quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

XAVIER DOWN



"O significado da existência do secretário de Estado da Cultura não inspirará criadores artísticos mas é uma evidente matéria de reflexão filosófica. A um secretário de Estado pede-se que esteja um degrau acima da comissão liquidatária do BPN e que percebesse o que o país poderia ganhar com uma colecção que acidentalmente foi parar às mãos do Estado. Mas o único acidente desta história é Barreto Xavier, para quem as prioridades da cultura parecem ser não haver cultura."
Sobe e Desce / Público

EDITORIAL / Público
Uma estratégia para a colecção Miró
Na ampliação do Museu do Chiado que se anuncia pode estar uma solução para a colecção Miró

Se juntarmos duas notícias diferentes em que Jorge Barreto Xavier é ouvido neste jornal, a da colecção Miró e a da ampliação do Museu do Chiado, encontramos um novo argumento, e forte, para o Estado decidir travar a venda das 85 obras em Londres. Coisa que a Christie’s prudentemente já fez, ao cancelar o leilão da colecção Miró. Quando o Museu do Chiado ficar completo, com as suas obras de ampliação, parte dos 3300 metros quadrados que ganhará poderiam ser usados para expor tais obras. Imaginemos as escadarias do Governo Civil a darem entrada para um espaço onde esta magnífica colecção, pelo que podemos ver pelo catálogo da Christie’s, encontraria finalmente a sua vocação em Portugal: dar ao Museu do Chiado, que durante anos esteve “escondido” com a sua entrada enviesada na rua Serpa Pinto, um complemento que o tornaria um destino obrigatório dos portugueses e turistas que procuram o centro de Lisboa como espaço de cultura e lazer. Se esta era a mais importante colecção do pintor catalão nas mãos de privados, passando para o Estado após a privatização do BPN, ela pode ser perfeita para a afirmação internacional do Museu do Chiado como Museu Nacional de Arte Contemporânea. Não se trata de fazer um novo museu, mas sim de garantir o crescimento a prazo do museu actual, dandolhe uma dimensão que até aqui nunca teve — e que agora, por paradoxal que seja, lhe é proporcionada por um secretário de Estado que tão mal geriu o dossier Miró. Se em leilão as 85 obras poderiam valer, para tapar parte do buraco do BPN, algo como 36 milhões de euros, nada garante que, a prazo, ficando em Portugal, elas não venham a render bastante mais. Impunha-se tal estudo antes de se avançar para a apressada venda, estratégia que o Governo parece preferir, trocando por dinheiro valores que nenhum dinheiro pagará. Se daqui em diante todos agirem com o bom senso demonstrado pela Christie’s talvez o caso Miró não venha a  envergonhar-nos tanto.



A colecção Miró ainda pode ser classificada pelo Estado português, diz a juíza
JOANA AMARAL CARDOSO 05/02/2014 – in Público
O caso dos 85 Miró do BPN, se avançar um pedido de classificação, pode perfilar-se como único no historial do património português.

A sentença da juíza Guida Jorge diz que ainda é possível que a colecção Joan Miró do Banco Português de Negócios (BPN) seja inventariada e classificada. Essa é uma das seis conclusões do acórdão do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa, no qual a juíza escreve que "não se verifica a impossibilidade de o Estado classificar as obras em questão".

A juíza Guida Jorge indeferiu na manhã de terça-feira a providência cautelar para impedir a venda das obras que fazem parte dos activos do BPN, mas a Christie’s acabou por cancelar o leilão das 85 obras marcado para o final da tarde.

Na Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) existe já pelo menos um pedido de abertura de um procedimento administrativo para avaliação da colecção Miró para sua eventual classificação – estes pedidos podem ser feitos por qualquer indivíduo ou entidade, português ou estrangeiro. Este foi enviado a 15 de Janeiro pelo grupo de deputados socialistas cuja exposição ao Ministério Público originou a audição em tempo recorde no Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa, mas o processo não foi aberto.

Dois dias depois, a 17 de Janeiro, a DGPC contacta a Parvalorem e a outra sociedade gestora do património nacionalizado do BPN, a Parups, com um pedido “de confirmação da actual localização dos lotes” das obras de Miró. Isto porque, como se lê numa resposta da directora da DGPC, Isabel Cordeiro, enviada segunda-feira para o Parlamento e a que o PÚBLICO teve acesso, “constitui condição sine qua non a presença de bens culturais em território nacional” para autorizar a sua expedição – que a DGPC considera ser ilícita, posição que foi corroborada pelo tribunal na terça-feira.

Não há registo de classificação
Segundo o PÚBLICO apurou, a abertura legal de um procedimento de inventariação ou classificação depende da observação directa das peças em causa para avaliar o seu valor patrimonial e cultural. As obras de Miró encontram-se em Londres há vários dias e a situação actual perfila-se como inédita no histórico da inventariação e classificação de bens culturais em Portugal, porque não há registo de um processo de classificação que tenha sido iniciado com as peças em causa fora do país.

O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, disse terça-feira ao PÚBLICO que estas colagens, pinturas e desenhos de Miró são “obras que não estão inventariadas, nem [está] aberto nenhum processo de classificação”. E explica que, segundo a Parvalorem e a Parups, “foram compradas por privados há menos de dez anos” – Barreto Xavier refere-se ao artigo 68.º da Lei de Bases do Património Cultural (LBPC) que diz que “salvo acordo do proprietário, é vedada a classificação como de interesse nacional ou de interesse público do bem nos dez anos seguintes à importação ou admissão”.

“Em função disso não podemos, de acordo com a Lei do Património, classificá-las”, diz o secretário de Estado, argumentando que, à luz daquele diploma, “se não tivermos autorização dos proprietários para abrir processo de classificação não o podemos fazer. Não depende da minha vontade política”.

Contudo, o despacho do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa diz que a Parvalorem e a Parups não apresentaram “os documentos comprovativos das importações e admissões das obras há menos de dez anos”. E também não “foram localizados nos arquivos da DGPC quaisquer documentos relativos às importações e admissões das obras em apreço”, lê-se ainda no despacho do tribunal, que cita o depoimento de Isabel Cordeiro.

A apreciação da juíza diz assim que “não se demonstrou que as obras em causa não pudessem ser classificadas”, porque as duas sociedades gestoras não podiam apenas “alegar que as obras tinham sido importadas há menos de dez anos”, mas sim “provar que assim tinha acontecido”.

Como a Parvalorem e a Parups não o comprovaram, a decisão do tribunal frisa que “existe oportunidade de decisão quanto ao momento em que deve ser decidida a abertura dos procedimentos administrativos de inventariação ou classificação de bens culturais”.

A juíza conclui ainda que “a alienação das obras foi ponderada, tendo em vista o encaixe imediato de um valor não inferior a 36 milhões de euros, sem se ter equacionado a sua classificação como bens culturais e eventual rendimento futuro e a médio ou longo prazo ou os bens de natureza não patrimonial que proporcionariam no caso de virem a ser expostas ao público” – um dos argumentos da DGPC e dos dois autores de pareceres especializados, Pedro Lapa e David Santos, directores dos museus Berardo e do Chiado, respectivamente, quando chamados a pronunciar-se sobre a relevância da colecção e das possibilidades da valorização destes 85 Miró em Portugal. com Lucinda Canelas




Não se vendam os quadros de Miró... baratos
Daniel Oliveira in EXPRESSO online
8:00 Quarta feira, 5 de fevereiro de 2014


Há, a propósito do leilão cancelado da coleção de 85 obras de Miró, três debates diferentes: o jurídico, o político e o financeiro.

O jurídico parece esclarecido: apesar do Tribunal Administrativo ter recusado a providência cautelar do Ministério Público para parar a venda, confirmou que os procedimentos a que a Lei de Bases do Património Cultural não tinham sido cumpridos e que a "expedição das obras é manifestamente ilegal". As obras viajaram ilegalmente para Londres, onde estão expostas, sem terem a autorização da Direcção-Geral do Património Cultural para saírem de Portugal. Uma autorização que, é bom lembrar, não é um mero procedimento burocrático. Defende o país do saque.

Nestas condições, só por uma completa irresponsabilidade é que a Christie's realizaria o leilão. Cabe à leiloeira verificar que tudo está em ordem. Não verificou e só ela pode ser responsabilizada pelo cancelamento no próprio dia. Ela e, obviamente, a Parvalorem, empresa do Estado que ficou com as ruínas do BPN e que tentou vender este espólio contornando uma lei que é, e bem, em todos os países desenvolvidos, muito restritiva no que toca ao comércio de obras de arte. Tendo sido a Christie's a cancelar o leilão, não vejo como possa vir a exigir a indeminização contratual.

Agora a questão política. Neste caso, política cultural. A coleção de Miró não ia ser incinerada ou destruída. Ia ser vendida, coisa que acontece regularmente a obras de arte. Não haveria, na minha opinião, uma perda para a cultura. Quanto a Portugal, perderia as obras que faziam parte do espólio de um banco em troca de dinheiro. E é costume nada vergonhoso estarem entre as coisas que se vendem obras de arte. Como sabem os galeristas.

Estes quadros são, para o Estado português, um ativo. Foram comprados ao colecionador japonês Kazumasa Katsuta. E estão tão bem aqui como em qualquer outro lugar. Ao contrário dos quadros que julgo que o BPN ainda tem de Vieira da Silva e Júlio Pomar, não há entre o autor ou estas obras e Portugal nenhuma relação especial. Nem especial, nem outra, para dizer a verdade. Não é património nacional. As obras foram compradas por um banco, como investimento, que foi nacionalizado e calhou que o Estado ficasse com elas. Com elas pode, sem ferir nenhum princípio ético, político ou legal, fazer uma de duas coisas: vender ou expor. Num caso o dinheiro é recebido já, noutro o investimento é rentabilizado. Num caso as obras são usadas para ajudar a pagar a enorme dívida do BPN, libertando dinheiro para outras coisas, como o apoio às artes e aos museus - muitos duvidam que o dinheiro tivesse esse destino, mas esse é um outro debate. Noutro, pensa-se mais a médio e longo prazo.

Não havendo, na minha opinião, nenhuma questão de princípio que impedisse esta venda, resta, para além da questão jurídica (muito relevante), a questão financeira. E é por ela, e apenas por ela, que me oponho frontalmente a esta venda que em boa hora foi travada.

Diz-me quem percebe da poda 35 milhões por 85 obras de Miró é ridículo, tendo em conta os valores que os seus trabalhos costumam atingir. Na realidade, está bastante abaixo dos 150 milhões anunciados, em 2008, por Miguel Cadilhe, quando este dirigia o BPN. Ou dos 81 milhões declarados, em 2007, para efeitos de seguro. A venda de tantas obras duma só vez contribuirá para a desvalorização, garantem alguns especialistas. É um completo absurdo esta venda por atacado, garantem-me. Apesar de confiar em quem sabe, não sou avaliador de arte e não sei se têm razão. Mas sei que não se fez nada para valorizar esta coleção. Está fechada num qualquer armazém há sete anos. Sem, coisa que tem espantado a imprensa internacional e nos devia espantar a nós todos, os 84 quadros e uma escultura terem sido expostos em Portugal ou no estrangeiro. Foram para Londres, para ser vendidos, sem nunca terem visto um raio de luz em Portugal. Ao que parece, não faltam, como é natural, interessados para expor aquilo que o atual diretor artístico da coleção Berardo, Pedro Lapa, descreveu, em declarações ao El País, como uma coleção que reúne "obras de todos os períodos de produção do artista, algumas delas chave na sua carreira".

A arte valoriza-se quando é exposta. É isso que há a fazer. Primeiro cá, contribuindo para promover o turismo, uma das poucas áreas em franco crescimento. Ao que parece, há mecenas preparados para contribuir para que isso aconteça. Depois no estrangeiro, para valorizar a coleção. O galerista Cabral Nunes, diretor da Casa da Liberdade - Mário Cesariny, considera que, em três ou quatro anos, a coleção gerará mais retorno do que esta venda, no que parece ser acompanhado por quase todos os especialistas. E a este argumento eu sou muito sensível. Sendo que depois disto o valor da coleção será seguramente outro. Ninguém, no seu prefeito juízo, vende uma coleção completa e coerente, duma só vez, num leilão, de um autor como Miró, sem nunca a ter exposto. Que o BPN fizesse este tipo de compras e as mantivesse fechadas em armazéns, não espanta. Por alguma razão deixou o buraco que deixou. Aconselha-se ao Estado que não cometa os mesmos erros de um banco falido.


Mas é de dinheiro que estamos a falar, certo? Porque se é de política cultural, desculpem mas não acompanho a indignação. Que se valorizem os quadros de Miró e se ponha a coleção a render. Se um dia valer a pena vender, que se venda. Bem precisamos de dinheiro para ter artistas a produzir as obras que mais tarde encherão os nossos museus, galerias, cinemas e teatros.

Caso Miró: "Acha normal que eu pondere demitir-me por isto?"
04/02/2014 | 18:40 | Dinheiro Vivo
"Acha normal que eu pondere demitir-me por causa disto? Por uma questão deste género?" Foi assim que o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, respondeu ao Bloco de Esquerda, que esta tarde disse que o governante devia demitir-se na sequência do cancelamento do leilão das 85 obras de Joan Miró.
Em declarações à imprensa, Xavier lamentou que as obras tivessem estado desde 2008, quando o BPN foi nacionalizado, "armazenadas e sem sequer serem inventariadas", e sublinhou que "agora os quadros pertencem a duas sociedades anónimas" e têm um papel a cumprir na compensação do buraco do BPN.
De resto, Portugal ainda pode ter de pagar à Christie's pelo cancelamento do leilão dos quadros de Juan Miró. A razão? Foi a leiloeira que pagou o transporte e os seguros das 85 obras do artista catalão. Se o leilão de facto não acontecer, o Estado pode ter de indemnizar a Christie's, assumiu esta tarde o secretário de Estado.
"Primeiro é preciso saber se o leilão se vai realizar ou não", disse, na conferência de imprensa. O valor que o governo pode ter de pagar, caso os quadros não sejam vendidos, ainda é desconhecido - e assim permanecerá, pelo menos da parte da leiloeira, que nunca divulga este tipo de detalhes.
Barreto Xavier reforçou ainda, esta tarde, que manter as obras não é uma prioridade: "Ponderámos a possibilidade de ver se era uma prioridade, e eu considerei que não. Prioridade é manter os museus abertos, que o cinema seja apoiado, que o património seja restaurado."

OPINIÃO
Borrou a pintura
PEDRO SOUSA CARVALHO 04/02/2014 – in Público

Se não fosse uma ofensa ao Miró, era caso para dizer que foi surrealista toda esta trapalhada. Aquilo que começou por ser um problema financeiro passou rapidamente a ser uma questão cultural e descambou para a arena da luta política. E ninguém sai bem na fotografia.
A questão de fundo e que provocou um extremar de posições é aparentemente simples: saber se a colecção Miró deveria ficar em Portugal como património cultural e ser rentabilizada, ou, ao invés, ser vendida e usar o dinheiro para tapar parte do buraco do BPN.

Se perguntam se prefiro ter em Portugal a poesia, os sonhos, as estrelas, as mulheres e os pássaros de Miró, ou, pelo contrário, ver o banco tóxico do BPN receber um cheque de 36 milhões da Christie's para pagar o que deve à CGD, o primeiro impulso seria dizer: “Deixem cá estar sossegadas as pinturas e as colagens do Miró.” Mas para tal teria de ter argumentos.

E os argumentos dos socialistas e da DGPC, bem como a ausência de argumentos do lado do Governo não convencem. Dizer, como disse Pedro Lapa, que as obras deveriam ficar em Portugal porque “a colecção tem um valor inestimável” é não dizer nada. Por mais que gostemos de Miró, a colecção tem um valor estimável: são 36 milhões de euros. Mais coisa menos coisa, consoante a procura e a oferta. É preciso ver que o Estado, ao não alienar as obras, abdica de receber 36 milhões. E deixar de receber dinheiro é exactamente a mesma coisa que gastar dinheiro. O escândalo que não seria agora se o Estado, nestes tempos de austeridade, agarrasse no dinheiro dos contribuintes e fosse comprar uns Picasso ou uns Dalí. Alguém tem de tapar o buraco do BPN: ou tapa-se com Miró, ou vai-se ao bolso dos contribuintes.

Do outro lado da barricada argumenta-se, e bem, que a forma como o Governo e o secretário de Estado da Cultura geriram esta venda foi desastrosa. Não só foi desastrosa, como pelos vistos até ilegal. É um tribunal que diz que o despacho de Barreto Xavier que viabiliza a exportação das obras é ilegal. E o secretário de Estado, com alguma candura à mistura, argumenta: "Acha normal que por causa de uma questão deste género eu pondere a demissão?" Tendo feito uma coisa ilegal, é caso para Barreto Xavier ponderar.

E o estranho no meio disto tudo é a decisão do próprio tribunal, que, mesmo reconhecendo que as obras saíram de Portugal feridas de legalidade, não travou a venda. Escudou-se numa questão técnica para viabilizar o leilão: a decisão de alienação não foi do Governo, mas sim da Parvalorem, cujo único accionista é o Estado. E em jeito de recado, de quem viabilizou o leilão a contragosto, o tribunal diz: "Não pode este tribunal emitir qualquer ordem dirigida a qualquer membro do Governo, relativa à forma de exercício dos seus poderes da sua função accionista." Então o tribunal, ao reconhecer que o Governo tem poder para condicionar a Parvalorem, não está também a reconhecer que a decisão da alienação também deveria ser imputada à tutela?

No fim disto tudo, teve bom senso a Christie's, que cancelou a venda para não prejudicar o valor do encaixe. E no meio disto tudo não houve ninguém que se lembrasse de pedir um estudo aprofundado para perceber a rentabilidade de ter obras de Miró em Portugal. Quando é que o Estado poderia (ou não) recuperar o investimento, se optasse por manter as obras? Quais seriam as estimativas de visitantes? Qual seria o custo unitário da entrada? Quais seriam as externalidades positivas? No princípio disto tudo concordava que os Miró deveriam ficar em Portugal. Mas no fim disto tudo continuo sem argumentos para defender uma coisa, ou o seu contrário.


Christie's cancels sale of 85 Joan Miró paintings following uproar
Auctioneer withdraws works from sale because of ongoing dispute over whether Portugal can sell them to buyers abroad
Reuters in Lisbon


Christie's auction house cancelled the sale of 85 paintings by the Catalan artist Joan Miró after an uproar over whether debt-ridden Portugal, their legal owner, could sell the treasures to buyers abroad.

On Tuesday the auctioneers withdrew them from a London sale even though a Lisbon court threw out a suit by opposition lawmakers, prosecutors and the public trying to block the offer saying the government had violated the rules on classifying the artwork.

The Miró collection, estimated at more than €35m (£29m), came into state hands in 2008 when Portugal nationalised the failed Banco Português de Negócios (BPN) that owned them.

More than 9,200 people have signed an online petition to keep it in Portugal, despite the drastic austerity measures imposed in the past three years under an international bailout.

"The legal uncertainties created by this ongoing dispute mean that we are not able to safely offer the works for sale," Christie's said only hours before the two-day sale was to start.

The paintings are being offered by the state holding company Parvalorem, which is in charge of minimising the impact of BPN's old debts and bad loans on public accounts.

The court ruled the sale could not be stopped but noted that the state culture secretary's decision had not sought proper authorisation to send the paintings to London last week.

The most highly-valued piece in the collection, Women and Birds, dating from 1968, was expected to fetch between £4m-7m.

Critics of the planned sale said the state had ignored "the immeasurable immaterial value" of the collection to Portugal.

A Socialist parliamentarian and one of the authors of the appeal, Gabriela Canavilhas, said: "We are certain that any proper classification by experts would have not allowed most of the paintings to leave Portugal.

"This is another proof that this government thinks only in accounting terms and values nothing else." She added that some of the paintings could be auctioned in the future, but only within the legal framework.


Christie's sale, entitled The Art of the Surreal, was due to go ahead on Tuesday with paintings by René Magritte, Salvador Dalí and other famous surrealists and finish on Wednesday.


Ministério Público avança com segunda providência cautelar sobre os quadros de Miró
MARIA LOPES e SÉRGIO C. ANDRADE 05/02/2014 - 10:27 (actualizado às 11:54) in Público
Acção visa, desta vez, a ministra das Finanças, o secretário de Estado da Cultura e a Christie's. Cavaco Silva não comenta, mas diz que a colecção foi usada "como arma de arremesso na luta política e partidária".

Depois do chumbo da primeira acção interposta no início desta semana, que foi indeferida na terça-feira de manhã pelo Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa (TACL), mas acabaria por levar à suspensão da venda da colecção dos 85 quadros de Miró pela Christie's de Londres, o Ministério Público (MP) avançou no mesmo dia com uma nova providência cautelar.

A notícia foi avançada pela Antena 1, que, na manhã desta quarta-feira, explicou que a nova acção, igualmente apresentada no TACL, "baseia-se na ilegalidade da saída das obras de Joan Miró de Portugal, que é admitida na sentença da primeira providência cautelar".

A rádio pública avança que os visados desta segunda acção são a ministra das Finanças, o secretário de Estado da Cultura e a própria leiloeira Christie’s, que acabou por cancelar o leilão dos desenhos e pinturas perto da hora marcada para o seu início, na tarde de terça-feira. Todos os visados já foram citados por correio electrónico e, esta quarta-feira, vão receber a citação por carta.

Com esta segunda providência cautelar, o Ministério Público - diz a Antena 1 - visa suspender todos os actos que possam permitir a saída da colecção Miró que foi reunida pelo BPN.

Recorde-se que, na terça-feira à tarde, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, reafirmou a intenção do Governo de avançar com a venda da colecção Miró, considerando que a prioridade é "liquidar a dívida do BPN com os activos do BPN”.

Não nos foi possível, até ao momento, confirmar esta nova acção do MP. No entanto, Jorge Barreto Xavier e Maria Luís Albuquerque estiveram presentes esta manhã no convento de São Francisco, em Lisboa, para a assinatura do protocolo de alargamento do Museu de Arte Contemporânea do Chiado e, quando questionados pelos jornalistas sobre o caso da venda ilegal das obras de Miró e sobre a segunda providência cautelar avançada pelo Ministério Público, ambos disseram que não iriam comentar o assunto.


Também o Presidente da República recusou comentar a polémica com os quadros de Miró. “Tendo os quadros emergido como arma de arremesso na luta política e partidária, e tendo havido uma decisão de uma juíza, eu não devo comentar o assunto”, respondeu Cavaco Silva esta quarta-feira ao fim da manhã quando questionado sobre o assunto à saída da inauguração da sede do grupo Novartis, em Oeiras.

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