RECORDANDO:Martim Moniz. A mesquita que deixou António Barroso
sem prédios e o centro de saúde fora da caixa
Beatriz Dias
Coelho
© Mafalda
Gomes
03/12/2018
Há
polémicas, mas também há histórias de sucesso no bairro. Recordamos duas
recentes: a expropriação dos imóveis na Rua do Benformoso para a construção de
uma mesquita e a unidade de saúde familiar onde os médicos não usam bata e
prescrevem apoios sociais à população
O futuro da
Praça Martim Moniz está longe de ser a única polémica no bairro nos últimos
anos. A decisão de se avançar com a construção da mesquita da Mouraria,
projetada para a Rua do Benformoso, é dos dossiês que têm feito correr mais
tinta. Para que o projeto possa ser uma realidade foi feita a expropriação dos
prédios localizados nos números 135 e 151-A. O proprietário, António Barroso,
nunca se conformou, mas perdeu o caso. Continua à espera que se faça justiça,
até porque mensalmente tem de pagar o empréstimo com que tinha adquirido os
imóveis, que já não são seus.
António
Barroso moveu um processo contra a Câmara Municipal de Lisboa (CML) para
contestar o procedimento mas, no final do ano passado, a justiça decidiu a
favor da CML, dando luz verde à construção do templo muçulmano. Ao i, o homem,
hoje com 65 anos, conta que, em maio de 2016, a câmara expropriou-o dos dois
prédios, que comprou em 2006. Lamenta desde logo não ter tido voto na matéria.
“O presidente da câmara convocou-me para uma reunião para falarmos sobre o
assunto”, mas “horas antes” do encontro “já tinha sido depositado na minha
conta um total de 531 850 euros” como indemnização.
Barroso
recusou o valor, que acabou por ser aumentado para 953 800 euros. Mas esse
valor incluía indemnizações que seriam destinadas aos inquilinos, explica. É
que, depois de comprar os prédios, o proprietário remodelou-os. Mudou–se para
um dos andares de um prédio com três pisos, destinando os outros dois a
alojamento local. Quanto às lojas, têm como inquilinos um restaurante e uma
agência de viagens. “Fiz um empréstimo para as obras que continuo hoje a pagar
e a indemnização que me transferiram não chega nem para isso”, lamenta. “Tenho
de pagar ao Montepio 2300 euros todos os meses.”
Mesmo que
quisesse comprar prédios semelhantes, a verba oferecida pela câmara não o
possibilitaria. E garante: “Não vou usar esse dinheiro. Sou comerciante, mas
prefiro recorrer a amigos se precisar.”
Legalmente,
não sendo o proprietário dos prédios, não pode celebrar novos contratos. Ao
mesmo tempo, tomou a decisão de deixar de cobrar rendas. “Os prédios não são
meus”, justifica.
Num impasse,
António Barroso conta que, no final do ano passado, foi contactado por um
jornalista que lhe disse que Fernando Medina já lhe tinha oferecido dois
prédios em troca. Mas o proprietário expropriado nega. “Nunca me foi oferecido
nada em troca”, afirma.
Para provar
a sua posição, o homem foi mesmo a uma reunião de câmara, em dezembro do ano
passado, confrontar Medina. “Perguntei-lhe onde estão os prédios e em que
estado estão, mas não respondeu. E ainda me quis pôr na rua, porque disse que
lhe estava a chamar mentiroso”, lamenta. Do seu lado, a câmara entende que o
dossiê está fechado, uma vez que foi paga a indemnização determinada pela
justiça.
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