Carlos Lopes, disse ao PÚBLICO que “não se trata de um abate de sobreiros, mas sim de cortes de ramos”. Carlos Lopes admitiu, no entanto, que houve árvores “que sofreram um corte um pouco mais agressivo”. ( !!!! ???? !!!! )
ALGARVE
EDP acusada de
cortar ilegalmente mais de 100 sobreiros na serra do Caldeirão
O Instituto da
Conservação da Natureza e Florestas embargou a obra. Árvores protegidas,
algumas delas centenárias, foram abatidas ou cortadas. EDP diz que só houve
corte de ramos
Idálio Revez 6 de
Dezembro de 2019, 6:39
Mais de 100
sobreiros foram abatidos ou cortados na serra Caldeirão sem autorização do
Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). A operação, ordenada
pela EDP, está a ser desenvolvida de forma “indiscriminada e sem fiscalização”,
acusa o presidente da Associação de Produtores Florestais da Serra do
Caldeirão, Gilberto Pereira, adiantando que, na última semana, a associação
recebeu a queixa de 13 proprietários lesados. Os trabalhos foram embargados
ontem pelo ICNF, mas os danos ambientais não são reparáveis. Árvores
centenárias, protegidas por lei, ficaram reduzidas a troncos, sem hipótese de
sobrevivência.
A obra foi
entregue à empresa Ecorede - Engenharia e Serviços. O objectivo era que se
procedesse à limpeza da Rede Secundária de Gestão de Combustível nas linhas de
Média Tensão da EDP na zona do Barranco do Velho. O engenheiro florestal Pedro
Jesus, da associação representante dos proprietários, diz que “foram derrubados
mais de uma centena de sobreiros e há 13 proprietários lesados”. Nesta
quarta-feira, em Loulé, durante a reunião da Comissão Municipal da Defesa da
Floresta Contra Incêndios — destinada a fazer o balanço do ano ao nível da
prevenção contra incêndios — a questão dos cortes abusivos foi levantada. “Não
havia, aparentemente, conhecimento do que se estava a passar”, disse Pedro
Jesus, adiantando que a comissão integra elementos do ICNF, GNR, EDP, entre
outros organismos com responsabilidade na gestão do território.
O responsável
regional da EDP por esta área, Carlos Lopes, disse ao PÚBLICO que “não se trata
de um abate de sobreiros, mas sim de cortes de ramos”. Carlos Lopes admitiu, no
entanto, que houve árvores “que sofreram um corte um pouco mais agressivo”.
Este responsável esteve presente na reunião de quarta-feira em Loulé e nesse
encontro, diz Carlos Lopes, o que foi referido foi que houve abates de
sobreiros, mas noutro local — a EN 2, da responsabilidade da Estradas de
Portugal. Sobre o embargo do ICNF, Carlos Lopes diz que os trabalhos estão
suspensos.
A primeira queixa
sobre os abates destas árvores surgiu no dia 28 através da linha SOS Ambiente.
“Passei pela Quintã, estavam a serrar os sobreiros na minha propriedade sem que
tivesse havido qualquer aviso ou pedido de autorização”, disse ao PÚBLICO
Sérgio Pereira, indignado. “Para cortarmos um sobreiro ou azinheira, secos,
esperamos duas ou três semanas pela autorização e estamos sujeitos a multas se
não cumprimos todas as formalidades. Neste caso, cortaram a torto e a direito e
nada acontece.”
O director
regional do ICNF, Castelão Rodrigues, informou que a operação, em área de Rede
Natura, não está autorizada. “Não foi pedida licença para os trabalhos e está a
decorrer um processo de contra-ordenação à EDP”, adiantou. O valor da coima
pode oscilar entre os 50 e os 150 mil euros. “Tirei fotografias e posso
mostrar”, prontifica-se Sérgio Pereira, para garantir que as responsabilidades são
apuradas.
Durante a manhã
de ontem, o PÚBLICO encontrou no local uma equipa da empresa All Fix, da
Lousada, com uma viatura da Ecorede. “Houve cortes em demasia, viemos
rectificar”, disse um dos elementos da equipa constituída por dois
electricistas e dois ajudantes, quando interpelado por Pedro Jesus. “Como é
possível corrigir o corte de um sobreiro, serrado ao meio, como se fosse uma
oliveira?”, questionou este engenheiro florestal.
“É chocante o que
se vê”
Descendo a
montanha, na direcção da Quintã, verifica-se que não foi só cortado o mato e os
ramos das árvores que ameaçavam os cabos eléctricos. “Esperemos que as
instituições públicas cumpram o seu papel de punir os responsáveis”, sublinha o
presidente da associação de produtores Gilberto Pereira. “É chocante aquilo que
se vê.”
A Associação de
Produtores Florestais da Serra do Caldeirão gere quatro Zonas de Intervenção
Florestal (ZIF), correspondendo a 12 mil hectares. Em formação tem mais seis
ZIF, que cobrem 21.500 hectares. “Não se percebe porque é que as instituições
que estão no terreno não são ouvidas, quando se pretende fazer este tipo de
intervenções. Nós somos os primeiros interessados em que não haja incêndios”,
rematou.
Mas os cortes não
se ficam por aqui. Ainda na serra do Caldeirão, a Estrada Nacional (EN) 2,
classificada de “estrada património” também está a ser alvo de limpeza das
zonas laterais para criar faixas de interrupção de combustível. Porém, as
árvores de maior porte, com valor comercial, são as primeiras a ser derrubadas
ficando os sobrantes à beira da estrada.
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