sexta-feira, 29 de agosto de 2025
PREJUÍZO RECORDE DE 5,1 MILHÕES DE EUROS NO ANO PASSADO
PREJUÍZO
RECORDE DE 5,1 MILHÕES DE EUROS NO ANO PASSADO
Público a
caminho dos cuidados intensivos financeiros
Pedro
Almeida Vieira
|
29/07/2025
https://paginaum.pt/2025/07/29/publico-a-caminho-dos-cuidados-intensivos-financeiros
Com o
sector dos media tradicionais à beira de um colapso sistémico, o jornal
Público, histórico título fundado em 1990 pelo Grupo Sonae, parece
encaminhar-se a passos largos para os cuidados intensivos financeiros.
Os
resultados de 2024 confirmam o agravamento da situação: mais de 5,1 milhões de
euros de prejuízo, um novo recorde negativo que supera mesmo os já alarmantes
resultados de 2023. Em apenas dois anos, as perdas acumuladas ascendem a 9,6
milhões de euros, o que corresponde a cerca de um terço dos 29,3 milhões de
prejuízos acumulados desde 2017.
O Público
nunca foi um jornal lucrativo. Desde a sua fundação, pautou-se por um
compromisso pessoal de Belmiro de Azevedo — fundador do império Sonae — que
aceitava suportar até dois milhões de euros de perdas anuais, numa lógica de
serviço cívico e reputacional. No entanto, desde a morte do empresário, e com a
profissionalização mais crua da gestão da Sonaecom, a tolerância ao insucesso
tem diminuído. E o jornal, que chegou a ser um símbolo de jornalismo moderno e
cosmopolita no pós-cavaquismo, tornou-se uma espécie de fardo ideológico com
retorno empresarial e reputacional nulo. ↓
Hoje, o
Público vende menos de 10 mil exemplares por dia em banca — número que o
próprio jornal esconde ou relativiza, enquanto promove campanhas de assinaturas
digitais inflacionadas, muitas delas associadas a parcerias pouco transparentes
com instituições públicas e privadas. A ilusão de crescimento digital
sustenta-se, em parte, em contas de acesso gratuito por protocolos com escolas,
universidades e autarquias, sem que tal se traduza em rentabilidade ou
fidelização efectiva de leitores.
Mas não é
apenas o modelo de negócio que está a colapsar. A credibilidade editorial do
jornal também tem sido posta em causa. Desde a direcção de Manuel Carvalho —
marcada por alinhamentos ideológicos e uma crescente promiscuidade entre
jornalismo e negócios — que a redacção vive momentos de tensão. A liderança de
David Pontes não só manteve esse rumo como o agravou, multiplicando as
participações do Público em eventos comerciais com contornos duvidosos, como
são exemplo as secções Azul, Terroir e Fugas.
Um dos
episódios mais embaraçosos foi recentemente sancionado pela Entidade Reguladora
para a Comunicação Social (ERC): a participação de David Pontes como moderador
em debates pagos pela autarquia de Penafiel e a Ordem dos Médicos Dentistas. A
erosão da independência editorial em troca de sobrevivência financeira arrisca
um colapso total.
A
situação do Público espelha o afundamento generalizado da imprensa tradicional
em Portugal, fruto, em muitos casos, de péssima gestão, como é o caso da
Impresa (como holding), ou de problemas de credibilidade.
Depois da
queda estrepitosa do grupo Trust in News — que ameaça o fim de publicações como
a Visão, a Exame ou o Jornal de Letras — seguem-se dificuldades visíveis no
grupo Impresa, apesar dos lucros ainda registados pela SIC e pela Impresa
Publishing em 2024. A venda falhada da sede da Impresa em Paço de Arcos foi
mais um sinal de alarme: uma tentativa de alienação imobiliária abortada por
irregularidades na cadeia de IVA, que colocou a nu os limites do recurso à
engenharia financeira para mascarar os desfalques operacionais.
Mas o
colapso pode não ficar por aqui. Nas próximas semanas, dois grupos estarão sob
especial atenção: a Global Notícias, que detém o Diário de Notícias, e a novel
empresa Notícias Ilimitadas, que adquiriu o Jornal de Notícias, O Jogo e a TSF.
Apesar de obrigadas por lei a entregar os relatórios e contas de 2024 até ao
final de Junho, ambas as sociedades falharam esse dever, com a desculpa,
durante semanas, de “problemas técnicos” no envio de informação ao Portal da
Transparência dos Media da ERC.
Confrontada
com o silêncio financeiro de várias empresas do sector, a ERC admitiu ao Página
Um que, de entre os principais grupos de média, a Trust in News, a empresa
gestora do Observador, a Global Notícias e a Notícias Ilimitadas não enviaram
ainda os seus dados contabilísticos de 2024. O regulador promete agora tomar
“diligências” para assegurar o cumprimento da lei, embora o histórico da
instituição não inspire grande confiança na sua capacidade de fazer respeitar
prazos ou princípios.
Neste
contexto de degradação acelerada, com empresas em incumprimento, direcções
editoriais em deriva e modelos de negócio cada vez mais dependentes de fundos
públicos ou favores institucionais, o jornalismo dito de referência parece
caminhar para o abismo — mas não culpando os seus erros: antes, as redes
sociais e a dita desinformação.
PÁGINA UM REVELA EVOLUÇÃO DAS VENDAS EM PAPEL E ASSINATURAS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS
PÁGINA UM
REVELA EVOLUÇÃO DAS VENDAS EM PAPEL E ASSINATURAS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS
Correio da
Manhã, Público, JN, DN e Expresso em colapso: vendas em mínimos históricos
Pedro Almeida Vieira
03/06/2025
Os resultados do primeiro trimestre deste ano, divulgados na
semana passada pela Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e
Circulação (APCT), voltam a comprovar aquilo que os ‘barões da imprensa’
persistem em negar com a habitual táctica da avestruz: escondem a cabeça nos
slogans sobre “transformações digitais”, “modelos sustentáveis” e “novas formas
de chegar ao leitor”, enquanto o corpo editorial se afunda no pântano da
irrelevância.
A verdade, nua e crua, é esta – e é tão clara quanto
dramática: a imprensa escrita generalista portuguesa colapsou. Os números não
mentem. São mais de duas décadas de declínio contínuo, mascarado por anúncios
piedosos e relatórios internos que já ninguém leva a sério.
Em 2025, nem os comunicados eufemísticos do trust da
comunicação social, nem os generosos orçamentos de publicidade institucional,
nem sequer o ‘balão de oxigénio’ do Governo – travestido de distribuição
gratuita de assinaturas digitais para os jovens – conseguem disfarçar o
desastre. A erosão é estrutural e terminal.
A evolução das vendas em banca – com quebras brutais em
todos os títulos – e das assinaturas digitais – com valores unitários
largamente inferiores aos do papel e sem escala de massa crítica – espelham o
fim de um modelo baseado na fuga para a frente: redacções inexperientes, pouco
cultas, reféns de agendas e compromissos, divorciadas dos leitores e cada vez
mais promíscuas nas relações com o poder político e económico.
Mais do que um fim de ciclo, talvez este seja mesmo o fim de
linha para alguns dos títulos – o que, convenhamos, não seria necessariamente
mau. A extinção natural poderá limpar o terreno dos vícios acumulados, permitir
um reequilíbrio do ecossistema mediático e abrir espaço a novas formas de
jornalismo, menos dependentes da subsidiação crónica e da formatação
ideológica. A imprensa escrita colapsou, mas o jornalismo ainda pode sobreviver
– desde que se liberte das amarras que o arrastaram até aqui.
O PÁGINA UM analisou a evolução das vendas dos últimos 30
anos de cinco jornais generalistas portugueses: quatro nascidos como diários –
Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Público – e um de
origem semanal – o Expresso. A linha temporal inicia-se em 1996, quando ainda
não existia o conceito de assinaturas digitais e os portugueses, então leitores
assíduos, consumiam jornais em papel como parte integrante do café da manhã.
Foi apenas em 2009 que esse “novo e maravilhoso mundo”
digital começou a dar os primeiros sinais de vida, ainda timidamente. Ao longo
da década seguinte, foi ganhando terreno, até se tornar, nos últimos anos, o
eixo dominante das estratégias editoriais. Hoje, as edições impressas são cada
vez mais residuais, enquanto a produção de conteúdos se rege pela lógica do
imediato – e pelos inúmeros erros que daí decorrem.
A própria natureza do jornalismo transformou-se: os diários
deixaram de ser apenas diários para se tornarem plataformas de informação em
torrente contínua, ao passo que o Expresso, tradicionalmente semanal, passou a
comportar-se como um diário digital, pressionado pelo mesmo ritmo.
Mais ainda: a transição é já estrutural em dois casos. O
Público e o Expresso são, desde 2020 e 2023 respectivamente, jornais
maioritariamente digitais, com as assinaturas electrónicas a superarem as
vendas em banca. Esta inversão de paradigma, longe de ser sinónimo de
sustentabilidade, levanta sérias questões sobre a viabilidade económica, a
qualidade editorial e o impacto social do jornalismo tal como está a ser
praticado.
Mas vejamos, com rigor e em detalhe, os números de cada
jornal, tomando como referência os dados relativos ao primeiro trimestre de
cada ano, de forma a permitir comparações homogéneas ao longo do tempo.
Comece-se pelo Público, o diário fundado pelo Grupo Sonae.
No primeiro trimestre de 1996, vendia diariamente, em banca, cerca de 58 mil
exemplares. Este ano, pela primeira vez, caiu abaixo dos 10 mil. Uma queda de
mais de 84%, que nem o empolamento das assinaturas digitais – muitas de acesso
gratuito ou incluídas em pacotes promocionais – consegue mascarar. A versão
digital, é certo, regista agora cerca de 54 mil assinaturas pagas,
quintuplicando os valores registados há uma década, mas à custa de uma política
de produção intensiva de conteúdos e de receitas unitárias substancialmente
mais baixas que o papel. E a matemática é simples: mais trabalho, menos
rendimento. E menos impacto.
O simbolismo do papel, mesmo no efémero diário, é superior –
nesse aspecto, o diário da Sonae é hoje um fantasma: o ano de 2005 foi o último
acima dos 50 mil exemplares vendidos por dia; 2015 foi o último com vendas
diárias em banca acima dos 20 mil, e agora já está abaixo de 10 mil. Sinal de
que o digital não é sustentável mostra-se nas contas. O Público, que sempre foi
um jornal deficitário, apresentou em 2023 – os resultados de 2024 ainda não são
conhecidos – um prejuízo recorde de quase 4,5 milhões de euros.
Passemos ao Diário de Notícias, ou àquilo que resta do
diário nascido no século XIX e que só existe por um ‘milagre’ não explicado
pelas ciências económicas. No primeiro semestre do ano 2000 vendia mais de 70
mil exemplares diários, mesmo mais do que em 1996. Mas várias promiscuidades
entre o jornalismo e o mundo político e empresarial foram aniquilando o jornal
depois da saída de Mário Bettencourt Resendes em 2004, e da passagem de nove
directores (sem contar com os interinos).
Entre 2003 e 2013, as vendas no primeiro trimestre passaram
de cerca de 52 mil exemplares por dia para menos de 24 mil. Mas isso foi apenas
o princípio do descalabro.
Em 2018, as vendas já estavam abaixo dos 10 mil, e dois anos
depois mal ultrapassavam os quatro mil. No primeiro trimestre deste ano, o DN
nem chega a mil exemplares por dia. Não, não leu mal: são 966 exemplares em
banca, em média, no primeiro trimestre de 2025. Trata-se de um nível de
circulação impraticável para qualquer modelo de imprensa de massas – e apenas
sustentável graças a expedientes editoriais de sobrevivência. A edição digital,
por sua vez, ronda os 700 acessos pagos, uma ninharia irrelevante do ponto de
vista económico e social.
Já o Jornal de Notícias, outrora o orgulho da imprensa
nortenha. E chegou a ser um jornal centenário por duas razões: por ter mais de
cem anos (foi fundado em 1888) e por ter ultrapassado os 100 mil exemplares por
dia no final dos anos 90.
No período em análise, o pico surgiu em 2004 com cerca de
127 mil exemplares diários. Embora até 2009 se tenha mantido em redor dos 100
mil exemplares, a partir desse ano iniciou uma rota descendente. Em 2014 já
estava abaixo dos 60 mil exemplares, ou seja, uma queda de 40% em apenas cinco
anos. Mas ainda se afundou mais.
No primeiro trimestre de 2020 já surge abaixo dos 40 mil, e
os últimos anos têm sido penosos, mesmo com a sua suposta saída do universo da
Global Media. O primeiro trimestre deste ano mostra vendas de 16.613
exemplares, que representam apenas 13% das vendas do pico de 2004.
Ainda por cima, a digitalização, longe de salvar o navio,
apenas está a apressar o naufrágio: 3.300 assinaturas digitais pagas em 2025.
Com uma assinatura anual a custar 24,95 euros, não é por aqui que o JN se
salvará.
O Correio da Manhã, tradicionalmente o mais resiliente entre
os generalistas, e que se anuncia como o jornal diário mais lido em papel, está
agora reduzido a um rei de um só olho em terra de cegos. Há dias, o jornal da
Medialivre regozijava-se por vender “mais de 1 milhão de exemplares por mês” em
banca, o que corresponde a “um número superior a 34 mil exemplares por dia”. No
actual contexto, em que entra em competição o Diário de Notícias com menos de
mil, parecem valores extraordinários – mas não.
Desde 2011 não há ano em que o Correio da Manhã tenha
conseguido inverter a tendência de queda. No auge de 2011, vendeu 125.354
exemplares diários – ou seja, mais de 3,75 milhões por mês; cinco anos depois
já estava abaixo da fasquia dos 100 mil por dia, mesmo assim cerca de três
vezes mais do que os valores do primeiro trimestre de 2025. Ou seja, em 14
anos, entre 2011 e 2025, o Correio da Manhã teve uma quebra de vendas de 73%,
que nem sequer é mitigada pelas assinaturas digitais, que começaram em 2012 e apenas
rondam agora os 2.700.
Mesmo sem o descalabro dos outros diários, a imprensa
popular também sofre, tanto mais que a transição digital não casa com o público
tradicional do Correio da Manhã.
Finalmente, o caso do Expresso, sendo diferente por ter
nascido como semanário, também merece destaque pelo contraste entre o passado
de prestígio e o presente de perda. Jornal que, nos anos 90, começou
paulatinamente a vender em redor dos 130 mil a 140 mil exemplares por edição –
também fruto do célebre saco de plástico que garantia o seu fácil manuseamento
–, o Expresso deu-se mal com os ares fora de Lisboa, depois de ter saído da sua
célebre redacção na Rua Duque de Palmela. Em 2002, atingiu o seu máximo de
vendas por edição no primeiro trimestre, com mais de 143 mil exemplares, mas
foi depois paulatinamente decaindo. Em 2012 contabilizou pela primeira vez
valores de vendas abaixo de 100 mil exemplares, numa altura em que o digital
ainda dava os primeiros passos.
Nos anos seguintes, o Expresso deixou de ser um semanário
com uma edição online para se tornar num diário digital com uma edição semanal
em papel. Esta nova versão teve duas consequências: quebras brutais em banca,
sobretudo a partir de 2021, que fazem com que por edição se tenham vendido
apenas 33.603 exemplares durante o mais recente trimestre; e um aumento nas
assinaturas pagas, rondando agora as 50 mil. Dir-se-ia que, somando ambas as
categorias, se teria mais de 80 mil leitores, mas esse número fica aquém dos
valores da edição semanal da primeira década do presente século.
Além disso, mesmo considerando que os lucros são
teoricamente maiores nas assinaturas digitais – por não implicarem os custos de
produção e distribuição da edição em papel –, os custos redaccionais aumentam
(porque há mais conteúdos), e o impacto real diminui. O Expresso de hoje, com
33.603 exemplares vendidos em banca, mesmo com 49.987 assinaturas digitais, não
tem o mesmo estatuto do Expresso de 2002, com 143.222 exemplares vendidos em
banca.
E se isto se passa com os cinco maiores e mais relevantes
jornais generalistas de Portugal, estamos perante um cenário de terra queimada.
Nenhum jornal conseguiu fazer a transição para o digital com equilíbrio
económico. As receitas digitais, em média, representam uma fracção das
impressas – mesmo com maior volume. Os custos redaccionais mantêm-se elevados,
pela sofreguidão noticiosa de repetir primeiro tudo aquilo que os outros dão,
mas com salários baixos e uma enxurrada de comentadores a opinar, de sorte que
há jornais que mais parecem opinativos.
Em suma, o papel está em agonia, o digital não sustenta. A
imprensa escrita generalista portuguesa está, literalmente, em coma induzido
por financiamento público e contratos opacos. Mais grave ainda: esta agonia
arrasta consigo a função essencial de contrapoder e de vigilância do
jornalismo. Num país onde os jornais vivem de publicidade institucional e do
favor dos grandes grupos económicos, a queda das vendas significa também a
queda da publicidade sem compromisso, da independência. A maioria dos jornais já
não vive dos leitores, mas do poder político, da publicidade camuflada e das
agendas de grupo. O resultado é uma imprensa cada vez mais alienada do
interesse público, cada vez mais dependente da narrativa oficial.
Os números do primeiro trimestre de 2025 não deixam margem
para dúvidas. A crise deixou de ser conjuntural e tornou-se estrutural e
terminal. Nenhuma newsletter ou podcast salvará o que já está morto. Nenhuma
“estratégia digital” ressuscitará o que foi enterrado há uma década. A imprensa
escrita portuguesa, tal como a conhecemos, está nos últimos estertores – até
porque quem vende menos, cada vez mais recorre a esquemas que matam o
jornalismo.
Dona do Diário de Notícias está em falência técnica com capitais próprios negativos de quase 20 milhões
EM OITO
ANOS, PREJUÍZOS SUPERAM 78 MILHÕES DE EUROS
Dona do
Diário de Notícias está em falência técnica com capitais próprios negativos de
quase 20 milhões
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Pedro
Almeida Vieira
|
18/08/2025
A
derrocada da Global Notícias não surpreende, mas o estrondo atinge valores
inimagináveis. Os dados provisórios entregues pela dona do Diário de Notícias —
que já vende menos de mil exemplares por dia em banca — no Portal da
Transparência dos Media mostram que a empresa colapsou no ano passado com
resultados negativos de quase 26,5 milhões de euros, colocando-a em falência
técnica.
E não se
trata de meia dúzia de tostões: os capitais próprios estão agora negativos em
19,3 milhões de euros, ao mesmo tempo que os activos encolheram para apenas
21,5 milhões, aparentemente fruto da venda de títulos como o Jornal de
Notícias, a TSF e O Jogo à obscura Notícias Ilimitadas, por um valor ainda
desconhecido.
O colapso
da empresa que ainda detém os títulos mais antigos do país — o Diário de
Notícias e o Açoriano Oriental — é apenas a consequência de um rumo errático,
marcado nos últimos anos por transacções pouco transparentes e polémicas
infindáveis, incluindo a tentativa de controlo por um fundo das Bahamas,
expediente que acabou por servir de argumento para desmembrar o grupo. ↓
Nos
últimos oito anos impressiona como as sucessivas administrações foram sangrando
uma empresa que, em 2017, possuía activos superiores a 98 milhões de euros e
capitais próprios de 31,4 milhões de euros. Desde então, acumulou mais de 76
milhões de euros de prejuízos. E até os anéis se foram: os edifícios
emblemáticos do Diário de Notícias, em Lisboa, e do Jornal de Notícias, no
Porto, foram vendidos, e o dinheiro rapisamente se esfumou. Hoje, aquilo que
resta é uma carcaça que apenas um regulador conivente e um mundo político
condescendente permitem continuar a animar. E a minar o jornalismo.
Com
efeito, as receitas da Global Notícias estão em queda livre há anos, fixando-se
em apenas 22,5 milhões de euros em 2024, menos 48% do que em 2017 — e isto
apesar da alienação de títulos supostamente ainda lucrativos como o Jornal de
Notícias.
A
falência técnica — mas com valores de grandeza estratosférica — parece ser a
estratégia para abrir caminho a uma futura intervenção estatal que salve o
icónico Diário de Notícias, alienando-se o título e empurrando a Global
Notícias para a insolvência, mas com credores e o próprio Estado a ficarem a
‘arder’. As demonstrações financeiras ainda não foram apresentadas na Base de
Dados das Contas Anuais, e ignora-se se as dívidas ao Estado aumentaram ao
longo do ano passado.
Recorde-se
que, em 2024, a Global Notícias vendeu a maior parte do capital do Jornal de
Notícias, da TSF e de outros títulos à igualmente opaca Notícias Ilimitadas —
que também não apresentou contas — ficando apenas com uma participação de 30%.
O negócio, celebrado como “salvação” por quem insistia em pintar o grupo com
cores de optimismo, revelou-se afinal um mecanismo de liquidação encapotada. A
operação foi autorizada pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social
(ERC), mas com um pormenor gravíssimo: a existência de um acordo parassocial
confidencial entre as partes, cujas cláusulas permanecem em segredo até hoje.
O Página
Um apresentou uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa para obrigar a
ERC a mostrar esses documentos, mas apesar de uma sentença favorável, o
regulador recorreu com efeito suspensivo. Tem sido norma da ERC, presidida por
Helena Sousa, proteger os grandes grupos em dificuldades, negando acesso a
informação considerada sensível e escondendo a gravidade da situação
financeira.
As
consequências da alienação à Notícias Ilimitadas não tardaram a mostrar-se. Se
em 2021 a Global Notícias ainda conseguiu, por via de medidas excepcionais,
apresentar um EBITDA ligeiramente positivo (1,1 milhões de euros), em 2023
regressou aos prejuízos e em 2024 desabou num abismo: o resultado operacional
foi de -24,8 milhões de euros, mais do que todo o volume de negócios anual. Em
rácios, a autonomia financeira caiu para -90% e a solvabilidade fixou-se em
0,53 — ou seja, os passivos superam largamente os activos.
Do ponto
de vista estritamente económico, a Global Notícias já não existe como entidade
viável. Qualquer tentativa de recuperação exigiria injecções de capital
superiores a 25 milhões de euros, apenas para regressar a capitais próprios
positivos e repor mínimos de autonomia financeira. Mas a realidade é que as
fontes de receita encolheram e as marcas mais fortes — como o JN e a TSF —
foram amputadas do perímetro da empresa.
Neste
momento, existe um esqueleto feito de responsabilidades, passivos e nenhuma
margem para sobreviver, sendo que o seu activo mais forte é um jornal
emblemático mas de credibilidade ferida de morte, que vende já menos de mil
exemplares em banca e nem mil assinaturas digitais possui.
Este
quadro é tanto mais grave porque foi o próprio regulador a abençoar um negócio
que ocultou regras de governação através de cláusulas secretas. Não é apenas a
Global Notícias que está em colapso: é também o regime de transparência que
deveria tutelar a comunicação social.
A
falência técnica da Global Notícias, consagrada em 2024, não resulta apenas de
maus resultados acumulados: resulta também da complacência cúmplice da ERC e da
permissividade do Estado em relação a negócios pouco claros que moldam o
panorama mediático português. É esta cadeia de decisões opacas que hoje conduz
ao desfecho previsível: um grupo histórico transformado em ruína
contabilística, amputado dos seus principais activos e protegido por uma
cortina de sigilo regulatório.
Novos projetos de media enfrentam desafios de escala, rentabilidade e transparência
Dinheiro
Vivo
Novos
projetos de media enfrentam desafios de escala, rentabilidade e transparência
Divergente,
Fumaça e Página Um enfrentam desafios de escala e rentabilidade. Os primeiros
revelam quem os financia e os seus jornalistas têm contratos de trabalho, mas
no Página Um isso não acontece.
Filipe
Alves
Publicado
a:
28 Agosto
2025, 21:06
Os
últimos anos assistiram ao surgimento de vários projetos de media
independentes, que tiram proveito das novas tecnologias para construir novos
modelos de negócio assentes em modelos de mecenato e crowdfunding. O
DN/Dinheiro Vivo (DV) analisou as contas de três desses projetos: a revista de
jornalismo narrativo Divergente, o Fumaça e o Página Um. A conclusão a que
chegamos é que estes projetos têm conseguido marcar a agenda com trabalhos
relevantes, mas enfrentam desafios de escala e rentabilidade. E a transparência
não é a mesma nos três: a Divergente e o Fumaça revelam os seus mecenas e
financiadores, ao passo que o Página Um não o faz.
As formas
jurídicas destes três projetos são também distintas. A Divergente pertence a
uma cooperativa de jornalistas, a Bagabaga Studios, enquanto o Fumaça é detido
pela associação Verdes Memórias. Por sua vez, dos três, o Página Um é o único
que tem fins lucrativos, pertencendo a uma sociedade por quotas que tem como
sócio maioritário e gerente o seu diretor, com 70% do capital da empresa.
Antes de
passarmos a uma análise mais aprofundada dos três projetos, importa referir que
estas novas formas de fazer jornalismo surgiram num contexto de crise do modelo
de negócio dos media tradicionais, com a maioria das empresas do sector em
Portugal e no restante mundo ocidental a registar prejuízos, enfraquecendo a
capacidade de os jornalistas cumprirem a sua missão de informar e escrutinar os
diferentes poderes políticos, económicos e sociais. Cada um à sua maneira,
estes três projetos visam responder a essa crise, utilizando a tecnologia para
chegar a novos públicos e fazer um jornalismo diferente, que se diz mais
independente e transparente que o dos media mainstream.
“A
tecnologia pode ajudar os novos media jornalísticos, mas nem é a única alavanca
nem a única solução. No essencial, o que conta é a qualidade jornalística dos
conteúdos”, disse ao DN/DV o investigador e professor universitário Eduardo
Cintra Torres, que assina uma coluna sobre media no Correio da Manhã.
“Se a
tecnologia resolvesse tudo, muitos media tradicionais, com idêntica tecnologia,
com mais estofo financeiro e com técnicas complementares, como o papel, as
rádios, etc., não estariam em crise. O «segredo» destes novos media poderá ser precisamente a pequena dimensão e a
agilidade de agenda. Investigam o que querem, quando querem, e destacam-se por
investigarem o que escapa ou é rejeitado investigar por media tradicionais.
Esta liberdade — e os resultados que têm obtido — é a mais-valia dos novos
projectos como os referidos. Por vezes, o modelo que escolhem é «minoritário»,
optando por exemplo por um posicionamento mais activista, como o Fumaça, mas,
se isso pode reduzir o seu poder de atracção, não quer dizer que a qualidade e
a utilidade do seu jornalismo seja menor”, acrescentou.
Apesar
desta importância da qualidade jornalística,
a tecnologia tem desempenhado um papel muito relevante no surgimento e
crescimento de projetos independentes. Plataformas como o Substack e a Ghost,
que fornecem toda a componente tecnológica aos criadores de conteúdos (no caso
do primeiro, em troca de uma comissão sobre as receitas de assinaturas), vieram
revolucionar o sector, prometendo um novo modelo económico para o jornalismo e
a cultura. Em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, estas plataformas
têm dado gás a projetos jornalísticos independentes que, em alguns casos, já
faturam alguns milhões de dólares por ano. Este modelo elimina as principais
barreiras à entrada no mercado, permitindo que os novos projetos tenham uma
plataforma tecnológica para a criação, distribuição e monetização dos conteúdos
sem necessidade de fazerem um investimento inicial avultado em tecnologia e
áreas comercial e backoffice.
Este
processo constitui um regresso às origens do jornalismo e uma certa
desindustrialização da atividade. Mas isso não significa que os valores
essenciais do jornalismo e a sua missão de informar e escrutinar não possam
sobreviver, na opinião de Eduardo Cintra Torres.
“A
desindustrialização não implica o abandono dos fundamentos do jornalismo. Os
media referidos poderão seguir um modelo «artesanal» - feito «em casa» - mas ou
é jornalismo ou não é. Eu acho que é, e amiúde é bom ou muito bom. O acento
activista de algumas destas plataformas, em especial noutros países, pode
assemelhar-se a algum jornalismo do nosso século XIX, em que a urgência de
opinar se sobrepunha à factualidade. Mas estamos já longe desse modelo: o tempo
provou que sem informação e sem jornalismo de investigação os media só de
opinião não atraem leitores suficientes para lhes garantir a sobrevivência”,
defendeu o investigador e crítico.
Os
desafios da escala e da rentabilidade
Desta
forma, pelo menos no arranque, os novos modelos retiram da equação a figura do
capitalista, que entrou na comunicação social quando esta se tornou um negócio
lucrativo e se industrializou, na segunda metade do século XIX. Porém, os
investidores não são necessários apenas no arranque dos projetos, uma vez que
para ganhar escala é necessário investir em meios humanos e tecnológicos.
Este é,
de resto, um dos grandes desafios dos projetos independentes: como ganhar
escala, de modo a chegar a uma audiência superior e gerar mais receitas, quando
não se tem capital suficiente para fazer esses investimentos. E quando, na
esmagadora maioria dos casos, uma operação de media não só tem dificuldade em
ser rentável como não é capaz de remunerar o investimento com retornos
aceitáveis. No caso dos projetos sem fins lucrativos, a questão da
rentabilidade também se coloca, na medida em que se traduz na capacidade de
gerar excedentes que possam ser investidos na operação.
A
resposta do Substack a esta questão passa por procurar tornar desnecessário o
capital de terceiros, criando um ecossistema próprio, que funciona como uma
rede social que potencia as visitas aos sites que dela fazem parte, de maneira
a atrair mais subscritores.
Mais de
30% do tráfego dos sites alojados no Substack é gerado através de ligações de
outras páginas que fazem parte da plataforma. Nos Estados Unidos, esta
estratégia está a resultar e o Substack é, neste momento, o 36º site de
notícias mais visitado nos Estados Unidos, com um crescimento de 40% em 2024 e
um total de cinco milhões de subscritores que pagam para ter acesso aos
conteúdos.
E é cada
vez maior o número de jornalistas, escritores, podcasters e outros produtores
de conteúdos que aderem à plataforma, que funciona como agregador e rede
social.
Página
Um, Lda: transparência limitada e recibos verdes
O modelo
do Página Um tem algumas semelhanças com o dos jornais anglo-saxónicos sediados
no Substack e na Ghost, na medida em que se trata de um site sem publicidade e
financiado exclusivamente pelos leitores, que lhe fazem donativos regulares. E,
tal como esses sites, que têm equipas pequenas e focadas em temas chave, mas
conseguem chegar a audiências consideráveis, o Página Um tem apenas dois
jornalistas, mas conta com mais de cem mil visualizações mensais. O site de
jornalismo de investigação, que se tem destacado pelas notícias exclusivas que
tem publicado, fechou o ano de 2024 com resultados positivos na ordem dos 1726
euros e capitais próprios também positivos, no valor de 14732 euros, mantendo
contas equilibradas.
Onde o
Página Um diverge da maioria dos sites de notícias do Substack é no facto de
aceitar donativos de empresas, que não identifica na informação financeira que
divulga. O jornal refere apenas, no seu site, que aceita contributos de
particulares e empresas, mas até ao momento não divulgou nomes de eventuais
mecenas ou apoiantes. Neste aspeto, o Página Um distingue-se igualmente da
Divergente e do Fumaça, que revelam nos seus sites as suas fontes de
financiamento. O Fumaça divulga
inclusive os nomes dos cidadãos que lhes fazem donativos a título individual,
para além das fundações e outras entidades.
O DN/DV
questionou o Página Um sobre a contradição entre este facto e a posição que o
jornal tem tomado na defesa de uma maior transparência na gestão, na
propriedade e no financiamento dos media. O seu diretor respondeu que não
existe contradição, acusando o DN/DV de “enviesamento ou má fé” e argumentando
que não tem de revelar os apoiantes porque nenhum pagou mais de 3% das receitas
anuais do jornal.
Outra
diferença relevante é o facto de, ao contrário da Divergente e do Fumaça, que
são feitos por jornalistas com contratos de trabalho (na sua maioria sem
termo), o Página Um não ter jornalistas com contratos de trabalho permanentes.
Com uma receita de 61 mil euros em 2024, o Página Um utilizou 98% desse valor
em fornecimentos e serviços externos, a rubrica onde se contabilizam, entre
outras despesas, os pagamentos feitos a prestadores de serviços, os chamados
recibos-verdes.
As contas
revelam que os custos com pessoal, onde se contabilizam os salários do pessoal
com contratos de trabalho, diminuíram de 11529 euros em 2023 para apenas 350
euros em 2024. Já os fornecimentos e serviços externos subiram de 49432 euros
em 2023 para 60539 euros no ano passado. Isto indica que os dois jornalistas
que integram o projeto, incluindo o próprio diretor e sócio-gerente Pedro
Almeida Vieira, não têm salários fixos e passam recibos verdes à empresa
proprietária do jornal.
A lei não
impede um sócio-gerente de passar recibos verdes à própria empresa, desde que
esteja em causa trabalho independente prestado fora do horário normal e que não
esteja relacionado com as tarefas que desempenha a título de trabalho
dependente. Nestas e outras situações, de acordo com o artigo 12º da Lei
7/2009, de 12 de fevereiro, o trabalho independente não pode ser prestado com
uma remuneração certa e periódica, com horário definido, nas instalações da
empresa contratante e com os seus equipamentos. Nem, tão pouco, em funções de
direção e chefia na estrutura da empresa, conceito que se aplica ao diretor de
uma publicação jornalística.
De resto,
num artigo publicado a 2 de junho último, onde dava conta dos donativos
recebidos em 2024, o diretor do Página Um afirmava, de forma taxativa, que o
projeto tem dois jornalistas que ali trabalham em permanência e em instalações
da empresa. “O nosso orçamento mensal ronda os cinco mil euros, valor que cobre
os custos operacionais do site, comunicações, despesas logísticas, renda da
redação, e o pagamento — em montantes que envergonhariam qualquer tabela
sindical — de dois jornalistas fixos. Não há desperdício. Não há luxos. Não há
salários dourados”, garantia.
A
confirmarem-se as informações que constam destes escritos e das demonstrações
financeiras, os dois jornalistas do Página Um arriscam ser considerados falsos
recibos verdes, o que constituiria uma contraordenação muito grave, punida com
multa entre entre os 2040 euros e os 61200 euros por trabalhador, de acordo com
o valor da infração cometida.
Questionado
pelo DN/DV, o diretor do Página Um confirmou que não aufere salário e passa
recibos verdes, mas que faz apenas pelos artigos de opinião que escreve para o
jornal. Ou seja, esses rendimentos são declarados a título de direitos de
autor. Os quais, segundo a lei, são tributados apenas sobre 50% do seu valor,
no que constitui um benefício fiscal à criação literária e artística. Pedro
Almeida Vieira mostrou-se convicto de que a sua situação e a da restante
redação do Página Um não corresponde à de falsos recibos verdes.
Divergente:
revista digital pede apoios para fazer “mais e melhor jornalismo
A
cooperativa Bagabaga Studios, proprietária da Divergente, fechou o ano de 2024
com um prejuízo de 18665 euros e capitais próprios negativos de 7926 euros, ao
contrário do ano anterior, que encerrou
com capitais positivos. As receitas ascenderam a 240 mil euros, mas os custos
foram superiores. Questionada pelo
DN/DV, a diretora da Divergente, Sofia da Palma Rodrigues, rejeitou que estes
números indiquem que a situação financeira da revista esteja a degradar-se.
“Quando
começámos, em 2014, trabalhávamos de forma voluntária para erguer o projecto e
fazê-lo acontecer. Em 2020, ganhámos uma bolsa da Civitates que permitiu fundar
a base da estrutura que temos hoje — começámos por ser três jornalistas, um a
meio tempo, e uma pessoa que fazia a comunicação do projecto. Não tínhamos uma
periodicidade, nem uma rede de freelancers fixos”, começou por explicar Sofia
da Palma Rodrigues.
“Hoje,
cinco anos depois, somos cinco jornalistas, um a meio tempo, uma pessoa que se
dedica à produção de eventos, gestão da comunidade e angariação de fundos,
quatro freelancers fixos - contabilista, desenvolvimento web, design, consultor
de imagem e fotógrafo -, e contamos ainda como uma rede de freelancers que
vamos activando para trabalhos específicos - ilustradores, músicos, editores de
som e imagem”, acrescentou.
Com esta
equipa, a Divergente “cresceu” e passou a publicar uma newsletter mensal que
conta com cinco mil subscritores e uma grande investigação jornalística - que
se desdobra em diferentes formatos - e é
publicada em diferentes órgãos de comunicação social tradicionais, como o
Expresso e a rádio TSF. Além disso, a Divergente promove eventos e debates
sobre diversos temas.
A revista
vive de donativos e conta com uma comunidade de cerca de 130 pessoas que a
apoiam, para além de vários mecenas institucionais, incluindo fundações e
outras entidades, que estão listadas no seu site. Porém, precisa de mais apoios
para poder fazer “mais e melhor jornalismo”, apela a sua diretora. Para manter
o projecto como ele existe hoje, em vez de “definhar e regressar a 2020”, diz Sofia da Palma Rodrigues, “é preciso
apoio estrutural”.
“Em
Portugal, não existe qualquer iniciativa pública ou privada que apoie a
estrutura de uma redacção independente que faça jornalismo de investigação, e
as bolsas internacionais são cada vez mais disputadas e em menor quantidade”,
afirmou.
Fumaça:
um órgão premiado onde as decisões são tomadas por consenso
No caso
do Fumaça, a entidade proprietária é uma associação sem fins lucrativos e as
decisões editoriais são tomadas pelo conjunto da redação. O site, que já
recebeu 30 prémos de jornalismo, incluindo o Gazeta Revelação, tem uma diretora
editorial, Margarida David Cardoso, que é uma figura fictícia. “Este cargo é
fictício. A redação do Fumaça é horizontal, e assume coletivamente
responsabilidade pelas suas decisões. Nomear uma hierarquia é uma obrigação
legal de que discordamos”, diz uma nota no site.
“A tomada
de decisões é feita coletivamente, por consenso, em todas as áreas de decisão
da redação — desde a aprovação de orçamentos até à edição de cada peça. Por
isso mesmo, a responsabilidade pelo que é publicado é, também, coletiva e
partilhada”, disse ao DN/DV o jornalista Ricardo Ribeiro, do Fumaça.
O mesmo
princípio é aplicado nas decisões de cariz financeiro e administrativo. “Quanto
à gestão quotidiana de tarefas administrativas e financeiras — como, por
exemplo, a organização de faturas, ou a atualização permanente de execução
financeira que publicamos na área de transparência do nosso website —, é
responsabilidade de um dos membros da equipa”, disse ainda.
O Fumaça
apresenta-se como um “podcast de jornalismo de investigação, independente e sem
fins lucrativos, focado no escrutínio de sistemas de opressão e desigualdades”.
Como principais mecenas tem entidades como a Open Society Foundation, de George
Soros, a Unesco e a fundação Rosa-Luxemburg-Stiftung, ligada ao Partido Social
Democrata de Esquerda alemão, que descende de várias forças políticas
anteriores, incluindo o SED, o antigo
partido único da Alemanha de Leste.
O
coletivo que constitui o Fumaça assume-se como “dissidente” e diz não acreditar
“na existência de jornalismo neutro”, assumindo
de “maneira clara as suas subjetividades e conflitos de interesse”.
Em 2024,
o Fumaça recebeu 287 mil euros em contribuições e teve custos de 284 mil. Os
custos com os nove jornalistas que têm contratos sem termo ascenderam a 227 mil
euros, o que significa um ordenado médio ilíquido de 25 mil euros por ano, ou
1800 euros por mês (incluindo subsídios).
Em, 2025,
o Fumaça prevê gastar 310 mil euros, tendo assegurados, de momento, 209 mil
euros em contribuições, segundo a informação mais recente que consta do seu
site.
Macron’s stunned troops see no good way out of France’s impasse
Macron’s
stunned troops see no good way out of France’s impasse
New prime
minister? New elections? Neither would seem to defuse France’s ticking debt
bomb.
August
29, 2025 4:01 am CET
By
Pauline de Saint Remy
PARIS —
President Emmanuel Macron’s allies don’t seem to have any good answers as to
what happens after the almost certain fall of the government of Prime Minister
François Bayrou in the Sept. 8 parliamentary vote of confidence.
The names
of Armed Forces Minister Sébastien Lecornu and Justice Minister Gérald Darmanin
are emerging in the chatter as potential successors to the poisoned chalice of
the premiership, but what would a new recruit really solve? A new PM will be
ensnared in exactly the same quagmire.
French
politics will still be too internally riven to pass vital deficit-slashing
reforms, despite Bayrou’s Cassandra-like warnings that France could be headed
toward a Greek-style debt crisis if it sits on its hands and doesn’t implement
an unpopular €43.8 billion budget squeeze.
So how
about another snap election? If Macron calls one, the political landscape could
still be mired in exactly the same impasse — but the blame after a vote would
more obviously fall on him rather than on his prime minister. And all that
time, the financial markets will be running out of patience regarding France’s
ability to put its books in order.
All in
all, a state of shock grips elected officials, aides and advisers from the
various parties that support France’s minority government.
“It’s a
tough blow for the president,” said one minister’s political adviser who, like
others in this piece, was granted anonymity to speak candidly about the
political chaos. They noted that a day of mass protests, potentially shutting
the country down, was in the offing only two days after Bayrou’s expected exit.
“A
political crisis on Sept. 8, a social crisis on Sept. 10. That’s a regime
crisis, isn’t it?”
New man
for the Matignon
Macron’s
centrists seem to be clutching at straws. The first signals coming out of the
Elysée Palace seemed to indicate the president is not considering dissolving
parliament and going for another election.
Instead,
Macron is thought to be considering tapping the young, center-right Lecornu to
lead the government. Someone close to Macron said Justice Minister Darmanin,
who has long eyed the premiership, is also a candidate, but doesn’t want to
inherit what appears to be a suicide mission.
Bother
Lecornu and Darmanin originally hailed from the conservative Les Républicains
party and have been with Macron since 2017. Lecornu is closer to the president,
and Macron almost nominated him before Bayrou imposed himself as premier. He’s
seen as more biddable, while Darmanin is highly ambitious and more
independent-minded.
An
individual close to Lecornu said the 39-year-old privately boasts of enjoying a
privileged relationship with Marine Le Pen’s far-right National Rally, while at
the same time insisting he could lead a coalition government of both the right
and the left.
But will
that relationship with the National Rally help him succeed in the bloody budget
arena where both Bayrou and former Prime Minister Michel Barnier failed?
Many
centrists say no: Nothing indicates that either Le Pen or the socialists have
any intention of supporting him any more than they did Bayrou.
“There is
no scenario, no new casting choice that can resolve the crisis,” the
ministerial adviser said.
For the
conservative Les Républicains supporting Bayrou’s minority government, the
suggestion of Lecornu is yet another example of an unfailingly optimistic
president who refuses to accept defeat. Macron himself reportedly tried to
downplay the crisis at Wednesday’s weekly meeting of the Council of Ministers.
“He can’t
help trying to regain control,” said a dejected member of Les Républicains.
“It’s his natural inclination.”
Even a
technocratic government of experts to solve the budget mess — a rather
Italian-sounding fix — would need to navigate a splintered National Assembly
filled with lawmakers looking head to key municipal elections next year and the
presidential election in 2027.
Unappetizing
election
Sending
the French back to the ballot box, however, also carries its own set of risks
for a president worried about his legacy. It was, after all, the surprise snap
vote following European elections last summer that shunted France into its
current deadlock and irrevocably damaged Macron’s reputation.
Polling
shows voters could easily deliver another hung parliament in any election in
the coming weeks or months.
“The
worst for him is a dissolution that doesn’t work, because then he’s the one who
gets the boot,” another ministerial adviser said.
That
doesn’t mean it’s impossible, however. Before Monday, Macron had repeatedly
ruled out calling new elections before the end of his term, but the Elysée
insists he will not deprive himself of a constitutional power .
“Mystery
is part of the presidential strategy,” said a close associate of Macron.
Bayrou
for president
Bayrou’s
camp, meanwhile, remains stunned by the speed at which his fate was sealed by
opposition lawmakers — especially the far right — and is struggling to convince
people the situation is under control.
One
individual in the prime minister’s entourage said he hoped Le Pen and the
National Rally would reconsider their position after 48 hours. The hope was
that Bayrou’s team could do the dirty work of balancing France’s books before
2027 while also avoiding the danger of a legislative election in which Le Pen
would be barred from running due to her embezzlement conviction.
Bayrou
for now appears to be waging a battle in the court of public opinion, giving a
flurry of speeches and interviews in the hope of leaving the Matignon Palace,
the prime ministerial residence, with his head held high.
It has
the air of a campaign strategy for 2027, and Bayrou has long aspired to the
Elysée.
“At least
he will have earned his stripes as a presidential candidate,” one Macron
supporter said.
Nigel Farage claimed the European convention on human rights had been “used” by the government “against the people of Epping”, though the judge ruled that arguments about a “hierarchy of rights” were “unattractive”.
40m ago
15.50 BST
Nigel
Farage claimed the European convention on human rights had been “used” by the
government “against the people of Epping”, though the judge ruled that
arguments about a “hierarchy of rights” were “unattractive”.
The
Reform UK leader said:
The
government has used ECHR against the people of Epping. Illegal migrants have
more rights than the British people under Starmer.
He did
not specify which part of the case he was referring to.
The
Home Office’s lawyers had argued “the relevant public interests in play are not
equal”, referring to Epping’s interest in enforcing planning control on the one
hand, and the home secretary’s duty which comes from UK obligations under the
ECHR on the other.
However,
Friday’s ruling says:
Any
argument in this particular context about a hierarchy of rights is in our view
unattractive.
For
more on this topic, read BBC News home and legal correspondent Dominic
Casciani’s take on the ruling (see 3.29pm BST).
Shadow Home Sec: Government is 'using the courts against the British people / Leader of Epping Forest council calls for calm after court of appeal ruling
45m ago
15.41 BST
Leader of
Epping Forest council calls for calm after court of appeal ruling
The
leader of Epping Forest district council has called for calm after the court of
appeal ruled asylum seekers can stay at the Bell hotel in Essex.
Councillor
Chris Whitbread told Times Radio:
I call
for calm. There’s been peaceful protests and there’s been non peaceful protests
outside the hotel.
He added:
We saw
yesterday the government say that asylum seekers have more rights than my
residents. I’m really cross with this ruling. Obviously we’ll now reflect on
where we are.
Obviously
we’re still going to court in October to go for a final injunction and we will
be pushing hard to make sure that’s successful, but we will do everything we
can still.
This
is an awful position for the town … I’m really concerned for the future of the
town at the moment.
Speaking
outside the London court after the ruling, Ken Williamson, member of cabinet
for Epping Forest district council said:
We
understand government faces a dilemma, but that should not be at the expense of
local communities.
Planning
law may seem dull, it might seem boring, but it goes to the heart of the
relationship between local communities and good government. It enshrines the
rights of local people to have a say within their own communities, and it
should not be set aside lightly. The government can still listen.
It needs
to understand and take responsibility for the events that have taken place in
Epping over the past six weeks, for the trauma and disruption brought upon our
community.
The
council could still be granted an injunction after a full hearing of the legal
claim, which is due to be heard in October.
The Shattering of Wednesday Mass: Minnesota Parish Reels From Attack
The
Shattering of Wednesday Mass: Minnesota Parish Reels From Attack
Annunciation
Catholic Church and School has been a neighborhood anchor in Minneapolis for
more than a century.
By Mitch
Smith Ruth
Graham Ann Hinga
Klein and Dan Simmons
Mitch
Smith, Ann Hinga Klein and Dan Simmons reported from Minneapolis.
https://www.nytimes.com/2025/08/28/us/catholic-church-shooting.html
Aug. 28,
2025
When it
is time for Wednesday Mass at Annunciation Catholic Church, students from the
school next door file into the front pews and settle in with their assigned
buddies from different grades. Middle schoolers might sit with first graders,
fifth graders with third graders.
It is a
sacred, if ordinary, part of the rhythm at Annunciation in Minneapolis, where
children practice for their turn to read Scripture or to be part of the choir
during their grade’s week to help lead the Mass.
“You feel
important as a second grader, going up in front of your school and doing a
reading,” said Conor O’Rourke, 23, who attended Annunciation Catholic School
from kindergarten through eighth grade.
That
tradition was shattered this week, during the first Wednesday Mass of the
school year, when a shooter fired into the service during the recitation of
Psalm 139. The attack killed two students and left 18 people injured. At least
one student, who was shot in the back, used his body to protect another child.
“You have
searched me and you know me, Lord,” the day’s psalm says in part. “For you
darkness itself is not dark, and night shines as the day.”
The
shooting has brought a tragic spotlight to a busy urban parish that much
preferred being locally famous for its Wiffle ball field and its annual
SeptemberFest. And it has pushed into action a support network at the church
that, one member said, had long functioned as a sort of small town within
Minneapolis.
“It’s a
large American city, but it’s a very tight-knit community,” said Duane Passa,
who has three children at the school, and who volunteers as a coach and a
fantasy football league organizer for students. “I know a majority of the kids
in this school by first name, as well as their parents.”
Annunciation
has remained lively even as other urban parishes in the area and across the
country have withered, merged or closed. Recent church bulletins promote
offerings like a new aluminum can recycling program, a blood drive and the
upcoming Blessing of the Animals, a tradition in which families bring their
pets for an outdoor blessing.
The
church’s stone and stained-glass facade sits alongside a busy street next to
the school, with signs extolling the benefits of rain gardens and inviting
parents to enroll their students. Just across the road, a Starbucks fills with
schoolchildren and parents before and after classes.
The
congregation was made up of people living “simple, but simply profound, lives,”
said Shannon Smith, a parishioner for about 20 years whose four children
graduated from Annunciation Catholic School.
The
school draws children from families in the parish, but also from families who
are part of other congregations in the neighborhood.
“It’s
people who are interested in moral formation and in their kids being in
church,” said Andy Rowell, a professor at the evangelical Bethel Seminary whose
wife is the pastor of a Baptist church a few blocks from Annunciation. “This is
a sort of an idyllic little part of the city.”
The
church’s annual SeptemberFest party, which started as a parish anniversary
celebration, now draws large crowds from the neighborhood for a carnival,
games, music and food. The church’s bells, which sound throughout the day, are
part of the soundtrack of South Minneapolis. Annunciation even hosts indoor
baseball practices in April, when Minnesota’s persistent winters make outdoor
conditions unpredictable.
“It’s
more than a civic organization,” said Jeff Cavins, a Catholic author and
podcaster who lives in the Twin Cities area, and who attended church at
Annunciation as a child. “This really is family, and it’s at times like this
that we come to this realization, that there’s a solidarity and a love that
transcends regular living.”
Shawn
Olson, an architectural designer who lives about a mile from Annunciation, and
whose children have played many a Wiffle ball game there, said he saw that love
on display on Wednesday as he was driving by after the shooting.
He
described seeing a large group of children “all huddled together like penguins
do in the Antarctic, you know, with their heads down and all jammed together.”
Teachers hovered over them, he said, covering them with their arms like mother
birds.
“And I
thought, ‘Oh my gosh, these people would do anything to protect these kids,’”
he said. “It’s a beautiful thing, but they were so scared.”
The
assailant’s motive is unclear, but a social media account associated with the
attacker contains videos of diary entries that include a drawing of the
church’s sanctuary. The shooter’s mother worked in the business office of the
church for five years before retiring in 2021. The F.B.I. is investigating the
shooting as an act of domestic terrorism and a hate crime targeting Catholics,
Kash Patel, the agency’s director, said on Wednesday.
The
parish celebrated its 100th anniversary in 2022, and the centennial of the
school a year later. The school was led by four Dominican sisters when it
opened, according to the parish’s website. The first year, 72 students were
enrolled.
Kenzie
Huyen, 23, who went to Annunciation School through eighth grade, said she has
remained in touch with friends from those days even as she moved to New York
and started her career as a teacher.
“I didn’t
really realize how lucky I was until I kind of grew up and left and you have to
create that community yourself,” Ms. Huyen said. “You just feel celebrated when
you’re there,” she added. Ms. Huyen happened to be visiting home on Wednesday.
She heard the sirens racing toward her old school and the helicopters buzzing
overhead.
The last
few years have been a time of transition at the church and the school, both of
which have welcomed new leaders. Father Dennis Zehren became the parish’s
pastor in July, moving into the 102-year-old rectory on the church grounds.
“All of
us at the school and church will enjoy praying together and learning together,”
Father Zehren wrote in the church bulletin distributed last weekend, just ahead
of the first day of classes. “Let the school bells ring!”
A few
nights later, members of his church and others from the region had gathered at
a Catholic high school in nearby Richfield, Minn., crowding into the gymnasium
as they tried to process the unthinkable.
As they
prepared to leave, Archbishop Bernard Hebda of Minneapolis and St. Paul offered
a prayer. “Lord, as we mourn the sudden death of our children, show us the
immense power of your goodness,” he said. “Strengthen our belief that they have
entered into your presence.”
Mitch
Smith is a Chicago-based national correspondent for The Times, covering the
Midwest and Great Plains.
Ruth
Graham is a national reporter, based in Dallas, covering religion, faith and
values for The Times.
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