segunda-feira, 7 de julho de 2014

Do "Manifesto dos 74" ao relatório dos 4 / Instituto alemão defende perdão da dívida aos países do sul.


EDITORIAL
Do "Manifesto dos 74" ao relatório dos 4
DIRECÇÃO EDITORIAL 08/07/2014 - PÚBLICO

Um grupo de quatro economistas fez um relatório com propostas concretas para renegociar a dívida.
O tema da reestruturação começou a ser discutido em Março, quando um grupo de personalidades, da direita à esquerda, subscreveu o “Manifesto dos 74”, em que se defendia a renegociação da dívida pública. Na altura, neste mesmo espaço, o PÚBLICO criticou o timing da iniciativa, porque estávamos a escassas semanas de terminar o programa da troika. Agora que o resgate acabou e que Portugal conseguiu garantir o regresso aos mercados, a altura é propícia para voltar a debater o tema, que tem sido tratado pelos líderes europeus como um tema tabu.

A estratégia de meter a cabeça na areia cai por terra quando se espreita e se vê um país como Portugal com um nível de dívida pública que actualmente ronda os 130% e preso às amarras do tratado orçamental. Só mesmo com muito boa vontade e com alguma demagogia pelo meio é que se pode dizer que Portugal vai conseguir honrar os seus compromissos sem condenar a economia a décadas de estagnação.

E não é só cá dentro que se vai reconhecendo que o endividamento excessivo não é um problema que se resolve sozinho. Até o insuspeito Hans-Werner Sinn, presidente do instituto ifo, veio exortar os alemães para a necessidade de se ter de fazer alguma coisa para resolver o problema da dívida dos países periféricos na Europa.

Por cá, depois do "Manifesto dos 74", um grupo de quatro economistas elaborou um relatório em que apresenta propostas concretas para reestruturar a dívida. O relatório terá com certeza algumas falhas, como, por exemplo, a sugestão de impor perdas a detentores de certificados de aforro. Mas é um ponto de partida útil para o debate.

Podemos sempre rebater que esta discussão só é eficaz se for feita a nível europeu e envolver os credores. Mas, como defendeu Hans-Werner Sinn, “quanto mais cedo se encarar a verdade, melhor”. E de algum lado tem de partir o debate.

Instituto alemão defende perdão da dívida aos países do sul
Por António Ribeiro Ferreira
publicado em 8 Jul 2014 in (jornal) i online
Presidente do Ifo dá como exemplo a crise asiática de 1997


É mais uma acha forte para a fogueira europeia numa altura em que as instâncias europeias escolhem o novo presidente da Comissão Europeia e a presidência rotativa da União Europeia, com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi ao leme, promete agitar as águas quase paradas da zona euro, com um desemprego altíssimo, uma inflação a escorregar perigosamente para a deflação e a economia a estagnar no primeiro trimestre do ano e com perspectivas muito fracas para o conjunto de 2014. E, ainda por cima, a acha vem da toda-poderosa Alemanha e de uma instituição altamente respeitada em todo o mundo. A sentença é clara: os países do sul devem ter um perdão da dívida para poderem retomar o crescimento económico, defendeu Hans-Werner Sinn, presidente do instituto Ifo económico alemão, citado pelo "Diário Económico". Em entrevista à Bloomberg, o responsável deu como exemplo a crise financeira asiática de 1997, que foi resolvida com recurso a perdão de parte da dívida. "As famílias e as empresas estão sobre-endividados, os bancos estão sobreendividados, os Estados estão sobreendividados e os bancos centrais nacionais estão sobreendividados" dentro do sistema euro", disse Sinn. Com o peso da dívida em níveis "quase insuportáveis??", adiantou o responsável, "precisamos de uma conferência da dívida na Europa para conceder alívio parcial para os países do sul", disse Sinn, rematando: "Isso tem que ser negociado em conjunto, uma vez que envolve vários países". Esta posição, completamente contrária à defendida pelo governo alemão e pela grande maioria dos países da moeda única, pode morrer na praia ou provocar um abalo telúrico favorável aos interesses de países como Portugal.

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