Paul Singer, o bilionário
americano que pode quebrar a Argentina
Dono de ‘fundo abutre’ derrotou o
governo de Cristina Kirchner em tribunais americanos e aposta em economias
arruinadas
POR JOÃO SORIMA
NETO E CLARICE SPITZ / http://oglobo.globo.com/economia/paul-singer-bilionario-americano-que-pode-quebrar-argentina-12961526
SÃO PAULO E RIO -
O protagonista da mais recente crise do governo de Cristina Kirchner não é
argentino, não faz parte dos partidos da oposição nem participa de protestos
contra o kirchnerismo. O americano Paul Singer, de 69 anos — nada a ver com o
homônimo economista brasileiro — tem nas mãos as condições necessárias para
incluir no discurso de Cristina a palavra “negociação”. Nos últimos 13 anos,
sua empresa de gestão de recursos, a Elliott Management, acumulou títulos
soberanos do governo. Com a decisão da Suprema Corte dos EUA, na semana
passada, que determinou o pagamento integral destes papéis, Singer se tornou um
dos principais credores, com um total de US$ 1,5 bilhão a receber.
Gestoras como a
de Singer estão no centro da polêmica entre governo e credores que não aderiram
às reestruturações da dívida argentina em 2005 e 2010. No jargão do mercado
financeiro, estas gestoras são conhecidas como “fundos abutres” porque investem
em papéis de empresas e de governos à beira do colapso. A Elliott Management é
considerada uma das maiores. Administra US$ 24 bilhões em patrimônios aplicados
nos mercados globais. Esses ativos incluem “fundos abutres", gestão de
fortunas de famílias e administração de recursos de fundos de pensão. Com esse
modelo de negócio, ele acumulou fortuna avaliada em US$ 1,5 bilhão pela revista
“Forbes”.
— Uma gestora do
tamanho da Elliott, com cerca de US$ 24 bilhões em ativos, tem força para
colocar um país como a Argentina contra a parede e ganhar — diz o sócio de uma
empresa de gestão de patrimônio no Brasil, que pediu anonimato.
O americano
pertence ao grupo de bilionários nova-iorquinos com tradição no patrocínio de
neoconservadores e políticos republicanos. Tem um filho gay e já se engajou
doando alguns milhões de dólares em prol de campanhas pelo casamento de pessoas
do mesmo sexo. Entre seus pares, Singer é considerado um “ás” em enxergar
oportunidades de ganho em papéis considerados podres.
MITT ROMNEY É UM
DOS CLIENTES
“Paul é intenso e
perseverante em buscar oportunidades”, disse ao jornal “Financial Times"
Daniel Loeb, criador do Third Point, hedge fund americano que busca chance de
ganho correndo alto risco.
Singer nasceu em
Nova Jersey. Tem formação em Psicologia, mas também cursou Direito em Harvard e
seguiu carreira como advogado em Wall Street. Em 1977, decidiu investir o
patrimônio da família, de US$ 1,3 milhão, e criou a Elliott Management.
Trabalhava com uma fórmula de “arbitragem conversível", que explora as diferenças
de valor entre a dívida conversível de uma empresa e suas ações. Mas sua
empresa acabou crescendo e comprando dívida de companhias e de países à beira
do calote. Em 1996, o fundo comprou US$ 11 milhões em dívidas do Peru e, após
batalhas legais, recebeu US$ 58 milhões. Comprou títulos no valor de US$ 10
milhões da República Democrática do Congo. Novamente entrou em disputa judicial
por US$ 400 milhões, e terminou embolsando US$ 127 milhões, segundo o britânico
“The Telegraph”.
Entre seus
clientes, estão o ex-candidato à Presidência dos EUA Mitt Romney e o fundo de
pensão de Nova Jersey.
— A Elliott tem
um dos hedge funds mais antigos da indústria americana. Eles são bastante bons
no que fazem — avalia Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Securities no Brasil.
Singer não gosta
do termo “fundo abutre” para classificar seu negócio, segundo o “Financial
Times”. Em rara entrevista em 2008, à agência Bloomberg, defendeu sua
estratégia, dizendo que há países “cujos líderes estão confortáveis e há
pobreza. Se alguém se senta e conversa com você, há acordo. Caso contrário,
você vai aos tribunais”.
Neste sábado, o
governo argentino publicou um comunicado de página inteira no jornal americano
"The Wall Street Journal", intitulado "A Argentina quer
continuar a pagar as suas dívidas, mas não deixam", com a posição do país
diante do conflito judicial com os "fundos abutres". O texto,
assinado pelo "Gabinete do Presidente - República Argentina", começa
com a frase: "A Argentina quer continuar a pagar as suas dívidas, como tem
feito desde 2005, mas agora não pode por ordem do juiz Thomas Griesa e a recusa
do Supremo Tribunal Federal em analisar o caso".
Em comunicado no 'Wall Street
Journal', Argentina diz que 'quer pagar, mas não deixam'
Governo reitera discurso de
Cristina Kirchner com publicação paga no jornal americano
POR O GLOBO, COM
LA NACIÓN
21/06/2014 14:48
/ ATUALIZADO 21/06/2014 19:55 / http://oglobo.globo.com/economia/em-comunicado-no-wall-street-journal-argentina-diz-que-quer-pagar-mas-nao-deixam-12956802
BUENOS AIRES - O
governo argentino publicou neste sábado um comunicado de página inteira no
jornal americano "The Wall Street Journal", intitulado "A
Argentina quer continuar a pagar as suas dívidas, mas não deixam", com a
posição do país diante do conflito judicial com os "fundos abutres".
O texto, assinado pelo "Gabinete do Presidente - República
Argentina", começa com a frase: "A Argentina quer continuar a pagar
as suas dívidas, como tem feito desde 2005, mas agora não pode por ordem do
juiz Thomas Griesa e a recusa do Supremo Tribunal Federal em analisar o
caso".
O comunicado
menciona o calote de 2001 e suas consequências, o crescimento da última década,
o pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e os acordos alcançados no
Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (Ciadi), o
Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Também se refere ao
acordo com o Clube de Paris e Repsol (YPF).
O comunicado
replica, em grande parte, o discurso de sexta-feira da presidente Cristina
Kirchner. O foco é no último parágrafo, em que o país expressa seu desejo de
negociar, embora o texto mencione os "fundos abutres" e sua
"voracidade".
Após três dias de
sinais mistos que agitaram o fantasma de um novo calote, a presidente Cristina
Kirchner esclareceu a posição oficial e deixou claro que o governo está
disposto a negociar com os "fundos abutres" para pagar a dívida
pendente. Nas palavras de Cristina, reforçadas no comunicado publicado no
"The Wall Street Journal", o governo parece descartar a possibilidade
de ignorar a decisão do juiz Thomas Griesa.
— Queremos
atender a cem por cento dos credores — disse a chefe de Estado em comemoração
ao Dia da Bandeira na cidade de Rosário, província de Santa Fé. — Queremos
atender aos 92,4% de credores que concordaram com as renegociações de 2005 e
2010, e também com aqueles que não aceitaram. Só pedimos que nos criem
condições de negociação justas e de acordo com a Constituição Argentina, as
leis nacionais e contratos assinados também como país com estes 92,4% dos
credores — acrescentou.
Após o discurso
de Cristina Kirchner, o juiz americano Thomas Griesa disse que a intenção da
Argentina de honrar seus compromissos a condições mais favoráveis ao país
contraria a decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos. As informações são do
periódico argentino “Clarín”. O periódico diz que Griesa “não está disposto” a
ajudar a Argentina a cumprir com suas obrigações.
Em documento
divulgado neste sábado, cerca de 300 organizações de trabalhadores, pequenos e
médios empresários, camponeses, intelectuais e estudantes repudiaram a atuação
dos "fundos abutre" e a interpretação "maliciosa" do juiz
Griesa sobre a renegociação da dívida argentina.
"Esta
interpretação mina a soberania do nosso país e ameaça a possibilidade de um
maior crescimento com inclusão social, que, ao contrário do ajuste e
dependência proposto pelas velhas receitas do neoliberalismo, nos permitiram
cumprir os nossos compromissos financeiros e social", acrescentou o
manifesto.
How one hedge fund titan could bankrupt Argentina
By Michelle Celarier June 12, 2014 | 10:55am
/ http://nypost.com/2014/06/12/how-one-hedge-fund-titan-could-bankrupt-argentina/
On the surface, the 11-year-old battle
between one 69-year-old New York hedge fund
mogul and Argentina
seems hardly fair — especially when several other countries joined the fight
and lined up alongside the South American country.
But today, that person, billionaire
investor Paul Singer, head of Elliott Management, could get
closer than he’s ever been to taking down
an entire country.
The US Supreme Court met Thursday to decide
if it will accept Argentina ’s
appeal of a lower court decision that it must pay Singer roughly $1.4 billion
on bonds the country defaulted on 13 years ago. A decision is expected to be
announced on Monday.
Eventually, Singer stands to collect more
than $3 billion on bonds with a face value of about $630 million.
While most holders of the bonds agreed to a
steep haircut when Argentina
restructured its debt, Singer, who paid about 22 cents on the dollar for some
of his bonds, refused — claiming he had the right to hold out for the entire
amount. Others would latch on to Singer’s legal fight.
Two separate US courts would later agree with
Singer.
If the Supreme Court rejects Argentina’s
appeal outright, then lawyers for the country wrote in a recent confidential
memo that it could consider defaulting on all its debt so it could avoid paying
Singer — whom Cristina Kirchner, the country’s president, has called “a
vulture.”
Here are the highlights of Singer’s 11-year
struggle.
Oct. 19, 1994: Argentina
enters agreement with Bankers Trust to issue sovereign debt in New York in what will
ultimately total about $82 billion. President Carlos Menem’s embrace of
privatization promises reform and attracts foreign investment to keep the
government afloat.
Dec. 26, 2001: Following a deep economic
crisis triggered by troubles in Russia ,
Brazil and even the US dot-com crash, Argentina defaults on the $82
billion. It’s the largest sovereign default in history. The economy contracts
by almost 30 percent and about 50 percent of Argentines are poor.
April 10, 2003: Paul Singer’s Elliott
Management hedge fund, using a secret Caymans
Island fund called NML Capital, files
the first of several claims against Argentina seeking full payment on
Argentine bonds it purchased shortly before and after default. By 2008,
Singer’s purchases of defaulted bonds would total around $900 million,
including interest that varied from 9.75 percent to 12 percent.
Jan. 14, 2005: Under newly elected
President Nestor Kirchner, Argentina
begins restructuring the debt. About 76 percent of the bondholders agree to
accept new bonds worth 25 to 35 percent of the old ones. In 2010, another debt
exchange — with terms sweetened by warrants tied to the economy’s growth —
encourages another 17 percent of bondholders to sign on. Holdouts now account
for only 7 percent of bondholders.
2005-2008: Singer obtains several judgments
against Argentina ,
but the country refuses to pay him or the other holdouts more than those who
accepted the haircut, and claims sovereign immunity. A global search for
Argentine assets by Singer begins. In one of his boldest moves, Singer tries to
attach Argentina ’s dollar
reserves held at the Federal Reserve Bank of New York . Singer also finances a lobbying
group, “American Task Force Argentina ,”
to enlist Congress to get his money from Argentina . Singer-supported
senators introduce legislation to that effect, but the effort goes nowhere.
February 23, 2012: Frustrated by Argentina ’s recalcitrance, a Manhattan federal judge sides with a new
Singer argument that the country must pay him and other holdouts the original,
higher payments whenever it makes the lower payments to the bondholders who
agreed to the haircut.
Oct. 4, 2012: Singer convinces the
government of Ghana
to seize an Argentine military ship, the ARA Libertad, when it arrives in port
in the African country. Singer seeks to take the ship to satisfy a portion of
its claim. After being held for two months, the ship is ordered released by the
International Tribunal for the Law of the Sea, a UN court.
Oct. 29, 2012: A federal appeals court
upholds the lower court order. Argentina
President Cristina Kirchner — who took over from her husband in 2007 — vows to
never pay “one dollar to the vulture funds.” Some $1.4 billion is now at stake
in this case. But fear of default on the nearly $30 billion in restructured
bonds roils the market. After some skirmishing, the court reaffirms its order
on Aug. 24, 2013.
Feb. 18, 2014: Argentina asks the US Supreme Court
to take its case. Argentina
says total holdout claims, with interest, now come to $15 billion — more than
50 percent of its $28 billion in reserves. Singer’s total claims are estimated
to be more than $3 billion. France ,
Mexico and Brazil support Argentina . Singer lines up Italian
investors and some retired federal judges to back him.
June 12, 2014: The Supreme Court holds a
conference to consider Argentina ’s
petition. There are three possible outcomes. First, it could take the case.
Second, it could put the request on hold and ask the US Solicitor General for its
opinion. Lastly, it could deny Argentina
outright. Argentina ’s
lawyers have advised the country that its “best option” in the case of an
outright denial could be to default on the exchange bonds, then restructure
them “outside of the reach of American courts.” Such a move could hurt the
country financially.
Sem comentários:
Enviar um comentário