domingo, 19 de janeiro de 2025

Diretor da Polícia Judiciária desconstrói "fake news" que relacionam mais criminalidade à imigração


Sociedade

Como o diretor da PJ desconstruiu a "desinformação" sobre crimes cometidos por estrangeiros

 

Luís Neves dedicou a sua intervenção na conferência do DN a desconstruir mitos que relacionam aumento da criminalidade à imigração. Para além de dados, trouxe a perspetiva de que trabalhou durante 24 anos "na unidade que tem a responsabilidade de combater o crime mais grave, o mais violento, as ações criminosas e o terrorismo".

 

Vítor Moita Cordeiro

Publicado a:

17 Jan 2025, 19:13

Atualizado a:

17 Jan 2025, 19:13

https://www.dn.pt/sociedade/diretor-da-pj-alerta-para-fake-news-sobre-crimes-cometidos-por-estrangeiros-e-apresenta-dados-para-desconstruir-esta-realidade

 

Luís Neves confirmou esta sexta-feira, durante a conferência que assinala os 160 anos do DN, que, "num universo de 10 mil reclusos", excetuando europeus, africanos e latino americanos (incluindo brasileiros), são apenas 120 estrangeiros, e não são necessariamente imigrantes.

 

O diretor da PJ respondia sobre a ideia de perceção da criminalidade e polarização em torno da imigração, que tem estado na ordem do dia, e que de acordo com Luís Neves correspondem a fake news, "desinformação", "manupulação" e "ameaças híbridas".

 

Luís Neves sublinhou ainda que "estamos a assistir a uma momento de desinformação", que "acaba por criar nas pessoas a ideia de insegurança", que não tem "que ver com a insegurança ampla do crime".

 

"É preciso fazer a destrinça entre os criminosos estrangeiros que usam Portugal para a sua prática" e os imigrantes", alertou Luís Neves, evocando dados concretos sobre o tema.

 

O diretor nacional da PJ, com vários documentos na mão, explicou ainda que nas estatísticas a que estava a aludir já constam dados sobre a nacionalidade dos criminosos.

 

Na passada quarta-feira, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro, a IL lembrou que, um dia antes, tinha avançado com um projeto de resolução que tem como objetivo incluir nos dados do Relatório Anual da Segurança Interna (RASI) a nacionalidade de criminosos e vítimas, para "esvaziar discursos populistas".

 

Ao longo da sua intervenção, o diretor da PJ sublinhou que as narrativas que têm proliferado sobre os crimes cometidos por pessoas oriundas de países indostânicos não correspondem à realidade.

 

Os documentos referidos por Luís Neves, a que o DN teve acesso, são um balanço feito a 31 de dezembro de 2023 pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, que dá conta de um universo prisional em Portugal de 11 287 homens e 906 mulheres. Nesta contagem, há 9479 homens portugueses e 678 mulheres portuguesas. Os restantes, são homens e mulheres de outras nacionalidades, distribuídas por quatro categorias: Países de África, países da América do Sul, países da Europa e outros países.

 

Esta última categoria, explicou Luís Neves ao DN, à margem da sua intervenção, refere-se a “nacionalidades e origens das pessoas que estão mais em foco” e que são “de tal forma insignificantes [tendo em conta o número de ocorrências] que nem aparecem” especificadas. Eram, na altura, 120 reclusos.

 

Luís Neves adverte que “não se deve misturar quem comete crimes em Portugal, sendo estrangeiro, que veio a Portugal para cometer crimes”, a “criminalidade itinerante” - assente “no património, nos furtos, no tráfico de droga” - “daqueles que vivem cá, sendo imigrantes, que cometem crimes”.

 

“Portanto, isto tem que ser desconstruído. E esses dados desconstroem tudo isso”, rematou o diretor da PJ, depois de dedicar quatro minutos da sua intervenção na conferência a apresentar a sua perspetiva, que é a de alguém que trabalhou durante “24 anos na unidade que tem a responsabilidade de combater o crime mais grave, o mais violento, as ações criminosas e o terrorismo”.

 

O diretor da PJ lançou uma série de perguntas retóricas sobre a criminalidade no passado, apoiada em números, que indicavam que a criminalidade violenta tem diminuído nos últimos anos, pelo menos desde 2008.

 

"Estes números não nos permitem mentir", explicou, apelando a um exercício de memória da audiência para recordar os anos de maior pico de criminalidade como foram 2008 e 2009: "Alguém hoje ouve falar de ataques a ATM [caixas multibanco] com explosivos? Alguém ouve falar de mortos nas gasolineiras como resultado de assaltos?"

 

À esta lista de crimes, Luís Neves ainda acrescentou o carjacking e recordou os "mortos por consumo de heroína", que há décadas devastavam famílias. "Alguém se recorda da zona de Arroios e do Intendente", acrescentou ainda, referindo a prostituição e o consumo de drogas.

 

"Querem comparar esse período e dizer que hoje é que é mau?"

 

Luís Neves, voltando a sublinhar que "estamos a falar de dados concretos", deixou ainda uma palavra sobre a importância de se celebrar os 160 anos do DN, "um grande jornal que combate a desinformação e as fake news".

 

"Nós temos que entender isto, perante o país que somos, para distinguir o trigo do joio e para que não haja manipulação da informação."

 

"Porque é que eu trouxe aqui dados concretos, objetivos e reais? Para desconstruir essa realidade", concluiu.


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