sexta-feira, 29 de agosto de 2025
28 Jul 2025: Impresa: Edifício-sede ‘fiscalmente sujo’ foi motivo invocado para anular negócio
Impresa:
Edifício-sede ‘fiscalmente sujo’ foi motivo invocado para anular negócio
Author
avatar
Pedro
Almeida Vieira e Elisabete Tavares
|
28/07/2025
A transacção
parecia fechada, o valor anunciado, a dívida em vias de ser aliviada. Mas uma
expressão técnica — de ressonância quase policial — acabou por arruinar um
negócio de milhões: o edifício-sede da Impresa, em Paço de Arcos, estava,
segundo apurou o PÁGINA UM, “fiscalmente sujo”.
O termo,
usado nos bastidores para designar imóveis com irregularidades fiscais
latentes, surgiu na análise feita por uma consultora especializada, contratada
pela sociedade gestora do BPI Imofomento – Fundo de Investimento Imobiliário
Aberto para a habitual ‘due diligence’ — uma análise prévia e aprofundada para
avaliar os riscos e oportunidades de um negócio.
O problema —
identificado como uma quebra na cadeia de IVA durante a fase de construção e
posterior ampliação do imóvel — terá levado o potencial comprador a recuar
subitamente, mesmo depois de semanas de negociações com a administração da
Impresa, que foi assessorada pela sociedade de advogados PLMJ neste processo. ↓
Em termos
técnicos, a “quebra da cadeia de IVA” traduz-se numa falha documental ou
contabilística que compromete a regularidade fiscal do imóvel. Embora a
transacção estivesse isenta de IVA e não envolvesse qualquer dedução por parte
do comprador, as irregularidades acumuladas em operações anteriores poderiam
dar origem a rectificações ou correcções fiscais que poderiam ser reclamadas ao
novo proprietário, nomeadamente por via da reversão de benefícios fiscais ou
exigências da Autoridade Tributária.
Ainda que os
montantes em causa não fossem elevados – e até pudessem ser sanados junto da
própria Autoridade Tributária –, os gestores do fundo terão considerado que o
risco era suficiente para colocar em causa a operação. O cancelamento do
negócio foi feito sem sequer antes ter sido assinado qualquer
contrato-promessa.
Recorde-se
que a Impresa tinha anunciado no dia 20 de Junho que estava em “negociações
avançadas” com a BPI – Gestão de Activos, que gere o fundo BPI Imofomento, para
a ‘revenda’ do seu edifício-sede, com posterior arrendamento. A BPI-Gestão de
Activos, liderada por Jorge Teixeira, pertence ao grupo BPI, do qual foi
administrador, até 2024, Pedro Barreto, actual vice-presidente da Impresa.
A decisão
apanhou a administração da Impresa completamente desprevenida. A operação era
vista como fundamental para equilibrar as contas do grupo dono da SIC e do
Expresso, pressionado por uma dívida elevada, que consome cerca de um milhão de
euros por ano apenas em juros e obrigações. O encaixe de 37 milhões de euros
permitiria, segundo os planos internos, reduzir significativamente esse encargo
e libertar liquidez imediata para despesas operacionais, incluindo salários.
Mais do que
uma venda simples com arrendamento posterior, — como foi publicamente anunciado
pela Impresa em Junho — o negócio configurava na verdade um típico ‘leaseback‘
— ou seja, a empresa vendia o edifício e passava a arrendá-lo ao novo
proprietário.
No final de
Maio, Francisco Pedro Balsemão chegou a explicitar este modelo em reuniões com
accionistas, destacando os efeitos positivos esperados nos indicadores
financeiros. Contudo, fontes contactadas pelo PÁGINA UM indicam que, ao
contrário do que sucedeu com o anterior ‘leaseback’ celebrado com o Novo Banco,
o modelo em negociação com o BPI Imofomento era ainda mais desfavorável para o
comprador.
O valor
pedido pela Impresa — 37 milhões de euros — representava um excesso de cerca de
17,4 milhões de euros face ao valor da recompra em 2022 junto do Novo Banco, o
que fazia prever que a rentabilidade do investimento teria de ser assegurada
através de um arrendamento muito acima do valor de mercado — cenário de elevado
risco para um fundo de investimento conservador e que vive da confiança
institucional.
Além disso,
estranhamente, o fundo BPI Imofomento, antes do negócio ser rasgado, até estava
disponível para aceitar que a Impresa subarrendasse parte do imóvel: três pisos
do lado A do edifício-sede, com cerca de 500 metros quadrados cada.
A descoberta
da “fiscalidade suja” — embora sanável — forneceu ao fundo o pretexto ideal
para travar o negócio. A gestora do fundo BPI Imofomento terá concluído que o
risco era desproporcionado, sobretudo face a um investimento claramente
sobrevalorizado. E a ausência de qualquer contrato vinculativo permitiu-lhe
sair sem custos.
O facto é
que existiam diversos factores que ensombravam a compra do imóvel por parte do
fundo do BPI. O valor do negócio era considerado excessivo, sobretudo face ao
montante a que foi vendido ao Novo Banco em 2018. Além disso, o facto de o
actual vice-presidente da Impresa ser um ex-administrador do BPI, colocava
dúvidas sobre os contornos em que o negócio tinha surgido.
Acresce que,
este ano, os negócios entre a Impresa e o Novo Banco foram alvo de escrutínio
por parte do Ministério Público. Numa investigação estranhamente célere, o
Ministério Público não encontrou provas de corrupção passiva nos negócios que
envolveram o edifício-sede da Impresa e um empréstimo ruinoso que o Novo Banco
concedeu à Trust in News para a compra de um portfólio de publicações ao grupo
de Balsemão. O certo é que esta investigação permitiu ‘limpar’ os negócios
passados envolvendo o edifício-sede da Impresa.
Para o BPI e
para o seu fundo, o negócio com a Impresa começou a tornar-se numa grande “dor
de cabeça” que ameaçava colocar em causa a credibilidade e a confiança nos
critérios seguidos pela BPI-Gestão de Activos para a escolha dos investimentos.
Para a
Impresa, a não concretização da venda é um golpe brutal. O grupo registou
prejuízos de 5,1 milhões de euros apenas no primeiro semestre de 2025, e as
receitas publicitárias mantêm-se em queda, tanto no canal SIC como no semanário
Expresso.
Sem a
injecção financeira prevista, a situação de tesouraria degrada-se rapidamente.
Há já relatos de atrasos nos pagamentos a fornecedores e receios crescentes
sobre a capacidade de cumprir atempadamente com os salários dos trabalhadores
nos próximos meses.
Além do
impacto financeiro directo, o falhanço do negócio compromete a credibilidade da
gestão da Impresa. A operação fora comunicada à Comissão do Mercado de Valores
Mobiliários (CMVM) como estando praticamente fechada — uma afirmação que agora
se prova precipitada, senão enganosa. Para investidores e credores da Impresa,
a quebra de confiança pode ser mais danosa do que o próprio falhanço do
encaixe.
A
administração liderada por Francisco Pedro Balsemão, filho de Pinto Balsemão,
enfrenta, assim, uma crise que não é apenas patrimonial, mas institucional. Sem
o “balão de oxigénio” do negócio imobiliário, resta-lhe pouco fôlego para
manter à tona um grupo de media cuja marca de prestígio não basta, por si só,
para pagar contas. E não é apenas a cadeia de IVA do seu edifício-sede que se
partiu. É a própria Impresa que começa a “ruir”, agora sem comprador para o
imóvel, sem liquidez e sem soluções à vista.
28 Jul 2025: Impresa à beira do precipício e a arrastar a SIC
CRISE NA
IMPRENSA
Impresa à
beira do precipício e a arrastar a SIC
Author
avatar
Pedro
Almeida Vieira
https://paginaum.pt/2025/03/18/impresa-a-beira-do-precipicio-e-a-arrastar-a-sic
18/03/2025
𝕏
Foi a
galinha de ovos de ouro, depois passou a ser a vaca que dava leite; agora mostra mais ser uma cabra vampirizada até à
última gota de sangue – este pode bem um possível retrato alegórico da SIC, a
empresa televisiva da Impresa, e a história de uma ‘mãe’ que está a matar a
‘filha’.
Na semana
passada, na divulgação dos resultados da
Impresa, a holding controlada pela família Balsemão – embora com uma parte
distribuída em bolsa – revelou que “face à evolução de determinadas actividades
nos segmentos de Televisão e da Infoportugal” tinham revisto os valores dos
activos, na componente do ‘goodwill’, implicando uma imparidade da ordem dos
60,7 milhões de euros. O impacte contabilístico foi brutal, adicionado a
provisões de 5,3 milhões de euros: um prejuízo anual de 66,2 milhões de euros. De
um ano para o outro, os capitais próprios da Impresa terão caído de valor cerca
de 40%.
Porém, mais
grave do que isso, para além dos sinais para o mercado de uma holding
endividada, são os reflexos desta desvalorização. Em abono da verdade, a
redução do goodwill da Impresa é uma diminuição de um valor que efectivamente
nunca existiu; era artificial. Isto porque o goodwill da holding Impresa – que
antes desta revisão estava definido como valendo 251 milhões de euros – tinha
sido ‘fabricado’. ↓
De facto, a
origem deste goodwill registado no balanço consolidado da Impresa não resultou
de aquisições externas, nem de operações de expansão que tivessem trazido valor
acrescentado ao grupo. Aquilo que a holding fez, ao longo dos anos, foi
reavaliar internamente as suas próprias subsidiárias, em particular a SIC,
atribuindo-lhes um valor superior ao seu valor contabilístico líquido e
registando essa diferença como goodwill.
Para
financiar estas operações internas de reestruturação e ‘compra’ das
participadas, a Impresa recorreu a dívida bancária. Ou seja, criou-se um activo
intangível assente em expectativas futuras, enquanto se aumentava o passivo
financeiro com empréstimos que suportaram esta operação meramente
contabilística. Agora, a imparidade de 60 milhões de euros reconhecida sobre
esse goodwill revela aquilo que o mercado já pressentia: o grupo vale menos do
que anunciava, e a principal fonte de valor, a SIC, está fragilizada, sem
margem para sustentar por muito mais tempo uma holding que vive da sua
exploração.
Durante anos, este goodwill’ da Impresa –
completamente separado do valor dos activos intangíveis da SIC, que são de
apenas cerca de 17 milhões – justificava-se pela capacidade dos canais
televisivos fazerem dinheiro. E fizeram muito. Considerando os resultados da
empresa SIC em 2024, os seus lucros acumulados desde 2019 são bastante
expressivos: cerca de 69 milhões de euros. Porém, toda esta verba tem
integralmente canalizada, como dividendos para a ‘casa-mãe’ Impresa, limitando
a capacidade de novos investimentos ou mesmo a redução da própria dívida da
SIC. Pior: apesar deste fluxo lucrativo, em forte queda nos últimos anos (em
2024, os lucros foram apenas de cerca de 25% dos de 2021), tem-se assistido ao
aumento do passivo da SIC em mais de 50 milhões de euros, porque a ‘filha’
também empresta dinheiro ‘mãe’ e até lhe serve de ‘fiadora’.
O paradoxo é
evidente. A SIC lucra, mas não capitaliza. Os lucros são integralmente drenados
pela Impresa e, não restando liquidez na operadora de televisão, recorre-se à
dívida bancária para manter a actividade corrente e financiar investimentos e
sustentar a holding Impresa. A SIC faz dívida para pagar dividendos e ainda faz
dívida para emprestar à sua própria accionista. O que deveria ser um ciclo
virtuoso de criação e retenção de valor, transformou-se num círculo vicioso de
endividamento crescente e dependência financeira, resultando na fragilização
estrutural da SIC.
Esta é a
realidade que os números expõem de forma clara e inequívoca. Ao longo dos
últimos anos, a SIC foi sucessivamente espoliada dos seus resultados
operacionais positivos para garantir a sobrevivência financeira da Impresa. A
holding, esvaziada de actividade produtiva própria, não tem tido qualquer
capacidade de gerar fluxos de caixa que não resultem da exploração directa da
sua subsidiária.
Francisco
Pinto Balsemão: a queda de um império de media está iminente.
A SIC é o
pulmão e o coração financeiro da Impresa. Sem ela, a holding não viveria, até
porque as portas dos bancos se fecharam desde 2017 – a partir desse ano
praticamente não se registam fluxos de caixa provenientes de empréstimos
bancários directos à Impresa. E assim, como qualquer organismo parasitário, a
Impresa tem vindo a alimentar-se dos recursos da SIC sem nada devolver que
reforce a vitalidade da sua operadora.
Excluindo
ainda os lucros de 2024, note-se que os dividendos entregues à Impresa pela SIC
– controlada pela família Balsemão – totalizam, entre 2019 e 2023, um total de
64,9 milhões de euros, uma soma considerável num sector pressionado pela quebra
da publicidade televisiva tradicional e pela concorrência das plataformas de
streaming. Ou seja, em vez de servir para reforçar o capital próprio da SIC, ou
para amortizar a dívida bancária que, em Junho de 2024, atingiu 94,5 milhões de
euros, esse valor foi integralmente entregue à ‘casa-mãe’, também controlada
pela família Balsemão.
Como se não
bastasse, uma vez que a própria SIC foi ainda forçada a conceder sucessivos
empréstimos à Impresa (85 milhões de euros), com maturidade de dez anos e com
reembolso apenas em 2029, isto significa que, no curto e médio prazo, tem
imobilizados recursos significativos em favor de uma holding cuja única
estratégia parece ser sugar o que resta do activo que detém. Além disso, não
existem garantias de que o empréstimo de 85 milhões de euros seja devolvido à
SIC.
Observando
as demonstrações dos fluxos de caixa dos últimos anos, observa-se que a SIC tem
sido o ‘banco’ da Impresa, à medida que os verdadeiros bancos fecham a porta
pelo risco de incumprimento. Em 2017, a SIC emprestou à ‘mãe’ quase 10,3
mihõoes de euros em dinheiro vivo; em 2018 foram mais 48,8 milhões; em 2019
mais 45,8 milhões; em 2021 mais 1,1 milhões; e em 2023 quase três milhões. Só
uma parte foi devolvida.
Este ciclo
de extracção financeira gerou um paradoxo que salta à vista de qualquer
análise, mas que parece escapar à gestão da Impresa: uma empresa que lucra, a
SIC, não é já uma cadeia de televisões; serve para fazer fluir dinheiro para a
holding, custe o que custar, mesmo que se endivide cada vez mais – até porque
já ninguém empresta um tostão directamente à Impresa. Na verdade, observando as
contas da empresa SIC, constata-se de imediato uma dependência crescente dos
financiamentos externos, enquanto sustenta uma holding que nada parece fazer
para aliviar a sua carga de dívidas e de custos.
O resultado
é uma fragilização estrutural da SIC, que arrisca acabar com a existência tanto
da principal subsidiária da família Balsemão como da holding, já condenada. O
passivo total da SIC subiu de 123,4 milhões de euros em 2018 para 170,6 milhões
de euros em Junho de 2024 – a Impresa não revela ainda o balanço do final do
ano da sua subsidiária. Um agravamento de mais de 47,2 milhões de euros, não
obstante a geração de lucros anuais e o reconhecimento contabilístico de uma
operação que, em si mesma, continua a ser rentável. Esta dicotomia revela
aquilo que é hoje a essência da relação entre a Impresa e a SIC: a primeira já
não é uma holding no sentido clássico, mas sim um organismo dependente que
parasita o seu activo produtivo até à exaustão.
Mas mesmo
com a drenagem constante de recursos da SIC, nem a Impresa conseguiu travar o
esvaziamento do seu património. O sinal mais visível do esgotamento do modelo
parasitário reside na queda abrupta do capital próprio consolidado do grupo. De
uma ‘folga patrimonial’ de 156 milhões de euros – se bem que algo ‘maquilhada’
–, a Impresa terá passado agora, com o reconhecimento da imparidade e
consequentes prejuízos de 66,2 milhões de euros – para cerca de 96 milhões.
Além da
queda abrupta do valor – com sinais fortes de que o sector televisivo estará em
crise –, a Impresa agravou fortemente os seus principais rácios. Embora não
tenha ainda sido divulgado o passivo de 2023, a solvabilidade da Impresa anda
pelas ruas da amargura. Além disso, como a maioria dos activos da Impresa são
‘artificiais’ – ou seja, são o tal ‘goodwill’ (que representava 71% do total em
2023) –, a confiança do mercado começa a aproximar-se do zero.
Aguardando-se
ainda o relatório e contas final para o ano de 2024, a autonomia financeira da
Impresa deverá agora rondar os 30%, algo que, em muitos sectores, mostra sinais
de exposição excessiva à dívida. No caso da Impresa, trata-se de um indicador
ainda mais preocupante, porque a holding não possui activos patrimoniais
robustos, não gera cash flow operacional próprio e depende quase exclusivamente
da SIC para sustentar as suas contas. A composição dos activos – dominada por
intangíveis como o goodwill, agora desvalorizado – agrava o risco.
Em 2023, se
se excluísse o goodwill, os activos da Impresa situavam-se em apenas em 110
milhões de euros, dos quais 22 milhões do edifício que recompraram em 2022 e
que será vendido para dar liquidez. A parte restante distribui-se sobretudo por
direitos de transmissão de programas 42,7 milhões de euros), créditos sobre
clientes (21,8 milhões de euros) e dinheiros em caixa (13,2 milhões). Esta
última parcela pode parecer imensa, mas não é: os custos operacionais em 2023
foram, em média, de quase 14,3 milhões de euros por mês, a que acresceu quase
um milhão de euros de pagamentos de juros e outros custos financeiros.
Na verdade,
se observamos as contas individuais da Impresa, antes da consolidação das
contas das suas subsidiárias, a holding controlada pela família Balsemão é hoje
financeiramente estéril, dependendo integralmente da liquidez gerada pela SIC
para pagar os seus compromissos correntes, incluindo o serviço da sua própria
dívida. A Impresa vive do que a SIC lhe transfere, não gera valor, nem
contribui para a resiliência do grupo. Ou seja, reiterando o que se expôs,
estamos perante um modelo de exploração financeira em que a Impresa actua como
um parasita, retirando tudo o que pode da SIC sem garantir o seu futuro. E o
futuro está a acabar.
PREJUÍZO RECORDE DE 5,1 MILHÕES DE EUROS NO ANO PASSADO
PREJUÍZO
RECORDE DE 5,1 MILHÕES DE EUROS NO ANO PASSADO
Público a
caminho dos cuidados intensivos financeiros
Pedro
Almeida Vieira
|
29/07/2025
https://paginaum.pt/2025/07/29/publico-a-caminho-dos-cuidados-intensivos-financeiros
Com o
sector dos media tradicionais à beira de um colapso sistémico, o jornal
Público, histórico título fundado em 1990 pelo Grupo Sonae, parece
encaminhar-se a passos largos para os cuidados intensivos financeiros.
Os
resultados de 2024 confirmam o agravamento da situação: mais de 5,1 milhões de
euros de prejuízo, um novo recorde negativo que supera mesmo os já alarmantes
resultados de 2023. Em apenas dois anos, as perdas acumuladas ascendem a 9,6
milhões de euros, o que corresponde a cerca de um terço dos 29,3 milhões de
prejuízos acumulados desde 2017.
O Público
nunca foi um jornal lucrativo. Desde a sua fundação, pautou-se por um
compromisso pessoal de Belmiro de Azevedo — fundador do império Sonae — que
aceitava suportar até dois milhões de euros de perdas anuais, numa lógica de
serviço cívico e reputacional. No entanto, desde a morte do empresário, e com a
profissionalização mais crua da gestão da Sonaecom, a tolerância ao insucesso
tem diminuído. E o jornal, que chegou a ser um símbolo de jornalismo moderno e
cosmopolita no pós-cavaquismo, tornou-se uma espécie de fardo ideológico com
retorno empresarial e reputacional nulo. ↓
Hoje, o
Público vende menos de 10 mil exemplares por dia em banca — número que o
próprio jornal esconde ou relativiza, enquanto promove campanhas de assinaturas
digitais inflacionadas, muitas delas associadas a parcerias pouco transparentes
com instituições públicas e privadas. A ilusão de crescimento digital
sustenta-se, em parte, em contas de acesso gratuito por protocolos com escolas,
universidades e autarquias, sem que tal se traduza em rentabilidade ou
fidelização efectiva de leitores.
Mas não é
apenas o modelo de negócio que está a colapsar. A credibilidade editorial do
jornal também tem sido posta em causa. Desde a direcção de Manuel Carvalho —
marcada por alinhamentos ideológicos e uma crescente promiscuidade entre
jornalismo e negócios — que a redacção vive momentos de tensão. A liderança de
David Pontes não só manteve esse rumo como o agravou, multiplicando as
participações do Público em eventos comerciais com contornos duvidosos, como
são exemplo as secções Azul, Terroir e Fugas.
Um dos
episódios mais embaraçosos foi recentemente sancionado pela Entidade Reguladora
para a Comunicação Social (ERC): a participação de David Pontes como moderador
em debates pagos pela autarquia de Penafiel e a Ordem dos Médicos Dentistas. A
erosão da independência editorial em troca de sobrevivência financeira arrisca
um colapso total.
A
situação do Público espelha o afundamento generalizado da imprensa tradicional
em Portugal, fruto, em muitos casos, de péssima gestão, como é o caso da
Impresa (como holding), ou de problemas de credibilidade.
Depois da
queda estrepitosa do grupo Trust in News — que ameaça o fim de publicações como
a Visão, a Exame ou o Jornal de Letras — seguem-se dificuldades visíveis no
grupo Impresa, apesar dos lucros ainda registados pela SIC e pela Impresa
Publishing em 2024. A venda falhada da sede da Impresa em Paço de Arcos foi
mais um sinal de alarme: uma tentativa de alienação imobiliária abortada por
irregularidades na cadeia de IVA, que colocou a nu os limites do recurso à
engenharia financeira para mascarar os desfalques operacionais.
Mas o
colapso pode não ficar por aqui. Nas próximas semanas, dois grupos estarão sob
especial atenção: a Global Notícias, que detém o Diário de Notícias, e a novel
empresa Notícias Ilimitadas, que adquiriu o Jornal de Notícias, O Jogo e a TSF.
Apesar de obrigadas por lei a entregar os relatórios e contas de 2024 até ao
final de Junho, ambas as sociedades falharam esse dever, com a desculpa,
durante semanas, de “problemas técnicos” no envio de informação ao Portal da
Transparência dos Media da ERC.
Confrontada
com o silêncio financeiro de várias empresas do sector, a ERC admitiu ao Página
Um que, de entre os principais grupos de média, a Trust in News, a empresa
gestora do Observador, a Global Notícias e a Notícias Ilimitadas não enviaram
ainda os seus dados contabilísticos de 2024. O regulador promete agora tomar
“diligências” para assegurar o cumprimento da lei, embora o histórico da
instituição não inspire grande confiança na sua capacidade de fazer respeitar
prazos ou princípios.
Neste
contexto de degradação acelerada, com empresas em incumprimento, direcções
editoriais em deriva e modelos de negócio cada vez mais dependentes de fundos
públicos ou favores institucionais, o jornalismo dito de referência parece
caminhar para o abismo — mas não culpando os seus erros: antes, as redes
sociais e a dita desinformação.
PÁGINA UM REVELA EVOLUÇÃO DAS VENDAS EM PAPEL E ASSINATURAS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS
PÁGINA UM
REVELA EVOLUÇÃO DAS VENDAS EM PAPEL E ASSINATURAS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS
Correio da
Manhã, Público, JN, DN e Expresso em colapso: vendas em mínimos históricos
Pedro Almeida Vieira
03/06/2025
Os resultados do primeiro trimestre deste ano, divulgados na
semana passada pela Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e
Circulação (APCT), voltam a comprovar aquilo que os ‘barões da imprensa’
persistem em negar com a habitual táctica da avestruz: escondem a cabeça nos
slogans sobre “transformações digitais”, “modelos sustentáveis” e “novas formas
de chegar ao leitor”, enquanto o corpo editorial se afunda no pântano da
irrelevância.
A verdade, nua e crua, é esta – e é tão clara quanto
dramática: a imprensa escrita generalista portuguesa colapsou. Os números não
mentem. São mais de duas décadas de declínio contínuo, mascarado por anúncios
piedosos e relatórios internos que já ninguém leva a sério.
Em 2025, nem os comunicados eufemísticos do trust da
comunicação social, nem os generosos orçamentos de publicidade institucional,
nem sequer o ‘balão de oxigénio’ do Governo – travestido de distribuição
gratuita de assinaturas digitais para os jovens – conseguem disfarçar o
desastre. A erosão é estrutural e terminal.
A evolução das vendas em banca – com quebras brutais em
todos os títulos – e das assinaturas digitais – com valores unitários
largamente inferiores aos do papel e sem escala de massa crítica – espelham o
fim de um modelo baseado na fuga para a frente: redacções inexperientes, pouco
cultas, reféns de agendas e compromissos, divorciadas dos leitores e cada vez
mais promíscuas nas relações com o poder político e económico.
Mais do que um fim de ciclo, talvez este seja mesmo o fim de
linha para alguns dos títulos – o que, convenhamos, não seria necessariamente
mau. A extinção natural poderá limpar o terreno dos vícios acumulados, permitir
um reequilíbrio do ecossistema mediático e abrir espaço a novas formas de
jornalismo, menos dependentes da subsidiação crónica e da formatação
ideológica. A imprensa escrita colapsou, mas o jornalismo ainda pode sobreviver
– desde que se liberte das amarras que o arrastaram até aqui.
O PÁGINA UM analisou a evolução das vendas dos últimos 30
anos de cinco jornais generalistas portugueses: quatro nascidos como diários –
Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Público – e um de
origem semanal – o Expresso. A linha temporal inicia-se em 1996, quando ainda
não existia o conceito de assinaturas digitais e os portugueses, então leitores
assíduos, consumiam jornais em papel como parte integrante do café da manhã.
Foi apenas em 2009 que esse “novo e maravilhoso mundo”
digital começou a dar os primeiros sinais de vida, ainda timidamente. Ao longo
da década seguinte, foi ganhando terreno, até se tornar, nos últimos anos, o
eixo dominante das estratégias editoriais. Hoje, as edições impressas são cada
vez mais residuais, enquanto a produção de conteúdos se rege pela lógica do
imediato – e pelos inúmeros erros que daí decorrem.
A própria natureza do jornalismo transformou-se: os diários
deixaram de ser apenas diários para se tornarem plataformas de informação em
torrente contínua, ao passo que o Expresso, tradicionalmente semanal, passou a
comportar-se como um diário digital, pressionado pelo mesmo ritmo.
Mais ainda: a transição é já estrutural em dois casos. O
Público e o Expresso são, desde 2020 e 2023 respectivamente, jornais
maioritariamente digitais, com as assinaturas electrónicas a superarem as
vendas em banca. Esta inversão de paradigma, longe de ser sinónimo de
sustentabilidade, levanta sérias questões sobre a viabilidade económica, a
qualidade editorial e o impacto social do jornalismo tal como está a ser
praticado.
Mas vejamos, com rigor e em detalhe, os números de cada
jornal, tomando como referência os dados relativos ao primeiro trimestre de
cada ano, de forma a permitir comparações homogéneas ao longo do tempo.
Comece-se pelo Público, o diário fundado pelo Grupo Sonae.
No primeiro trimestre de 1996, vendia diariamente, em banca, cerca de 58 mil
exemplares. Este ano, pela primeira vez, caiu abaixo dos 10 mil. Uma queda de
mais de 84%, que nem o empolamento das assinaturas digitais – muitas de acesso
gratuito ou incluídas em pacotes promocionais – consegue mascarar. A versão
digital, é certo, regista agora cerca de 54 mil assinaturas pagas,
quintuplicando os valores registados há uma década, mas à custa de uma política
de produção intensiva de conteúdos e de receitas unitárias substancialmente
mais baixas que o papel. E a matemática é simples: mais trabalho, menos
rendimento. E menos impacto.
O simbolismo do papel, mesmo no efémero diário, é superior –
nesse aspecto, o diário da Sonae é hoje um fantasma: o ano de 2005 foi o último
acima dos 50 mil exemplares vendidos por dia; 2015 foi o último com vendas
diárias em banca acima dos 20 mil, e agora já está abaixo de 10 mil. Sinal de
que o digital não é sustentável mostra-se nas contas. O Público, que sempre foi
um jornal deficitário, apresentou em 2023 – os resultados de 2024 ainda não são
conhecidos – um prejuízo recorde de quase 4,5 milhões de euros.
Passemos ao Diário de Notícias, ou àquilo que resta do
diário nascido no século XIX e que só existe por um ‘milagre’ não explicado
pelas ciências económicas. No primeiro semestre do ano 2000 vendia mais de 70
mil exemplares diários, mesmo mais do que em 1996. Mas várias promiscuidades
entre o jornalismo e o mundo político e empresarial foram aniquilando o jornal
depois da saída de Mário Bettencourt Resendes em 2004, e da passagem de nove
directores (sem contar com os interinos).
Entre 2003 e 2013, as vendas no primeiro trimestre passaram
de cerca de 52 mil exemplares por dia para menos de 24 mil. Mas isso foi apenas
o princípio do descalabro.
Em 2018, as vendas já estavam abaixo dos 10 mil, e dois anos
depois mal ultrapassavam os quatro mil. No primeiro trimestre deste ano, o DN
nem chega a mil exemplares por dia. Não, não leu mal: são 966 exemplares em
banca, em média, no primeiro trimestre de 2025. Trata-se de um nível de
circulação impraticável para qualquer modelo de imprensa de massas – e apenas
sustentável graças a expedientes editoriais de sobrevivência. A edição digital,
por sua vez, ronda os 700 acessos pagos, uma ninharia irrelevante do ponto de
vista económico e social.
Já o Jornal de Notícias, outrora o orgulho da imprensa
nortenha. E chegou a ser um jornal centenário por duas razões: por ter mais de
cem anos (foi fundado em 1888) e por ter ultrapassado os 100 mil exemplares por
dia no final dos anos 90.
No período em análise, o pico surgiu em 2004 com cerca de
127 mil exemplares diários. Embora até 2009 se tenha mantido em redor dos 100
mil exemplares, a partir desse ano iniciou uma rota descendente. Em 2014 já
estava abaixo dos 60 mil exemplares, ou seja, uma queda de 40% em apenas cinco
anos. Mas ainda se afundou mais.
No primeiro trimestre de 2020 já surge abaixo dos 40 mil, e
os últimos anos têm sido penosos, mesmo com a sua suposta saída do universo da
Global Media. O primeiro trimestre deste ano mostra vendas de 16.613
exemplares, que representam apenas 13% das vendas do pico de 2004.
Ainda por cima, a digitalização, longe de salvar o navio,
apenas está a apressar o naufrágio: 3.300 assinaturas digitais pagas em 2025.
Com uma assinatura anual a custar 24,95 euros, não é por aqui que o JN se
salvará.
O Correio da Manhã, tradicionalmente o mais resiliente entre
os generalistas, e que se anuncia como o jornal diário mais lido em papel, está
agora reduzido a um rei de um só olho em terra de cegos. Há dias, o jornal da
Medialivre regozijava-se por vender “mais de 1 milhão de exemplares por mês” em
banca, o que corresponde a “um número superior a 34 mil exemplares por dia”. No
actual contexto, em que entra em competição o Diário de Notícias com menos de
mil, parecem valores extraordinários – mas não.
Desde 2011 não há ano em que o Correio da Manhã tenha
conseguido inverter a tendência de queda. No auge de 2011, vendeu 125.354
exemplares diários – ou seja, mais de 3,75 milhões por mês; cinco anos depois
já estava abaixo da fasquia dos 100 mil por dia, mesmo assim cerca de três
vezes mais do que os valores do primeiro trimestre de 2025. Ou seja, em 14
anos, entre 2011 e 2025, o Correio da Manhã teve uma quebra de vendas de 73%,
que nem sequer é mitigada pelas assinaturas digitais, que começaram em 2012 e apenas
rondam agora os 2.700.
Mesmo sem o descalabro dos outros diários, a imprensa
popular também sofre, tanto mais que a transição digital não casa com o público
tradicional do Correio da Manhã.
Finalmente, o caso do Expresso, sendo diferente por ter
nascido como semanário, também merece destaque pelo contraste entre o passado
de prestígio e o presente de perda. Jornal que, nos anos 90, começou
paulatinamente a vender em redor dos 130 mil a 140 mil exemplares por edição –
também fruto do célebre saco de plástico que garantia o seu fácil manuseamento
–, o Expresso deu-se mal com os ares fora de Lisboa, depois de ter saído da sua
célebre redacção na Rua Duque de Palmela. Em 2002, atingiu o seu máximo de
vendas por edição no primeiro trimestre, com mais de 143 mil exemplares, mas
foi depois paulatinamente decaindo. Em 2012 contabilizou pela primeira vez
valores de vendas abaixo de 100 mil exemplares, numa altura em que o digital
ainda dava os primeiros passos.
Nos anos seguintes, o Expresso deixou de ser um semanário
com uma edição online para se tornar num diário digital com uma edição semanal
em papel. Esta nova versão teve duas consequências: quebras brutais em banca,
sobretudo a partir de 2021, que fazem com que por edição se tenham vendido
apenas 33.603 exemplares durante o mais recente trimestre; e um aumento nas
assinaturas pagas, rondando agora as 50 mil. Dir-se-ia que, somando ambas as
categorias, se teria mais de 80 mil leitores, mas esse número fica aquém dos
valores da edição semanal da primeira década do presente século.
Além disso, mesmo considerando que os lucros são
teoricamente maiores nas assinaturas digitais – por não implicarem os custos de
produção e distribuição da edição em papel –, os custos redaccionais aumentam
(porque há mais conteúdos), e o impacto real diminui. O Expresso de hoje, com
33.603 exemplares vendidos em banca, mesmo com 49.987 assinaturas digitais, não
tem o mesmo estatuto do Expresso de 2002, com 143.222 exemplares vendidos em
banca.
E se isto se passa com os cinco maiores e mais relevantes
jornais generalistas de Portugal, estamos perante um cenário de terra queimada.
Nenhum jornal conseguiu fazer a transição para o digital com equilíbrio
económico. As receitas digitais, em média, representam uma fracção das
impressas – mesmo com maior volume. Os custos redaccionais mantêm-se elevados,
pela sofreguidão noticiosa de repetir primeiro tudo aquilo que os outros dão,
mas com salários baixos e uma enxurrada de comentadores a opinar, de sorte que
há jornais que mais parecem opinativos.
Em suma, o papel está em agonia, o digital não sustenta. A
imprensa escrita generalista portuguesa está, literalmente, em coma induzido
por financiamento público e contratos opacos. Mais grave ainda: esta agonia
arrasta consigo a função essencial de contrapoder e de vigilância do
jornalismo. Num país onde os jornais vivem de publicidade institucional e do
favor dos grandes grupos económicos, a queda das vendas significa também a
queda da publicidade sem compromisso, da independência. A maioria dos jornais já
não vive dos leitores, mas do poder político, da publicidade camuflada e das
agendas de grupo. O resultado é uma imprensa cada vez mais alienada do
interesse público, cada vez mais dependente da narrativa oficial.
Os números do primeiro trimestre de 2025 não deixam margem
para dúvidas. A crise deixou de ser conjuntural e tornou-se estrutural e
terminal. Nenhuma newsletter ou podcast salvará o que já está morto. Nenhuma
“estratégia digital” ressuscitará o que foi enterrado há uma década. A imprensa
escrita portuguesa, tal como a conhecemos, está nos últimos estertores – até
porque quem vende menos, cada vez mais recorre a esquemas que matam o
jornalismo.
Dona do Diário de Notícias está em falência técnica com capitais próprios negativos de quase 20 milhões
EM OITO
ANOS, PREJUÍZOS SUPERAM 78 MILHÕES DE EUROS
Dona do
Diário de Notícias está em falência técnica com capitais próprios negativos de
quase 20 milhões
Author
avatar
Pedro
Almeida Vieira
|
18/08/2025
A
derrocada da Global Notícias não surpreende, mas o estrondo atinge valores
inimagináveis. Os dados provisórios entregues pela dona do Diário de Notícias —
que já vende menos de mil exemplares por dia em banca — no Portal da
Transparência dos Media mostram que a empresa colapsou no ano passado com
resultados negativos de quase 26,5 milhões de euros, colocando-a em falência
técnica.
E não se
trata de meia dúzia de tostões: os capitais próprios estão agora negativos em
19,3 milhões de euros, ao mesmo tempo que os activos encolheram para apenas
21,5 milhões, aparentemente fruto da venda de títulos como o Jornal de
Notícias, a TSF e O Jogo à obscura Notícias Ilimitadas, por um valor ainda
desconhecido.
O colapso
da empresa que ainda detém os títulos mais antigos do país — o Diário de
Notícias e o Açoriano Oriental — é apenas a consequência de um rumo errático,
marcado nos últimos anos por transacções pouco transparentes e polémicas
infindáveis, incluindo a tentativa de controlo por um fundo das Bahamas,
expediente que acabou por servir de argumento para desmembrar o grupo. ↓
Nos
últimos oito anos impressiona como as sucessivas administrações foram sangrando
uma empresa que, em 2017, possuía activos superiores a 98 milhões de euros e
capitais próprios de 31,4 milhões de euros. Desde então, acumulou mais de 76
milhões de euros de prejuízos. E até os anéis se foram: os edifícios
emblemáticos do Diário de Notícias, em Lisboa, e do Jornal de Notícias, no
Porto, foram vendidos, e o dinheiro rapisamente se esfumou. Hoje, aquilo que
resta é uma carcaça que apenas um regulador conivente e um mundo político
condescendente permitem continuar a animar. E a minar o jornalismo.
Com
efeito, as receitas da Global Notícias estão em queda livre há anos, fixando-se
em apenas 22,5 milhões de euros em 2024, menos 48% do que em 2017 — e isto
apesar da alienação de títulos supostamente ainda lucrativos como o Jornal de
Notícias.
A
falência técnica — mas com valores de grandeza estratosférica — parece ser a
estratégia para abrir caminho a uma futura intervenção estatal que salve o
icónico Diário de Notícias, alienando-se o título e empurrando a Global
Notícias para a insolvência, mas com credores e o próprio Estado a ficarem a
‘arder’. As demonstrações financeiras ainda não foram apresentadas na Base de
Dados das Contas Anuais, e ignora-se se as dívidas ao Estado aumentaram ao
longo do ano passado.
Recorde-se
que, em 2024, a Global Notícias vendeu a maior parte do capital do Jornal de
Notícias, da TSF e de outros títulos à igualmente opaca Notícias Ilimitadas —
que também não apresentou contas — ficando apenas com uma participação de 30%.
O negócio, celebrado como “salvação” por quem insistia em pintar o grupo com
cores de optimismo, revelou-se afinal um mecanismo de liquidação encapotada. A
operação foi autorizada pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social
(ERC), mas com um pormenor gravíssimo: a existência de um acordo parassocial
confidencial entre as partes, cujas cláusulas permanecem em segredo até hoje.
O Página
Um apresentou uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa para obrigar a
ERC a mostrar esses documentos, mas apesar de uma sentença favorável, o
regulador recorreu com efeito suspensivo. Tem sido norma da ERC, presidida por
Helena Sousa, proteger os grandes grupos em dificuldades, negando acesso a
informação considerada sensível e escondendo a gravidade da situação
financeira.
As
consequências da alienação à Notícias Ilimitadas não tardaram a mostrar-se. Se
em 2021 a Global Notícias ainda conseguiu, por via de medidas excepcionais,
apresentar um EBITDA ligeiramente positivo (1,1 milhões de euros), em 2023
regressou aos prejuízos e em 2024 desabou num abismo: o resultado operacional
foi de -24,8 milhões de euros, mais do que todo o volume de negócios anual. Em
rácios, a autonomia financeira caiu para -90% e a solvabilidade fixou-se em
0,53 — ou seja, os passivos superam largamente os activos.
Do ponto
de vista estritamente económico, a Global Notícias já não existe como entidade
viável. Qualquer tentativa de recuperação exigiria injecções de capital
superiores a 25 milhões de euros, apenas para regressar a capitais próprios
positivos e repor mínimos de autonomia financeira. Mas a realidade é que as
fontes de receita encolheram e as marcas mais fortes — como o JN e a TSF —
foram amputadas do perímetro da empresa.
Neste
momento, existe um esqueleto feito de responsabilidades, passivos e nenhuma
margem para sobreviver, sendo que o seu activo mais forte é um jornal
emblemático mas de credibilidade ferida de morte, que vende já menos de mil
exemplares em banca e nem mil assinaturas digitais possui.
Este
quadro é tanto mais grave porque foi o próprio regulador a abençoar um negócio
que ocultou regras de governação através de cláusulas secretas. Não é apenas a
Global Notícias que está em colapso: é também o regime de transparência que
deveria tutelar a comunicação social.
A
falência técnica da Global Notícias, consagrada em 2024, não resulta apenas de
maus resultados acumulados: resulta também da complacência cúmplice da ERC e da
permissividade do Estado em relação a negócios pouco claros que moldam o
panorama mediático português. É esta cadeia de decisões opacas que hoje conduz
ao desfecho previsível: um grupo histórico transformado em ruína
contabilística, amputado dos seus principais activos e protegido por uma
cortina de sigilo regulatório.
Novos projetos de media enfrentam desafios de escala, rentabilidade e transparência
Dinheiro
Vivo
Novos
projetos de media enfrentam desafios de escala, rentabilidade e transparência
Divergente,
Fumaça e Página Um enfrentam desafios de escala e rentabilidade. Os primeiros
revelam quem os financia e os seus jornalistas têm contratos de trabalho, mas
no Página Um isso não acontece.
Filipe
Alves
Publicado
a:
28 Agosto
2025, 21:06
Os
últimos anos assistiram ao surgimento de vários projetos de media
independentes, que tiram proveito das novas tecnologias para construir novos
modelos de negócio assentes em modelos de mecenato e crowdfunding. O
DN/Dinheiro Vivo (DV) analisou as contas de três desses projetos: a revista de
jornalismo narrativo Divergente, o Fumaça e o Página Um. A conclusão a que
chegamos é que estes projetos têm conseguido marcar a agenda com trabalhos
relevantes, mas enfrentam desafios de escala e rentabilidade. E a transparência
não é a mesma nos três: a Divergente e o Fumaça revelam os seus mecenas e
financiadores, ao passo que o Página Um não o faz.
As formas
jurídicas destes três projetos são também distintas. A Divergente pertence a
uma cooperativa de jornalistas, a Bagabaga Studios, enquanto o Fumaça é detido
pela associação Verdes Memórias. Por sua vez, dos três, o Página Um é o único
que tem fins lucrativos, pertencendo a uma sociedade por quotas que tem como
sócio maioritário e gerente o seu diretor, com 70% do capital da empresa.
Antes de
passarmos a uma análise mais aprofundada dos três projetos, importa referir que
estas novas formas de fazer jornalismo surgiram num contexto de crise do modelo
de negócio dos media tradicionais, com a maioria das empresas do sector em
Portugal e no restante mundo ocidental a registar prejuízos, enfraquecendo a
capacidade de os jornalistas cumprirem a sua missão de informar e escrutinar os
diferentes poderes políticos, económicos e sociais. Cada um à sua maneira,
estes três projetos visam responder a essa crise, utilizando a tecnologia para
chegar a novos públicos e fazer um jornalismo diferente, que se diz mais
independente e transparente que o dos media mainstream.
“A
tecnologia pode ajudar os novos media jornalísticos, mas nem é a única alavanca
nem a única solução. No essencial, o que conta é a qualidade jornalística dos
conteúdos”, disse ao DN/DV o investigador e professor universitário Eduardo
Cintra Torres, que assina uma coluna sobre media no Correio da Manhã.
“Se a
tecnologia resolvesse tudo, muitos media tradicionais, com idêntica tecnologia,
com mais estofo financeiro e com técnicas complementares, como o papel, as
rádios, etc., não estariam em crise. O «segredo» destes novos media poderá ser precisamente a pequena dimensão e a
agilidade de agenda. Investigam o que querem, quando querem, e destacam-se por
investigarem o que escapa ou é rejeitado investigar por media tradicionais.
Esta liberdade — e os resultados que têm obtido — é a mais-valia dos novos
projectos como os referidos. Por vezes, o modelo que escolhem é «minoritário»,
optando por exemplo por um posicionamento mais activista, como o Fumaça, mas,
se isso pode reduzir o seu poder de atracção, não quer dizer que a qualidade e
a utilidade do seu jornalismo seja menor”, acrescentou.
Apesar
desta importância da qualidade jornalística,
a tecnologia tem desempenhado um papel muito relevante no surgimento e
crescimento de projetos independentes. Plataformas como o Substack e a Ghost,
que fornecem toda a componente tecnológica aos criadores de conteúdos (no caso
do primeiro, em troca de uma comissão sobre as receitas de assinaturas), vieram
revolucionar o sector, prometendo um novo modelo económico para o jornalismo e
a cultura. Em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, estas plataformas
têm dado gás a projetos jornalísticos independentes que, em alguns casos, já
faturam alguns milhões de dólares por ano. Este modelo elimina as principais
barreiras à entrada no mercado, permitindo que os novos projetos tenham uma
plataforma tecnológica para a criação, distribuição e monetização dos conteúdos
sem necessidade de fazerem um investimento inicial avultado em tecnologia e
áreas comercial e backoffice.
Este
processo constitui um regresso às origens do jornalismo e uma certa
desindustrialização da atividade. Mas isso não significa que os valores
essenciais do jornalismo e a sua missão de informar e escrutinar não possam
sobreviver, na opinião de Eduardo Cintra Torres.
“A
desindustrialização não implica o abandono dos fundamentos do jornalismo. Os
media referidos poderão seguir um modelo «artesanal» - feito «em casa» - mas ou
é jornalismo ou não é. Eu acho que é, e amiúde é bom ou muito bom. O acento
activista de algumas destas plataformas, em especial noutros países, pode
assemelhar-se a algum jornalismo do nosso século XIX, em que a urgência de
opinar se sobrepunha à factualidade. Mas estamos já longe desse modelo: o tempo
provou que sem informação e sem jornalismo de investigação os media só de
opinião não atraem leitores suficientes para lhes garantir a sobrevivência”,
defendeu o investigador e crítico.
Os
desafios da escala e da rentabilidade
Desta
forma, pelo menos no arranque, os novos modelos retiram da equação a figura do
capitalista, que entrou na comunicação social quando esta se tornou um negócio
lucrativo e se industrializou, na segunda metade do século XIX. Porém, os
investidores não são necessários apenas no arranque dos projetos, uma vez que
para ganhar escala é necessário investir em meios humanos e tecnológicos.
Este é,
de resto, um dos grandes desafios dos projetos independentes: como ganhar
escala, de modo a chegar a uma audiência superior e gerar mais receitas, quando
não se tem capital suficiente para fazer esses investimentos. E quando, na
esmagadora maioria dos casos, uma operação de media não só tem dificuldade em
ser rentável como não é capaz de remunerar o investimento com retornos
aceitáveis. No caso dos projetos sem fins lucrativos, a questão da
rentabilidade também se coloca, na medida em que se traduz na capacidade de
gerar excedentes que possam ser investidos na operação.
A
resposta do Substack a esta questão passa por procurar tornar desnecessário o
capital de terceiros, criando um ecossistema próprio, que funciona como uma
rede social que potencia as visitas aos sites que dela fazem parte, de maneira
a atrair mais subscritores.
Mais de
30% do tráfego dos sites alojados no Substack é gerado através de ligações de
outras páginas que fazem parte da plataforma. Nos Estados Unidos, esta
estratégia está a resultar e o Substack é, neste momento, o 36º site de
notícias mais visitado nos Estados Unidos, com um crescimento de 40% em 2024 e
um total de cinco milhões de subscritores que pagam para ter acesso aos
conteúdos.
E é cada
vez maior o número de jornalistas, escritores, podcasters e outros produtores
de conteúdos que aderem à plataforma, que funciona como agregador e rede
social.
Página
Um, Lda: transparência limitada e recibos verdes
O modelo
do Página Um tem algumas semelhanças com o dos jornais anglo-saxónicos sediados
no Substack e na Ghost, na medida em que se trata de um site sem publicidade e
financiado exclusivamente pelos leitores, que lhe fazem donativos regulares. E,
tal como esses sites, que têm equipas pequenas e focadas em temas chave, mas
conseguem chegar a audiências consideráveis, o Página Um tem apenas dois
jornalistas, mas conta com mais de cem mil visualizações mensais. O site de
jornalismo de investigação, que se tem destacado pelas notícias exclusivas que
tem publicado, fechou o ano de 2024 com resultados positivos na ordem dos 1726
euros e capitais próprios também positivos, no valor de 14732 euros, mantendo
contas equilibradas.
Onde o
Página Um diverge da maioria dos sites de notícias do Substack é no facto de
aceitar donativos de empresas, que não identifica na informação financeira que
divulga. O jornal refere apenas, no seu site, que aceita contributos de
particulares e empresas, mas até ao momento não divulgou nomes de eventuais
mecenas ou apoiantes. Neste aspeto, o Página Um distingue-se igualmente da
Divergente e do Fumaça, que revelam nos seus sites as suas fontes de
financiamento. O Fumaça divulga
inclusive os nomes dos cidadãos que lhes fazem donativos a título individual,
para além das fundações e outras entidades.
O DN/DV
questionou o Página Um sobre a contradição entre este facto e a posição que o
jornal tem tomado na defesa de uma maior transparência na gestão, na
propriedade e no financiamento dos media. O seu diretor respondeu que não
existe contradição, acusando o DN/DV de “enviesamento ou má fé” e argumentando
que não tem de revelar os apoiantes porque nenhum pagou mais de 3% das receitas
anuais do jornal.
Outra
diferença relevante é o facto de, ao contrário da Divergente e do Fumaça, que
são feitos por jornalistas com contratos de trabalho (na sua maioria sem
termo), o Página Um não ter jornalistas com contratos de trabalho permanentes.
Com uma receita de 61 mil euros em 2024, o Página Um utilizou 98% desse valor
em fornecimentos e serviços externos, a rubrica onde se contabilizam, entre
outras despesas, os pagamentos feitos a prestadores de serviços, os chamados
recibos-verdes.
As contas
revelam que os custos com pessoal, onde se contabilizam os salários do pessoal
com contratos de trabalho, diminuíram de 11529 euros em 2023 para apenas 350
euros em 2024. Já os fornecimentos e serviços externos subiram de 49432 euros
em 2023 para 60539 euros no ano passado. Isto indica que os dois jornalistas
que integram o projeto, incluindo o próprio diretor e sócio-gerente Pedro
Almeida Vieira, não têm salários fixos e passam recibos verdes à empresa
proprietária do jornal.
A lei não
impede um sócio-gerente de passar recibos verdes à própria empresa, desde que
esteja em causa trabalho independente prestado fora do horário normal e que não
esteja relacionado com as tarefas que desempenha a título de trabalho
dependente. Nestas e outras situações, de acordo com o artigo 12º da Lei
7/2009, de 12 de fevereiro, o trabalho independente não pode ser prestado com
uma remuneração certa e periódica, com horário definido, nas instalações da
empresa contratante e com os seus equipamentos. Nem, tão pouco, em funções de
direção e chefia na estrutura da empresa, conceito que se aplica ao diretor de
uma publicação jornalística.
De resto,
num artigo publicado a 2 de junho último, onde dava conta dos donativos
recebidos em 2024, o diretor do Página Um afirmava, de forma taxativa, que o
projeto tem dois jornalistas que ali trabalham em permanência e em instalações
da empresa. “O nosso orçamento mensal ronda os cinco mil euros, valor que cobre
os custos operacionais do site, comunicações, despesas logísticas, renda da
redação, e o pagamento — em montantes que envergonhariam qualquer tabela
sindical — de dois jornalistas fixos. Não há desperdício. Não há luxos. Não há
salários dourados”, garantia.
A
confirmarem-se as informações que constam destes escritos e das demonstrações
financeiras, os dois jornalistas do Página Um arriscam ser considerados falsos
recibos verdes, o que constituiria uma contraordenação muito grave, punida com
multa entre entre os 2040 euros e os 61200 euros por trabalhador, de acordo com
o valor da infração cometida.
Questionado
pelo DN/DV, o diretor do Página Um confirmou que não aufere salário e passa
recibos verdes, mas que faz apenas pelos artigos de opinião que escreve para o
jornal. Ou seja, esses rendimentos são declarados a título de direitos de
autor. Os quais, segundo a lei, são tributados apenas sobre 50% do seu valor,
no que constitui um benefício fiscal à criação literária e artística. Pedro
Almeida Vieira mostrou-se convicto de que a sua situação e a da restante
redação do Página Um não corresponde à de falsos recibos verdes.
Divergente:
revista digital pede apoios para fazer “mais e melhor jornalismo
A
cooperativa Bagabaga Studios, proprietária da Divergente, fechou o ano de 2024
com um prejuízo de 18665 euros e capitais próprios negativos de 7926 euros, ao
contrário do ano anterior, que encerrou
com capitais positivos. As receitas ascenderam a 240 mil euros, mas os custos
foram superiores. Questionada pelo
DN/DV, a diretora da Divergente, Sofia da Palma Rodrigues, rejeitou que estes
números indiquem que a situação financeira da revista esteja a degradar-se.
“Quando
começámos, em 2014, trabalhávamos de forma voluntária para erguer o projecto e
fazê-lo acontecer. Em 2020, ganhámos uma bolsa da Civitates que permitiu fundar
a base da estrutura que temos hoje — começámos por ser três jornalistas, um a
meio tempo, e uma pessoa que fazia a comunicação do projecto. Não tínhamos uma
periodicidade, nem uma rede de freelancers fixos”, começou por explicar Sofia
da Palma Rodrigues.
“Hoje,
cinco anos depois, somos cinco jornalistas, um a meio tempo, uma pessoa que se
dedica à produção de eventos, gestão da comunidade e angariação de fundos,
quatro freelancers fixos - contabilista, desenvolvimento web, design, consultor
de imagem e fotógrafo -, e contamos ainda como uma rede de freelancers que
vamos activando para trabalhos específicos - ilustradores, músicos, editores de
som e imagem”, acrescentou.
Com esta
equipa, a Divergente “cresceu” e passou a publicar uma newsletter mensal que
conta com cinco mil subscritores e uma grande investigação jornalística - que
se desdobra em diferentes formatos - e é
publicada em diferentes órgãos de comunicação social tradicionais, como o
Expresso e a rádio TSF. Além disso, a Divergente promove eventos e debates
sobre diversos temas.
A revista
vive de donativos e conta com uma comunidade de cerca de 130 pessoas que a
apoiam, para além de vários mecenas institucionais, incluindo fundações e
outras entidades, que estão listadas no seu site. Porém, precisa de mais apoios
para poder fazer “mais e melhor jornalismo”, apela a sua diretora. Para manter
o projecto como ele existe hoje, em vez de “definhar e regressar a 2020”, diz Sofia da Palma Rodrigues, “é preciso
apoio estrutural”.
“Em
Portugal, não existe qualquer iniciativa pública ou privada que apoie a
estrutura de uma redacção independente que faça jornalismo de investigação, e
as bolsas internacionais são cada vez mais disputadas e em menor quantidade”,
afirmou.
Fumaça:
um órgão premiado onde as decisões são tomadas por consenso
No caso
do Fumaça, a entidade proprietária é uma associação sem fins lucrativos e as
decisões editoriais são tomadas pelo conjunto da redação. O site, que já
recebeu 30 prémos de jornalismo, incluindo o Gazeta Revelação, tem uma diretora
editorial, Margarida David Cardoso, que é uma figura fictícia. “Este cargo é
fictício. A redação do Fumaça é horizontal, e assume coletivamente
responsabilidade pelas suas decisões. Nomear uma hierarquia é uma obrigação
legal de que discordamos”, diz uma nota no site.
“A tomada
de decisões é feita coletivamente, por consenso, em todas as áreas de decisão
da redação — desde a aprovação de orçamentos até à edição de cada peça. Por
isso mesmo, a responsabilidade pelo que é publicado é, também, coletiva e
partilhada”, disse ao DN/DV o jornalista Ricardo Ribeiro, do Fumaça.
O mesmo
princípio é aplicado nas decisões de cariz financeiro e administrativo. “Quanto
à gestão quotidiana de tarefas administrativas e financeiras — como, por
exemplo, a organização de faturas, ou a atualização permanente de execução
financeira que publicamos na área de transparência do nosso website —, é
responsabilidade de um dos membros da equipa”, disse ainda.
O Fumaça
apresenta-se como um “podcast de jornalismo de investigação, independente e sem
fins lucrativos, focado no escrutínio de sistemas de opressão e desigualdades”.
Como principais mecenas tem entidades como a Open Society Foundation, de George
Soros, a Unesco e a fundação Rosa-Luxemburg-Stiftung, ligada ao Partido Social
Democrata de Esquerda alemão, que descende de várias forças políticas
anteriores, incluindo o SED, o antigo
partido único da Alemanha de Leste.
O
coletivo que constitui o Fumaça assume-se como “dissidente” e diz não acreditar
“na existência de jornalismo neutro”, assumindo
de “maneira clara as suas subjetividades e conflitos de interesse”.
Em 2024,
o Fumaça recebeu 287 mil euros em contribuições e teve custos de 284 mil. Os
custos com os nove jornalistas que têm contratos sem termo ascenderam a 227 mil
euros, o que significa um ordenado médio ilíquido de 25 mil euros por ano, ou
1800 euros por mês (incluindo subsídios).
Em, 2025,
o Fumaça prevê gastar 310 mil euros, tendo assegurados, de momento, 209 mil
euros em contribuições, segundo a informação mais recente que consta do seu
site.
Macron’s stunned troops see no good way out of France’s impasse
Macron’s
stunned troops see no good way out of France’s impasse
New prime
minister? New elections? Neither would seem to defuse France’s ticking debt
bomb.
August
29, 2025 4:01 am CET
By
Pauline de Saint Remy
PARIS —
President Emmanuel Macron’s allies don’t seem to have any good answers as to
what happens after the almost certain fall of the government of Prime Minister
François Bayrou in the Sept. 8 parliamentary vote of confidence.
The names
of Armed Forces Minister Sébastien Lecornu and Justice Minister Gérald Darmanin
are emerging in the chatter as potential successors to the poisoned chalice of
the premiership, but what would a new recruit really solve? A new PM will be
ensnared in exactly the same quagmire.
French
politics will still be too internally riven to pass vital deficit-slashing
reforms, despite Bayrou’s Cassandra-like warnings that France could be headed
toward a Greek-style debt crisis if it sits on its hands and doesn’t implement
an unpopular €43.8 billion budget squeeze.
So how
about another snap election? If Macron calls one, the political landscape could
still be mired in exactly the same impasse — but the blame after a vote would
more obviously fall on him rather than on his prime minister. And all that
time, the financial markets will be running out of patience regarding France’s
ability to put its books in order.
All in
all, a state of shock grips elected officials, aides and advisers from the
various parties that support France’s minority government.
“It’s a
tough blow for the president,” said one minister’s political adviser who, like
others in this piece, was granted anonymity to speak candidly about the
political chaos. They noted that a day of mass protests, potentially shutting
the country down, was in the offing only two days after Bayrou’s expected exit.
“A
political crisis on Sept. 8, a social crisis on Sept. 10. That’s a regime
crisis, isn’t it?”
New man
for the Matignon
Macron’s
centrists seem to be clutching at straws. The first signals coming out of the
Elysée Palace seemed to indicate the president is not considering dissolving
parliament and going for another election.
Instead,
Macron is thought to be considering tapping the young, center-right Lecornu to
lead the government. Someone close to Macron said Justice Minister Darmanin,
who has long eyed the premiership, is also a candidate, but doesn’t want to
inherit what appears to be a suicide mission.
Bother
Lecornu and Darmanin originally hailed from the conservative Les Républicains
party and have been with Macron since 2017. Lecornu is closer to the president,
and Macron almost nominated him before Bayrou imposed himself as premier. He’s
seen as more biddable, while Darmanin is highly ambitious and more
independent-minded.
An
individual close to Lecornu said the 39-year-old privately boasts of enjoying a
privileged relationship with Marine Le Pen’s far-right National Rally, while at
the same time insisting he could lead a coalition government of both the right
and the left.
But will
that relationship with the National Rally help him succeed in the bloody budget
arena where both Bayrou and former Prime Minister Michel Barnier failed?
Many
centrists say no: Nothing indicates that either Le Pen or the socialists have
any intention of supporting him any more than they did Bayrou.
“There is
no scenario, no new casting choice that can resolve the crisis,” the
ministerial adviser said.
For the
conservative Les Républicains supporting Bayrou’s minority government, the
suggestion of Lecornu is yet another example of an unfailingly optimistic
president who refuses to accept defeat. Macron himself reportedly tried to
downplay the crisis at Wednesday’s weekly meeting of the Council of Ministers.
“He can’t
help trying to regain control,” said a dejected member of Les Républicains.
“It’s his natural inclination.”
Even a
technocratic government of experts to solve the budget mess — a rather
Italian-sounding fix — would need to navigate a splintered National Assembly
filled with lawmakers looking head to key municipal elections next year and the
presidential election in 2027.
Unappetizing
election
Sending
the French back to the ballot box, however, also carries its own set of risks
for a president worried about his legacy. It was, after all, the surprise snap
vote following European elections last summer that shunted France into its
current deadlock and irrevocably damaged Macron’s reputation.
Polling
shows voters could easily deliver another hung parliament in any election in
the coming weeks or months.
“The
worst for him is a dissolution that doesn’t work, because then he’s the one who
gets the boot,” another ministerial adviser said.
That
doesn’t mean it’s impossible, however. Before Monday, Macron had repeatedly
ruled out calling new elections before the end of his term, but the Elysée
insists he will not deprive himself of a constitutional power .
“Mystery
is part of the presidential strategy,” said a close associate of Macron.
Bayrou
for president
Bayrou’s
camp, meanwhile, remains stunned by the speed at which his fate was sealed by
opposition lawmakers — especially the far right — and is struggling to convince
people the situation is under control.
One
individual in the prime minister’s entourage said he hoped Le Pen and the
National Rally would reconsider their position after 48 hours. The hope was
that Bayrou’s team could do the dirty work of balancing France’s books before
2027 while also avoiding the danger of a legislative election in which Le Pen
would be barred from running due to her embezzlement conviction.
Bayrou
for now appears to be waging a battle in the court of public opinion, giving a
flurry of speeches and interviews in the hope of leaving the Matignon Palace,
the prime ministerial residence, with his head held high.
It has
the air of a campaign strategy for 2027, and Bayrou has long aspired to the
Elysée.
“At least
he will have earned his stripes as a presidential candidate,” one Macron
supporter said.