quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mostrem a carta mandada ao FMI!


Mostrem a carta mandada ao FMI!
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 7 Maio 2014 in (jornal) i online
A transparência democrática tem preceitos e com o teor da carta conhecido logo se veria se há ou não novos compromissos

Para tirar teimas não há nada como mostrar preto no branco o teor da carta que o governo vai mandar ou já mandou ao FMI. Na segunda-feira à noite, depois da reunião do Ecofin, em Bruxelas, Maria Luís Albuquerque confirmou a existência da missiva (coisa de que Passos Coelho não falou ao país, e se calhar bem, no anúncio da saída limpa), mas disse que o seu conteúdo não vai trazer nada de novo em termos de compromissos e de questões. “Não tem surpresas nem sustos”, acrescentou a ministra para tranquilizar as hostes.

Como gato escaldado da água fria tem medo e os portugueses já se queimaram várias vezes com situações destas prontamente desmentidas e logo confirmadas, não há nada como apelar ao valor da transparência democrática e pedir que se torne público o teor da carta e de quaisquer outros documentos de suporte que eventualmente a acompanhem. Foi isso que, legitimamente, exigiram os partidos da oposição, aos quais o governo tem por estrita obrigação responder positivamente e antes das eleições europeias de 25 de Maio.

Uma vez conhecido o teor do documento, cada um poderá julgar com conhecimento de causa se há ou não há novos compromissos, sendo certo também que a sua simples existência já tende a demonstrar que, apesar do fim do programa de ajustamento, estão previstas medidas de austeridade complementares, eufemisticamente chamadas agora reformas do Estado. Mesmo assim é pouco natural que elas sejam feitas com a profundidade necessária, dado o calendário eleitoral até 2015. É, aliás, importante recordar que o Memorando, na sua primeira forma, não previa cortes para o período de 2014 a 2016, mas estes já ascendem para esse período a 5 mil milhões de euros, fora os que ainda podem aparecer.


Por todo este conjunto de circunstâncias, é essencial que os portugueses e os seus representantes mais directos, nomeadamente os deputados e os parceiros sociais, sejam plenamente informados do teor das cartas que o governo manda para entidades internacionais como o FMI, até porque elas comprometem não apenas o executivo actual mas o Estado português no seu todo e no futuro.

Sem comentários: