Sociedade
Como o
diretor da PJ desconstruiu a "desinformação" sobre crimes cometidos
por estrangeiros
Luís Neves
dedicou a sua intervenção na conferência do DN a desconstruir mitos que
relacionam aumento da criminalidade à imigração. Para além de dados, trouxe a
perspetiva de que trabalhou durante 24 anos "na unidade que tem a
responsabilidade de combater o crime mais grave, o mais violento, as ações
criminosas e o terrorismo".
Vítor Moita
Cordeiro
Publicado a:
17 Jan 2025,
19:13
Atualizado
a:
17 Jan 2025,
19:13
Luís Neves
confirmou esta sexta-feira, durante a conferência que assinala os 160 anos do
DN, que, "num universo de 10 mil reclusos", excetuando europeus,
africanos e latino americanos (incluindo brasileiros), são apenas 120
estrangeiros, e não são necessariamente imigrantes.
O diretor da
PJ respondia sobre a ideia de perceção da criminalidade e polarização em torno
da imigração, que tem estado na ordem do dia, e que de acordo com Luís Neves
correspondem a fake news, "desinformação", "manupulação" e
"ameaças híbridas".
Luís Neves
sublinhou ainda que "estamos a assistir a uma momento de
desinformação", que "acaba por criar nas pessoas a ideia de
insegurança", que não tem "que ver com a insegurança ampla do
crime".
"É
preciso fazer a destrinça entre os criminosos estrangeiros que usam Portugal
para a sua prática" e os imigrantes", alertou Luís Neves, evocando
dados concretos sobre o tema.
O diretor
nacional da PJ, com vários documentos na mão, explicou ainda que nas
estatísticas a que estava a aludir já constam dados sobre a nacionalidade dos
criminosos.
Na passada
quarta-feira, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro, a IL lembrou
que, um dia antes, tinha avançado com um projeto de resolução que tem como
objetivo incluir nos dados do Relatório Anual da Segurança Interna (RASI) a
nacionalidade de criminosos e vítimas, para "esvaziar discursos
populistas".
Ao longo da
sua intervenção, o diretor da PJ sublinhou que as narrativas que têm
proliferado sobre os crimes cometidos por pessoas oriundas de países
indostânicos não correspondem à realidade.
Os
documentos referidos por Luís Neves, a que o DN teve acesso, são um balanço
feito a 31 de dezembro de 2023 pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços
Prisionais, que dá conta de um universo prisional em Portugal de 11 287 homens
e 906 mulheres. Nesta contagem, há 9479 homens portugueses e 678 mulheres
portuguesas. Os restantes, são homens e mulheres de outras nacionalidades,
distribuídas por quatro categorias: Países de África, países da América do Sul,
países da Europa e outros países.
Esta última
categoria, explicou Luís Neves ao DN, à margem da sua intervenção, refere-se a
“nacionalidades e origens das pessoas que estão mais em foco” e que são “de tal
forma insignificantes [tendo em conta o número de ocorrências] que nem
aparecem” especificadas. Eram, na altura, 120 reclusos.
Luís Neves
adverte que “não se deve misturar quem comete crimes em Portugal, sendo
estrangeiro, que veio a Portugal para cometer crimes”, a “criminalidade
itinerante” - assente “no património, nos furtos, no tráfico de droga” -
“daqueles que vivem cá, sendo imigrantes, que cometem crimes”.
“Portanto,
isto tem que ser desconstruído. E esses dados desconstroem tudo isso”, rematou
o diretor da PJ, depois de dedicar quatro minutos da sua intervenção na
conferência a apresentar a sua perspetiva, que é a de alguém que trabalhou
durante “24 anos na unidade que tem a responsabilidade de combater o crime mais
grave, o mais violento, as ações criminosas e o terrorismo”.
O diretor da
PJ lançou uma série de perguntas retóricas sobre a criminalidade no passado,
apoiada em números, que indicavam que a criminalidade violenta tem diminuído
nos últimos anos, pelo menos desde 2008.
"Estes
números não nos permitem mentir", explicou, apelando a um exercício de
memória da audiência para recordar os anos de maior pico de criminalidade como
foram 2008 e 2009: "Alguém hoje ouve falar de ataques a ATM [caixas
multibanco] com explosivos? Alguém ouve falar de mortos nas gasolineiras como
resultado de assaltos?"
À esta lista
de crimes, Luís Neves ainda acrescentou o carjacking e recordou os "mortos
por consumo de heroína", que há décadas devastavam famílias. "Alguém
se recorda da zona de Arroios e do Intendente", acrescentou ainda,
referindo a prostituição e o consumo de drogas.
"Querem
comparar esse período e dizer que hoje é que é mau?"
Luís Neves,
voltando a sublinhar que "estamos a falar de dados concretos", deixou
ainda uma palavra sobre a importância de se celebrar os 160 anos do DN,
"um grande jornal que combate a desinformação e as fake news".
"Nós
temos que entender isto, perante o país que somos, para distinguir o trigo do
joio e para que não haja manipulação da informação."
"Porque
é que eu trouxe aqui dados concretos, objetivos e reais? Para desconstruir essa
realidade", concluiu.
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