quinta-feira, 3 de julho de 2014

Paul Singer, o bilionário americano que pode quebrar a Argentina / How one hedge fund titan could bankrupt Argentina.


Paul Singer, o bilionário americano que pode quebrar a Argentina

Dono de ‘fundo abutre’ derrotou o governo de Cristina Kirchner em tribunais americanos e aposta em economias arruinadas



SÃO PAULO E RIO - O protagonista da mais recente crise do governo de Cristina Kirchner não é argentino, não faz parte dos partidos da oposição nem participa de protestos contra o kirchnerismo. O americano Paul Singer, de 69 anos — nada a ver com o homônimo economista brasileiro — tem nas mãos as condições necessárias para incluir no discurso de Cristina a palavra “negociação”. Nos últimos 13 anos, sua empresa de gestão de recursos, a Elliott Management, acumulou títulos soberanos do governo. Com a decisão da Suprema Corte dos EUA, na semana passada, que determinou o pagamento integral destes papéis, Singer se tornou um dos principais credores, com um total de US$ 1,5 bilhão a receber.

Gestoras como a de Singer estão no centro da polêmica entre governo e credores que não aderiram às reestruturações da dívida argentina em 2005 e 2010. No jargão do mercado financeiro, estas gestoras são conhecidas como “fundos abutres” porque investem em papéis de empresas e de governos à beira do colapso. A Elliott Management é considerada uma das maiores. Administra US$ 24 bilhões em patrimônios aplicados nos mercados globais. Esses ativos incluem “fundos abutres", gestão de fortunas de famílias e administração de recursos de fundos de pensão. Com esse modelo de negócio, ele acumulou fortuna avaliada em US$ 1,5 bilhão pela revista “Forbes”.

— Uma gestora do tamanho da Elliott, com cerca de US$ 24 bilhões em ativos, tem força para colocar um país como a Argentina contra a parede e ganhar — diz o sócio de uma empresa de gestão de patrimônio no Brasil, que pediu anonimato.

O americano pertence ao grupo de bilionários nova-iorquinos com tradição no patrocínio de neoconservadores e políticos republicanos. Tem um filho gay e já se engajou doando alguns milhões de dólares em prol de campanhas pelo casamento de pessoas do mesmo sexo. Entre seus pares, Singer é considerado um “ás” em enxergar oportunidades de ganho em papéis considerados podres.

MITT ROMNEY É UM DOS CLIENTES

“Paul é intenso e perseverante em buscar oportunidades”, disse ao jornal “Financial Times" Daniel Loeb, criador do Third Point, hedge fund americano que busca chance de ganho correndo alto risco.

Singer nasceu em Nova Jersey. Tem formação em Psicologia, mas também cursou Direito em Harvard e seguiu carreira como advogado em Wall Street. Em 1977, decidiu investir o patrimônio da família, de US$ 1,3 milhão, e criou a Elliott Management. Trabalhava com uma fórmula de “arbitragem conversível", que explora as diferenças de valor entre a dívida conversível de uma empresa e suas ações. Mas sua empresa acabou crescendo e comprando dívida de companhias e de países à beira do calote. Em 1996, o fundo comprou US$ 11 milhões em dívidas do Peru e, após batalhas legais, recebeu US$ 58 milhões. Comprou títulos no valor de US$ 10 milhões da República Democrática do Congo. Novamente entrou em disputa judicial por US$ 400 milhões, e terminou embolsando US$ 127 milhões, segundo o britânico “The Telegraph”.

Entre seus clientes, estão o ex-candidato à Presidência dos EUA Mitt Romney e o fundo de pensão de Nova Jersey.

— A Elliott tem um dos hedge funds mais antigos da indústria americana. Eles são bastante bons no que fazem — avalia Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Securities no Brasil.

Singer não gosta do termo “fundo abutre” para classificar seu negócio, segundo o “Financial Times”. Em rara entrevista em 2008, à agência Bloomberg, defendeu sua estratégia, dizendo que há países “cujos líderes estão confortáveis e há pobreza. Se alguém se senta e conversa com você, há acordo. Caso contrário, você vai aos tribunais”.

Neste sábado, o governo argentino publicou um comunicado de página inteira no jornal americano "The Wall Street Journal", intitulado "A Argentina quer continuar a pagar as suas dívidas, mas não deixam", com a posição do país diante do conflito judicial com os "fundos abutres". O texto, assinado pelo "Gabinete do Presidente - República Argentina", começa com a frase: "A Argentina quer continuar a pagar as suas dívidas, como tem feito desde 2005, mas agora não pode por ordem do juiz Thomas Griesa e a recusa do Supremo Tribunal Federal em analisar o caso".


Em comunicado no 'Wall Street Journal', Argentina diz que 'quer pagar, mas não deixam'

Governo reitera discurso de Cristina Kirchner com publicação paga no jornal americano

POR O GLOBO, COM LA NACIÓN

BUENOS AIRES - O governo argentino publicou neste sábado um comunicado de página inteira no jornal americano "The Wall Street Journal", intitulado "A Argentina quer continuar a pagar as suas dívidas, mas não deixam", com a posição do país diante do conflito judicial com os "fundos abutres". O texto, assinado pelo "Gabinete do Presidente - República Argentina", começa com a frase: "A Argentina quer continuar a pagar as suas dívidas, como tem feito desde 2005, mas agora não pode por ordem do juiz Thomas Griesa e a recusa do Supremo Tribunal Federal em analisar o caso".

O comunicado menciona o calote de 2001 e suas consequências, o crescimento da última década, o pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e os acordos alcançados no Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (Ciadi), o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Também se refere ao acordo com o Clube de Paris e Repsol (YPF).

O comunicado replica, em grande parte, o discurso de sexta-feira da presidente Cristina Kirchner. O foco é no último parágrafo, em que o país expressa seu desejo de negociar, embora o texto mencione os "fundos abutres" e sua "voracidade".

Após três dias de sinais mistos que agitaram o fantasma de um novo calote, a presidente Cristina Kirchner esclareceu a posição oficial e deixou claro que o governo está disposto a negociar com os "fundos abutres" para pagar a dívida pendente. Nas palavras de Cristina, reforçadas no comunicado publicado no "The Wall Street Journal", o governo parece descartar a possibilidade de ignorar a decisão do juiz Thomas Griesa.

— Queremos atender a cem por cento dos credores — disse a chefe de Estado em comemoração ao Dia da Bandeira na cidade de Rosário, província de Santa Fé. — Queremos atender aos 92,4% de credores que concordaram com as renegociações de 2005 e 2010, e também com aqueles que não aceitaram. Só pedimos que nos criem condições de negociação justas e de acordo com a Constituição Argentina, as leis nacionais e contratos assinados também como país com estes 92,4% dos credores — acrescentou.

Após o discurso de Cristina Kirchner, o juiz americano Thomas Griesa disse que a intenção da Argentina de honrar seus compromissos a condições mais favoráveis ao país contraria a decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos. As informações são do periódico argentino “Clarín”. O periódico diz que Griesa “não está disposto” a ajudar a Argentina a cumprir com suas obrigações.

Em documento divulgado neste sábado, cerca de 300 organizações de trabalhadores, pequenos e médios empresários, camponeses, intelectuais e estudantes repudiaram a atuação dos "fundos abutre" e a interpretação "maliciosa" do juiz Griesa sobre a renegociação da dívida argentina.


"Esta interpretação mina a soberania do nosso país e ameaça a possibilidade de um maior crescimento com inclusão social, que, ao contrário do ajuste e dependência proposto pelas velhas receitas do neoliberalismo, nos permitiram cumprir os nossos compromissos financeiros e social", acrescentou o manifesto.

How one hedge fund titan could bankrupt Argentina

On the surface, the 11-year-old battle between one 69-year-old New York hedge fund mogul and Argentina seems hardly fair — especially when several other countries joined the fight and lined up alongside the South American country.
But today, that person, billionaire investor Paul Singer, head of Elliott Management, could get
closer than he’s ever been to taking down an entire country.
The US Supreme Court met Thursday to decide if it will accept Argentina’s appeal of a lower court decision that it must pay Singer roughly $1.4 billion on bonds the country defaulted on 13 years ago. A decision is expected to be announced on Monday.
Eventually, Singer stands to collect more than $3 billion on bonds with a face value of about $630 million.
While most holders of the bonds agreed to a steep haircut when Argentina restructured its debt, Singer, who paid about 22 cents on the dollar for some of his bonds, refused — claiming he had the right to hold out for the entire amount. Others would latch on to Singer’s legal fight.
Two separate US courts would later agree with Singer.
Argentina now claims the amount due all the holdouts, with interest, is about $15 billion — more than half of the country’s entire $28 billion in reserves. The country’s gross domestic product in 2012 was $475 billion.
If the Supreme Court rejects Argentina’s appeal outright, then lawyers for the country wrote in a recent confidential memo that it could consider defaulting on all its debt so it could avoid paying Singer — whom Cristina Kirchner, the country’s president, has called “a vulture.”
Here are the highlights of Singer’s 11-year struggle.
Oct. 19, 1994: Argentina enters agreement with Bankers Trust to issue sovereign debt in New York in what will ultimately total about $82 billion. President Carlos Menem’s embrace of privatization promises reform and attracts foreign investment to keep the government afloat.
Dec. 26, 2001: Following a deep economic crisis triggered by troubles in Russia, Brazil and even the US dot-com crash, Argentina defaults on the $82 billion. It’s the largest sovereign default in history. The economy contracts by almost 30 percent and about 50 percent of Argentines are poor.
April 10, 2003: Paul Singer’s Elliott Management hedge fund, using a secret Caymans Island fund called NML Capital, files the first of several claims against Argentina seeking full payment on Argentine bonds it purchased shortly before and after default. By 2008, Singer’s purchases of defaulted bonds would total around $900 million, including interest that varied from 9.75 percent to 12 percent.
Jan. 14, 2005: Under newly elected President Nestor Kirchner, Argentina begins restructuring the debt. About 76 percent of the bondholders agree to accept new bonds worth 25 to 35 percent of the old ones. In 2010, another debt exchange — with terms sweetened by warrants tied to the economy’s growth — encourages another 17 percent of bondholders to sign on. Holdouts now account for only 7 percent of bondholders.
2005-2008: Singer obtains several judgments against Argentina, but the country refuses to pay him or the other holdouts more than those who accepted the haircut, and claims sovereign immunity. A global search for Argentine assets by Singer begins. In one of his boldest moves, Singer tries to attach Argentina’s dollar reserves held at the Federal Reserve Bank of New York. Singer also finances a lobbying group, “American Task Force Argentina,” to enlist Congress to get his money from Argentina. Singer-supported senators introduce legislation to that effect, but the effort goes nowhere.
February 23, 2012: Frustrated by Argentina’s recalcitrance, a Manhattan federal judge sides with a new Singer argument that the country must pay him and other holdouts the original, higher payments whenever it makes the lower payments to the bondholders who agreed to the haircut.
Oct. 4, 2012: Singer convinces the government of Ghana to seize an Argentine military ship, the ARA Libertad, when it arrives in port in the African country. Singer seeks to take the ship to satisfy a portion of its claim. After being held for two months, the ship is ordered released by the International Tribunal for the Law of the Sea, a UN court.
Oct. 29, 2012: A federal appeals court upholds the lower court order. Argentina President Cristina Kirchner — who took over from her husband in 2007 — vows to never pay “one dollar to the vulture funds.” Some $1.4 billion is now at stake in this case. But fear of default on the nearly $30 billion in restructured bonds roils the market. After some skirmishing, the court reaffirms its order on Aug. 24, 2013.
Feb. 18, 2014: Argentina asks the US Supreme Court to take its case. Argentina says total holdout claims, with interest, now come to $15 billion — more than 50 percent of its $28 billion in reserves. Singer’s total claims are estimated to be more than $3 billion. France, Mexico and Brazil support Argentina. Singer lines up Italian investors and some retired federal judges to back him.
June 12, 2014: The Supreme Court holds a conference to consider Argentina’s petition. There are three possible outcomes. First, it could take the case. Second, it could put the request on hold and ask the US Solicitor General for its opinion. Lastly, it could deny Argentina outright. Argentina’s lawyers have advised the country that its “best option” in the case of an outright denial could be to default on the exchange bonds, then restructure them “outside of the reach of American courts.” Such a move could hurt the country financially.

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