Pedro Santos Guerreiro
"Só vale
tudo para quem não vale nada. André Ventura mente e manipula factos, insinua e
lança suspeitas, lava a cara de Marine Le Pen como suja sem escrúpulos a cara
de Paulo Pedroso, presume culpados em casos judiciais abertos, não discute uma
vírgula de política e vomita todos os pontos de exclamação sobre casos
passados. No debate com Ana Gomes, só num ponto esteve bem e tem razão,
sublinhando o erro de Ana Gomes de prometer ilegalizar o Chega se for
Presidente. Ana Gomes preferiu atacar Ventura, o que vale menos do que
desmontar a inânia das suas ideias. O repúdio da mãe e avó de sete netos não
chega para mudar o Chega. E se não baixou ao nível do que ouvia, também não
subiu o nível do debate para que se falasse de política e de Presidência da
República. (...)
Ana Gomes fala de
André Ventura como os atores de teatro falam de Macbeth, não o nomeando. Só que
não é por superstição, é por nojo, que se entrevê no esgar frequente sobre
“esse senhor”. (...)
Foi a afirmação
contra os diabos “que querem impor ditaduras”, incluindo “a ditadura de pessoas
de bem” defendida por Ventura, que insiste no discurso estar contra “a parte
que não trabalha”, em defender a prisão perpétua porque “não podemos ter cá
fora essa bandidagem”, gozar com cortar mãos as ladrões (“a alguns não faria
mal”), correr com os refugiados que aproveitam o “fascismo invertido” (o que é
“fascismo invertido”?) e “dizem aos portugueses ‘paguem!’, ‘paguem!’”. Rir e
gozar é sempre a saída final de Ventura, mesmo quando Ana Gomes o acusa de
querer “destruir a democracia”, de ser “um instrumento de poderes ocultos”, de
estar ligado às forças “de infiltração de racistas nas forças armadas ou nas
forças de segurança”. Talvez rir seja o melhor remédio para acabar com o
assunto.
Resta a questão
final: quem ganhou e quem perdeu votos neste debate? Ventura não perde um
fanático e colhe quando ataca a destruição económica associada aos
confinamentos. Ana Gomes ganha possivelmente apenas votos à esquerda,
retirando-os a Marisa ou a João Ferreira. Não porque a prefiram, mas por medo
de que Ventura fique atrás de Marcelo mas à frente de toda a esquerda."

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