Mal-estar e
divisões na Quercus levam a petição para presidente se demitir
Estando em causa
posições que descredibilizam a “associação”, petição exige demissão de Paulo do
Carmo. Presidente não sai e acusa os seus críticos de quererem impedir
conclusão de auditoria à gestão da Quercus.
Carlos Dias 4 de
Dezembro de 2019, 7:00
“Os problemas na
Quercus têm sido uns atrás dos outros”, sentencia Nuno Gomes Oliveira um dos
fundadores da associação ambientalista, nas declarações que prestou ao PÚBLICO,
imputando responsabilidades ao seu presidente, Paulo do Carmo, por assumir
“posições muito esquisitas” que “descredibilizam” a organização.
As preocupações
que expressa são partilhadas por outros membros da Quercus. Preocupados com a
imagem que está a ser projectada na opinião pública na sequência das
declarações que Paulo do Carmo prestou à TVI, lançaram na Internet uma petição
pública a reclamar a sua demissão: “Seja em notícias de jornal, radio ou
televisão, a imagem da Quercus tem sido violentamente manchada nos últimos
meses por manter na sua presidência um ex-autarca que, ao que se vê, de
conservação de natureza pouco ou nada percebe”, realça o texto da petição. A
petição contava ontem com mais de 330 assinaturas.
A forma
“insultuosa” como Paulo do Carmo “tem tratado” a associação a que preside,
“deixa muito a desejar” acentua o teor da petição, com uma referência aos
comentários que fez quando foi ouvido na comissão parlamentar de Economia,
Inovação e Obras Públicas, sobre o impacto do aeroporto do Montijo no meio
natural. As suas declarações deixaram estupefactos vários deputados quando o
presidente da Quercus frisou que os efeitos do projecto na avifauna “não serão
assim tão negativos porque as aves acabarão por se habituar” aos aviões.
O ambiente
interno na Quercus que já não era o mais saudável está agora ainda mais tenso
depois das declarações que prestou à TVI, sobre o projecto turístico Ferrado
Comporta que Sandra Ortega, filha do fundador da Inditex e herdeira de marcas
como a Zara, pretende construir na península de Tróia.
A petição pública
sublinha que Paulo do Carmo “teria sido conivente com a desafectação da Reserva
Ecológica Nacional de um espaço essencial à natureza, motivando a destruição da
Península de Tróia”. Mas o presidente da Quercus garantiu ao PÚBLICO que o
empreendimento turístico “está dentro da legalidade” e que “não vai ocupar a
Reserva Ecológica Nacional”.
Reagindo às
críticas expressas na petição pública, diz que “não há nenhum caso Tróia”. O
que está em curso, acrescenta, “é um golpe de Estado para abafar uma auditoria
e a venda dos terrenos de que a associação é proprietária no Tejo
Internacional.”
A “guerra” que
divide os membros da associação vem “colocar em causa o que eu assumi perante
os sócios” vinca Paulo do Carmo, recordando que se candidatou ao cargo para
“pacificar o relacionamento entre os membros da Quercus, alcançar a
sustentabilidade financeira e fazer uso da transparência nos processos”. E “não
abdicar destes princípios” em nome dos “superiores interesses da Quercus”,
salienta.
Perante o
ambiente crispado que envolve a organização “não fazia sentido nenhum
demitir-me”, assinala Paulo do Carmo desvalorizando a petição pública por a
considerar “um documento anónimo que não tem rosto, como tal não é
transparente.”
Na semana
passada, ao PÚBLICO João Branco, tesoureiro da Quercus, e anterior presidente,
disse que estava a ser acusado de ser o mentor da petição, mas garantiu: “Eu
não fui e duvido que fosse alguém da direcção da Quercus”.
Numa referência
às declarações de Paulo do Carmo que justificaram a petição pública, refere que
o presidente da associação “ficou muito mal na fotografia” sobre o aeroporto do
Montijo e o projecto da Zara em Tróia, garantindo que a direcção da associação
desconhecia o seu envolvimento “na aprovação deste projecto em Grândola”.
Interferências na
auditoria?
João Branco nega
ainda qualquer interferência na elaboração da auditoria. A decisão nesse
sentido foi votada “favoravelmente por toda a direcção, eu incluído”, sublinha.
Houve apenas uma abstenção. “Aliás o documento já deveria ter sido entregue há
15 dias”, refere.
Perante as
acusações de Paulo do Carmo sobre esta questão, João Branco diz “já ter pedido
a acta da reunião em que consta esta decisão “mas ele [Paulo do Carmo] não a
envia.”
Desmente também a
acusação de que estaria interessado em vender os terrenos no Tejo Internacional
de que a Quercus é proprietária, imputando esse propósito a Paulo do Carmo.
“Ele é que quis vender. E até levou ao local os membros do conselho fiscal para
que dessem parecer positivo”. O tesoureiro diz já ter apresentado uma queixa
junto do conselho fiscal “para repor a verdade”
O mal-estar que
as afirmações do presidente da Quercus têm causado, revelam a dimensão de “um
escândalo que esta a ser muito mau para a imagem da organização” salienta João
Branco
Tornou-se óbvio,
“que ele não tem condições suficientes para estar à frente de uma organização
como a Quercus”, sublinha o ex-presidente da associação ambientalista,
admitindo que “alguém nas suas circunstâncias já se tinha demitido”, decisão
que terá de ser o próprio a tomar, porque se fosse tomada internamente “criaria
uma situação insustentável”, admite João Branco.
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