EDITORIAL
O estado do Estado: um debate urgente sobre Portugal
Portugal precisa de debater o estado do Estado e procurar
novas respostas. Como jornal ao serviço dos cidadãos e do país, queremos dar o
nosso contributo.
Manuel Carvalho
11 de Junho de
2022, 5:30
https://www.publico.pt/2022/06/11/opiniao/editorial/estado-estado-debate-urgente-portugal-2009628
A discussão em
torno das competências ou da dimensão do Estado português nem sempre escapa ao
maniqueísmo das visões do mundo a preto e branco. Há demasiados funcionários
públicos ou são insuficientes, ganham mal ou são privilegiados, trabalham muito
ou são preguiçosos, respondem às necessidades da sociedade ou estão longe de as
satisfazer. Marcada pela saudável divergência de concepções políticas ou
avaliações pessoais, a discussão tem de passar pelo que aprendemos colectivamente
com a pandemia. Sem o desempenho do Serviço Nacional de Saúde ou sem os apoios
estatais à economia, a crise da covid-19 teria sido muito pior.
O debate que o
PÚBLICO lança em torno do estado do Estado parte desta premissa básica.
Portugal precisa de uma administração pública forte, motivada e competente. Mas
tem de ajustar esta ambição às capacidades que o país tem de os remunerar. Não
podemos ter um Estado forte e competente como o da Alemanha com uma economia
como a da Roménia. É, por isso, importante avaliar o desempenho das funções
públicas e saber se com os recursos disponíveis é possível fazer melhor.
Vale a pena
reconhecer que em dimensões críticas como a escolaridade básica, o ensino
superior, a ciência ou a saúde, Portugal tem de estar grato à sua administração
pública. A qualidade das escolas tem melhorado nos rankings internacionais, o
SNS tem imensas dificuldades mas consegue dar as respostas essenciais e a
qualidade das nossas universidades, apesar de desigual, não compara mal com
países congéneres. Mas nem tudo está bem: a escola pública regista um exagerado
absentismo, a distância face ao desempenho dos privados aumenta, os hospitais
nem sempre são bem geridos, a ciência continua com dificuldades em contagiar a
economia, a justiça tornou-se uma corporação alheia às necessidades dos
cidadãos.
Há imenso
trabalho a fazer. Os desafios são enormes. O Estado tem de melhorar as
remunerações para poder competir com os privados. Tem de ser mais dinâmico e
eficiente. A capacidade de diagnosticar e perspectivar as prioridades revela
fragilidades. A motivação é um problema. O centralismo cria uma macrocefalia
disfuncional que destrói possibilidades e compromete a coesão nacional. A
burocracia é inaceitável. As reformas para transformar um conceito medieval do
Estado num modelo da era digital são urgentes.
Portugal precisa
de debater o estado do Estado e procurar novas respostas. Não se trata de criar
um Estado obeso e supérfluo. Nem de o substituir à iniciativa privada.
Trata-se, sim, de o reconstruir com base nas necessidades do presente e dos
desafios do futuro. Como jornal ao serviço dos cidadãos e do país, queremos dar
o nosso contributo. Depois, como sempre acontece numa democracia, as escolhas
cabem aos cidadãos.


Sem comentários:
Enviar um comentário