sábado, 18 de janeiro de 2025

PORTUGUÊS EXPULSO DO MARTIM MONIZ


RECORDANDO:Martim Moniz. A mesquita que deixou António Barroso sem prédios e o centro de saúde fora da caixa

Beatriz Dias Coelho

© Mafalda Gomes

03/12/2018

https://ionline.sapo.pt/2018/12/03/martim-moniz-a-mesquita-que-deixou-antonio-barroso-sem-predios-e-o-centro-de-saude-fora-da-caixa/

 

Há polémicas, mas também há histórias de sucesso no bairro. Recordamos duas recentes: a expropriação dos imóveis na Rua do Benformoso para a construção de uma mesquita e a unidade de saúde familiar onde os médicos não usam bata e prescrevem apoios sociais à população

 

O futuro da Praça Martim Moniz está longe de ser a única polémica no bairro nos últimos anos. A decisão de se avançar com a construção da mesquita da Mouraria, projetada para a Rua do Benformoso, é dos dossiês que têm feito correr mais tinta. Para que o projeto possa ser uma realidade foi feita a expropriação dos prédios localizados nos números 135 e 151-A. O proprietário, António Barroso, nunca se conformou, mas perdeu o caso. Continua à espera que se faça justiça, até porque mensalmente tem de pagar o empréstimo com que tinha adquirido os imóveis, que já não são seus.

 

António Barroso moveu um processo contra a Câmara Municipal de Lisboa (CML) para contestar o procedimento mas, no final do ano passado, a justiça decidiu a favor da CML, dando luz verde à construção do templo muçulmano. Ao i, o homem, hoje com 65 anos, conta que, em maio de 2016, a câmara expropriou-o dos dois prédios, que comprou em 2006. Lamenta desde logo não ter tido voto na matéria. “O presidente da câmara convocou-me para uma reunião para falarmos sobre o assunto”, mas “horas antes” do encontro “já tinha sido depositado na minha conta um total de 531 850 euros” como indemnização.

 

Barroso recusou o valor, que acabou por ser aumentado para 953 800 euros. Mas esse valor incluía indemnizações que seriam destinadas aos inquilinos, explica. É que, depois de comprar os prédios, o proprietário remodelou-os. Mudou–se para um dos andares de um prédio com três pisos, destinando os outros dois a alojamento local. Quanto às lojas, têm como inquilinos um restaurante e uma agência de viagens. “Fiz um empréstimo para as obras que continuo hoje a pagar e a indemnização que me transferiram não chega nem para isso”, lamenta. “Tenho de pagar ao Montepio 2300 euros todos os meses.”

 

Mesmo que quisesse comprar prédios semelhantes, a verba oferecida pela câmara não o possibilitaria. E garante: “Não vou usar esse dinheiro. Sou comerciante, mas prefiro recorrer a amigos se precisar.”

 

 

Legalmente, não sendo o proprietário dos prédios, não pode celebrar novos contratos. Ao mesmo tempo, tomou a decisão de deixar de cobrar rendas. “Os prédios não são meus”, justifica.

 

Num impasse, António Barroso conta que, no final do ano passado, foi contactado por um jornalista que lhe disse que Fernando Medina já lhe tinha oferecido dois prédios em troca. Mas o proprietário expropriado nega. “Nunca me foi oferecido nada em troca”, afirma.

 

Para provar a sua posição, o homem foi mesmo a uma reunião de câmara, em dezembro do ano passado, confrontar Medina. “Perguntei-lhe onde estão os prédios e em que estado estão, mas não respondeu. E ainda me quis pôr na rua, porque disse que lhe estava a chamar mentiroso”, lamenta. Do seu lado, a câmara entende que o dossiê está fechado, uma vez que foi paga a indemnização determinada pela justiça.


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