MEGAFONE
Carta ao Ministro
do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes
O Ministro do
Ambiente representa a estrutura política contra a qual não apenas os estudantes
portugueses, mas também Greta Thunberg, estão a lutar. Profundamente revoltados
com este paradigma que permite e alimenta a crise climática, exigem-se mudanças
estruturais.
Matilde Alvim
Estudante e
activista pela justiça climática na Greve Climática Estudantil.
2 de Dezembro de
2019, 11:17
Bem-vindo a
Portugal, senhor Ministro do Ambiente e da Acção Climática, João Pedro Matos
Fernandes, o primeiro país que, ao mesmo tempo que “assume” o compromisso de
alcançar a neutralidade de carbono em 2050, prepara-se para autorizar a
construção de aeroportos massivos, dragar as águas do rio Sado e furar a terra
da Bajouca em busca de gás fóssil; e que está a apostar toda a sua ambição numa
política leve e conformada rumo à crise climática.
Decerto que terá
todo o gosto em cá instalar-se: é um país onde governantes, pávidos perante a
massiva mobilização civil, aproveitam visitas ocasionais para louvarem as suas
próprias conquistas, mesmo que frouxas ou incoerentes.
Aqui, já existem
projectos em curso para encerrar as duas centrais termoeléctricas do país de
Sines e do Pego, mesmo sem ter havido uma consulta prévia aos trabalhadores e
ao seu respectivo sindicato, falhando numa das dimensões mais essenciais da
justiça climática: a transição energética e social justa para todos. Em
Portugal, há uma “aposta forte” na redução de emissões de gases com efeito de
estufa, o que se traduz, na prática, na construção do novo aeroporto do
Montijo, representando um aumento de 40% nas emissões da aviação. No país há
ainda um compromisso “sério” no sector energético e é por isso que foram
concessionados pelo governo dois furos de exploração de gás fóssil à empresa
Australis Oil&Gas na Bajouca e em Aljubarrota.
“Com
tranquilidade, o executivo continua subjugado a uma lógica de lucro, contrariando
a sua própria meta de neutralidade carbónica em 2050 e acentuando a sua
distância face à justiça climática.”
Segundo a
ferramenta Climate Equity Reference Calculator, do Stockholm Envirnoment
Institute, Portugal deve cortar as suas emissões em 60 a 70% num prazo de 10 a
15 anos. No entanto, com tranquilidade, o executivo continua subjugado a uma
lógica de lucro, contrariando a sua própria meta de neutralidade carbónica em
2050 e acentuando a sua distância face à justiça climática.
Este é um país
onde o Governo, de forma a não admitir as suas lacunas políticas nas questões
do clima, se esconde atrás de afirmações vazias em relação aos protestos
estudantis feitos no último ano, nomeadamente de esta ser “a mais justa das
causas”, e desviando até o verdadeiro âmago da questão, a acção política, para
“uma mudança de comportamento individual, por parte de quem (...) se está a
manifestar”.
Com clara
incoerência entre discurso e acção, o Ministério do Ambiente orgulha-se de ter
“uma estratégia de adaptação nacional à mudança climática muito ambiciosa” que,
no entanto, exclui da equação as reivindicações contundentes dos milhares de jovens
que encheram as ruas em Março, Maio, Setembro e Novembro.
O Ministro do
Ambiente representa a estrutura política contra a qual não apenas os estudantes
portugueses, mas também Greta Thunberg, estão a lutar. Profundamente revoltados
com este paradigma que permite e alimenta a crise climática, exigem-se mudanças
estruturais que requerem coragem.
Greta é bem-vinda
em Portugal. É, no entanto, importante recordar que não são bem-vindos o
oportunismo político, o discurso esquizofrénico e a acção incongruente.
Sem comentários:
Enviar um comentário