domingo, 1 de dezembro de 2019

COP25 MADRID


António Guterres: "Temos de parar a nossa guerra contra a natureza"
As declarações foram feitas no centro de conferências onde a partir de segunda-feira se vai realizar a Cimeira sobre as alterações Climáticas, conhecida como COP25.

António Guterres: "Temos de parar a nossa guerra contra a natureza"

DN/Lusa
01 Dezembro 2019 — 13:50

Milhares de jovens continuam a exigir justiça climática nas ruas e dizem não parar enquanto os políticos
O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, apelou este domingo em Madrid ao aumento da "vontade política" dos líderes mundiais para fazerem o que a comunidade científica lhes pede na luta contra as alterações climáticas. "O que ainda falta é vontade política", sendo "fundamental pôr o mundo em linha com o que a comunidade científica definiu" como objetivos para lutar contras as alterações climáticas, disse António Guterres em conferência de imprensa.

As declarações foram feitas no centro de conferências onde a partir de segunda-feira se vai realizar a Cimeira sobre as alterações Climáticas, conhecida como COP25.

Para o ex-primeiro-ministro português "durante muitos séculos a espécie humana esteve em guerra com o planeta e o planeta está agora a contra-atacar": "Temos de parar a nossa guerra contra a natureza e a ciência diz que podemos fazê-lo", sublinhou Guterres. Meia centena de líderes mundiais vão estar presentes na segunda-feira na abertura da Cimeira sobre Alterações Climáticas de Madrid, numa cerimónia presidida pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e por António Guterres, e na qual Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa.

Ao todo são esperadas delegações de 196 países, assim como os mais altos representantes da União Europeia e várias instituições internacionais.

"É fundamental pôr o mundo em linha com o que a comunidade científica definiu", diz Guterres

"Há a necessidade de encontrar a ambição de aumentar a responsabilidade coletiva, e a COP25 é uma oportunidade excelente para que essa responsabilidade possa ser exercida", afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, repetindo que os desafios "exigem uma muito maior ambição do que a expressa até agora". Esta 'cimeira do clima' estava inicialmente prevista para se realizar no Chile, mas no final de outubro o governo chileno decidiu cancelar o evento alegando não haver condições devido a um movimento de contestação interna e de agitação civil.

O Governo espanhol avançou com a proposta de organizar a grande conferência anual sobre Alterações Climáticas e conseguiu ter tudo pronto para a sua inauguração na segunda-feira, em Madrid, apesar de a presidência da reunião continuar a pertencer ao Chile.

António Guterres realçou que a sua mensagem também é de "esperança e não de desespero", sendo necessário seguir o "roteiro" definido pelos cientistas. Espera da COP25 "uma clara demonstração de vontade em fazer alguma coisa", concluiu o secretário-geral das Nações Unidas.

Segundo os objetivos definidos pela comunidade científica e em acordos assinados, mas ainda não ratificados por todos os países do mundo, nomeadamente os Estados Unidos, um dos mais poluidores, é necessário limitar a menos os de 1,5 graus o aumento da temperatura global até ao fim do século.

Cimeira do Clima. Países vão tentar parar o tempo e evitar o pior
Madrid recebe, a partir de segunda-feira, a cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas. Políticos e ambientalistas correm contra o tempo para evitar cheias, ondas de calor, seca, extinção de espécies.

Rita Rato Nunes
01 Dezembro 2019 — 21:13

"Nós não vamos desistir até ganhar", promete Alice Gato, 17 anos. Faz parte do movimento mundial Greve Climática - que incentiva os estudantes a saírem à rua no último dia útil da semana para denunciar a inércia dos políticos perante as alterações climáticas - e foi uma das organizadoras da manifestação que aconteceu em Lisboa, nesta sexta-feira. A milhares de jovens juntaram-se pais e avós para pedirem o encerramento das centrais de carvão, um travão em projetos que aumentem as emissões de gases poluentes nacionais - como a construção do novo aeroporto do Montijo - e novas metas, mais eficientes, contra as alterações climáticas na 25.ª Cimeira das Nações Unidas pelo Clima, que começa na próxima segunda-feira, em Madrid, Espanha.

A conferência vai reunir representantes de mais de 190 nações, que terão como missão discutir a revisão das emissões de gases, enunciadas no Acordo de Paris (2015) e de atualização obrigatória na cimeira do próximo ano, em Glasgow, no Reino Unido. Se não houver um plano de ação urgente e concertado, se as metas das emissões globais de gases não se tornarem mais ambiciosas, a temperatura do planeta pode aumentar 3,2 graus Celsius até ao final do século, em vez dos 1,5º C pretendidos, o nível dos oceanos vai subir, há espécies que serão extintas e aumentarão os eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, cheias ou secas.

"Estamos como que numa linha vertical a atingir níveis como nunca aconteceu nos últimos 800 mil anos", alerta Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero. O tempo de agir é agora. E a 25.ª COP [Conference of the Parties, como é conhecida a Cimeira do Clima] não será bem-sucedida se não forem feitos anúncios revolucionários sobre o mercado de carbono e investimento em políticas ambientais (o Acordo de Paris já previa um Fundo Verde do Clima de cem mil milhões de dólares até 2020, que ainda está por cumprir). Deverá também voltar à mesa das negociações o tema do "sistema de seguros", um apoio para países que sofrem com catástrofes climáticas.

O momento para a cimeira, que deveria ser no Chile, mas entretanto foi cancelada por causa da onda de protestos nacionais, não é o melhor, segundo Francisco Ferreira. É possível antever algumas dificuldades, como "a forma como vai ser feita a transição entre esta cimeira e a de 2020", com o governo britânico em fase de transição.

"Estamos a entrar na última década antes de 2030, o limiar da neutralidade carbónica. Esta COP tem de delinear tudo o que vai acontecer a seguir para atingirmos a neutralidade carbónica em 2030", diz Alice Gato. A estudante também vai para Madrid, não para participar na COP 25, mas numa contracimeira, que deverá reunir milhares de jovens (e não só) de todo o mundo numa tentativa de pressionar os decisores a empenharem-se ainda mais na luta contra as alterações climáticas.

O Parlamento Europeu declarou, nesta quinta-feira, o estado de "emergência climática e ambiental" e defendeu que o executivo comunitário deve comprometer-se a reduzir as emissões de gases com efeito estufa em 55% até 2030, para atingir a neutralidade climática até 2050. Mas não chega, dizem os ambientalistas e os milhares de manifestantes que saíram nesta sexta-feira à rua em Portugal e no mundo, outra vez. É preciso mais.

Temperatura média pode subir 3,2º C
A temperatura média do planeta pode subir 3,2 graus centígrados neste século, se as metas das emissões globais de gases não se tornarem mais ambiciosas. É preciso reduzir mais de cinco vezes a quantidade de gases lançados na atmosfera, sob pena de as ondas de calor e de as tempestades atingirem a Terra de forma irreversível. A conclusão está expressa no Relatório sobre a Lacuna de Emissões de 2019, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), divulgado na terça-feira, dia 26.

O objetivo é não ultrapassar 1,5º C em relação à época pré-indústrial, e, para isto, há que mudar o paradigma nos setores de energia, construção e transportes. De acordo com o documento, a utilização de fontes renováveis pode, até 2050, reduzir as emissões de dióxido de carbono em 78% na energia, 83% na construção e 72% nos transportes. "Temos de compensar os anos em que procrastinámos", defende Inger Andersen, a diretora executiva do PNUMA.

Subida do nível do mar
Com uma longa costa, Portugal tem várias zonas em risco por causa da subida do nível da água a partir de 2050. O estuário do Tejo, do Sado, a ria Formosa, as cidades de Aveiro e da Figueira da Foz são as zonas assinaladas como mais problemáticas.

Mais de 10% da superfície do planeta está coberta por gelo, segundo a ONU, e durante este século os oceanos deverão sofrer alterações "sem precedentes", com consequências irreversíveis para os habitats marinhos. Entre 2006 e 2015, o mar avançou 3,6 milímetros por ano devido ao aumento das temperaturas, da acidez das águas, com menos oxigénio. Estima-se que o aumento do volume dos oceanos, causado pelo aquecimento global, possa atingir 300 milhões de pessoas no mundo, sendo a Ásia o continente mais afetado. Só na China estarão em risco 93 milhões de pessoas.

Seca severa ou cheias
Parte do território nacional (36%) mantinha-se no final de outubro em seca extrema, principalmente a sul do país. Com o aumento da temperatura, fenómenos como a seca ou as cheias serão cada vez mais frequentes.

O ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, afirmou que é preciso mudar o consumo de água, não só na vida de cada um, mas também na atividade económica e, por isso, suspendeu os novos furos de água no Algarve e no Alentejo. No entanto, se a mudança não for mais radical e concertada com os outros países não será suficiente.

Um milhão de espécies ameaçadas
Dos oito milhões de espécies de animais e plantas que existem no mundo, cerca de um milhão está em vias de extinção nas próximas décadas. De acordo com o relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos, considerado o estudo mais abrangente já publicado sobre as espécies, 40% dos anfíbios e mais de um terço dos mamíferos estão ameaçados.

Quase todos os stocks de pescas do mundo estão em declínio, por causa da sua sobre-exploração, e as florestas perderam 2,9 milhões de hectares desde 1990, o equivalente ao tamanho da Alemanha. Desapareceram ainda, nos últimos 250 anos, 571 tipos de plantas - um número que deverá continuar a aumentar nos próximos tempos.



The conference was planned to be held in Brazil in November 2019, but a year before the planned start, newly-elected President Jair Bolsonaro withdrew the offer to host the event, citing economic reasons. Then Chile stepped up and became the new host, but social unrest in the lead up to the meeting forced it late October 2019 to withdraw from hosting.Then by mutual agreement between the UN, Chile, and Spain, the latter became the new host.
Various climate activists had set out from Europe to South America by sailboat, before the decision had been taken to relocate COP25 to Madrid. In mid November, some of these activists joined an alternative conference, the "Forest COP". The gathering took place near the centre of the Amazon jungle, in Terra do Meio. The Forest COP was attended by indigenous leaders, scientists & academics such as Eduardo Góes Neves, and activists such as Nadezhda Tolokonnikova. After the Forest COP, a follow on event, "Amazônia Centro do Mundo" (Amazon: the centre of the world) took place on 17 November in nearby Altamira.
Teresa Ribera, the Spanish Minister for the Ecological Transition, announced the conference would be held at the IFEMA facilities in Madrid. The Spanish government has divided the COP25 into two zones, one blue and one green. The blue zone is to host sessions for negotiation between the parties of the COP. This will include the 15th session of the Meeting of the Parties to the Kyoto Protocol and the 2nd session of the Meeting of the Parties to the Paris Agreement. The blue zone will also host events and activities run by NGO actors and 'side events' organized by states other than Spain. The green zone will be dedicated to civil society initiatives aiming to promote social participation. This area will be divided into three thematic sub-zones: one involving youth events, the second designated to indigenous peoples, and the third focused on science and innovation. The green zone is intended to be an open-dialogue pavilion for all types of civil actors, ranging from NGOs to businesses, academia and sponsors.

Sem comentários: