O SNS não pode fechar
Faltam médicos em Portugal? A Ordem dos Médicos insiste
que não. Faltam médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em determinadas
especialidades? É inegável que sim.
Amílcar Correia
11 de Junho de
2022, 19:53
https://www.publico.pt/2022/06/11/sociedade/editorial/sns-nao-fechar-2009721
O Hospital de
Braga fechou a urgência de obstetrícia por falta de médicos em número
suficiente para assegurar uma escala de serviço. Pelas mesmas razões, hospitais
da região de Lisboa e Vale do Tejo anunciaram que iriam ter constrangimentos no
funcionamento neste fim-de-semana dos serviços de obstetrícia e ginecologia.
Nesta semana, um bebé morreu no decurso de uma cesariana de emergência no
hospital das Caldas da Rainha, cujas urgências de obstetrícia estavam fechadas
por não existirem, igualmente, profissionais em número suficiente.
Faltam médicos em
Portugal? A Ordem dos Médicos insiste que não. Faltam médicos no Serviço
Nacional de Saúde (SNS) em determinadas especialidades? É inegável que sim. Não
existem médicos nos centros de saúde em quantidade suficiente, por exemplo,
para garantir uma cobertura total da população. O número de portugueses sem
médico de família, de resto, tem vindo a crescer.
Estes últimos
anos reforçaram a importância do Serviço Nacional de Saúde e mostraram a
tibieza do sector privado em se associar à resposta à pandemia. Mas também
expuseram as queixas de falta de condições de trabalho, bem notórias no facto
de mais de 2500 médicos e enfermeiros terem saído do sistema, ora porque os
contratos expiraram, ora porque optaram por rescindir a relação com o Estado.
Muitos deles saíram do serviço após o fim do estado de emergência, quando
terminou a imposição do Governo que limitava as saídas do SNS.
A preferência de
muitos profissionais pela medicina privada ou pelo trabalho no estrangeiro, na
ausência de carreiras convincentes, tem vindo a acentuar-se com toda a
naturalidade. Um relatório da OCDE, que comparava a evolução das remunerações
de médicos e enfermeiros em 11 países, concluía que aqueles profissionais de
saúde tinham perdido salários durante sete anos, entre 2010 e 2017, ao
contrário do que tinha acontecido em vários países. Acrescente-se o
envelhecimento da classe: cerca de 1700 médicos reformam-se, em média, todos
aos anos, e há mais médicos em funções com mais de 65 anos do que com idades
inferiores a 31.
A ministra da
Saúde já prometeu criar novas carreiras e reforçar as existentes. Convém que o
faça prontamente. Caso contrário, o Estado corre o risco de não conseguir reter
no SNS, com condições de trabalho e remunerações adequadas, os profissionais de
que o sistema necessita para assegurar a sua função. Se não faltam médicos no
país, no mínimo, falta melhor organização.


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