segunda-feira, 20 de junho de 2022

O nó de um aeroporto que trava o país

 



 EDITORIAL

O nó de um aeroporto que trava o país

 

PS e PSD parecem duas crianças a discutir quem é culpado pela travessura – a indecisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa.

 

Manuel Carvalho

19 de Junho de 2022, 21:30

https://www.publico.pt/2022/06/19/politica/editorial/aeroporto-trava-pais-2010581

 

Há mistérios na história do novo aeroporto de Lisboa inalcançáveis pela inteligência comum. Para percebermos o que está em causa é necessário destapar a hipocrisia e a mesquinhez que encobrem as manobras da pequena política. O PS está aflito com os custos da bagunça que se regista nas chegadas internacionais semana após semana e suplica ao PSD para que o apoie numa decisão; o PSD ignora os danos de imagem e outros prejuízos que as intermináveis filas de espera causam ao país e aproveita a fragilidade do Governo assobiando para o lado, enquanto se empenha em denunciar a sua “incompetência”. Parecem duas crianças a discutir quem é culpado pela travessura.

 

Jamais haverá consenso sobre uma localização, como décadas de intermináveis discussões comprovam, embora a sensibilidade do estuário do Tejo justifique todas as dúvidas. Também por isso, compreende-se a importância de um acordo entre os dois principais partidos. De resto, a história começou bem, com António Costa a não desfazer a opção de Pedro Passos Coelho pelo Montijo. Mas desde 2015 deixou sempre a sensação de que o avanço da obra não estava apenas dependente dos estudos. Os cortes drásticos no investimento público para acomodar as contas certas e o equilíbrio precário da “geringonça” recomendavam o adiamento.

 

A prova dessa gestão displicente do novo aeroporto vê-se na incúria com que o anterior Governo deixou encalhar a decisão num veto de autarcas sobre o Montijo – perante todos os sinais, teria sido fácil revogar a lei que a autoriza. Ou na facilidade com que aceitou uma nova manobra dilatória de Rui Rio – mais uma avaliação ambiental estratégica. Ou nos quase dois anos que, entretanto, se passaram, nos quais se escolheram entidades para realizar o estudo num processo sujeito a críticas e a suspeitas de incompatibilidades. Ou ainda no novo e pungente apelo para que o PSD o salve da polémica.

 

Com o regresso da bagunça ao Aeroporto Humberto Delgado, a questão ganhou outra vez relevância política. E, para desgraça do país, tudo continua como sempre: entre a displicência, a birra partidária e a paralisia política. O ministro da Administração Interna tenta colar os cacos com planos de contingência ou impondo, e bem, a autoridade do Estado aos inspectores do SEF, mas o caos está para continuar. A imagem do país degrada-se e o fluxo de turistas está ameaçado com o cancelamento de voos.

 

Em vez de respostas, de pressa e de sentido de Estado, o Governo escuda-se no consenso político e o PSD enche-se de ares para o deixar mergulhado na ressaca da sua negligência. Pressa, decisão, sentido de Estado e foco nas prioridades do país continuam a aterrar em parte incerta.

 

 

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