segunda-feira, 7 de julho de 2014

Ser vegetariano reduz para metade a pegada ecológica.

"Segundo um relatório divulgado no ano passado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a agricultura, principalmente aquela relacionada com a produção de carne e lacticínios, é responsável pelo consumo de 70% de água fresca no planeta, 38% do uso da terra e 19% da emissão de gases com efeito de estufa. Para alimentar a população mundial, a produção de alimentos teria de aumentar em 70% até 2050. Peter Scarborough considera "pouco provável" que a tendência actual possa continuar por muito mais tempo: "Tal como não haverá carne suficiente, não teremos também terra disponível para suportar o seu sustento."

Ser vegetariano reduz para metade a pegada ecológica
Por Marta Cerqueira
publicado em 8 Jul 2014 in (jornal) i online

Comer carne duplica emissões de CO2. Cada europeu consome 76 kg por ano, mas está na hora de mudar a dieta, avisam os especialistas
Os vegetarianos podem finalmente exibir provas científicas para defender o seu estilo de vida. Um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, demonstra que banir a carne da nossa alimentação poderia reduzir para metade a emissão de gases com efeito de estufa.

A equipa de investigadores comparou a diferença nas emissões de CO2 de cerca de 55 mil consumidores. Na amostra estavam incluídos vegetarianos, vegans, os que comem só peixe e também aqueles que não fazem qualquer tipo de restrições na sua dieta - e, dentro desse patamar, foram comparadas as quantidades de carne ingeridas por cada um. As conclusões deste estudo mostram que os consumidores de carne produzem 7,3 quilos de CO2 por dia e quem se alimenta só de peixe gera cerca de 3,9 quilos de CO2.

A diferença é mais significativa quando comparada com quem cortou radicalmente a carne da alimentação: os vegetarianos produzem cerca de 3,8 quilos de CO2, e os vegans 2,9 quilos. Resta lembrar que, enquanto um vegetariano exclui todos os tipos de carne e derivados, os vegans não consomem nenhum produto de origem animal - lacticínios, ovos ou mel, por exemplo -, ou ainda produtos testados em animais, como alguns cosméticos e artigos de limpeza.

Para a investigação foram analisados os hábitos de consumidores entre os 20 e os 79 anos no Reino Unido, estimando as emissões de CO2 dos produtos consumidos, com base numa dieta de 2 mil calorias diárias. Peter Scarborough, coordenador da investigação, explicou ao i que, apesar de a amostra representar o Reino Unido, as conclusões seriam quase as mesmas em países com uma dieta semelhante, como é o caso da Europa do Norte, Estados Unidos e Austrália.

Segundo o investigador de Oxford, os valores podem variar consoante o tipo de carne mais consumido no país, isto porque o estudo diferencia as produções com mais poder de contaminação. Ou seja, a carne de bovino é a que gera mais emissões de carbono, com 68,8 kg de CO2, logo seguida da cabra e cordeiro que, por cada quilo de carne, produzem emissões de 64,2 kg de dióxido de carbono.

Para o especialista em nutrição e comportamentos alimentares, as alterações que se possam fazer a nível de produção pouco vão alterar o impacto das emissões totais associadas ao consumo de carne. Daí defender uma aposta em novos padrões de consumo. "A maior parte da contaminação associada ao consumo de carne acontece antes de os animais saírem das quintas de produção", explicou Scarborough, apontando o cultivo de alimentos para os animais, a libertação de gás metano da produção gástrica dos animais e o uso de fertilizantes como os grandes emissores de gases poluentes.

Não é a primeira vez que é feita uma ligação entre o consumo de carne e o impacto no ambiente. As Nações Unidas tinham já alertado para a urgência em mudar hábitos alimentares. Tendo em conta a previsão de 9,1 mil milhões de pessoas em 2050, o painel internacional de gestão do Programa Ambiental da ONU considerou "insustentável" o actual consumo de carne e lacticínios a nível mundial.

Segundo um relatório divulgado no ano passado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a agricultura, principalmente aquela relacionada com a produção de carne e lacticínios, é responsável pelo consumo de 70% de água fresca no planeta, 38% do uso da terra e 19% da emissão de gases com efeito de estufa. Para alimentar a população mundial, a produção de alimentos teria de aumentar em 70% até 2050. Peter Scarborough considera "pouco provável" que a tendência actual possa continuar por muito mais tempo: "Tal como não haverá carne suficiente, não teremos também terra disponível para suportar o seu sustento."


Fabricar carne artificial em laboratório tem sido apontado por especialistas como uma opção viável para reduzir a produção convencional. Scarborough considera, contudo, que o seu desenvolvimento é ainda "demasiado prematuro para se poder medir o impacto ambiental que pudesse advir do seu consumo". O investigador inglês prefere apontar como alternativa algumas das escolhas mais comuns entre os vegetarianos para substituir os bifes ou os hambúrgueres, como é o caso da soja e do tofu: "A produção destes alimentos liberta muito menos dióxido de carbono para a atmosfera, principalmente quando comparados com a carne bovina ou a de cordeiro."

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