "fachadismo" que faz com que o miolo de imóveis aparentemente antigos seja, afinal, incaracterístico, por não ter havido nenhum restauro digno desse nome.
Nem o vice-presidente da Câmara de Lisboa, o vereador Manuel Salgado, nem os responsáveis institucionais pela defesa do património do país saem lá muito bem-vistos desta análise. Sérgio Rosa de Carvalho diz que o edil, que tem o pelouro do Urbanismo na autarquia, pertence a uma escola de arquitectos "criativos" que se recusa a intervir de forma discreta no património construído, autorizando capacetes de vidro em cima de prédios do séc. XIX ou demolições totais de edifícios em bom estado para os substituir por prédios novos. "Chamam-lhe renovação urbana", ironiza, dando como exemplo o desaparecimento de um pequeno palacete no número 35 da Av. Duque de Loulé, com tectos artísticos, substituído num ápice por um prédio pelo grupo Espírito Santo. Já por várias vezes o historiador de arquitectura citou uma frase do vereador (numa entrevista ao PÚBLICO) que considera emblemática do seu modo de pensar, e hoje irá fazê-lo uma vez mais: "Se formos muito exigentes com a pedrinha e com o azulejo, não conseguimos reabilitar nada."
"Em nome da confiança dos investidores, Manuel Salgado vai permitir a destruição do património que nos resta - em vez de criar uma plataforma de regras de intervenção no edificado, sem os assustar", opina. O PÚBLICO pediu à Câmara de Lisboa uma reacção sobre as opiniões do historiador, mas não a obteve.
Nem todos na Baixa têm, no entanto, a mesma visão sobre a alegada permissividade da autarquia. O social-democrata que preside à Junta de Freguesia de S. Nicolau, António Manuel, mostra-se optimista: "Desde a aprovação do plano de salvaguarda da Baixa, há dois anos, que as intervenções são feitas de forma não intrusiva, com respeito pelos materiais e pela traça original. Agora têm de ser criadas condições de conforto nos prédios, como a introdução de elevadores." Já Sérgio Rosa de Carvalho vai socorrer-se das declarações do actor Jeremy Irons, que esteve recentemente em Lisboa: "Vocês têm de perceber aquilo que têm na Lisboa histórica: uma verdadeira jóia."
Parte da Intervenção de António Sérgio Rosa de Carvalho (architectural historian) EUROPA NOSTRA FORUM 'SAVING EUROPE'S ENDANGERED HERITAGE' JUN 01/Calouse Gulbenkian Foundation - Auditorium 2.
Gulbenkian Live Show [livestream] Fri Jun 1 2012 07:53:25 AM
http://www.livestream.com/fcglive/video?clipId=pla_ccec9829-df76-4636-aa04-c9ad88bde7fc
The Architectural Heritage of Lisbon in Danger/30/04/2012.
INTERNATIONAL COUNCIL ON MONUMENTS AND SITES ICOMOSNetherland
EUROPA NOSTRA
Joint invitation
Date: Wednesday 16 May 2012
Dinner: 18.30-19.30 hours
Lecture: 19.30-21.00 hours
Drinks: 21.00-21.30 hours
Venue: Museum Geelvinck Hinlopen Huis, Herengracht 518basement in Amsterdam*
Topic: The Architectural Heritage of Lisbon in Danger
Speaker: António Sérgio Rosa de Carvalho
As Lisbon hosts the 2012 Europa Nostra’s European Heritage Congress (30 May – 2 June) including a Forum entitled “Saving Europe’s Endangered Heritage,”** ICOMOS Netherland and Europa Nostra are organising jointly a lecture by a renowned Portuguese architectural historian and publicist António Sérgio Rosa de Carvalho who will present the fragile situation of the architectural heritage in this historical city.
Abstract of the lecture
Architectural heritage in Lisbon is seriously threatened. According to Rosa de Carvalho, in historical areas of Lisbon, such as the 18th century Baixa Pombalina or 19th century boulevards, a false and hybrid concept of urban rehabilitation is taking place and will be sustained in the near future by ambiguous legislation. As a consequence buildings and interiors are completely demolished, façades maintained but complemented with strange extensions or contrasting magnifications, building typologies altered and synthetic materials applied. Following the closure of two national public heritage institutes, it remains unclear whether the new institute will prove competent and effective enough to ensure the adequate safeguard of Portuguese rich heritage.
Although Portugal has already successfully implemented several restoration projects (Guimarães, Porto-Ribeira and some quarters of Lisbon) in accordance with international standards, Rosa de Carvalho is critical about the possibilities to create a true, solid and systematic conservation culture in Lisbon that is sustained and conducted by restoration architects, free from political influence and recognised by general consensus. In his lecture, Rosa de Carvalho will address the restoration policy in Lisbon vis-à-vis Portugal’s national heritage restoration policy.
Baixa Pombalina: an archetypal 18th century building in distress. (photo: António Sérgio Rosa de Carvalho, 2011)
António Sérgio Rosa de Carvalho (1953, Lisbon) is an architectural historian and publicist who lives in Portugal and in the Netherlands. He is strongly committed to the defence of heritage, specially in Lisbon, and for many years has been active as an opinion maker and author of challenging articles in Portugal’s leading national newspaper Público. Recently Rosa de Carvalho expanded his activities to new (social) media on internet. Rosa de Carvalho is an individual member both of ICOMOS and of Europa Nostra. He will be one of the panellists of the Europa Nostra Forum in Lisbon.
European Heritage Congress in Lisbon
For more information, go to www.europanostra.org/lisbon
EUROPA NOSTRA FORUM 'SAVING EUROPE'S ENDANGERED HERITAGE' / 30/04/2012.
30/04/2012
EUROPA NOSTRA FORUM 'SAVING EUROPE'S ENDANGERED HERITAGE'
EUROPA NOSTRA FORUM 'SAVING EUROPE'S ENDANGERED HERITAGE'
JUN 01
Organised in cooperation with the Centro Nacional de Cultura and the Calouste Gulbenkian Foundation.
08.45
Departure by coach for Calouste Gulbenkian Foundation
________________________________________
09.30 - 13.30
Opening session
Welcome by Artur Santos Silva, the Calouste Gulbenkian Foundation
Introduction by Costa Carras, Vice-President of Europa Nostra
09.45 - 10.30
Panel I – International experience & different models
Panel to be introduced and moderated by:
Francesco Bandarin, Assistant Director-General for Culture of UNESCO
Panelists:
• Bonnie Burnham, President & Chief Executive Officer of the World Monuments Fund, USA: “The Watch Experience”
• Simon Molesworth, Chairman of INTO, Australia: “The Australian “Heritage At Risk” annual campaign and the US “Most Endangered Historic Places” annual campaign – A comparison of objectives, methodologies and outcome”
• Isabel Raposo de Magalhães, Vice-President of the ICCROM Council
10.30 - 11.30
Panel II - National experience & different models
Panel to be introduced and moderated by:
Adam Wilkinson, Council member of Europa Nostra, United Kingdom
Panelists:
• Ilaria Borletti Buitoni, President of the Fondo Ambiente Italiano, Italy
• Wolter Braamhorst, Editor of Europa Nostra Heritage in Motion Magazine who will present the BBC TV Restoration Programme
• Bertrand de Feydeau, Vice-Président de la Fondation du Patrimoine, France
• Lejla Hadžić, Regional Coordinator of Cultural Heritage without Borders, Sweden-Bosnia & Herzegovina-Kosovo-Albania
• Corinne Roger, Directrice des Missions Immobilières de l’Institut du Patrimoine Wallon, Belgium
• Representative of the Swedish Association for Building Preservation, Sweden
11.30 - 12.00
Coffee break
12.00 - 12.45
Panel III - Spotlight on Portugal
Panel to be introduced and moderated by:
António Lamas, President of Parques de Sintra – Monte da Lua tbc
Panelists:
• Vítor Cóias, President of GECoRPA – Portuguese Built Heritage Guild (a Member organisation of Europa Nostra)
• Hugo O’Neill, President of the Portuguese Historic Houses Association (a Member organisation of Europa Nostra)
• António Sérgio Rosa de Carvalho, Architectural historian
• João Texeira, Vice President of the European Council of Spatial Planners (a Member organisation of the European Heritage Alliance) tbc
• Elísio Summavielle, General Director for Cultural Heritage tbc
12.45 - 13.30
Closing session/panel: What kind of action is needed at European level?
Panel to be introduced and moderated by:
Mounir Bouchenaki, former Director General of the International Centre for the Study of Preservation and Restoration of Cultural Property (ICCROM) tbc
• Cristina Gutierrez-Cortines, Member of the European Parliament, Spain
• Denis de Kergorlay, Executive President of Europa Nostra
• Guilherme d’Oliveira Martins, President of the Centro Nacional de Cultura, Portugal
• Emílio Rui Vilar, the Calouste Gulbenkian Foundation
• Representative of the Parliamentary Assembly of the Council of Europe
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Retrato de um País ....07/12/2011
07/12/2011
Retrato de um País ....
UNESCO: barragem do Tua tem "impacto irreversível" no Património Mundial
Por José Augusto Moreira in Público
Relatório de missão consultiva realizada em Abril deste ano já foi remetido ao Governo de Passos Coelho em Agosto, mas permanece no silêncio dos gabinetes
O Comité do Património Mundial da UNESCO considera que a construção da barragem de Foz Tua tem um "impacto irreversível e ameaça os valores" que estão na base da classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial. Esta é uma das conclusões do relatório da missão consultiva que, a solicitação do Governo português, visitou o local no início de Abril e que aponta ainda para outros impactos negativos e graves do empreendimento. O documento foi produzido pelo Icomos, uma associação de profissionais da conservação do património que é o órgão consultivo daquele comité da UNESCO.
O relatório, a que o PÚBLICO teve acesso, foi concluído em finais de Junho e remetido ao comité, que o enviou depois para as autoridades portuguesas já em Agosto, por protocolo diplomático, via Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas permanece ainda no segredo os gabinetes, não sendo conhecida qualquer reacção ou resposta do Governo.
Além de analisar os impactos e as consequências do avanço da obra para a área de paisagem classificada como património da humanidade, o relatório critica também duramente o comportamento das autoridades portuguesas. A este propósito sublinha que, durante todo o processo de análise e aprovação do projecto da barragem, o Estado português não adoptou os procedimentos a que está obrigado perante a UNESCO no âmbito da classificação obtida há dez anos, que se cumprem já no dia 14 deste mês.
"Cremos que as orientações da UNESCO, recomendando "relatórios específicos e estudos de impacto de cada vez que ocorram circunstâncias especiais", não foram seguidas, já que "toda a informação deve ser fornecida o mais rapidamente possível e antes da tomada de decisões que se possam tornar difíceis de reverter", para que o comité possa participar na procura de soluções que assegurem a completa preservação dos valores protegidos", lê-se no documento.
Quanto às conclusões, o relatório não deixa também margem para dúvidas: "Tendo em conta a proposta do Estado com vista ao desenvolvimento da barragem de Foz Tua localizada na paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro, não podemos deixar de concluir que terá um impacto irreversível e ameaça o valor excepcional universal [que é o fundamento da classificação da UNESCO]."
Apesar dos esforços das autoridades portuguesas e da EDP (a dona da obra) para minimizar os impactos, através de várias alterações ao projecto, o relatório nota que nunca os estudos de avaliação "levaram em conta os impactos nos bens culturais protegidos". Por isso, conclui, "não se pode considerar que a revisão dos planos respeite a paisagem do Alto Douro que foi inscrita na lista do Património Mundial".
O relatório socorre-se do próprio projecto da obra para referir que o vale do Tua "tem um alto valor ecológico e cenográfico" associado aos parâmetros culturais e biofísicos que caracterizam a estrutura dinâmica da região, o que leva irremediavelmente à conclusão de que "tudo isto contribui para que o avanço do projecto tenha um impacto adverso e irreversível nos valores de autenticidade e integridade e interesse universal" da região.
Classificação em risco
O pedido para a vinda de uma missão consultiva por parte do Estado português insere-se no âmbito das suas obrigações perante a UNESCO, deduzindo-se do teor do relatório que terão sido invocados vários argumentos a favor da ideia de não violação dos valores da classificação como Património Mundial. Um deles seria o de que o efeito da intervenção seria idêntico ao da construção das outras barragens já existentes ao longo do Douro. Um argumento que é liminarmente rejeitado, já que "o passado não é um meio adequado para justificar acções presentes". Já quanto à invocação de que a obra está já fora da área classificada - fica no limite -, a conclusão é de que "afecta inteiramente os valores Património Mundial".
Outro argumento era o do reduzido impacto visual face às características daquela zona do vale do Tua, mas o relatório considera que, mesmo concordando com a ideia, o conjunto da barragem e das restantes estruturas, incluindo as linhas para o transporte de energia, representam um impacto fortemente negativo. Quanto ao facto de o projecto ter sofrido várias alterações e incluir uma série de medidas para mitigar e compensar os impactos ambientais, a conclusão é a de que essa não é a questão que importa analisar: "O que é preciso saber é antes se a barragem deve ser construída."
Outro dos argumentos utilizados pelo Estado português terá sido o de que a barragem será uma construção "elegante e de escala monumental" - a EDP divulgou recentemente que encomendou ao arquitecto Souto Moura o projecto da central hidroeléctrica -, mas a conclusão é a de que "representa um forte impacto para a Região do Alto Douro Vinhateiro, que pode implicar a perda do seu valor excepcional universal e uma séria ameaça para a sua autenticidade e integridade".
A este respeito refira-se que nos últimos anos se registaram dois casos em que a UNESCO retirou a classificação de Património Mundial. O mais recente foi o centro histórico da cidade alemã de Dresden, em 2009, devido à construção de um viaduto. Cerca de um ano antes, também a foi retirada a classificação a um sítio natural do emirado de Omã. Aqui foi o próprio Estado árabe a pedir a saída por causa da exploração de petróleo no local.
No caso do Tua, tudo indica que o relatório que está agora na posse do Governo será analisado durante a próxima reunião anual do Comité do Património Mundial da UNESCO, que costuma realizar-se em Junho ou Julho. Isto, se até lá não forem adoptadas medidas para alterar a situação.
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Enquanto aguardamos pelo Aterro da Boavista ... vale a pena irmos meditando sobre a maneira de como os nossos processos de decisão no que respeita os insubstituíveis Patrimónios Arquitectónico e Natural são desenvolvidos ...
Pois, Património "Imaterial" é mais fácil ...
Será que precisamos de uma "Troika"... para a defesa do Património Nacional ?
António Sérgio Rosa de Carvalho.
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