domingo, 13 de março de 2022

Francisco de Almeida Garrett constituído arguido pela PJ no caso dos certificados dos judeus sefarditas

 


NACIONALIDADE

Francisco de Almeida Garrett constituído arguido pela PJ no caso dos certificados dos judeus sefarditas

 

O advogado portuense, que é sobrinho da ex-ministra socialista Maria de Belém, é um dos membros da Comunidade Israelita do Porto que estão sob suspeita. Rabino Daniel Litvak foi solto ao início da madrugada deste sábado.

 

Paulo Curado

12 de Março de 2022, 18:16

https://www.publico.pt/2022/03/12/sociedade/noticia/almeida-garrett-constituido-arguido-pj-caso-certificados-judeus-sefarditas-1998570

 

O rabino da Comunidade Israelita do Porto (CIP) detido pela Judiciária na última quinta-feira, quando se preparava para viajar para Israel, suspeito de práticas ilegais na emissão de certificados de nacionalidade para judeus sefarditas, foi interrogado na noite desta sexta-feira e libertado na madrugada deste sábado ficando a aguardar o desenvolvimento do processo com termo de identidade e residência e impedido de sair do país. Entregou às autoridades o seu passaporte israelita e o português.

 

Mas há um segundo arguido na investigação em curso: Francisco de Almeida Garrett, advogado e membro da direcção da Comunidade Israelita do Porto (CIP). Almeida Garrett é sobrinho de Maria de Belém Roseira, antiga ministra socialista e ex-candidata presidencial, que em 2013 propôs a da Lei da Nacionalidade que veio a ser aprovada pelo Parlamento por unanimidade. No entanto, uma legislação que aparecia como uma justa reparação histórica acabou por se transformar num negócio com enormes lucros para a CIP e para elementos da sua direcção.

 

Fonte da comunidade judaica do Porto avançou neste sábado que Daniel Litvak, depois de ter sido interrogado “durante duas horas”, viu serem-lhe aplicadas as medidas de coacção de Termo de Identidade e Residência (TIR). Uma informação que foi confirmada pelo PÚBLICO.

 

Litvak é representado por uma advogada da sociedade de advogados João Nabais & Associados. Trata-se de Sónia Carneiro, antiga directora-executiva da Liga Portuguesa de Futebol.

 

Em causa estarão alegadas irregularidades cometidas em processos de atribuição da nacionalidade portuguesa a descendentes de judeus sefarditas, que se encontra em investigação. Tratam-se dos descendentes dos judeus originários da Península Ibérica expulsos de Portugal no final do século XV.

 

O mais mediático caso de atribuição de nacionalidade portuguesa é referente ao oligarca russo Roman Abramovich, até esta semana proprietário do clube de futebol Chelsea (Reino Unido), que obteve a naturalização em Abril do ano passado ao abrigo do artigo 6.º n.º 7 da Lei da Nacionalidade referente aos judeus sefarditas.

 

A investigação policial está a ser conduzida pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC), que efectuou esta sexta-feira várias buscas a dirigentes da CIP, nomeadamente ao escritório e casa do advogado de Francisco de Almeida Garrett, segundo apurou o PÚBLICO.

 

A PGR abriu em 19 de Janeiro o inquérito sobre a atribuição da nacionalidade a Abramovich, obtida num prazo recorde de seis meses e meio. O processo deu entrada na Conservatória dos Registos Centrais, em Lisboa, e no Ministério da Justiça (que é quem tem o poder de conceder a nacionalidade) a 16 de Outubro de 2020 e ficou concluído a 30 de Abril de 2021.

 

Entretanto a CIP reagiu em comunicado este sábado confirmando ter sido alvo de buscas policiais, após “denúncias anónimas”, e garantiu que as suspeitas vão ser “rebatidas documentadamente ponto a ponto”.

 

 

“No dia de ontem membros da direcção da Comunidade Israelita do Porto/Comunidade Judaica do Porto (CIP/CJP) foram alvos de buscas e um deles foi indiciado dos crimes de tráfico de influência (a denúncia afirma que foi o autor da lei dos sefarditas de 2013), fraude fiscal e branqueamento (a denúncia afirma que existem desvios de fundos não declarados e que são branqueados) e falsificação de documentos (a denúncia afirma que os pareceres do rabino são falsos e que o jurista da direcção devia saber)”, lê-se na nota enviada pela CIP à Lusa.

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