EDITORIAL
Do "Manifesto dos 74"
ao relatório dos 4
DIRECÇÃO
EDITORIAL 08/07/2014 - PÚBLICO
Um grupo de
quatro economistas fez um relatório com propostas concretas para renegociar a
dívida.
O tema da
reestruturação começou a ser discutido em Março, quando um grupo de
personalidades, da direita à esquerda, subscreveu o “Manifesto dos 74” , em que se defendia a
renegociação da dívida pública. Na altura, neste mesmo espaço, o PÚBLICO
criticou o timing da iniciativa, porque estávamos a escassas semanas de
terminar o programa da troika. Agora que o resgate acabou e que Portugal
conseguiu garantir o regresso aos mercados, a altura é propícia para voltar a
debater o tema, que tem sido tratado pelos líderes europeus como um tema tabu.
A estratégia de
meter a cabeça na areia cai por terra quando se espreita e se vê um país como
Portugal com um nível de dívida pública que actualmente ronda os 130% e preso
às amarras do tratado orçamental. Só mesmo com muito boa vontade e com alguma
demagogia pelo meio é que se pode dizer que Portugal vai conseguir honrar os
seus compromissos sem condenar a economia a décadas de estagnação.
E não é só cá
dentro que se vai reconhecendo que o endividamento excessivo não é um problema
que se resolve sozinho. Até o insuspeito Hans-Werner Sinn, presidente do
instituto ifo, veio exortar os alemães para a necessidade de se ter de fazer
alguma coisa para resolver o problema da dívida dos países periféricos na Europa.
Por cá, depois do
"Manifesto dos 74", um grupo de quatro economistas elaborou um
relatório em que apresenta propostas concretas para reestruturar a dívida. O
relatório terá com certeza algumas falhas, como, por exemplo, a sugestão de
impor perdas a detentores de certificados de aforro. Mas é um ponto de partida
útil para o debate.
Podemos sempre
rebater que esta discussão só é eficaz se for feita a nível europeu e envolver
os credores. Mas, como defendeu Hans-Werner Sinn, “quanto mais cedo se encarar
a verdade, melhor”. E de algum lado tem de partir o
debate.
Instituto alemão defende perdão
da dívida aos países do sul
Por António
Ribeiro Ferreira
publicado em 8 Jul
2014 in
(jornal) i online
Presidente do Ifo dá como exemplo a crise asiática de 1997
É mais uma acha
forte para a fogueira europeia numa altura em que as instâncias europeias
escolhem o novo presidente da Comissão Europeia e a presidência rotativa da
União Europeia, com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi ao leme, promete
agitar as águas quase paradas da zona euro, com um desemprego altíssimo, uma
inflação a escorregar perigosamente para a deflação e a economia a estagnar no
primeiro trimestre do ano e com perspectivas muito fracas para o conjunto de
2014. E, ainda por cima, a acha vem da toda-poderosa Alemanha e de uma
instituição altamente respeitada em todo o mundo. A sentença é clara: os países
do sul devem ter um perdão da dívida para poderem retomar o crescimento
económico, defendeu Hans-Werner Sinn, presidente do instituto Ifo económico
alemão, citado pelo "Diário Económico". Em entrevista à Bloomberg, o
responsável deu como exemplo a crise financeira asiática de 1997, que foi
resolvida com recurso a perdão de parte da dívida. "As famílias e as
empresas estão sobre-endividados, os bancos estão sobreendividados, os Estados
estão sobreendividados e os bancos centrais nacionais estão sobreendividados"
dentro do sistema euro", disse Sinn. Com o peso da dívida em níveis
"quase insuportáveis??", adiantou o responsável, "precisamos de
uma conferência da dívida na Europa para conceder alívio parcial para os países
do sul", disse Sinn, rematando: "Isso tem que ser negociado em
conjunto, uma vez que envolve vários países". Esta posição, completamente
contrária à defendida pelo governo alemão e pela grande maioria dos países da
moeda única, pode morrer na praia ou provocar um abalo telúrico favorável aos
interesses de países como Portugal.
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