terça-feira, 30 de abril de 2019

VIDEO do Dia / OVOODOCORVO como ilustração de : "Rebeldes sem causa" / VIDEO: X GRIFTERS CODE‬ - VERRY GOOD GUYS - PART1




VIDEO do Dia / OVOODOCORVO

Como ilustração de:  

“Devido à passividade das autoridades e à impunidade dos criminosos, Lisboa é internacionalmente conhecida por ser um paraíso para estes ‘taguistas’, que viajam de propósito para sujar ainda mais. Muito mau.”

Laurinda Alves
30/4/2019, 0:02


LISBOA
Rebeldes sem causa
Laurinda Alves
30/4/2019, 0:02

Em Lisboa, os vândalos que atacam tudo o que é pedra, nova ou antiga, e assinam de forma nojenta tudo o que foi construído ou está a ser reconstruído, não respeitam nada nem ninguém.

Não sei que sentimentos isto provoca nos outros, mas a mim zanga-me e repugna-me. Isto, de que falo, é a revoltante mania de sujar com sprays indeléveis e tags horríveis, verdadeiramente repugnantes, todos os prédios, portas e portões, monumentos, casas, ruas, esquinas, alçados e outras paredes da cidade.

Em Lisboa, os vândalos que atacam tudo o que é pedra, nova ou antiga, e assinam de forma nojenta tudo o que foi construído ou está a ser reconstruído, não respeitam nada nem ninguém. A obra pode ainda estar em curso, que eles chegam perversamente armados de sprays só para sujar e deixar a sua ilegível assinatura.

Há ladrões que ficam conhecidos por deixar sempre um grande cocó nas casas que assaltam, para dizerem aos donos das ditas casas que se estão literalmente a ‘cagar’ para eles. Os vândalos dos sprays fazem pior e mostram, literalmente, que se estão nas tintas. Não defecam nem deixam matéria orgânica, mas o que fica do lado de fora das casas é impossível de limpar com detergente nem se pode desinfetar e, muito menos, varrer com uma vassoura.

Deixam riscos e traços descomunais, sem arte absolutamente nenhuma, só para sujar e chatear. Fazem pinturas que degradam e obrigam a gastar muito dinheiro para recuperar o que estragaram. Desolam proprietários e moradores, mas também os homens das obras e todos os que se preocupam em cuidar e recuperar o património da cidade.

O centro histórico de Lisboa é um cenário preferencial para estes selvagens que quotidianamente chegam só para vandalizar. Curiosamente esta gente age e ninguém reage. Destroem o que querem e nada lhes acontece. Aparentemente nenhum polícia, nenhuma autoridade camarária se preocupa com o assunto.

E, no entanto, não há dia ou noite que passe sem que sejam feitas mais tags, tantas vezes umas em cima das outras, cada vez maiores e de cores mais berrantes, para não passarem despercebidas. A voracidade destruidora é tal que há cada vez mais casas e prédios irremediavelmente sujos. Absurdamente pintados, mascarrados por uma legião de rebeldes sem causa que, ainda por cima, comprometem a arte dos que fazem belos graffitis e, esses sim, acrescentam valor à cidade.

Não existe qualquer semelhança entre um muro ou mural bem graffitados e uma parede ou porta sujas por delinquentes do spray. Uns fazem arte urbana, outros produzem traços abjetos. Uns salvam pela cor, pela genialidade do traço e pela força das mensagens; outros destroem pelo prazer de destruir. Só por isso.

Vi o que aconteceu no dia em que os pintores estavam a acabar de pintar de amarelo todo o largo das Belas Artes, no coração do Chiado. No preciso momento em que pousaram os pincéis e viraram costas para os irem lavar, o largo foi invadido por um bando furtivo que sujou várias paredes de preto, só pelo gozo de sujar.

Um pouco mais acima, já de frente para o Bairro Alto (todo ele atravessado por ruas tagadas, devastadas, como se sabe) estão a ser recuperadas várias casas e prédios, mas também um palacete que faz esquina, ao Calhariz. Ainda a obra vai a meio e já a pedra antiga, acabada de ser limpa e recuperada, está toda escrevinhada. Passei lá num dia de particular desânimo entre os homens que tinham estado de volta da pedra semanas a fio. Fizeram um trabalho rigoroso e deixaram tudo impecável, mas mal acabaram de arrumar as ferramentas já as paredes estavam um nojo. Compreendo o seu desânimo e toda a frustração que este terrorismo gráfico gera.

Não consigo conjugar verbos mais leves, nem usar adjetivos menos fortes porque é impossível permanecer educado perante gente capaz de tanta alarvidade e falta de sentido cívico. Não sei quem são e gostava de nunca me cruzar com nenhuma destas pessoas para quem a cidade, as ruas, os monumentos e as casas servem apenas para estragar, mas também não sei porque é que as autoridades não atuam e fingem que não vêm o que está à vista de todos. Os polícias fazem o seu giro dia e noite, e os agentes da CML também andam por toda a cidade, mas ninguém, absolutamente ninguém, faz rigorosamente nada.

Sabemos que o presidente da Câmara de Lisboa é um homem viajado e cosmopolita, que visita e é visitado por outros ‘mayors’ de grandes cidades onde não há o menor vestígio de mãos que atacam com sprays. Estou a pensar em Chicago, por exemplo, onde ninguém se atreve a tagar uma rua, um prédio ou uma parede só para sujar e degradar. Há, pelo mundo, muitas outras cidades e bairros históricos preservados destes bárbaros. Cidades onde foram tomadas medidas eficazes de prevenção, quero dizer.

Num tempo em que a cidade de Lisboa está em alta e é visitada por milhões de turistas, numa era em que importamos tanta coisa ‘do estrangeiro’, como se diz, confunde-me que ninguém se importe com esta forma de delinquência contra o património da cidade. Revolta-me que não preservemos o que é nosso, de todos. E, insisto, repugnam-me estes e outros rebeldes sem causa, que agem exclusivamente movidos pelo prazer de destruir e fazer mal.

P.S.: Devido à passividade das autoridades e à impunidade dos criminosos, Lisboa é internacionalmente conhecida por ser um paraíso para estes ‘taguistas’, que viajam de propósito para sujar ainda mais. Muito mau.

Como era Portugal antes da Democracia?







Montagem para utilização didáctica em aulas de História
realizada a partir de extractos da série Portugal, um
Retrato
Social, de António Barreto e Joana Pontes

De forma discreta, Arroios está a transformar-se no bairro dos “cafés literários” e das livrarias independentes



De forma discreta, Arroios está a transformar-se no bairro dos “cafés literários” e das livrarias independentes
Sofia Cristino
Texto
30 Abril, 2019

Longe da confusão do centro histórico de Lisboa, mas ainda assim suficientemente próximo do coração da cidade, o bairro assume-se cada vez mais como um pólo de atracção para todos os que gostam de livros. Numa zona em acelerada mudança, a poucas centenas de metros uns dos outros, e com horários distintos, concentram-se agora livrarias e “cafés literários”. Embora diferentes entre si, as lojas convidam a que por ali se faça um roteiro tendo a leitura em papel como azimute. Os donos dos estabelecimentos dizem querer fugir ao que consideram ser “um atendimento distante” dos circuitos mais movimentados, aproximando-se dos clientes e reinventando-se. Por isso, encontram-se ali cafés-livrarias onde só toca jazz e country, com sofás para ler durante todo o dia, caixas de livros gratuitos para levar para casa e gastronomia de vários continentes para provar. Há livrarias que, à tarde, são oficinas para crianças e outras que, à noite, se transformam em cafés onde acontecem viagens literárias.

O café literário Espuma dos Dias é o primeiro a abrir portas, na Estefânia, quando o bairro ainda está a despertar. Na Rua José Estevão não se vê ninguém, mas já se sente o cheiro a café e a banda britânica Divine Comedy rompe o silêncio matinal. Ao entrar, é difícil não reparar num piano de parede antigo, decorado com várias edições do livro Espuma dos Dias – que dá nome ao café -, do escritor Boris Vian, publicado em 1947. Alguns clientes ofereceram edições desta obra em diferentes línguas, como uma japonesa, uma das mais originais – “infelizmente roubada recentemente”, conta a dona do café-livraria.

O espaço, aberto há dois anos por Patrícia Assis, 37 anos, e o companheiro, Nuno Andrade, 46, “é um café com livros e não uma livraria com café”, explica Patrícia. “Mesmo para quem tem rendimentos médios, o prazer da leitura sai caro. Os alfarrabistas têm conseguido promover o acesso à leitura, praticando preços mais baixos, mas ainda é preciso educar o público”, considera. Apesar de nem todos mostrarem interesse pelos títulos, “e aparecerem mais pelo café”, muitos procuram a Espuma dos Dias por ser um sítio mais calmo, sem a confusão característica da maioria dos cafés do centro histórico da cidade. “As pessoas gostam por ser diferente. Não temos um atendimento distante, como acontece em circuitos mais movimentados, como a zona da Baixa. Aqui, gostamos que as pessoas se sintam como se estivessem em casa. Sabemos que se sentem dessa forma porque a maioria dos nossos clientes são habituais, moram na zona, e dão-nos esse feedback”, conta, enquanto um cliente se despede e deixa as moedas em cima do balcão para pagar o pequeno-almoço.

Quando abriram, em 2017, tinham uma pequena selecção de livros da alfarrabista Letra Livre. Recentemente, essa parceria acabou e passaram a vender livros da Leituria. Os títulos – que vão desde clássicos como Shakespeare, Fitzgerald, Alexandre O’Neill, Eça de Queiroz a literatura infantil de editoras já extintas ou autores menos conhecidos – são em segunda mão e os preços variam entre um e dez euros. “São livros que, normalmente, não se encontram nos circuitos comerciais. Os clássicos encontram-se, mas nós temos edições mais antigas. Privilegiamos sobretudo a diversidade, nunca quisemos ser elitistas”, explica. As obras estão na cave, algumas dispostas em estantes e numa mesa, ou nos sacos, ainda por arrumar.

Quem não quiser comprar pode sentar-se num sofá modesto, de três lugares, e ficar ali a ler, durante toda a tarde ou, à saída, levar um livro gratuito. A ideia foi de Vítor Rodrigues, 49 anos, dono da Leituria, localizada a menos de 200 metros na mesma rua. “Lembrei-me de dar livros, porque também nos oferecem, e esta é uma forma de sermos recíprocos nessa generosidade. Além disso, há uma série de livros que, não tendo valor comercial, têm muito valor cultural e literário. Não faz sentido que estejam a desperdiçar-se num armazém”, explica. A Leitura está ali desde o passado mês de Março, altura em que abandonou o espaço onde esteve entre 2015 e 2018, junto ao Largo Dona Estefânia.

 Ao entrar, percebe-se que o novo inquilino acabou de chegar. Há sacos amontoados com dezenas de romances, policiais e outros géneros literários por abrir. No estreito rés-do-chão é difícil não tropeçar numa torre de livros empilhados, grande parte deles assim arrumados por falta de espaço. As dimensões reduzidas apelaram à criatividade do livreiro, a qual se observa em pequenos pormenores como livros suspensos no tecto. Os preços podem variar entre cinco e 200 euros porque, apesar de “95% serem usados”, há livros novos e mais valiosos. “Não vendo livros por um euro, para isso prefiro oferecê-los”, diz. Na nova morada da Leituria também funciona um espaço de trabalho partilhado, o Misturado. Não há um “padrão de clientes”, aparecem de todas as idades e géneros, mas todos têm “um certo grau de exigência cultural”. “Não vêm à procura do que está no ‘top de vendas’ ou de best-sellers. Somos um negócio de bairro e temos funcionado sempre nesta lógica. Queremos privilegiar o livro usado e as pequenas editoras”, explica.

Há duas décadas ligado a esta área, Vítor reconhece as dificuldades do negócio, mas acredita que este “está em mutação”. “Há vinte anos, uma livraria independente podia ser um negócio próspero. Hoje, os arrendamentos subiram muito de preço, os espaços são muito escassos e há uma gigantesca desigualdade das condições do mercado. Essa disparidade traduz-se num domínio enorme de grandes grupos editoriais e hipermercados, que vêem o livro como uma mercadoria, e aplicam aos livros as mesmas regras que aplicam a batatas”, critica.

Duas ruas abaixo, na Rua de Arroios, a Tigre de Papel abriu, há três anos, com o mesmo objectivo. Livros, maioritariamente, de ciências sociais, política e economia, sociologia, filosofia e história, mas também infantis, de arte e ilustração enchem dezenas de estantes em cortiça. Muitos títulos são usados – como aqueles que dão as boas-vindas à entrada da loja, com preços entre um e cinco euros-, mas grande parte são novos. “Vendemos, essencialmente, livros de editoras mais pequenas, edições de autor e livros mais difíceis de encontrar”, explica Fernando Ramalho, 44 anos, funcionário do espaço. Complementarmente, para combater as adversidades do mercado editorial, vendem ainda manuais escolares, jogos infantis e alguns artigos de papelaria e já editaram quatro obras. A última foi uma novela gráfica de Júlia Barata, uma jovem autora que decidiu representar a sua gravidez em desenhos. “Só não editamos mais porque dá muito trabalho e somos poucos”, explica.

 Naquele arruamento, onde estão instaladas várias oficinas e cafés, há menos movimentação que na Rua José Estevão, mas Fernando acredita que esta realidade está a mudar. “No início, havia muitas pessoas que achavam difícil a livraria funcionar aqui, mas nós acreditámos que era um sítio onde estavam a aparecer coisas novas e a acontecer uma certa mudança. O fenómeno do turismo já se sente e vê-se um movimento de pessoas que não são daqui”, explica. Durante o ano, há ainda uma programação diversificada, que vai desde o lançamento de livros, iniciativas na área da música e performance, projecção de filmes a actividades para crianças.

 Uma rua acima, entre as ruas José Estevão e Arroios, há outra livraria, bem diferente das que acabaram de abrir ou estão há menos anos nesta parte da cidade. Há mais de quatro décadas na Rua Passos Manuel, a Assírio e Alvim, hoje, tem muito menos gente a entrar, mas continua a ser uma referência no meio editorial. Aqui não há música de fundo ou cadeirões que convidem à leitura, nem livros no chão. Quem entra na Assírio e Alvim – comprada, em 2012, pela Porto Editora – sabe exactamente o que quer, procura títulos e autores muito específicos ou livros esgotados, discretamente, sem se fazer notar. Aparecem reformados à procura de um livro em falta para completarem uma colecção, mas também professores e estudantes de mestrado e doutoramento ou turistas, grande parte brasileiros, que aproveitam para comprar livros que não conseguem encontrar no país de onde são naturais.

Os títulos mais procurados são livros de fundo de catálogo e “algumas colecções da Assírio e Alvim que a Porto Editora não tem interesse em dar continuidade”, explica Helena Roldão, 41 anos, ali funcionária há mais de uma década. Além de alguns dos grandes nomes da literatura nacional, é possível encontrar ensaios de filosofia e catálogos de exposições. Ao final do largo corredor da entrada, há ainda livros manuseados, com descontos muito apetecíveis. “São livros com mazelas, que foram devolvidos de outras livrarias, que estão queimados do sol, ou estragaram-se no transporte”, explica.

Nos últimos cinco anos, há cada vez mais turistas a entrar, mas também novos moradores, conta ainda. “Há pessoas que deixaram de viver no centro por causa do aumento das rendas, e começaram a subir a cidade. De repente, esta rua modificou-se muito e, aos poucos, está a ganhar outra vez vida”, explica Helena, que assistiu ao esmorecimento daquela zona. Há mais estrangeiros residentes a entrarem e perguntarem por livros noutros idiomas, maioritariamente em inglês. “Era raro acontecer e agora acontece cada vez mais. Temos algumas edições em duas línguas, poesia sobretudo, mas pouco. Muitas vezes encaminho-os para outra livraria, a Bookshop Bivar”, conta. Refere-se a uma pequena loja de livros usados, todos editados em inglês, também localizada na freguesia de Arroios.

 Em pleno bairro dos Anjos, uma das zonas mais multiculturais da cidade, mas também com mais crianças, Joana Silva, 31 anos, a pensar nos mais novos, lembrou-se de abrir, juntamente com António Alves, no final de 2016, a It´s a Book. Há uma enorme oferta de livros infantis de vários países – França, Itália, Inglaterra e Espanha – e em diferentes idiomas. “A ideia não é tanto chegar aos públicos que falam noutras línguas, mas ter aquilo que de melhor se faz no universo do livro infantil. Quem vem cá quer um livro específico e não está preocupado com a língua”, explica. E não foi ao acaso que escolheu a freguesia de Arroios para instalar a livraria-oficina. “Moro cá e gosto muito do bairro, sempre achei que era muito ligado ao mundo criativo e é uma das freguesias com mais crianças de Lisboa. Pareceu-me o sítio perfeito para inaugurar o projecto”, conta. E, admite, apesar das expectativas iniciais já serem boas, ficou surpreendida com a receptividade dos moradores. “Muita gente disse-nos que fazia falta um espaço dedicado ao universo das crianças e pessoas ligadas ao meio artístico ficaram muito felizes com o projecto”, recorda.

 Licenciada em Pintura, e com uma grande paixão pelas artes visuais, Joana garante que o que distingue a It´s a Book de outra livraria infantil é “a criteriosa selecção dos livros”. “Tento escolher os melhores para diferentes idades, desde os primeiros meses. As pessoas apaixonam-se primeiro pelo livro, só depois vem o resto”, esclarece. À loja instalada na Rua do Forno do Tijolo rumam pessoas de todas as idades, desde alunos de ilustração e design, a estudantes da Escola Artística António Arroio, e até há quem venha de propósito da Coreia do Sul. “Temos uma grande variedade de clientes. Entram aqui pais e avós, mas também há quem nos siga nas redes sociais e venha de propósito da Coreia conhecer o nosso espaço, porque há lá muitos autores de ilustração infantil”, conta. Algumas vezes por mês, numa mesa de madeira, quase com o comprimento da loja, acontecem ainda oficinas para crianças e adultos.

 Para terminar o roteiro literário, é preciso voltar à Estefânia. Acabada de chegar, a livraria Ler Por Aí, no número dez da Rua Jacinto Marto, também é um café e um restaurante – pelo menos uma vez por mês, quando se realizam jantares literários. Aqui, percorre-se o país, atravessam-se continentes e oceanos, numa viagem que se estende quase pela noite dentro, uma vez que só encerra à meia-noite. Podem-se experimentar vinhos e iguarias de várias partes do país e do mundo, quase todos associados a sítios por onde passaram as personagens das histórias que compõe as estantes. A condição para os livros ganharem um lugar nas prateleiras é estarem relacionados com lugares, explica Margarida Branco, 49 anos, proprietária do espaço. “Esta livraria não é de viagens, é de lugares. As viagens são sequências desses lugares. As viagens têm muito a ver com o que queremos fazer, mas não é apenas isso. Os Maias são um livro para ler em qualquer sítio, não é de viagens”, explica. À noite, continua a ser um espaço sossegado, “só muda mesmo a luz, de solar para artificial”, conta, entre risos.

Quem entra pensa que está num café, ao ver uma montra de bolos e cervejas, logo na entrada, mas, de cá de cima, vê-se a zona da livraria e um corredor, que vai dar a uma cave, onde decorrem alguns eventos. As mesas, forradas a cartas náuticas, ao final do dia enchem-se de “petiscos e bebidas diferentes do habitual”, de várias partes do país e do mundo, desde o sul da Europa ao Chile. A ementa chama-se “carta de possibilidades” porque muda com frequência e “nunca é igual”. Na passada sexta-feira (26 de Abril), aconteceu um jantar literário sobre o livro A Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. “A viagem começou em Lisboa, deu a volta a África, desceu para Goa e terminou no Japão. Há uma entrada portuguesa, um prato principal indiano e uma sobremesa japonesa”, conta. A ideia é “dar a conhecer os lugares que os livros falam”. Durante o mês, há outras iniciativas, como o karaoke de leitura. “Em vez de letras de música, projectam-se textos e as pessoas participam lendo”, explica. O sítio na net da Ler Por Aí já existe desde 2006, mas só desde final do passado mês de Março é que encontrou um espaço físico, onde Margarida espera ficar “durante muitos anos” para partilhar a história dos lugares que as centenas de livros expostos guardam.

 Moradas e horários:

Espuma dos Dias

Rua José Estevão, 2A e B

Horário: Terça a sexta-feira: 08:30 – 20:00, Sábado: 09:00 – 20:00, Domingo: 10:00 – 20:00



Leituria

Rua José Estevão, 45 A

Segunda, Terça-feira, Quinta-feira e Sexta-feira 14h-19h



Tigre de papel

Rua de Arroios, 25

Segunda a sexta-feira: 13h00-20h00



Assírio e Alvim

Rua Passos Manuel 67B

Segunda a sexta-feira: 10h00-13h00, 14h00- 19h00



It´s a book

Rua do Forno do Tijolo, 30 A

Terça a sábado: 12h30-19h30



Ler por aí

Rua Jacinto Marto, 10B

Segunda a sexta-feira: 16h-24h; Sábado, Domingo e feriados: 11h às 24h



Bookshop Bivar

Rua de Ponta Delgada, 34A

Terça a sábado: 11h00-18h00

Sinking city: how Venice is managing Europe's worst tourism crisis



Sinking city: how Venice is managing Europe's worst tourism crisis

Venice’s booming tourism industry is threatening the city’s very survival. But grassroots initiatives are making a difference – and may even help other cities

Paula Hardy
Tue 30 Apr 2019 06.00 BST

It is estimated that 25 million tourists currently visit Venice each year – a figure expected to rise to 38 million by 2025.
Friday 15 March was a rare day in Venice: on the concourse in front of the Santa Lucia train station, Venetians outnumbered tourists.

Young Venetians had skipped school to join the global youth climate strike, holding placards with statements such as “If climate was a bank, you’d save it.” The movement is especially relevant in Venice, since a 50cm rise in sea levels could see the city vanish beneath the waves.

Critical as the climate crisis is, the city faces a more immediate risk: the rising tide of tourists, presently estimated at 25 million a year and projected to reach 38 million by 2025.

 Nowadays you can go to a place and virtually never meet a local
Europe, already the world’s largest tourism market, received 713 million international visitors in 2018, an 8% increase on the previous year, according to the UN World Tourism Organization. But, in European cities, the increase is far greater: since 2008, overnight stays have jumped 57%. While tourism provides significant economic benefit – contributing €2bn annually in gross revenue to Venice alone – overtourism is causing cities like Barcelona, Amsterdam, Dubrovnik and others to make international headlines on issues ranging from housing affordability, environmental degradation and the destruction of local life.

In 2016 in Dubrovnik, residents were outraged when the mayor asked them to stay home to avoid the dangerous levels of crowds disembarking from multiple cruise ships. The new mayor, Mato Frankovic, has since capped the number of cruise ships that can dock in the city at two per day, cut souvenir stalls by 80% and cut restaurant seating in public spaces by 30%. But similar issues of overcrowding in Palma de Mallorca, San Sebastián, Prague and Salzburg have brought locals out into the streets in increasingly impassioned protests.

One of the most dramatic was Venice’s 2016 No Grandi Navi (“No Big Ships”) protest, when locals took to the Giudecca Canal in small fishing boats to block the passage of six colossal cruise ships. And, although plans have been announced this year to reroute the largest ships to a new dock in Marghera (still to be built), campaigners still argue for a dock outside the lagoon at the Lido, where heavy cargo ships historically unloaded.

This is just one of the ways the Venetian Republic safeguarded the equilibrium of the lagoon and the complex system of commerce around it. In fact, the act of sustaining the lagoon for over a millennium is a singular human achievement, because a lagoon by definition is a temporary natural phenomenon. Venice’s lagoon would have silted in 500 years ago if it hadn’t been for careful environmental protection, sensitive technical intervention and strict commercial regulation – a historic blueprint that provides useful lessons for tourism.

 In 2016 Venetians took to the Giudecca Canal in small fishing boats to block the passage of six colossal cruise ships.

A new generation of concerned citizens and entrepreneurs is taking up that challenge, combining grassroots activism with socially sensitive, sustainable initiatives to save their island home. Consider waste. What comes into Venice must be removed again via a complex collection and recycling system. Every day an army of sanitation workers knocks on every door in the city, collecting waste to be ferried away on barges. The same rules and fines, however, do not apply to tourists – despite the fact that during high season the bins around Piazza San Marco have to be emptied every half an hour.

 We don’t pretend to be [Leonardo] DiCaprio, but through these small actions we hope to do something positive

Troubled by the plastic waste generated by their two boutique hotels – the Novecento and Hotel Flora – the Romanelli family have taken action, eliminating plastic bottles from their properties, and encouraging guests to use steel flasks at Venice’s historic water fountains, for which they supply a map. “We don’t pretend to be [Leonardo] DiCaprio, but through these small actions we hope to do something positive,” says the owner, Gioele Romanelli.

With just 50 rooms and 40 members of staff, they calculate they save 36,000 plastic bottles a year. Multiply that by the estimated 40,000 guest beds in Venice – to say nothing of restaurants or the waste unloaded from cruise ships – and you could save hundreds of millions of plastic bottles a year. “Our children learn about these issues at school and all of them carry their own water flasks, so why not us?” concludes Romanelli’s wife, Heiby.

Addressing the issue of waste is only the most tangible effort to create a more sustainable tourism in Venice.This June will see the launch of Fairbnb, a not-for-profit home-sharing site that only permits resident hosts; mandates one home per host; and contributes half of the 15% booking fee to social projects.

Their launch is timely. Since 2015, short-term tourist rentals in Venice have tripled from 2,800 to 9,452, according to Airdna. Of those, 80% are entire home rentals, many are owned by agencies or foreign investors and a 2018 report by Centro Studi di Federalberghi Nazionale found the most prolific host in the city had 135 listings.

 We’re not anti-Airbnb – we just want to show it’s possible to create a tourism model that works for locals as well as travellers

Other European cities are responding to similar problems. Barcelona is prosecuting unlicensed apartments and has secured access to Airbnb’s host data in order to pursue offenders. In Madrid, home sharing is now only permitted in houses with their own entrances. Palma, meanwhile, has banned short-term tourist rentals completely.

“Without significant regulation of the rental market [in Italy], we saw the only way to change things was to provide a market alternative,” says Emanuele dal Carlo, a Venetian who is one of five co-founders of Fairbnb, which crowdfunded for its startup cash. “We’re not anti-Airbnb – we just want to show that it’s possible to create a tourism model that works for local communities as well as travellers.”

On booking, Fairbnb renters decide which project to support and are invited to visit or participate: in Venice this could mean joining volunteers cleaning graffiti or helping turn a centuries-old squero (boat yard) into an educational centre.

“We want to bring back the connection between tourists and locals that has been lost,” dal Carlo says. “Nowadays you can go to a place and virtually never meet a local. But this way you can join them in their real pursuits or even just share a drink together.”

This loss of connection between locals and tourists is something that Valeria Duflot and Sebastian Fagarazzi are also concerned with. Their website Venezia Autentica directs tourists to Venice businesses that support a sustainable local economy – everything from printmakers to photographers, mosaicists to rowers. This is because too few of the city’s 25 million tourists frequent shops and restaurants owned by Venetians, they say. “Quality local businesses definitely need more customers, visitors included,” Duflot says.

Across Europe, other grassroots groups are also fighting to preserve local cultures. In 2017, the social movement Mora rem Lisboa, in conjunction with 30 local associations, wrote an open letter denouncing Lisbon’s excessive dependency on tourism and real estate speculation. And last May, 14 cities and islands – 10 of them Spanish, alongside Venice, Lisbon and Malta – joined forces to form the Network of Southern European Cities against Touristification, arguing that mass tourism causes high rents, pollution, the loss of local shops and the proliferation of low-wage jobs.

This is what the European Parliament was referring to when, in 2015, it declared that “European tourism must make a transition from a model of quantitative growth to a qualitative model leading to steady and sustainable development.”

To kick-start new thinking on the matter, they awarded the inaugural 2019 European Capital of Smart Tourism to Helsinki for the city’s locally-oriented tourism strategy, which is based on sustainability and the assumption that what makes a city attractive to residents will appeal to travellers, too.

It is this focus on the liveability of a city that Venetian data scientist Fabio Carrera believes is the key to Venice’s future. Because if a city cannot retain its own populous, no amount of tourist tax will be able to avert its inevitable decline and death.

As such, Carrera has dedicated 30 years of his academic life working on the Venice Project Centre, dividing his time between Worcester Polytechnic Institute, the prestigious Santa Fe Institute and Venice. During that time, he has supervised over 250 projects examining the city’s challenges: mapping every bridge, bell tower, well and water bus.

The centre also also tracks tourism flows, and has concluded that Venice’s maximum carrying capacity is 55,000 tourists per day, or 20 million per year if European safety standards are to be maintained. It’s not far from the current number of 25 million, he points out – it just needs to be managed better.

A new wave of digital tools could offer some solutions. At the centre’s startup incubator SerenDPT, students are working on projects including smart transport apps, hybrid mortgage schemes that use tourism income to assist with repayments, and a Smart Control Room for the city council that they hope they can export to other cities. He believes these new business ideas, among others, would create the kind of high quality jobs that could refloat the local economy.

No other city faces a bigger tourism challenge, says Carrera – but given Venice’s uniquely contained and complex character, nowhere is better equipped to meet the challenge of sustainable tourism. “Younger generations have been out in the world,” he says. “They see other possibilities and want to bring that back to Venice.”

Follow Guardian Cities on Twitter, Facebook and Instagram to join the discussion, catch up on our best stories or sign up for our weekly newsletter

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Nature loss: Major report to highlight 'natural and human emergency'



Nature loss: Major report to highlight 'natural and human emergency'
By Matt McGrath
Environment correspondent
28 April 2019

Scientists and government officials meet this week in Paris to finalise a key assessment on humanity's relationship with nature.

The Intergovernmental Panel for Biodiversity and Ecosystem Services, or IPBES, will issue the first report of this type since 2005.

It will detail the past losses and future prospects for nature and humans.

One author says the report will highlight the "social and ecological emergency" the world is now facing.

From Monday some of the world's leading researchers in the field of biodiversity will meet in the French capital to work through the details of their report with representatives from 132 governments.

Their conclusions, known as a Summary for Policymakers, will then be published on 6 May.

"I would say that this is the most comprehensive assessment on the state of nature and humanity's place in it," said Prof Sir Robert Watson, who chairs IPBES.

"It is the first intergovernmental assessment - this is much more powerful in my view, it means that governments are fully involved."

What exactly is biodiversity?
Biodiversity is just a sciencey word for all the amazing variety of life that can be found on Earth, their interactions with each other and with their environments.

Pollination is one of the key services that nature provides to humans
It encompasses everything from genes, through individual species such as orang-utans, through communities of creatures and then the whole ecological complexes of which they are part.

The phrase, which originated in the 1980s, is a contraction of the words "biological" and "diversity".

It was more formally defined in the UN's Convention on Biological Diversity signed in 1992 as: "Biological diversity" means the variability among living organisms from all sources including, inter alia, terrestrial, marine and other aquatic ecosystems and the ecological complexes of which they are part: this includes diversity within species, between species and of ecosystems."

Why does biodiversity matter to me?
Well, the air you breathe depends on plants producing oxygen, and without bees to pollinate crops, we wouldn't have so many things to eat.

Biodiversity helps provide and maintain our fresh water, fertile soils, our medicines, a stable climate and gives us places for recreation.

All species are interconnected and often depend on each other. So while fungi help maintain the soils of the forest, these healthy soils help plants to grow, insects then carry pollen from one plant to another, animals can eat the plants, and the forest as a whole provides a home for animals.

Losing one species in this chain may not seem like much but each loss weakens the connections that benefit us all.

Back in the 1980s, conservation researchers Paul and Anne Ehrlich said that species are to ecosystems what rivets are to a plane's wing. Losing one might not be a problem, but each loss adds to the likelihood of a disaster.

So why is this report important?
It matters because it will highlight the shocking losses that have hit the natural world over the past 50 years, and will warn that the future is looking bleak for tens of thousands of species.

It will also highlight the threat to humans if the devastation of nature continues.

More than two billion people rely on wood fuel for energy, while around four billion rely on natural medicines. Some three-quarters of our food crops require pollination by insects.

One of the scientists involved told the BBC that the assessment would underline the fact that the world is now facing both a natural and a human emergency.

"Social and environmental changes are much more connected than we have portrayed them in the past," said Prof Unai Pascual, from the Basque Centre for Climate Change, Spain, who is a lead author on the report.

"This assessment will show these connections are based on robust scientific evidence; The evidence is clearer than ever that the negative impacts on nature that we are pushing translate into detrimental changes in people's wellbeing, and that for an increasing proportion of the population on our planet the emergency is not just an ecological emergency, but it is turning into a social and ecological emergency."

Researchers say the loss of nature will have big implications for humans
Surely we've heard all this before?
Much of the research about impacts on individual species, such as on bees and other pollinators, has been published before.

In the global assessment, the research team takes a much broader view of what's been happening to the natural world.

For three years, 150 experts from more than 50 countries have looked at 15,000 sources of information.

One significant way in which this assessment differs from previous publications is that it uses knowledge from people who have been living in and preserving ecosystems for generations.

"We have a systematic strategy to include indigenous and local knowledge," said Prof Sandra Diaz from Cordoba National University in Argentina and a co-ordinating lead author for the report.

"So the evidence of what's going on, the different practices to maintain and enhance diversity will not only come from mainstream science but will also come from the deep knowledge of people who have been managing diversity for a long time around the world. So I think we will have a much richer picture than previous assessments."

The full report, stretching to 1,800 pages, will be published at the same time as the 40-page summary.

What will the assessment say?
The details of the summary will remain under wraps until the scientists and political representatives have agreed every last word.

However, as much of the information has been published in one form or another in previous years, we have a reasonable idea of the key messages.

It will likely warn that we are on the brink of a rapid acceleration of the global rate of loss of species. And it will say the threat these losses pose - and the challenge that presents - is on a par with climate change.

It's probable also that it will say that farming, deforestation and our demands for energy are undermining the services we get from nature.

"I want people to know that nature is really important, and we shouldn't destroy it, and it is absolutely essential to food, water and energy security," said Prof Sir Robert Watson.

"I want the public to say that we should not be destroying it and urge their governments to make sure they have the right policies in place and to ask: 'what can I do in my everyday life to be more sustainable?'"

Is all this related to climate change?
Climate change will feature heavily in the assessment and is closely linked to the fate of species.

The scientists at IPBES believe the threat from the loss of nature will be as big a challenge to the world as rising temperatures.

This rise is also playing a key role in the destruction of nature. For example, the range of a much larger number of species will be affected by a rise in global temperatures this century of 2 degrees C than by a rise of 1.5C.

The researchers hope that just as the report from the IPCC woke the world up to the scale of the threat of climate change last Autumn, the IPBES report will do the same for nature.

"If you look at IPCC, they managed to show that climate change was a problem for the whole world," said Prof Sandra Diaz.

"Now, it is a problem that no-one ignores."

Will the scientists tell the governments how to act?
Not exactly. The scientists are meant to avoid being "policy prescriptive", which means they can't tell the governments what to do about the crisis facing the natural world.

However, the scale of concern is so great that some researchers feel that the report can't afford to pull its punches.

Sir Robert Watson, who will chair the Paris meeting and the report, says the researchers won't be afraid to tackle sensitive issues.

"We talk about some of the drivers of change, such as economic growth, and population growth, because the more people you have and the wealthier they are the more they consume, and the more pressure that puts on nature. Some might say the issue of population is politically sensitive but we don't avoid it."

While the report will likely highlight the policy choices that governments can make, and the implications of those choices, one key takeaway will be that nature and humanity cannot continue to have a "win-win" situation at our current levels of consumption.

"I think this is going to be one of the main messages; we have to be very mindful that having more of everything is not possible now," said Prof Unai Pascual.

"We have to be much smarter in how we allocate our resources to make sure we have sufficient for everyone.

"We need to understand the trade-offs, because once you lose biodiversity it is difficult to reverse."

Follow Matt on Twitter@mattmcgrathbbc

Lisboa deve realizar “fiscalização sistemática” de obras de reabilitação de prédios por causa do alto risco sísmico



À espera do grande ‘abanão’, sem qualquer tipo de prevenção ou de exigências na qualidade da construção . A ganância contínua a sobrepôr-se a tudo, e a determinar o ritmo e a 'qualidade' das intervenções .
OVOODOCORVO

Lisboa deve realizar “fiscalização sistemática” de obras de reabilitação de prédios por causa do alto risco sísmico
Samuel Alemão
Texto
29 Abril, 2019

Tem sido dito e sublinhado, por diversas vozes: a capital portuguesa não se encontra preparada para mitigar os efeitos de um terramoto de intensidade mais elevada. No debate temático realizado, no ano passado, pela Assembleia Municipal de Lisboa, vários foram os alertas lançados para o muito pouco que tem sido feito neste campo. Sobretudo no que se refere ao reforço anti-sísmico no âmbito das muitas obras de reabilitação urbana em curso. Há até quem pense que algumas das obras têm contribuído para debilitar o edificado, pois muitas serão feitas de forma pouco conscienciosa. Um ano depois, um relatório da assembleia vem pedir a instituição de “mecanismos de fiscalização sistemáticos” da reabilitação urbana. Pede-se mesmo a criação de um gabinete camarário que avalie os critérios dos projectos. E sublinha-se: não se construam hospitais e edifícios públicos em zonas em risco de inundação por tsunami.

A possibilidade muito elevada de ocorrência de um fenómeno sísmico de larga escala na região de Lisboa deve levar as autoridades nacionais e locais a tomarem um conjunto de medidas, a diversos níveis de actuação, para a mitigarem as consequências. E entre elas deve estar a efectiva fiscalização das muitas obras de reabilitação urbana realizadas nos últimos anos, alerta a Assembleia Municipal de Lisboa (AML), no relatório final do debate temático sobre “Prevenção e minimização do risco sísmico e reforço da resiliência sísmica em Lisboa”, ocorrido há já um ano.

No documento redigido e aprovado na passada sexta-feira (26 de Abril), pela comissão permanente de Transportes, Mobilidade e Segurança daquele órgão, e que será discutido e aprovado na sessão plenária desta terça-feira (30 de Abril), traça-se um quadro de evidente vulnerabilidade da capital portuguesa face a um terramoto e, entre muitos alertas, salienta-se a necessidade de evitar a construção em locais considerados passíveis de se localizarem em áreas inundáveis por um tsunami – e fazendo especial menção a hospitais e outros equipamentos públicos.

Isso mesmo é referido por três vezes, e assinalado como algo prioritário, nas acções a adoptar relativas ao Ordenamento do Território – um dos três eixos prioritários de acção, juntamente com a Gestão Urbanística e as Medidas de Autoprotecção -, no capítulo das recomendações e propostas feitas pelos deputados municipais. A primeira das medidas desse eixo passa por “contribuir para a prevenção e gestão dos riscos sísmico, de tsunamis, de deslizamentos e liquefacção”, através da identificação das áreas de maior risco, da incorporação de medidas de prevenção e mitigação de desastres e ainda o estabelecer de “critérios claros para a selecção de locais para o desenvolvimento urbano e adequação para a instalação de equipamentos colectivos”.

E, logo de seguida, as instrução são claras na referência a edifícios prioritários: “Obrigar que a construção de novos hospitais e outros equipamentos relevantes em situação de catástrofe não se localizem em zonas inundáveis por tsunami e que os projectos incluam sistemas de protecção sísmica, tais como isolamento de base”. Mas tal também inclui o reforço “a nível estrutural e não-estrutural” dos equipamentos existentes, bem como edifícios de utilização colectiva tais como os escolares ou de apoio a idosos ou outros. “Alguns encontram-se em edifícios com destino habitacional, anteriores à regulamentação anti-sísmica não tendo sido calculados e projectados para ser um equipamento de ensino. Alguns são propriedade municipal”, alerta-se ainda.

Mais à frente nesse conjunto de medidas relacionadas com o Ordenamento do Território, os autores do relatório com recomendações a enviar à Câmara Municipal de Lisboa voltam a alertar, pela terceira vez, para o perigo relacionado com a ocorrência de um tsunami a que poderão ser expostos os equipamentos colectivos. “Promover uma política prudente do uso do solo, evitando a construção de edifícios públicos, como hospitais e escolas, quartéis de bombeiros, centros de saúde, em zonas inundáveis por tsunami”, pede-se no documento. Tal preocupação com os edifícios de utilização comunitária é, aliás, novamente expressa numa das recomendações agrupadas num segundo eixo, o relacionado com a Gestão Urbanística. “Pugnar para que as instituições da administração local e central apontem o caminho a seguir, promovendo empreitadas de reforço sísmico nos edifícios públicos”, aconselha-se.

É nesse segundo grupo de recomendações e propostas que se encontra um conselho à Câmara de Lisboa para que tome medidas claras em relação às muitas obras de reabilitação urbana em curso na cidade – e que, no fundo, vem dar resposta às preocupações já expressas, numa das duas sessões deste debate temático da AML, realizado em Abril de 2018. A proposta é clara: “Criar mecanismos de fiscalização sistemáticos sobre as intervenções de reabilitação urbana, especialmente no edificado anterior a 1983, inclusivamente em intervenções parcelares e neste âmbito criar um Gabinete Municipal de auditoria aos critérios dos projectos de reabilitação urbana. A CML deve ter técnicos que verifiquem se nos projectos de engenharia as soluções propostas não contribuem para tornar a estrutura mais vulnerável”.

Mas as preocupações não se ficam por aí. Os deputados municipais querem que os técnicos de reabilitação urbana passem também a ter competências na área da prevenção para os efeitos dos terramotos. E falam na necessidade de “elaborar recomendações técnicas para reforço sísmico das construções”, criando-se uma manual de boas práticas do reforço neste campo e promovendo a legislação aplicável, “para que seja obrigatório o reforço sísmico das obras de reabilitação de edifícios e para maior defesa do património construído”. Algo que deve mobilizar também os senhorios dos imóveis: “Sensibilizar os proprietários para a temática da prevenção sísmica, já que o desconhecimento das pessoas deve ser ultrapassado com sucessivos alertas sobre a vulnerabilidade sísmica de cada habitação”, pede-se.

O perigo relacionado com a falta de resiliência anti-sísmica dos edifícios de Lisboa sujeitos a obras de reabilitação urbana, seja por falta de adopção de reforço estrutural ou até em resultado das intervenções neles feitas, dominou a primeira das duas sessões do debate temático na origem deste documento. Na sessão inicial, ocorrida a 5 de Abril de 2018, foram várias as vozes a alertarem para o problema. “Quando reabilitamos um edifício, a lei diz que não é preciso respeitar a legislação posterior à construção original. Todos os edifícios construídos antes de 1958 não têm, por isso, nenhum grau de exigência sísmica. Estão-se a fazer obras, no centro da cidade, que são armadilhas mortais para as pessoas. A nova reabilitação são novos modelos de caixões muito bem ornamentados, para nos levarem para outro mundo”, dizia Mário Lopes, professor do Instituto Superior Técnico (IST) e especialista em prevenção sísmica com três décadas de trabalho.

O pessimismo era então partilhado por Vasco Appleton, engenheiro civil e um dos mais prestigiados especialista nacionais em reabilitação de edificado. “Há um número muito elevado de oportunidades perdidas. Há edifícios bons que não estão a ser alvo de intervenção de reforço sísmico, porque o dono de obra não é sensível ao assunto e, também, porque há projectistas que não têm capacidade técnica para fazerem projectos demasiado exigentes”, dizia. Diagnóstico corroborado, nessa sessão, por João Pardal Monteiro, director da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa: “Existe uma grande falta de qualificação das pessoas que fazem estas estruturas e as intervenções na cidade têm de ser feitas por especialistas. Percebendo-se o estado em que está o edifício, devia-se agir para o melhorar e reduzir as perdas potenciais, mas isto não está a acontecer”.

No relatório que a Assembleia Municipal de Lisboa se prepara agora para aprovar é feita uma lista de recomendações, no eixo relacionado com Medidas de Autoprotecção, visando manter a população informada. Uma das grandes falhas apontadas no debate ocorrido há um ano tem que ver, precisamente, com a falta de consciência generalizada da comunidade em relação ao perigo que corre, se ocorrer um terramoto. Entre as diversas indicações de acção necessária nesse campo, destaca-se a necessidade de “criar um inventário indicativo da vulnerabilidade sísmica do edificado recorrendo a indicadores como a época de construção, eventuais intervenções posteriores e localização”.

É possível combater o racismo com a classificação racial dos cidadãos? É totalmente desaconselhável a introdução de estatísticas públicas raciais na próxima operação censitária.



“Institucionalizar uma classificação racial para acabar com o racismo é querer atingir um objetivo fazendo, para tal, o exato oposto do que se pretende obter.”
(…)  De facto, não é possível combater o racismo e, em simultâneo, institucionalizar a classificação racial, pelo Estado, de todos e cada um dos cidadãos. Quando o Estado introduz categorias raciais nas estatísticas oficiais contribui para legitimar e naturalizar essas mesmas categorias. Ora, o fundamento do racismo não é o tratamento desigual das “raças”, mas a ideia de que as pessoas são socialmente diferentes por terem diferentes características fenotípicas, biológicas.
“Considerando os efeitos perversos e riscos que resultam de estatísticas públicas raciais, é totalmente desaconselhável a sua introdução na próxima operação censitária.”
Rui Pena Pires

É possível combater o racismo com a classificação racial dos cidadãos?
É totalmente desaconselhável a introdução de estatísticas públicas raciais na próxima operação censitária.

Rui Pena Pires
29 de Abril de 2019, 4:58

1. Há, em Portugal, problemas sérios de racismo. Não porque vivamos num país com ordenamento jurídico e político segregacionista (não vivemos), mas porque existem práticas e discursos racistas sistemáticos. E porque existe, também, uma racialização, historicamente construída, da desigualdade social, o que facilita e naturaliza o preconceito. Precisamos, pois, de conhecer melhor o racismo existente, produzindo informação útil para sustentar políticas públicas de igualdade mais eficazes. Foi neste contexto que surgiu, recentemente, a proposta de introduzir, no próximo Recenseamento Geral da População, perguntas que permitam uma classificação racial de todos os portugueses. Esta solução é, em minha opinião, inadequada e contribui para reforçar o fenómeno que se pretende contrariar: o racismo.

2. De facto, não é possível combater o racismo e, em simultâneo, institucionalizar a classificação racial, pelo Estado, de todos e cada um dos cidadãos. Quando o Estado introduz categorias raciais nas estatísticas oficiais contribui para legitimar e naturalizar essas mesmas categorias. Ora, o fundamento do racismo não é o tratamento desigual das “raças”, mas a ideia de que as pessoas são socialmente diferentes por terem diferentes características fenotípicas, biológicas. A categoria “raça” pressupõe, nomeadamente, que diferenças na cor de pele correspondem a diferenças culturais. Por isso, o uso institucionalizado da categoria “raça” reforça os fundamentos cognitivos do racismo. Não é possível combater o racismo e salvar a categoria “raça”. Institucionalizar uma classificação racial para acabar com o racismo é querer atingir um objetivo fazendo, para tal, o exato oposto do que se pretende obter. O combate ao racismo, como, em regra, a todas as discriminações, requer a afirmação da semelhança essencial de todos os seres humanos, não a enfatização de uma das suas múltiplas diferenças.

3. O argumento fundamental dos defensores das estatísticas raciais é simples: estas fariam falta para se conhecer melhor o racismo. O que será em parte verdade mas é insuficiente como argumento. A ideia de que um ato pode ser plenamente justificado pela sua utilidade é o princípio da amoralidade. Estatísticas raciais têm, como quase todas as práticas sociais, vantagens e desvantagens que devem ser ponderadas. Nessa ponderação, o estatuto do autor da produção dos dados é relevante. Os efeitos de legitimação da categorização racial não são os mesmos quando o autor das estatísticas é o Estado ou quando é, por exemplo, uma equipa de investigação. Como também não são idênticos os efeitos que resultam da utilização daquelas categorias em inquéritos por amostragem a uma pequena parte da população e os que resultam do seu uso universal e sistemático em operações censitárias ou em registos administrativos que abrangem, regularmente, a totalidade ou a maioria dos cidadãos. A não inclusão de questões conducentes à classificação racial nos censos não implica, pois, a ausência de informação útil para a avaliação da discriminação racial. Esta pode ser obtida por meios alternativos, em especial através de estudos e inquéritos por amostragem com fins científicos ou técnicos, casos em que as vantagens suplantam as desvantagens.

4. Em vez de racializar o Censo seria preferível criar um observatório público do racismo e da xenofobia. Entretanto, muito pode ser feito com o que já se sabe. Por exemplo, não precisamos de estatísticas raciais para enfrentar os problemas da segregação racial em termos territoriais, por definição de grande visibilidade. Como também não precisamos de estatísticas raciais para colocar em prática processos de discriminação positiva que corrijam a falta de diversidade da representação política ou da participação no espaço mediático.

5. Na tomada de decisão sobre a melhor forma de obter informação útil para combater o racismo seria ainda importante avaliar que resultados tiveram medidas semelhantes às agora propostas nos poucos países em que foram concretizadas: no caso da Europa, apenas no Reino Unido e na Irlanda. Que eu saiba, não existe qualquer prova de que, nesses países, a produção de estatísticas raciais tenha contribuído para conter ou diminuir o racismo. Sabe-se, isso sim, que facilitaram a adoção de políticas de identidade racializadas. Há quem entenda que este é o melhor caminho no combate ao racismo. Não partilho a opinião. O combate ao racismo ganha em ser colocado no campo das políticas de igualdade, mais do que no das políticas de identidade. As primeiras permitem afirmar princípios universalistas de organização das sociedades na base dos quais tem sido possível reduzir progressivamente discriminações com uma longa história. As segundas celebram os particularismos, afirmam, em regra, o predomínio das heranças coletivas sobre as escolhas individuais, fragmentam as pertenças sociais, conduzem a uma erosão do sentido de pertença comum à coletividade política e promovem uma perceção tribal da diversidade. Ou seja, criam terreno fértil para a explosão de todas as formas de discriminação em torno das diferenças cuja irredutibilidade promovem.

6. No contexto atual de crescimento dos populismos nacionalistas, em particular na Europa, a relação entre racismo e políticas de identidade envolve não apenas desvantagens mas riscos. O contexto mudou e, hoje, o uso identitário de estatísticas raciais, que se fará assim que essas estatísticas estiverem disponíveis, independentemente da vontade e intenções dos seus produtores, facilitará menos a emergência de políticas de reconhecimento de minorias do que de políticas de afirmação nacionalista da maioria. Na Europa, isso significará o reforço de perceções racistas afirmando a superioridade branca, que se alimentarão de uma apropriação preconceituosa e discriminatória de eventuais estatísticas raciais.

7. Considerando os efeitos perversos e riscos que resultam de estatísticas públicas raciais, é totalmente desaconselhável a sua introdução na próxima operação censitária.

Os cemitérios dos socialistas




(…) “Nem com Fernando Medina, nem com Carlos César. A família César devia ser case study internacional. O jornal espanhol ABC já escreveu que “o presidente dos socialistas portugueses bate todos os recordes de nepotismo: o seu primo, a sua esposa, o seu filho, a sua nora e o seu irmão ocupam cargos políticos no organograma nacional e regional das ilhas dos Açores, de onde Carlos César é oriundo”. É caso para dizer que à mulher de César não basta ser. Como se não bastasse, descobrimos agora que há mais três Césares na Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa.”
Pedro Sousa Carvalho

Os cemitérios dos socialistas

Pedro Sousa Carvalho

O familygate chegou ao mundo dos mortos. Há uma associação com nove pessoas ligadas ao PS que quer, com dinheiros públicos, dinamizar os cemitérios lisboetas.

Se achou doentia a história das 40 nomeações de familiares de dirigentes socialistas para cargos no Governo ou na Administração Central ou Local, vai com certeza achar esta história mórbida.

Conta-nos o Expresso que a Câmara de Lisboa preparava-se para aprovar um protocolo com uma associação chamada Amigos dos Cemitérios de Lisboa (AACL), que passaria a ter poderes para desenvolver atividades nos cemitérios da cidade.

Esta proposta para “dinamizar os cemitérios lisboetas” — lá se vai o eterno descanso dos defuntos — terá partido de José Sá Fernandes, vereador eleito pelo PS. Segundo o semanário, o protocolo previa ainda que a Câmara cedesse um espaço no cemitério de Carnide para sede da Associação que iria contar também com o apoio de dinheiros da autarquia no valor de dez mil euros.

Esta história tem pelo menos duas coisas mirabolantes. A primeira é que o plano de atividades da Associação assume um conjunto de supostos compromissos da Câmara, tais como “a cedência de jazigos, a transladação de corpos para jazigos situados no Cemitério dos Prazeres”, havendo já uma lista de personalidades a ser transladadas, “várias a partir de outros cemitérios da cidade”.

Então é uma associação privada, e não o Estado, que vai escolher se Carlos Paredes ou Raul Solnado são enterrados no cemitério x ou y, ou na campa a ou b? Para os socialistas, à boa maneira de Luís XIV, L’État c’est moi. Não deixa de ser irónico que os socialistas tenham tantos pruridos contra o negócio das PPP na saúde e agora queiram fazer uma parceria pública-privada no domínio da morte.

A segunda coisa mirabolante desta história, e que foi revelada pelo vereador do PSD João Pedro Costa, é que os órgãos sociais da dita Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa são sobretudo militantes e dirigentes do PS, alguns com ligações familiares diretas. Não são um, nem dois, nem três. São nove, sendo que vários são familiares de… adivinhou, Carlos César.

Esta réplica do familygate, em versão mórbida, era caso para darmos uma valente gargalhada não estivéssemos nós a falar de mortos e de cemitérios. Na reunião de Câmara, perante o embaraço do socialista Fernando Medina, o social-democrata João Pedro Costa afirmou, com razão, que “querem fazer do Cemitério dos Prazeres um Panteão nº 2, onde se concentrará a elite escolhida por esta ilustre comissão socialista, que se substitui ao Estado”.

Nos órgãos sociais da dita Associação dos Amigos dos Cemitérios estão: “Jorge Ferreira, fundador e fotógrafo da campanha de António José Seguro e junta de freguesia do Lumiar; Pedro Almeida, fundador e funcionário do PS na Assembleia da República; a vice-presidente Inês César, sobrinha de Carlos César, funcionária da Gebalis; João Taborda, coordenador da CAF da junta do Lumiar; Catarina Farmhouse, assessora do PS no Ministério da Economia; Filipa Brigola, assessora do PS na Assembleia da República; Patrícia Vale César, deputada municipal do PS e esposa de Horácio César e mãe de Inês César, do PS; João Soares; Diogo Leão, deputado do PS; Horácio Vale César, irmão mais velho de Carlos César”.

Como se não houvesse socialistas a mais nesta história, conta-nos o Expresso que no seu plano de atividades, a Associação afirma já ter “autorização dada pelo vereador Duarte Cordeiro” para trasladações e cedências de jazigos. O socialista Duarte Cordeiro, para os mais distraídos, esteve na Câmara de Lisboa antes de subir ao Governo, onde foi ocupar o lugar deixado vago pelo seu amigo Pedro Nuno Santos como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. E foi ele quem escolheu Catarina Gamboa, mulher de Pedro Nuno Santos, para chefe de gabinete na secretaria dos Assuntos Familiares… desculpem, dos Assuntos Parlamentares.

Confrontado com toda esta história, o melhor que o presidente da Câmara de Lisboa conseguiu dizer foi o seguinte: “Em relação aos cemitérios, deve haver muitas pessoas associadas ao PSD nos vivos e também nos mortos”. Não contem com o socialista Fernando Medina para “enterrar” os colegas de partido.

Nem com Fernando Medina, nem com Carlos César. A família César devia ser case study internacional. O jornal espanhol ABC já escreveu que “o presidente dos socialistas portugueses bate todos os recordes de nepotismo: o seu primo, a sua esposa, o seu filho, a sua nora e o seu irmão ocupam cargos políticos no organograma nacional e regional das ilhas dos Açores, de onde Carlos César é oriundo”. É caso para dizer que à mulher de César não basta ser. Como se não bastasse, descobrimos agora que há mais três Césares na Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa.

O que este caso caricato dos cemitérios vem mostrar é que o familygate não é um fenómeno ou uma coincidência de nomeações cruzadas de familiares para cargos públicos ou políticos. O familygate, o amiguismo, o compadrio, a partidarite aguda estão enraizados na sociedade, na política, nas empresas, na banca, na Administração Central e Local, e até nos cemitérios.

Nos discursos do 25 de abril, a direita ressuscitou o caso do familygate. Os social-democratas disseram rejeitar que “critérios clubístico-partidários ou de nepotismo familiar se sobreponham ao mérito e interesse coletivo” e os centristas exigiram um “pedido de desculpas ao Governo”, considerando que “a promiscuidade com o poder, seja de âmbito económico, partidário ou familiar, é incompatível com a dignidade democrática”.

Ferro Rodrigues, sempre pronto para despir as vestes de Presidente do Parlamento e vestir uma toga cor de rosa, saiu em defesa dos socialistas, condenando o que apelidou de “política de casos”. Como escrevia este sábado João Miguel Tavares no Público, Ferro Rodrigues aprecia o escrutínio, mas apenas em abstrato. Os “casos” escrutinados, em concreto, já são “arma dos fracos”.

Não podemos propalar grandes princípios democráticos abstratos no 25 de Abril e no 26 de abril nomear primos para serem assessores; no 27 de abril escolher a mulher do amigo para chefe de gabinete; no dia 28 de abril dar a morada falsa no Parlamento para arrecadar mais ajudas de custo; no dia 29 de abril acumular subsídios indevidos para viajar para os Açores; no dia 30 de abril marcar falsas presenças no Parlamento; e no dia 1 de maio criar associações de amigos socialistas para, com dinheiros públicos, escolher onde enterrar os nossos mortos.

Churchill dizia que na guerra uma pessoa só pode ser morta uma vez, mas que na política podia ser morta várias vezes. Devemos, ao contrário do que diz Ferro Rodrigues, expor, denunciar e repudiar os “casos”, para que a política, o Parlamento e o Governo não se transformem num cemitério de valores, da ética republicana e da dignidade democrática.

Taxas dos vistos gold deram ao Estado 167 milhões de euros em sete anos / Ana Gomes considera imoral regime fiscal para residentes não habituais no país



Mais uma garrafinha de Porto ancestral para Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal !?
OVOODOCORVO

Taxas dos vistos gold deram ao Estado 167 milhões de euros em sete anos
Revista de Imprensa JE  29 Abril 2019, 08:19
Até março houve mais de 19 mil vistos gold aprovados em Portugal.
(…) “Há uma parte que deixa caducar o visto gold e não o pretende renovar, mas não deve ser uma percentagem muito elevada”, disse ao diário portuense Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal – os líderes na obtenção destes vistos em Portugal.”

Entre 2012 e 2019, o Estado português encaixou mais de 167 milhões de euros com a emissão e renovação de vistos gold, escreve o” Jornal de Notícias” (JN) na edição desta segunda-feira, 29 de abril.

Até março deste ano registaram-se 19.704 aprovações destas autorizações de residência no país para atividade de investimento e 17 mil atos de renovação, o que gerou cerca de 24 milhões de euros anuais em taxas.

Os valores arrecadados são repartidos entre o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e o Fundo para as Relações Internacionais do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Segundo os dados divulgados pelo JN, 68% dos beneficiários deste programa mantiveram-no.

“Há uma parte que deixa caducar o visto gold e não o pretende renovar, mas não deve ser uma percentagem muito elevada”, disse ao diário portuense Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal – os líderes na obtenção destes vistos em Portugal.




Ana Gomes considera imoral regime fiscal para residentes não habituais no país
27.04.2019 21:29 por Lusa

"Os pensionistas portugueses continuam a levar uma talhada nos impostos, mas os pensionistas franceses ou finlandeses têm vindo para cá com isenção por dez anos", disse.

A eurodeputada socialista Ana Gomes insurgiu-se hoje contra o regime fiscal dos residentes não habituais em vigor em Portugal, considerando-o uma "discriminação total" contra os portugueses, e defendeu que são precisos "eurocríticos e não eurobeatos".

Estas mensagens foram deixadas pela ainda deputada do PS no Parlamento Europeu numa conferência promovida pelo Bloco de Esquerda sobre combate aos paraísos fiscais, que decorreu na Fundação José Saramago, em Lisboa

domingo, 28 de abril de 2019

If we care about plastic waste, why won’t we stop drinking bottled water?



If we care about plastic waste, why won’t we stop drinking bottled water?

We have all seen the damage plastic waste is doing around the world – but sales of bottled water have continued to grow

Simon Usborne
Sun 28 Apr 2019 14.00 BST

For all the innovation and choice that define the food and drink industries, if you want to make money, you could do a lot worse than bung some water in a bottle and flog it. A litre of tap water, the stuff we have ingeniously piped into our homes, costs less than half a penny. A litre of bottled water can cost well over a pound, especially for something fancy that has been sucked through a mountain.

Yet the bottled water market is more buoyant than ever, defying the plastics backlash inspired by stricken albatrosses on the BBC’s Blue Planet, and a broader, growing sense that something has to change.

Sales in the UK were worth a record £558.4m in the year to last November, an increase of 7%, according to the latest figures from the market analyst Kantar. Separate data from the analysts Nielsen show that last year we guzzled more than 2.2bn litres of bottled water, including “take-home” and “on-the-go” products. That’s an annual rise in volume of 8.5%.

Imagine laying out half-litre bottles on the pitch at Wembley Stadium. You could fit 1.7m bottles on the grass, packed into a tight grid. Now imagine building up layers of bottles, covering the same area, to build a tower. To contain all the bottled water we buy each year, you would end up with a 514-metre skyscraper – 200 metres taller than the Shard.

Environmental campaigners are struggling to fathom why nations blessed with clean tap water grow only fonder of the bottle. “It’s very surprising to me,” says Sam Chetan-Walsh, a political adviser at Greenpeace and campaigner against ocean plastic. “Public awareness has never been higher, but the message is not quite reaching all the people it needs to.”

Where it is heard, the message is stark. As well as requiring oceans of fossil fuels to make and ship, single-use plastics of all types are polluting our cities and seas. Blue Planet II, broadcast in 2017, showed how albatrosses unwittingly feed plastic fragments to their chicks, ultimately killing them, and how even dolphin milk can become contaminated.

Campaigners cite the show as a watershed moment, and moves against various plastics have gathered pace, from shopping bags to straws and plastic-lined coffee cups. Chetan-Walsh argues that bottled water is different because the alternatives are so obvious. “If a product that is so nakedly unnecessary can exist, then the whole system is failing,” he says.

Hope is not entirely out of reach. That plastic skyscraper conceals attempts in the bottled water industry to change. If nothing else, the rate of growth has begun to ease (sales were up 7% in the year to November 2018, compared with 8% the previous year).

But even if large numbers of us are quitting bottled water because of care for the environment, others are taking it up. The introduction of the “sugar tax” on juices and fizzy drinks has pushed more people to bottled water, while health awareness has boosted its desirability. Kantar says tap water consumption is growing at roughly the same pace (we still drink almost three times as much tap water as bottled water).

So the plastic tide only creeps higher. The industry is quick to point out that all its bottles are recyclable. “But collection rates are, at the most generous estimates, 56%, so the actual recycling rate will be lower than that,” Chetan-Walsh says. And while bottles may be recyclable, very few are made of recycled plastic. Highland Spring launched recycled half-litre “eco” bottles alongside its standard bottles in January; Evian has vowed to use only recycled plastic across its range by 2025.

Chetan-Walsh believes in a ban on single-use bottles. Bans exist in some places. Glastonbury festival organisers announced that water bottles will not be sold this summer. San Francisco has banned them from city property and events. Last year, the UK parliament set out plans to ban single-use plastic from its estate.

Water bottlers, unsurprisingly, don’t support bans. But they raise concerns about health rather than bottom lines. Last month, the chief executive of Harrogate Water, James Cain, said that bans would “result in greater consumption of sugary drinks, adding to all the health dangers of obesity, diabetes and tooth decay”.

Kinvara Carey, general manager of the Natural Hydration Council, an association of the biggest bottled water manufacturers, cites a survey in which people were asked what they would do if bottled water were not available. “Forty-four per cent would buy another drink, which is not great, 14% would go without and 4.5% said they would find a fountain,” she says. “The choice is important.”

What if fountains were more numerous, and tap water more clearly available in cafes, restaurants and elsewhere? The London mayor, Sadiq Khan, is installing dozens of fountains in partnership with Thames Water. There are similar initiatives elsewhere. Before plastic and the marketing that made us think we needed bottled water in the first place, fountains were an urban fixture.

Greenpeace, among others, is also pushing for a “deposit return” scheme in which a levy on bottled water would be refunded to customers who returned the plastic for recycling.

Even if bottled water sales are growing slightly more slowly, the industry is racing to adapt to changing concerns and tastes. Flavoured water is booming: sales of the sparkling variety shot up by 20%, according to the latest Kantar data. Meanwhile, brands including Evian, as well as a range of startups, are selling high-end reusable bottles. And if you must fill them with tap water, why not add flavouring?

As the owner of multiple sugary drink brands – and Aquafina bottled water – PepsiCo is facing challenges on health and environmental fronts. Last year, the company bought SodaStream for $3.2bn (the drinks machines make tap water fizzy; you add flavours). It also launched Drinkfinity, a range of fancy bottles that work with tap water and flavour pods (think more lemongrass and spirulina than 7 Up). The bottle is reusable. The pods? Not so much, and, yes, they are made of plastic, although Pepsi invites users to post them back for recycling.

As is so often the case, ingenious marketing can trump reason; awareness is rarely enough. “There is always this kind of slip between concern, intent and changed behaviour,” says Giles Quick, an analyst at Kantar. “The best example is five a day. Almost everyone is aware of it, but something like 15% of us achieve it.” Unless a far-reaching bottle ban does come into force, it will be up to consumers to not only demand change – but to act themselves.