Plano
para a Fonte da Telha prevê demolição de casas e bares de praia
Pescadores
vão ser realojados num novo bairro e quase todos os estabelecimentos
comerciais terão de ser relocalizados. Execução do plano de
pormenor tem um custo estimado de 29,5 mil milhões de euros
Marisa Soares /
8-9-2015 / PÚBLICO
O Plano de Pormenor
da Fonte da Telha, em consulta pública até 12 de Novembro, prevê a
demolição de quase todas as construções existentes na zona entre
a Arriba Fóssil da Costa da Caparica e o cordão dunar daquela zona
de frente atlântica do concelho de Almada. O objectivo é
deslocalizar casas e estabelecimentos comerciais construídos sem
licença ou em locais demasiado expostos ao avanço do mar,
construindo um novo bairro para os pescadores, melhorando
acessibilidades e requalificando a área natural envolvente.
As intervenções,
que, segundo o documento, terão um custo total de 29,5 mil milhões
de euros, deverão servir para “lavar a cara” de uma das zonas
mais procuradas pelos banhistas (8000 a 10.000 por dia) dos concelhos
de Lisboa e da Margem Sul do Tejo durante o Verão, concretizando
algumas medidas planeadas há mais de 20 anos.
A Fonte da Telha
começou por ter um pequeno núcleo de pescadores, no início do
século XX, que foram construindo habitações não licenciadas —
nos meados da década de 1950, seriam cerca de 30. A ocupação foi
evoluindo e, no final da década de 1980, foram contabilizados 670
edifícios, sobretudo casas de férias.
Apesar da demolição
de grande parte das habitações ilegais (576) no final dos anos 80 e
início dos anos 90, o desordenamento mantémse. Casas dispersas, sem
qualquer plano urbanístico e sem as infraestruturas necessárias,
encaixadas na arriba ou sobre o cordão dunar, fazem daquela zona “um
aglomerado [que se estende ao longo de dois quilómetros]
urbanisticamente desqualificado e paisagisticamente degradado”,
lê-se no relatório do plano de pormenor.
Agora, a Câmara de
Almada quer intervir numa área de 85 hectares, na faixa litoral
entre o mar e a arriba fóssil, incluindo as áreas de ocupação
urbana de origem clandestina, a praia e o cordão dunar. Vão ser
demolidas praticamente todas as habitações, onde residem perto de
400 pessoas, e será criado um novo bairro com 70 casas destinadas à
comunidade piscatória, dando prioridade às pessoas que comprovem
ter ali a primeira habitação (pelo menos 20% das casas são
ocupadas apenas sazonalmente). Os restantes moradores serão
realojados fora da área de intervenção, em habitações
municipais.
No novo aglomerado
serão também relocalizados 19 estabelecimentos comerciais e uma
unidade de alojamento local. O restaurante Retiro do Pescador é um
dos que terão de se mudar. “Não estou de acordo, mas vamos ver.
Não sabemos se nos vão arranjar outro espaço ou não, temos que
aguardar”, diz o actual proprietário, Hélder Silva, que herdou o
negócio dos avós. “Estamos aqui há 60 anos, isto começou por
ser uma barraquinha de madeira”, descreve o também pescador, mais
preocupado com o restaurante do que com a habitação, que também
irá abaixo. “Sei que vou ter direito a outra”, diz, lamentando
não saber “mais nada”.
O plano de pormenor
prevê também a demolição integral de sete dos dez bares e
restaurantes de apoio à praia (o Rampa, o Lareira e o Bambu Bar
foram já construídos de acordo com as indicações do plano de
ordenamento da orla costeira), e a reconstrução em cotas mais
altas, uma vez que a zona está sujeita a galgamentos marítimos e à
queda de blocos das arribas. Em 100 anos, a cota de galgamento
oceânico (onde o mar pode chegar em dias de tempestade) estará nos
10,9 metros, segundo os cálculos científicos. Por isso, o documento
propõe também a reconstituição do sistema dunar com reposição
de areias até à cota dos 12 metros, com a construção de
passadiços sobreelevados para acesso à praia.
A zona a demolir
será integrada na Rede Ecológica Nacional, estando prevista a sua
arborização. Está prevista também a recuperação da vegetação
autóctone degradada e a plantação de espécies características
das zonas costeiras.
Sem comentários:
Enviar um comentário