Serão tomadas as medidas
"necessárias" para garantir estabilidade financeira, garante Passos
LUSA 01/08/2014 -
PÚBLICO
"Esta é uma
fase em que o supervisor, o Banco de Portugal, precisará de monitorizar a
situação e propor aquilo que achar que é adequado e recomendável",
reforçou o primeiro-ministro, que está de férias no Algarve.
O
primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que o Banco de Portugal
irá tomar todas as medidas "necessárias", no âmbito da crise do Banco
Espírito Santo (BES), para garantir a estabilidade financeira do país.
"Esta é uma
fase em que o supervisor, o Banco de Portugal, precisará de monitorizar a
situação e propor aquilo que achar que é adequado e recomendável. Aquilo que é
importante, em qualquer caso, é que as pessoas saibam que o supervisor, o Banco
de Portugal, tomará todas as medidas que são necessárias, de modo a garantir a
estabilidade financeira", afirmou o chefe do Governo, em declarações aos
canais de televisão no Algarve, onde está a gozar um período de férias.
"A
estabilidade financeira é muito importante para a nossa economia e para o
emprego, e não deixaremos de tomar todas as medidas que forem necessárias para
garantir essa estabilidade", reforçou Passos Coelho.
O
primeiro-ministro admitiu que se for necessário deslocar-se a Lisboa o fará,
salientando, no entanto, que o vice-primeiro, Paulo Portas, e a ministra das
Finanças, Maria Luís Albuquerque, estão a acompanhar a situação do banco, agora
liderado pelo economista Vítor Bento. "Se for preciso regressar a Lisboa,
irei com certeza, mas está o senhor vice-primeiro-ministro à frente do Governo
nesta altura, ele fará férias quando eu regressar, e a senhora ministra das
Finanças também acabou as suas férias e está em posição de poder acompanhar
toda esta situação. Se for necessário também não deixarei de me deslocar, mas
espero que cada um no seu posto possa fazer aquilo que é preciso se for preciso
fazer alguma coisa", concluiu.
Hoje, a Espírito
Santo Financial Portugal (ESFP) admitiu a sua incapacidade para honrar
compromissos e avançou com um pedido de insolvência que visa lançar um processo
especial de revitalização, ao abrigo do Código de Insolvência e Recuperação de
Empresas (CIRE).
A ESFP é detida a
100% pelo Espírito Santo Financial Group (ESFG) e apresentou um "pedido de
insolvência conforme o disposto no artigo n.º 17-A do Código da Insolvência e
Recuperação de Empresas ou CIRE", lê-se num comunicado disponível na
Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O pedido de
insolvência apresentado pela ESFP (o quinto no universo GES) surge no mesmo dia
em que a Espírito Santo Financière (ESFIL), 'holding' detida a 100% pelo ESFG e
que é dona do suíço Banque Privée Espírito Santo, pediu gestão controlada no
Luxemburgo, sendo a quarta empresa do Grupo Espírito Santo (GES) a fazê-lo.
A ESFIL foi assim
a quarta companhia do GES, do qual o BES é o principal activo, a avançar com um
pedido de gestão controlada no Luxemburgo, depois de a Espírito Santo
International (ESI), da Rioforte e do ESFG.
Hoje à tarde, a
CMVM suspendeu a negociação das acções do BES até à divulgação de informação
relevante sobre o emitente depois de o banco ter registado um novo mínimo
histórico nos 0,105 euros, uma queda de quase 50%.
O BES anunciou na
quarta-feira um resultado líquido negativo de 3.577,3 milhões de euros entre
Janeiro e Junho, um valor que compara com o prejuízo de 237,4 milhões de euros,
apurado no primeiro semestre de 2013.
O BES não pode ser um novo BPN
Por Luís Rosa
publicado em 2
Ago 2014 – in (jornal) i online
Com tudo o que ainda falta saber sobre a gestão de Ricardo Salgado,
esperemos que não se repita o filme do BPN, em que o buraco não parou de
aumentar
Sendo inevitável
essa intervenção, e estando ainda por apurar os contornos exactos, começam os
receios. A previsão actual, antes da conclusão das auditorias em curso, é que o
banco necessitará, no máximo, de um aumento de capital social de 3 mil milhões
para repor os rácios regulamentares na sequência dos prejuízo histórico
semestral de 3577 milhões de euros. Mas será que chega? Os contribuintes
recordam-se do caso BPN, em que o buraco financeiro começou por ser de 700
milhões de euros e em 2013 já ultrapassava os 5 mil milhões de euros antes da
venda ao BIC. Com tudo o que ainda falta saber sobre a gestão de Ricardo
Salgado, receia-se que o buraco do BES cresça exponencialmente, podendo obrigar
o Estado a ultrapassar os 6,4 mil milhões da linha da troika que ainda estão
disponíveis.
Outra questão são
os problemas de comunicação do primeiro-ministro – no que parece ser um problema
eterno. Oprimeiro-ministro começou por recusar a Ricardo Salgado qualquer
empréstimo ou liderança por parte da Caixa Geral de Depósitos de um sindicato
bancário que emprestasse fundos às empresas falidas do Grupo Espírito Santo. Poucos
diriam “não” a Salgado, mas o primeiro-ministro fê-lo.
Depois dessa boa
decisão, Passos fez questão de separar o Grupo Espírito Santo do BES, recusando
peremptoriamente por diversas vezes durante o mês de Julho a necessidade
iminente de intervenção do Estado no BES. Passos recordou que o banco tem
margem de manobra para fazer frente aos problemas. O primeiro-ministro chegou a
dizer que o banco “tem capitais próprios sólidos” e “apresenta uma margem
confortável para fazer face a todas as contingências, mesmo que elas se revelem
absolutamente adversas, o que não acontecerá com certeza”. Percebe-se a
intenção do primeiro-ministro: garantir aos contribuintes que nunca salvaria
famílias falidas devido a suspeitas de irregularidades graves. Mas o
primeiro-ministro tinha a obrigação de estar mais bem informado junto do Banco
de Portugal e de não ser tão precipitado na recusa de uma intervenção do
Estado.
2. Qualquer
membro da família Espírito Santo que tenha vivido o Verão Quente recordará as
humilhações sucessivas que passou em Portugal. A maior foi o congelamento das
suas contas bancárias pessoais e a autorização de pedir ao Banco de Portugal
para movimentar dinheiro. Ontem concretizou-se um regresso a 1975: o Banco de
Portugal voltou a emitir uma ordem para todo o sistema bancário em que proíbe
qualquer reembolso ou movimentação de contas de “pessoas especialmente
relacionadas com o BES”, segundo o despacho noticiado pelo Observador. Quer
isto dizer que os administradores e os seus familiares não poderão movimentar
dinheiro sem autorização do banco central, de forma a evitar fuga de capitais e
a precaver a ocultação de capitais no caso de eventuais condenações em
processos de contra-ordenação. Os comunistas de 1975
foram substituídos por Ricardo Salgado.
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