terça-feira, 30 de outubro de 2018

Na Rua do Ouro, em Lisboa, já não há elefante: fechou a Joalharia Correia





Imagens do Dia / OVOODOCORVO
Fechou a Joalharia Correia na Rua do Ouro.
Repare-se que esta Joalharia ficava entre a Casa das Águas e a óptica Jomil e a Ourivesaria Sarmento, um grupo de 4 lojas que resistiam ao "tsunami" de Lojas Asáticas de "Souvenirs". Este 'bloco' de resistência ficou agora, mais enfraquecido ...
OVOODOCORVO

Na Rua do Ouro, em Lisboa, já não há elefante: fechou a Joalharia Correia

Com o discreto encerramento da Joalharia Correia, fecha-se também uma história lisboeta.

 João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 30 de Outubro de 2018, 9:02

Na semana passada, enquanto turistas acalorados se encavalitavam nas escadas para entrar no elevador de Santa Justa e um guitarrista de ocasião ia debitando melodias a quem passava, havia na Joalharia Correia uma azáfama silenciosa. O gradeamento verde das montras estava corrido até ao fundo e a porta apenas entreaberta. Não era para ninguém entrar: a joalharia fechou.

Os donos atarefavam-se a embrulhar pedras preciosas em papel forte e a colocá-las em caixas de sapatos, que depois etiquetavam com um marcador. Empacotar uma vida inteira de trabalho é tarefa árdua e, no caso, penosa, pois o acto representa o fim de um sonho acarinhado durante 30 anos.

O nome que está inscrito no toldo virado à Rua do Ouro é Correia, mas quem aqui mandava eram os Veiga, que tomaram conta desta joalharia depois de terem perdido a sua no grande incêndio do Chiado, em 1988. A loja original da família, que prosperou em Angola, ficava uns quarteirões mais abaixo nesta artéria da Baixa lisboeta, e ardeu. Chamava-se Coralina Jóia e dedicava-se ao comércio de pedras preciosas e semipreciosas.

Nas últimas três décadas o grande objectivo dos Veiga foi regressar ao antigo espaço e retomar a pujança do negócio, mas diversas circunstâncias o impediram. Os vários donos do prédio não se entendiam sobre as obras e a câmara de Lisboa teve de comprar o imóvel para o reabilitar, com a promessa de o revender aos proprietários. Só que os trabalhos atrasaram-se vários anos e, quando terminaram, já não existiam os fundos especiais criados pelo Governo para financiar o renascimento do Chiado.

A família ficou descalça, embora tenha continuado a tentar negociar com a autarquia – sem sucesso. A antiga Coralina Jóia foi vendida e é hoje uma loja de souvenirs.

A Joalharia Correia, no número 245 da rua que os lisboetas pós-terramoto reservaram aos ourives (e já lá restam poucos), passou de casa temporária a definitiva. Quem entrava deparava-se com um tipo de estabelecimento de que já não há muitos exemplos no que foi outrora o grande bairro comercial da cidade. A toda a volta havia três enormes armários de madeira, em cujas vitrinas brilhavam as pedras, os brincos, os colares, os anéis e as medalhas em prata. Com olhar atento descobriam-se delicadas esculturas talhadas em marfim, cinzeiros, uma Nossa Senhora de Fátima feita de pedras incrustadas, mil e um objectos de outro tempo.

O que mais chamava a atenção era, contudo, uma gigantesca cabeça de elefante colocada a um canto, ainda com os dentes intactos. Ao pé dela, uma placa em português e mau inglês indicava que tinha sido encontrada num cemitério angolano, há muitos anos. Na semana passada, a cabeça já lá não estava. Foi vendida num leilão porque não havia sítio onde a guardar.

Esta quarta-feira, 31 de Outubro de 2018, foi o dia combinado entre os Veiga e o novo senhorio para encerrar definitivamente a joalharia. Com ela fecha-se também uma história, pequena na vida de Lisboa, grande na vida dos homens. O prédio, mais baixo do que os vizinhos, está degradado e deve entrar brevemente em obras.

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Cais do Sodré tem assistido ao regresso do mau ambiente e da insalubridade nos últimos meses



Cais do Sodré tem assistido ao regresso do mau ambiente e da insalubridade nos últimos meses

Samuel Alemão
Texto
30 Outubro, 2018

Após a acalmia sentida no último par de anos, ouvem-se de novo queixas relativas à decadência urbana num bairro que conheceu grandes mudanças na última década. Insegurança, ruído, sujidade, tráfico e consumo de droga na via pública e vandalismo têm contribuído para uma sensação difusa de degradação e insalubridade. No jardim do Largo Dom Luís I, cada vez mais gente dorme ao relento, depois de grandes noitadas. No Largo de São Paulo, o chafariz passou a ser ponto de confluência de jovens sem ocupação conhecida e que logo de manhã consomem álcool e estupefacientes. Há quem diga que os problemas se acentuaram a partir do momento em que fechou o Miradouro de Santa Catarina, em Julho. Comerciantes, residentes e junta de freguesia pedem mais policiamento.

Os sinais são contraditórios, mas o crescente coro de vozes descontentes deixa adivinhar uma tendência. “Isto tem piorado bastante, sobretudo nos últimos seis meses, desde que começaram a fechar o comércio deste quarteirão”, informa Vítor Barrinhana, gerente do quiosque existente num dos cantos do Largo de São Paulo, referindo-se ao imóvel delimitado a sul pela Rua dos Remolares, em breve a ser convertido em empreendimento de luxo. “Temos assistido aqui ao surgimento de um clima de mau ambiente e de falta de segurança, com roubos, cenas de pancadaria e tráfico de droga. As coisas pioram, sobretudo, a partir das seis da tarde, mas é de madrugada que isto fica mesmo impossível. Há muitos desacatos causados por indivíduos alcoolizados. O que vale é que temos um segurança”, conta o responsável pelo estabelecimento de venda de bebidas, parte de uma rede de quiosques espalhados pela cidade.

Apesar do unânime reconhecimento de que a zona do Cais do Sodré está bem diferente daquilo que foi, durante décadas, tanto pela ampla reabilitação do espaço público como pela revolução observável na actividade comercial dos anos mais recentes, começa a ser voz corrente por ali que “as coisas estão bem piores nos últimos meses”. Tanto que há mesmo quem receie um retrocesso do profundo processo de reabilitação daquela parte da cidade, verificado ao longo da última década. “Com o boom turístico, instalou-se outro tipo de problemas, que têm crescido a um ritmo incessante. As autoridades não estão a ser capazes de lidar com isto. A polícia nunca aparece, porque diz não ter meios, e a Câmara de Lisboa e a Junta de Freguesia da Misericórdia parecem não ter uma estratégia para resolver os problemas desta zona, a começar pela falta de limpeza”, critica Isabel Sá da Bandeira, presidente da direcção da associação Aqui Mora Gente.

O Largo de São Paulo é, cada vez mais, um local visto como "problemático", mesmo durante o dia
É verdade que o próprio processo de mudança do bairro, outrora associado à “má-vida”, aos marinheiros e à prostituição, foi tudo menos pacífico, como o atesta o período seguinte à conversão da Rua Nova do Carvalho na “rua cor-de-rosa”, em Setembro de 2011. A mudança, trazida com a abertura de alguns estabelecimentos, que rapidamente ficaram na moda, atraiu uma clientela mais abrangente para alguns dos clássicos bares da zona e insuflou de vitalidade uma parte da cidade antes vista com desconfiança por quem a olhava de fora. O Cais do Sodré saía assim da sombra e deixava de ser associado a uma certa imagem de marginalidade, entrava nos roteiros turísticos e, sobretudo nas noites de fim-de-semana, passava a ser o local de romaria de milhares de pessoas. Tantas que, em pouco tempo, se percebeu que aos problemas de sempre se juntavam outros.

 Lixo, barulho e violência passaram a fazer parte do quotidiano, numa dinâmica negativa que, estranhamente, parecia contrariar os sinais de regeneração que acompanhavam a movida, com a abertura de lojas e restaurantes e a regeneração do espaço público. Deram que falar, nesses primeiros anos da década, as queixas dos moradores sobre o mau-ambiente e a insegurança – quer os residentes mais antigos como os mais recentes diziam não conseguir dormir devido ao ruído e sentir medo de sair à rua. Tanto a Câmara de Lisboa e a Junta de Freguesia da Misericórdia, como a polícia eram, com frequência, acusadas de nada fazerem para controlar tal espiral descendente. Passado o sobressalto inicial, e dada a consistência da abertura de novos negócios, um clima de normalidade parecia, por fim, instalar-se no último par de anos. “A movimentação em torno da rua cor-de-rosa acalmou um pouco, porque também passou de moda. As pessoas cansaram-se da novidade e quem ali vai, sobretudo, são os estrangeiros”, diz Isabel Sá da Bandeira.

O problema é que, considera a residente e dirigente associativa, nos últimos seis meses a um ano, nas ruas à volta, se voltou a intensificar a sensação de insegurança e a percepção difusa de insalubridade – as quais, na verdade, nunca abandonaram por completo o bairro. Muito do “que se passa” e contribui para aumentar essa percepção negativa tem por cenários o Largo de São Paulo e a Praça Dom Luís I. “A sexta-feira é o dia mais crítico, quando vejo aí mais gente. Mas isto acontece toda a semana, logo às 8h30, quando chego para abrir a loja, já se vê aí pessoas sentadas a beber e a consumir outras coisas”, diz Nádia, 26 anos, funcionária da Óptica Central do Calhariz, referindo-se a uma crescente população de indivíduos jovens que passam grande parte do dia sentados junto ao chafariz do Largo de São Paulo, sem ocupação aparente. “O problema é que parece não haver controlo sobre quem consome álcool, o supermercado aqui ao lado vende cerveja a indivíduos que passam aí o dia todo embriagados, de garrafa na mão”.

 As garrafas partidas ou deixadas abandonadas no espaço público são visíveis pela zona, tal como muita sujidade. Mas, ao contrário desta, aquelas representam uma ameaça concreta à segurança pública. Para Paulo Graça, gerente do café Quatro Estações, situado mesmo ao lado do quiosque e a poucos metros da óptica, o problema das garrafas está relacionado com o facto de alguns estabelecimentos as venderem durante a noite e de haver quem as traga de outros sítios. “Na sexta e no sábado à noite, é uma vergonha. Anda para aí montes de gente com minis na mão. E isso tem consequências na sujidade das ruas, que tem aumentado bastante”, queixa-se, num lamento ouvido com frequência entre moradores e comerciantes. “Está tudo sujo, porque os funcionários dos restaurantes e dos bares arrastam os sacos de lixo pela calçada e fica neste estado”, diz Cecília Ferreira, 66 anos, empregada de uma loja de electrodomésticos da Rua de São Paulo, apontando para o passeio encardido.

Uma opinião partilhada por Ilídio Pereira, 70, funcionário da sapataria mesmo ao lado. “As ruas estão muito mais porcas, sem dúvida. Há garrafas por todo o lado e um cheiro a urina permanente. As pessoas vão para os copos e depois urinam em qualquer lado, mesmo contra as montras e a porta da minha loja”, conta, salientando que a vida nocturna do Cais do Sodré de outros tempos, apesar da reputação duvidosa, não apresentava tantos danos colaterais. “Há outro tipo de fauna que nos procura. E nesse aspecto até lhe posso dizer que ambiente de rua melhorou. Venda de droga? Por todos os cantos e esquinas isso acontece”, diz. Algo que passa ao lado de Maria Teresa Vicente, 74, que atende à porta fechada a clientela da alfaiataria João Bento Vicente, instalada na Rua dos Remolares desde 1897. Existem outras preocupações. “O nosso gradeamento é constantemente pintado e grafitado. Mas nós pintamo-lo de novo, quase todos os dias”, assegura.

Problema recorrente no resto da cidade, a profusão de tags e de graffiti também ali se faz sentir com intensidade. “Não há uma parede que não esteja suja. A última limpeza que fizeram foi antes das eleições. Isto vai ter um custo brutal”, alerta Isabel Sá da Bandeira, do Aqui Mora Gente, movimento formado há mais de uma década por um conjunto de pessoas que, no início deste século, viu no Cais do Sodré um local com potencial para habitar e investir. Muito antes da zona ficar na moda. As mudanças aconteceram, entretanto, e estão à vista de todos. Mas muitos não resistiram. “Das famílias que investiram aqui há 15 ou 20 anos, a grande maioria foi-se embora”, informa a dirigente associativa, sentada numa das esplanadas do Largo de São Paulo, na manhã de um dia de semana. A poucos metros, sentados no chafariz, jovens vão bebendo cerveja e fumando ganzas, ouvindo música saída de colunas portáteis. “Estão aí todo o dia. Mas, à noite, são mais”.

Quem quiser comprar droga sabe que, ali, a vai encontrar com facilidade. “Os traficantes andam por aqui, sempre a rondar, parecem predadores. Aliás, há uma máfia organizada que vem ali para rua cor-de-rosa para roubar os turistas e vender droga. As poucas pessoas que ainda aqui moram ficam com a vida um pouco constrangida. Há gente com medo. Eu, por exemplo, evito sair de casa à noite. É um problema grave, se tivermos em conta que a PSP, sempre que chamada, diz não ter meios”, constata Isabel Sá da Bandeira, criticando ainda o que considera ser a “aparente falta de estratégia da câmara e falta de competência da junta” para resolver os muitos problemas da freguesia, sobretudo ao nível da gestão do espaço público. Entre eles conta-se um “aumento brutal” do número de sem-abrigo, a que se junta uma população heterogénea que por ali deambula dia e noite. “No período nocturno, há gente acampada no jardim da Praça Dom Luís I. Isto não pode continuar, tem de mudar”, apela.

 Nos últimos tempos, todavia, as alterações verificadas são em sentido contrário ao desejado por quem ali vive e trabalha. “O que estamos a assistir em toda esta zona é à vida nocturna a estender-se pelo dia. Há pessoas a beber na rua, logo pela manhã. Existe insegurança e gente a tentar vender droga. Observa-se também um crescente número de pessoas a dormir na rua, como na Praça Dom Luís I”, descreve Nuno Santos, presidente da A Voz do Bairro – Associação de Moradores de Santa Catarina e Misericórdia, que se tem destacado nos seus cinco anos de vida – foi criada a 30 de Outubro de 2013 – na luta pela melhoria do ambiente na zona do Miradouro de Santa Catarina. Tal como sucede com esse local, que desde Julho passado se encontra encerrado para requalificação, numa decisão camarária que tem sido muito contestada, também na zona do Cais do Sodré a Voz do Bairro considera “necessária mais vigilância, mais policiamento”. Mas o défice operacional da PSP é assunto recorrente, admite Nuno Santos.


O fecho do miradouro de Santa Catarina está, de resto, a ser visto na zona do Cais do Sodré como uma das possíveis causas para a degradação sentida nos últimos meses. “Pelo que tenho ouvido, o mau ambiente tem-se acentuado desde que fecharam o Adamastor”, diz a O Corvo Paulo Graça, do café Quatro Estações. Uma versão confirmada por Tomás Gomes, 34 anos, gerente do quiosque existente no Jardim Dom Luís, na Praça Dom Luís I. “Isto está pior, nos últimos seis meses, caiu muito. E isso aconteceu de forma acentuada desde que baixou para aqui muita da gente que andava pelo Miradouro de Santa Catarina. Há sempre indivíduos alcoolizados no jardim, alguns vêm para a esplanada, importunam os clientes ou vêm para aqui só provocar. Às vezes, tenho de chamar o segurança do mercado”, diz, referindo-se ao Mercado Time Out, zona comercial a funcionar no Mercado da Ribeira.

Recentemente, Tomás teve de retirar um indivíduo que, alcoolizado, veio dançar para o meio da esplanada. “A malta da noite vem para aí, muitos deles dormem no jardim, onde calha. Mas para o nosso estabelecimento o período da manhã é aquele em temos mais problemas, é pior do que a noite”, afirma o gerente do quiosque, para quem a falta de limpeza do espaço público é outro dos aspectos que muito tem contribuído para o “retrocesso” que considera estar a pôr em perigo a “evolução dos últimos anos”. “Está sempre tudo muito sujo”, constata.

 A presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira (PS),  reconhece a existência de perturbações na qualidade de vida naquela zona, as quais diz serem “consequência da pressão causada pela grande frequência nocturna”. “As pessoas que andam na noite concentram-se muito ali e temos verificado que, muitas vezes, essa vivência se estende pelo dia”, diz, referindo-se ao Largo de São Paulo, cujo chafariz histórico a junta tem sentido dificuldades em manter limpo de graffiti, devido aos constantes actos de vandalismo, admite. Mas o vizinho Largo Dom Luís I é também motivo de preocupação. “Há muita gente que fica por ali. Não estamos a falar de sem-abrigo, mas sim de pessoas que, por opção ou resultado de consumos que fazem, acabam a dormir na via pública. Estamos a falar de portugueses, mas também de estrangeiros, que trazem a sua mochila e ali ficam”, explica a autarca, reconhecendo a crescente dificuldade de intervenção nestes casos. “Isto é o resultado dos excessos da noite”, constata.

 Carla Madeira lembra, contudo, que na zona do Cais do Sodré “verificou-se uma grande melhoria, nos últimos anos”. “O ambiente urbano melhorou muito. Quando assumi funções, em 2013, a zona estava quase em estado de sítio”, afirma, sugerindo que, apesar dessas notáveis melhorias, aquela área da cidade estará a ser vítima do seu próprio sucesso. “O problema é que, antigamente, os clientes estavam dentro dos estabelecimentos a consumir e agora muitos vêm para a rua, o que tem consequências”, considera a presidente da junta, reafirmando a O Corvo o desejo antigo de que seja criada legislação proibindo o consumo de álcool na via pública. Além de defender um aumento do policiamento, Carla Madeira diz ter expectativas em relação ao anunciado alargamento aquela zona do sistema de videovigilância, que em 2019 poderá entrar em funcionamento ali, bem como noutras áreas da cidade. Além disso, considera ter chegado a altura de se fazer a “avaliação” da aplicação do novo regulamento de horários de funcionamento dos estabelecimentos nocturnos, em vigor desde Março de 2017.

90% of world's children are breathing toxic air, WHO study finds





Inicia-se hoje, em Genebra, a Conferência Internacional  "Toxic Air "

90% of world's children are breathing toxic air, WHO study finds

Report says air pollution is having a devastating impact on children worldwide, storing up a public health time bomb

Matthew Taylor
Mon 29 Oct 2018 12.00 GMT Last modified on Mon 29 Oct 2018 22.27 GMT

Poisonous air is having a devastating impact on billions of children around the world, damaging their intelligence and leading to hundreds of thousands of deaths, according to a report from the World Health Organization.

The study found that more than 90% of the world’s young people – 1.8 billion children – are breathing toxic air, storing up a public health time bomb for the next generation.

The WHO said medical experts in almost every field of children’s health are uncovering new evidence of the scale of the crisis in both rich and poor countries – from low birth weight to poor neurodevelopment, asthma to heart disease.

Dr Tedros Adhanom, WHO director general, said: “Polluted air is poisoning millions of children and ruining their lives. This is inexcusable – every child should be able to breathe clean air so they can grow and fulfil their potential.”

The findings coincide with the start of the first global conference on air pollution and health in Geneva, including a high-level action day at which nations and cities are expected to make new commitments to cut air pollution.

The WHO study found that children are particularly vulnerable to air pollution because pollutants are often more concentrated nearer to ground level. It added that their developing organs and nervous system are also more susceptible to long-term damage than those of adults.

“Air pollution is stunting our children’s brains, affecting their health in more ways than we suspected,” said Dr Maria Neira, WHO director of public health and the environment.

The study found that 600,000 children die from acute lower respiratory infections caused by dirty air and 93% are exposed to one of the most damaging pollutants – PM2.5. In poorer countries, 98% of all children under five are exposed to PM2.5 above WHO guidelines.

Pregnant women are particularly vulnerable, with dirty air linked to premature and underweight children. Air pollution also increases the risk of chronic diseases such as cardiovascular disease later in life.

Tedros, writing in the Guardian on Saturday, described air pollution as the “new tobacco”, saying the simple act of breathing is killing 7 million people a year and harming billions more.

In the UK, most urban areas have illegal levels of air pollution and ministers have lost three times in the high court after challenges over the inadequacy of their action. The latest government action plan, called “pitiful” by environmental lawyers, revealed air pollution was actually much worse than previously feared.

Globally, with smoking on the decline, air pollution now causes more deaths annually than tobacco. However, researchers think the harm known to be caused by air pollution, such as heart attacks and lung disease, is only “the tip of the iceberg”.

Today’s report found that both indoor and outdoor air pollution was causing significant health problems. It said burning fuel such as wood or paraffin for heating, cooking and light in poorer countries was having a drastic impact on children’s health and called on governments to promote the clean alternatives as a matter of urgency.

Neira said there were “many straightforward ways to reduce emissions of dangerous pollutants ”, including “accelerating the switch to clean cooking and heating fuels and technologies, [and] promoting the use of cleaner transport, energy-efficient housing and urban planning. We are preparing the ground for low-emission power generation, cleaner, safer industrial technologies and better municipal waste management.”

Mark Watts, executive director of the C40 Cities group, which represents cities around the world working to tackle the climate crisis and air pollution, said the report was an urgent call to action.

“The moral and practical case for urgent, bold and far-reaching action to reduce emissions, including calling an end to the fossil fuel era, is now utterly irrefutable,” he said.

“Citizens are demanding action to protect their children, mayors of the world’s big cities are regulating to take dirty vehicles off the streets and slash emissions from buildings and waste. Now is the moment for governments, car manufacturers and other big polluters to step up.”

Neira said the air pollution crisis and the climate emergency could only be tackled together.

“The solutions are a basic public health agenda that will have plenty of benefits for public health and the environment,” she said. “No matter what else, we know that we need to decarbonise our society sooner rather than later and the benefits of that for our health and our economy are indisputable.”



OUR LIVING PLANET, AT A GLANCE

60%
Populations of mammals, birds, fish, reptiles, and amphibians have, on average, declined by 60% between 1970 and 2014, the most recent year with available data.

50%
The Earth is estimated to have lost about half of its shallow water corals in the past 30 years.

20%
A fifth of the Amazon has disappeared in just 50 years.

WWF report warns annihilation of wildlife threatens civilisation




Humanity has wiped out 60% of animals since 1970, major report finds
The huge loss is a tragedy in itself but also threatens the survival of civilisation, say the world’s leading scientists

Damian Carrington
 @dpcarrington
Tue 30 Oct 2018 00.01 GMT Last modified on Tue 30 Oct 2018 09.06 GMT

Humanity has wiped out 60% of mammals, birds, fish and reptiles since 1970, leading the world’s foremost experts to warn that the annihilation of wildlife is now an emergency that threatens civilisation.

The new estimate of the massacre of wildlife is made in a major report produced by WWF and involving 59 scientists from across the globe. It finds that the vast and growing consumption of food and resources by the global population is destroying the web of life, billions of years in the making, upon which human society ultimately depends for clean air, water and everything else.

“We are sleepwalking towards the edge of a cliff” said Mike Barrett, executive director of science and conservation at WWF. “If there was a 60% decline in the human population, that would be equivalent to emptying North America, South America, Africa, Europe, China and Oceania. That is the scale of what we have done.”

“This is far more than just being about losing the wonders of nature, desperately sad though that is,” he said. “This is actually now jeopardising the future of people. Nature is not a ‘nice to have’ – it is our life-support system.”


“We are rapidly running out of time,” said Prof Johan Rockström, a global sustainability expert at the Potsdam Institute for Climate Impact Research in Germany. “Only by addressing both ecosystems and climate do we stand a chance of safeguarding a stable planet for humanity’s future on Earth.”

Many scientists believe the world has begun a sixth mass extinction, the first to be caused by a species – Homo sapiens. Other recent analyses have revealed that humankind has destroyed 83% of all mammals and half of plants since the dawn of civilisation and that, even if the destruction were to end now, it would take 5-7 million years for the natural world to recover.

The Living Planet Index, produced for WWF by the Zoological Society of London, uses data on 16,704 populations of mammals, birds, fish, reptiles and amphibians, representing more than 4,000 species, to track the decline of wildlife. Between 1970 and 2014, the latest data available, populations fell by an average of 60%. Four years ago, the decline was 52%. The “shocking truth”, said Barrett, is that the wildlife crash is continuing unabated.

Wildlife and the ecosystems are vital to human life, said Prof Bob Watson, one of the world’s most eminent environmental scientists and currently chair of an intergovernmental panel on biodiversity that said in March that the destruction of nature is as dangerous as climate change.

“Nature contributes to human wellbeing culturally and spiritually, as well as through the critical production of food, clean water, and energy, and through regulating the Earth’s climate, pollution, pollination and floods,” he said. “The Living Planet report clearly demonstrates that human activities are destroying nature at an unacceptable rate, threatening the wellbeing of current and future generations.”

The biggest cause of wildlife losses is the destruction of natural habitats, much of it to create farmland. Three-quarters of all land on Earth is now significantly affected by human activities. Killing for food is the next biggest cause – 300 mammal species are being eaten into extinction – while the oceans are massively overfished, with more than half now being industrially fished.

Chemical pollution is also significant: half the world’s killer whale populations are now doomed to die from PCB contamination. Global trade introduces invasive species and disease, with amphibians decimated by a fungal disease thought to be spread by the pet trade.

The worst affected region is South and Central America, which has seen an 89% drop in vertebrate populations, largely driven by the felling of vast areas of wildlife-rich forest. In the tropical savannah called cerrado, an area the size of Greater London is cleared every two months, said Barrett.

“It is a classic example of where the disappearance is the result of our own consumption, because the deforestation is being driven by ever expanding agriculture producing soy, which is being exported to countries including the UK to feed pigs and chickens,” he said. The UK itself has lost much of its wildlife, ranking 189th for biodiversity loss out of 218 nations in 2016.

The habitats suffering the greatest damage are rivers and lakes, where wildlife populations have fallen 83%, due to the enormous thirst of agriculture and the large number of dams. “Again there is this direct link between the food system and the depletion of wildlife,” said Barrett. Eating less meat is an essential part of reversing losses, he said.


Humans just 0.01% of all life but have destroyed 83% of wild mammals – study
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The Living Planet Index has been criticised as being too broad a measure of wildlife losses and smoothing over crucial details. But all indicators, from extinction rates to intactness of ecosystems, show colossal losses. “They all tell you the same story,” said Barrett.

Conservation efforts can work, with tiger numbers having risen 20% in India in six years as habitat is protected. Giant pandas in China and otters in the UK have also been doing well.

But Marco Lambertini, director general of WWF International, said the fundamental issue was consumption: “We can no longer ignore the impact of current unsustainable production models and wasteful lifestyles.”

The world’s nations are working towards a crunch meeting of the UN’s Convention on Biological Diversity in 2020, when new commitments for the protection of nature will be made. “We need a new global deal for nature and people and we have this narrow window of less than two years to get it,” said Barrett. “This really is the last chance. We have to get it right this time.”

Tanya Steele, chief executive at WWF, said: “We are the first generation to know we are destroying our planet and the last one that can do anything about it.”

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Obras da estação de metro de Arroios continuam a meio gás e quase já não há lojas abertas na Praça do Chile



Obras da estação de metro de Arroios continuam a meio gás e quase já não há lojas abertas na Praça do Chile
Sofia Cristino
Texto
29 Outubro, 2018

Concretizou-se o maior receio dos comerciantes junto ao metro de Arroios, encerrado para obras desde Julho do ano passado. Quem ainda não fechou portas teme fazê-lo brevemente. Desde que os trabalhos começaram, desapareceram cerca de vinte lojas em redor da estação. A obra, que inicialmente se previa terminar em Janeiro de 2019, parece parada. Diz-se por ali que os operários da construção civil não recebem os salários há meses, não se sentido motivados para trabalhar. A Câmara Municipal de Lisboa (CML) comprometeu-se, em Abril passado, a marcar uma reunião com os comerciantes, mas esse contacto nunca aconteceu. O que leva os lojistas a questionarem-se: “É por não sermos uma zona de elite, por sermos uma zona de segunda?”. Esta segunda-feira (28 de Outubro) realiza-se uma reunião, convocada pelos comerciantes, para se debater a actual situação do metro de Arroios, mas poucos confirmaram presença. A presidente da Junta de Freguesia de Arroios não sabe quando terminará empreitada.

 “Não entendo como uma obra desta envergadura não tem fiscalização de uma entidade pública e está neste estado. Não se compreende, também, como a Câmara de Lisboa continua sem vontade de falar connosco”, diz, indignada, Manuela Correia, 51 anos, proprietária de uma perfumaria na Praça do Chile. A loja, ali há quase vinte anos, encerrará esta semana, deixando duas funcionárias desempregadas. Um estabelecimento de roupa de crianças, no número ao lado, já teve o mesmo desfecho. Ainda se vê o letreiro, mas as portas estão fechadas há mais de um mês. No acesso poente do metro, a tabacaria Órbita fechou para férias há mais de três meses e os comerciantes vizinhos acreditam que já não volta a abrir. Os estabelecimentos não resistiram aos danos causados pelo atraso nas obras da estação do metro de Arroios, como muitos lojistas temiam no início dos trabalhos.

 A infra-estrutura foi encerrada a 19 de Julho de 2017 para obras de requalificação profunda, mas a empreitada só avançaria em Outubro, devido a problemas financeiros do empreiteiro. Desde então, contudo, o ritmo de trabalho tem sido muito lento. Os comerciantes da Praça do Chile garantem que as obras estiveram paradas no passado mês de Setembro. E que os operários da construção civil se queixam de terem os salários em atraso, não se sentindo motivados para trabalhar. Um ano depois da colocação dos tapumes, a preocupação dos lojistas – que no último ano tiveram quebras de facturação de milhares de euros – já não é a perda de clientes, mas o que farão depois de fecharem os espaços comerciais onde estão há dezenas de anos. À faixa colocada nos tapumes – onde se pode ler “o comércio local continua aqui” – desde Abril, juntam-se agora panfletos nas ruas em redor, com a pergunta “Até quando?”

“A obra tem sido demasiado lenta, há alturas em que não se vê ninguém, nem o movimento que seria suposto para uma empreitada desta dimensão. Compreendemos que é uma obra necessária, não percebemos a falta de respeito que têm tido connosco”, critica Manuela Correia. A lojista garante ter perdido milhares de clientes, no último ano, e que o encerramento da perfumaria, no final deste mês, poderia ter sido evitado. “Nunca nos disseram quando iam colocar os tapumes e começar a obra. Se tivéssemos sido informados, talvez tivéssemos conseguido encontrar um espaço físico noutra parte da cidade. Neste momento, é impossível, não há rendas aceitáveis. Os senhorios desconhecem os encargos fiscais que temos, é uma tristeza, ninguém vai aguentar”, diz.

Manuela Correia, que todos os dias espreita para a obra, critica o desempenho dos trabalhadores. “Às vezes, estão parados durante mais de uma hora. Há pouco tempo, não conseguiam pôr uma máquina a trabalhar. A dificuldade era tanta que até me apeteceu ir procurar as instruções na internet e ajudá-los. Isto parece um filme”, conta. “No início, disseram-nos que queriam pôr os tapumes para entrarem camiões com areia, mas só os vi meia dúzia de vezes. A rua nunca foi limpa, desde que começaram as obras”, acrescenta. Cidália Ferreira, que dá uma ajuda na churrasqueira ao lado, critica o mesmo. “Dei cabo da esfregona a limpar a rua, o chão estava preto. Esta zona está degradada e deixada ao abandono. Se houver alguma evolução, só se for na parte subterrânea, porque em cima não se vê movimento nenhum”, garante.


Ao lado da perfumaria, só se percebe que há uma churrasqueira em funcionamento porque Lidório Pina, vendedor de frangos há 45 anos, o confirma. No número 1 da Praça do Chile não se sente o cheiro a frango assado, os grelhadores estão a meio gás e não há clientes. Lidório Pina tem dificuldade em falar e a voz treme-lhe quando pensa no futuro. “Isto é uma vergonha, estou exausto. O que ganho aqui vai dando para a renda só, não temos lucro. Se tivesse empregados, já tinha fechado, aguento-me pela minha família. Aquele ali em cima, nem sombra faz”, ironiza, apontando para um operário, especado num contentor da obra. O assador de frangos diz que os próprios trabalhadores já comentaram terem os salários em atraso há mais de três meses.

Na saída poente do metro só estão abertos três espaços comerciais: duas loja de vestuário e um restaurante. Carla Salsinha, proprietária da loja especializada em roupa de cerimónia, na Praça do Chile, há 42 anos, já fechou um estabelecimento – localizado, até há pouco tempo, na vizinha Rua José Falcão – e teme encerrar o que mantém aberto. A empresária, também ex-presidente da União da Associação de Comerciantes e Serviços (UACS), acredita que nos quarteirões em redor da estação já terão fechado cerca de vinte lojas.

 Preocupada com a falta de reacção dos órgãos de poder local, Carla Salsinha convocou, juntamente com outros comerciantes, uma reunião para esta segunda-feira (29 de Outubro), pelas 18h30, no salão paroquial da Igreja de São Jorge de Arroios. A Câmara de Lisboa e o Ministério do Ambiente também foram convidados para o encontro, mas, até ao momento, não deram uma resposta. “Sei que o presidente da câmara não pode vir, mas é inacreditável como não disponibilizam nem um vereador para a reunião. A Câmara de Lisboa demitiu-se completamente do seu papel. Fomos a uma reunião camarária em Abril, pedimos ajuda e prometeram contactar-nos, mas não disseram nada. Seis meses é tempo suficiente para falarem connosco”, critica.

Carla Salsinha refere-se à promessa deixada, na reunião da Câmara de Lisboa de 26 de Abril, pelo vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, em reunir com estes comerciantes. “Já há rumores de que a empreitada vai resvalar para 2021, e começo a acreditar. Durante um mês, não houve obras, à hora de almoço os trabalhadores ficam a apanhar sol. No início eram uns dez, agora são cinco. Não entendo qual o motivo para a CML nunca se ter dirigido a nós, será que é por não sermos uma zona de elite, por sermos uma zona de segunda?”, questiona.

Nessa mesma reunião pública de executivo, e quando confrontado pela comerciante sobre nada ter feito para ajudar os lojistas, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, descartou responsabilidades. “Esta é uma obra de uma empresa que é gerida pelo Estado, não pela câmara. Não posso mais do que partilhar o meu lamento quanto ao atraso. Queria que a obra já estivesse concluída há imenso tempo e espero que demore bem menos do que a obra no Areeiro”, dizia, mostrando-se disponível para reunir com os comerciantes. Até ao momento, não terá havido, porém, nenhuma tentativa de contacto. A 28 de Fevereiro, já tinha sido aprovada uma moção na qual a câmara municipal se comprometia a pedir à administração da empresa que tornasse pública toda a informação sobre o decorrer das obras, o que também não aconteceu.

 A última vez que o vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, se pronunciou sobre o assunto, na tal reunião camarária de 26 de Abril, justificava o atraso de quatro meses no arranque da obra com “dificuldades financeiras do empreiteiro”. A empresa de construção civil responsável pela empreitada do metro de Arroios, a Opway Engenharia, segundo o jornal Expresso, em Maio de 2015, tinha uma ampla lista de credores. Devia 62 milhões de euros ao Banco Espírito Santo (BES), 57 milhões de euros à Espírito Santo International e à Espírito Santo Financière e 3,3 milhões de euros à Rioforte. O Ministério Público também reclama da Opway Engenharia mais de 9,4 milhões de euros. Ainda de acordo com o Expresso, em Dezembro de 2017, a Opway pretenderia fazer o primeiro pagamento aos bancos em 2018.

 A situação financeira da empresa tem levado os próprios comerciantes da Praça do Chile a tecerem considerações sobre as políticas de lançamento de concursos públicos. “Como é possível uma empresa com tantas dívidas ganhar o concurso público? Alguma coisa não está a ser feita da melhor maneira. A Câmara anuncia o prolongamento da linha do metro e a criação de uma linha circular, mas não termina o que está em curso”, diz Maria Correia, uma das lojistas afectadas. O Corvo tentou contactar a construtora, mas, apesar das várias tentativas, ninguém atendeu o telefone.

 A presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Margarida Martins (PS), em declarações a O Corvo, diz que não pode fazer mais do que “sensibilizar as entidades responsáveis para que a obra ande mais depressa”. “A empreitada não parou, mas está a andar muito devagarinho. Não faço a mínima ideia porque está a ser um processo tão lento, estamos a tentar falar com o Metro de Lisboa e a Câmara”, diz.

A autarca diz ainda que já propôs à Câmara de Lisboa a revisão do regulamento das taxas de publicidade e garante estar, agora, a aguardar um parecer da CML para que estes comerciantes deixem de pagar este imposto no período da obra. “Há outras obras que estão atrasadas em Arroios, às vezes, é mais difícil as coisas andarem para a frente. Estas empreitadas são feitas através de concursos públicos e este processo é muito mais problemático do que as pessoas pensam, embora, neste caso, desconheça os motivos para o atraso. Não faço ideia de quando as obras acabarão”, conclui.

Em Maio deste ano, contactado por O Corvo, o Metro de Lisboa afirmava que o metro reabriria no primeiro trimestre de 2019. No entanto, dois meses antes, a 27 de Março, na Assembleia Municipal de Lisboa (AML), Miguel Gaspar havia já reconhecido que os trabalhos não deveriam estar concluídos na data inicialmente prevista – Janeiro de 2019 – e apontava para o segundo semestre do próximo ano. “Temos informação que a obra já está a correr, duvido que seja Janeiro de 2019, mas ainda não temos um planeamento final do Metro. Infelizmente, as obras do metro demoram sempre muito tempo, porque também ficam para uma vida”, dizia.

 O Corvo enviou novamente questões sobre os atrasos na obra do metro de Arroios ao vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, ao Metro de Lisboa e ao Ministério do Ambiente, mas até ao momento da publicação deste artigo não obteve resposta.

A breve lua-de-mel de Bolsonaro


A breve lua-de-mel de Bolsonaro

Bolsonaro soube interpretar os sentimentos e fantasmas da maioria dos brasileiros e por isso venceu. Mas também o PT ganhou. É à sua volta que a oposição se vai aglutinar na defesa da democracia contra o autoritarismo.

Jorge Almeida Fernandes
29 de Outubro de 2018, 0:15

1. Jair Bolsonaro foi eleito Presidente do Brasil por uma margem impressionante. Não foi uma surpresa. Mas também nada assegura de sólido. O Brasil deu um salto no escuro. Hoje é o dia das perguntas e não o dia das respostas. É necessário observar o clima dos próximos dias. Será o termómetro da tendência de acalmia ou do reforço da polarização. Os brasileiros fizeram-se reféns de dois discursos extremos, do “nós contra eles”, em que a maioria não votou a favor do seu candidato mas contra o “outro candidato”.

Apesar dos números da vitória, “a lua-de-mel vai ser curta”, previa há dois dias o politólogo Paulo Kramer, membro da equipa de Bolsonaro. “Os primeiros cem dias não vão começar a partir do 1.º de Janeiro, mas a partir do momento em que for declarado o resultado das urnas. A situação do país é muito grave. Ninguém vai ter paciência para esperar.”

O eleitorado quer ter a perspectiva de medidas concretas. Quer ouvir falar da economia e de coisas como a reforma da Previdência, temas ausentes da campanha eleitoral, dominada pela chamada “guerra cultural”.

2. A mesma eleição que entrega o poder a Bolsonaro é também a que entrega a chefia da oposição ao PT. Deste ponto de vista, ambas as forças terão atingido os seus objectivos. Lula e o PT sacrificaram as presidenciais à manutenção da sua hegemonia sobre a esquerda. Note-se que, com o estilhaçamento do MDB e sobretudo do PSDB, será em torno do PT que tenderá a agregar-se toda a oposição. O PT incomodará Bolsonaro no Congresso e na rua. Outro efeito possível é retirar do centro da agenda o tema da corrupção e lá colocar a defesa da democracia contra o autoritarismo.

O PT pode ter deixado de ser o antigo “partido de massas” para se tornar numa eficaz máquina eleitoral. Mas é o único partido que provoca uma intensa identificação ideológica junto da sua base eleitoral.

3. O Congresso será o palco das próximas grandes batalhas políticas. Bolsonaro está perante um teste: a aprovação da reforma da Previdência. “Se não a aprovar no primeiro semestre, não a aprova mais”, observou Kramer.

O Presidente disporá de uma grande maioria conservadora entre os deputados. No Senado terá mais dificuldades. Mas se a nova maioria está disponível para ratificar alguns dos temas mais “fracturantes” de Bolsonaro, é previsível que levante obstáculos às reformas económicas preconizadas pelo anunciado “czar” da Economia, o economista neoliberal Paulo Guedes. De resto, o programa económico do futuro governo é ainda nebuloso. Os ministros militares seguirão Guedes ou limitá-lo-ão em nome de um projecto mais nacionalista? Até agora, Bolsonaro tem dito uma coisa e o seu contrário. Quanto tempo durará também a “lua-de-mel com os mercados”?

A única certeza é que estas eleições mudaram o mapa político. Marcam o fim de uma era e é impossível prever que novas regras e alianças se vão impor (ver Manuel Carvalho no PÚBLICO de ontem).

4. Por fim, falemos dos riscos. “Risco de quê?”, interroga-se o politólogo Fernando Bizarro. “Se for a quebra brusca da democracia — com um golpe que cancele eleições, feche o Congresso e suspenda direitos —, o risco é provavelmente zero. Tanto a experiência internacional quanto a História brasileira mostram isso.” O problema é outro. “A erosão democrática, isto é, a deterioração gradual e limitada de algumas dimensões da democracia é hoje a forma mais comum da degeneração das democracias.”

As instituições existem mas parecem fragilizadas. Um dos sintomas foi a necessidade de o Supremo Tribunal Federal se apoiar no Exército para enfrentar as ameaças de Bolsonaro, para não falar no crescente papel tutelar dos militares perante um sistema político degradado.

Por fim, há o “problema Bolsonaro”. Quer dar a aparência de um “homem forte”. Ou será apenas uma máscara? Como reagirá perante um fracasso no governo? Apostará na polarização e no confronto? O grande capital do novo Presidente é a popularidade. Soube interpretar os sentimentos e os fantasmas da maioria dos brasileiros. Agora, arrisca-se a “perder o inimigo” e a tornar-se ele próprio o alvo das frustrações.

Não há ainda respostas. Apenas dúvidas e interrogações.

domingo, 28 de outubro de 2018

The Party Is Over

Alice Weidel and Alexander Gauland, co-leaders of the Alternative for Germany (AfD) party, arrive to speak on immigration and crime on September 18, 2017 in Berlin.



ARGUMENT
The Party Is Over

The mass political movements that once dominated Europe are fading fast—and the nationalist populists and upstart parties taking their place are here to stay.

BY MATTHEW GOODWIN | OCTOBER 24, 2018, 9:22 AM

The current political volatility that is sweeping through much of the West marks the beginning, not the end, of a new era of great churn and change. Europe, the United States, and other democracies have entered an age of dealignment. The fragmentation of political systems, the rise of populist parties, higher rates of electoral volatility, and an ever-tightening squeeze on the traditionally dominant parties have become the new normal.

This process was decades in the making, and it will continue to have profound effects on politics—effects that may be much stronger than we currently apprehend.

The West has come a long way from the golden era of mass politics, which ran from the early 20th century through to the 1990s. While there have always been populist insurgents and periodic explosions of volatility, in broad terms, the golden era was characterized by strong bonds between citizens and the traditional parties—such as Germany’s Christian Democrats or France’s Socialists, both of which are now in steep decline. During peacetime, this system of mass politics brought relative stability. Its success owed much to its underlying foundations.

The traditional parties drew strength from deep divides in Western societies that been shaped by nationalist upheavals and the Industrial Revolution—rifts between national and periphery identities, between church and state, between a landed elite and a bourgeois class, and between capitalists and workers. These foundations provided not only a framework for many political systems but also a durable and typically reliable source of votes for the traditional parties. Workers leaned left, the old property-owning middle class leaned right, territorial disputes fueled regionalist parties, and Catholics voted for Christian Democrats. It was these foundations that led the influential scholars Seymour Martin Lipset and Stein Rokkan to observe in the 1960s that many political systems had essentially “frozen”—they looked much like they had in pre-World War I Europe.

Those systems have now thawed, if not melted away entirely. The long-term continuities that once delivered loyal voters, dominant major parties, and stable, experienced governments have been disrupted.The long-term continuities that once delivered loyal voters, dominant major parties, and stable, experienced governments have been disrupted. The key disrupters include the left’s drift away from workers to focus on the culturally liberal and degree-holding middle class, the way in which new value conflicts have cut across traditional electorates, and how this has been exacerbated by the rise of new issues such as immigration that do not sit easily within the classic left versus right framework.
This process began in the 1980s and 1990s, long before the Great Recession, and it accelerated during the 2000s and is now producing unprecedented political change. In only a decade, between 2004 and 2015, the average share of the vote going to the traditional mainstream parties in Europe slumped by 14 points to 72 percent. Meanwhile, the share of the vote going to new populist challengers, whether on the left or the right, more than doubled to reach 23 percent. The center-left is experiencing record losses, and in several political systems the combined share of the vote going to the traditional mainstream parties has reached record lows. In Germany, social democrats plunged last year to their worst result since 1933. In Sweden, they just fell to their lowest since 1908.

At the root of these shifts is dealignment, the way in which the bonds between citizens and the traditional parties are erodingAt the root of these shifts is dealignment, the way in which the bonds between citizens and the traditional parties are eroding or, in some cases, have broken down completely. It hasn’t happened overnight, but the erosion of support for once-dominant parties has been stubbornly persistent. By 2009, before the effects of the global financial crisis had really taken hold, the share of people in Europe who did not feel close to any party reached 54 percent. It is this dealignment that has cleared the path for an assortment of new challengers.
Some observers were shocked by the recent election result in usually stable Sweden, where the Social Democrats had their worst showing for more than a century, while the center-right Moderates fell to their second-worst result since the late 1980s. Meanwhile, the national populist Sweden Democrats reached a record high, and the combined share of the vote for the two major parties dropped to just 48 percent, the lowest since Sweden’s party system reorganized itself in the late 1970s.

But if one looks at the deeper currents, then this volatility would not have been a surprise. By the time of the election, and compared to the 1960s, the percentage of Swedes who identified with a party had crashed from over 50 percent to just 17 percent.

It is a similar story in Germany, where during last year’s general election the two major parties took their lowest combined share of the vote since the country was reunified (53 percent), while the upstart Alternative for Germany (AfD) captured 92 of the 709 seats in the Bundestag. And in the state election in Bavaria earlier this month, the picture was even bleaker: The two main parties combined took just 47 percent of the vote.

Again, the writing had been on the wall. Between 1972 and 2009, the percentage of people in what was West Germany who felt strongly aligned to one of the two main parties dropped from 55 to 32 percent, while in the East, where the AfD has emerged as a major force and where there is no tradition of multiparty politics, these weak loyalties had been on full display since the early 1990s.

In the United Kingdom, in the three decades before people voted for Brexit, the ratio of people who felt as though they had a strong relationship with one of the two dominant parties dropped from around half to one-third, a trend that has been accompanied by a strong sense of disillusionment. This year, when Ipsos MORI asked people whether they felt that “traditional parties and politicians” cared about people like them, the replies in Europe were sobering—47 percent of people in Germany, 51 percent in Italy, 57 percent in Britain, 64 percent in Hungary, and 67 percent in France felt that they had been abandoned by the old guard.

The wider tendency to dismiss this sentiment as ephemeral protest is misleading. The drivers of dealignment are deep-rooted. The globalization revolution that began in the post-war era ushered in a new era in which political conflicts between communitarians and cosmopolitans, underpinned by an educational divide, have revolved around new and far more potent issues. Immigration, refugees, Islam, the declining power of the nation amid supranational integration, gender equality, and challenges to the traditional family unit have gradually crept up the agenda. The traditional parties were too slow to adapt to the new reality or unable to reconcile what are irreconcilable value divides within their own electorates. On the critical questions of identity, liberal middle-class professionals and blue-collar workers hold fundamentally different views.On the critical questions of identity, liberal middle-class professionals and blue-collar workers hold fundamentally different views. As a consequence, new and more flexible political movements have emerged to tear off chunks from the old dominant parties, whether it’s the Greens going after middle-class voters in Germany or national populists seeking the support of the more socially conservative working class.
It is from this dealignment that higher rates of volatility have flowed. We now live in an era in which the Italian Five Star Movement can be founded and win an election within a decade, in which Emmanuel Macron can step outside traditional party politics and capture total power in France in just a couple of years, and where our political systems are fragmenting as more ideologically radical parties draw strength from the way in which older coalitions of voters are breaking apart. And these changes are also having another important effect: pulling previously apathetic voters back into politics.

In Germany, the top source of votes for the national populist AfD were nonvoters, people who had given up on politics but now saw an opportunity to regain a seat at the table. In the U.K., a substantial number of traditional nonvoters turned out to vote in the 2016 referendum, and most of them supported Brexit.

Amid the new age of dealignment, it is tempting to look for solutions in democracies that seem to have escaped the broader trend. In the U.K., for example, while Brexit divides the parties and voters, the most recent election, in 2017, saw the share of the vote for the two main parties surge above 80 percent, the highest combined vote share since 1970. But headline figures can be misleading. As my colleague Jon Mellon has shown, when you drill down beyond party vote shares to look at how individual voters are behaving, then you see that both the 2015 and 2017 elections were actually among the most volatile in the entire post-war era. What disguised the fact that many Liberal Democrats and Greens switched to Labour, while many working-class Labour and UK Independence Party voters switched to the Conservatives, was the “first past the post” system, which unlike proportional systems awards seats by the achievement of a simple majority.

In the United States, too, from the 1970s onward numerous studies have pointed to the same weakening bonds between citizens and the main parties. Whereas in the early 1960s, a solid 70 to 75 percent of people lined up between the two main parties, by the time Donald Trump was mulling over whether or not to run for the White House, it had sunk to a record low of 56 percent. Both the share of Americans who see themselves as independent or who felt that a new party is needed have surged to record highs.Both the share of Americans who see themselves as independent or who felt that a new party is needed have surged to record highs. This much greater fluidity no doubt helped the insurgent Trump, not least among some former Obama voters.
Central and Eastern Europe offers a glimpse into one possible future that awaits democracies in the West. As the scholars Tim Haughton and Kevin Deegan-Krause point out, since the 1990s, many of these democracies have experienced substantial losses by established parties, rapid gains by “uncorrupted newcomers,” but then equally rapid newcomer losses to even newer parties. The result, they point out, is often “accelerating party-level cycles of birth, death, and replacement.” They hint at a political future in which, amid broader dealignment, major successes by new parties triggers a steady stream of “start-up parties,” which “bear closer resemblance to their technology-industry counterparts than to traditional political parties.”

The new, awkward reality is that, while the age of dealignment and volatility make it easier to create and build new parties, these deep trends simultaneously make it harder to keep challengers alive. So, while the old traditional parties will continue to struggle, it might also be that even new populist challengers come under threat from even newer parties. States in Western Europe, much like their Central and Eastern neighbors, may in the coming years find that they too are increasingly heading into a never-ending cycle of birth, death, and replacement.

All of this means that it will be harder for Europe to get the strong, stable, and ideologically coherent governments that are a prerequisite for dealing effectively with a growing list of challengesAll of this means that it will be harder for Europe to get the strong, stable, and ideologically coherent governments that are a prerequisite for dealing effectively with a growing list of challenges: how to respond to the rising support for national-populism, how to craft a durable solution to the refugee crisis, how to resolve economic inequality that continues to exacerbate tensions between North and South, and, more broadly, how to deliver a model of integration that can simultaneously satisfy the liberal and (increasingly strong) conservative wings of Europe.
The demise of traditional parties is not a blip. The evidence suggests that it is a lasting transformation of the party system. And as a consequence, European politics is likely to become far more volatile in the years to come.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Há famílias a ocupar ilegalmente lojas de prédios municipais em Lisboa e a convertê-las na sua habitação



Há famílias a ocupar ilegalmente lojas de prédios municipais em Lisboa e a convertê-las na sua habitação

Samuel Alemão
Texto
26 Outubro, 2018

“Qual é o polícia que me vem tirar daqui? Não vou viver para a rua com os meus filhos. Prefiro morrer aqui, a sair”, assegura Samuel Gouveia, 31 anos, no meio da sua espaçosa sala de estar, no canto da qual funciona a cozinha. Uma tipologia, aliás, recorrente em várias das antigas lojas de prédios municipais de habitação social da Ameixoeira, na freguesia de Santa Clara, ocupadas de forma ilegal por famílias da zona. Quem o faz assegura não ter outra escolha, devido às dificuldades do mercado e à alegada inacção da Câmara Municipal de Lisboa (CML) na resposta aos pedidos por uma casa. Um cenário que se repetirá em diversos bairros capital administrados pela empresa municipal Gebalis, garante o PSD, que na tarde desta quinta-feira (25 de Outubro) convidou os jornalistas a visitarem blocos habitacionais naquela parte da cidade.

Razão suficiente para levar os vereadores laranja, Teresa Leal Coelho e João Pedro Costa, a pedirem uma rápida acção da autarquia na identificação dos “espaços não habitacionais” devolutos, para assim os poder converter em fracções residenciais para os mais carenciados, sobretudo idosos e pessoas com mobilidade reduzida. A única condição é que as mesmas cumpram os requisitos técnicos para tal mudança de uso, dizem os eleitos social-democratas. “Não podemos tolerar que haja propriedade municipal abandonada, no meio desta crise habitacional e com 4.600 famílias em lista de espera para ter casa”, afirma a vereadora Teresa Leal Coelho, destacando os pedidos insistentes do seu partido, no último ano, para que a câmara disponibilize a lista das “casas por ocupar” integrantes do parque habitacional municipal. Solicitação que, diz, não tem recebido qualquer reposta. Em Junho passado, O Corvo noticiava as tentativas da autarquia em perceber ao certo quantas das suas casas estão ocupadas de forma ilegal.

No caso da Rua Fernanda Alves, localizada na Zona 2 da Ameixoeira, na fronteira Norte da capital, são frequentes os relatos de situações descritas como desesperadas como justificação para os arrombamentos das portas de lojas situadas em prédios de habitação social. Muitas delas abandonadas há anos ou até nunca ocupadas. “Havia aqui uma associação, mas eles tinham deixado isto ao abandono. Vinha para aqui gente drogar-se, havia montes de lixo, de seringas e muitos ratos. Limpei esta porcaria toda, fiz obras, coloquei um texto falso, levantei uma parede, construí a casa de banho e assim os meus filhos já têm uma casa para viver em condições”, conta Samuel, vendedor ambulante, que ali vive, há cerca de seis meses, com a mulher e as duas crianças, Gessiana (8) e Kevin (6).

Num bairro habitado maioritariamente por famílias ciganas, ouvem-se histórias de gente que justifica tais acções com o direito à dignidade habitacional. “Assumo que o fiz por necessidade. A polícia municipal passa aqui e não tem dito nada”, diz o inquilino irregular. Esta é, de resto, uma atitude idêntica à dos outros residentes à margem da lei que, na tarde desta quinta-feira, franquearam, à comitiva laranja e à comunicação social, as portas das fracções de que agora dispõem como sendo os seus lares. “Estou de acordo em pagar uma renda, claro. Se legalizarem a minha situação, não tenho problemas com isso. Quero é ter uma casa em condições”, explica Samuel, que antes vivia num andar do mesmo prédio com outros familiares. Ao todo, eram onze. Razão pela qual teve de sair e ocupar a loja, no rés-do-chão, diz. “Já gastei aqui dois ou três mil euros em arranjos”, assevera.

Também Luís Ramos, 25 anos, alega não ter tido outra escolha se não a de entrar numa antiga loja da Rua Fernanda Alves, a qual, garante, até já tinha a porta arrombada. “Não forcei nada. Isto aqui, antes, era um local onde vinha para aí pessoal fumar ‘ganzas’. Precisava de uma casa, não podia estar mais em casa da minha mãe, sobretudo por estar incompatibilizado com o meu irmão, que é uma pessoa problemática”, relata, tentando assim legitimar a ocupação da fracção onde vive com a mulher, Maria Margarida (27) e o filho de um ano, o qual herdou o nome do progenitor. Luís está a morar ali há cinco anos, sem pagar renda e tem vivido do Rendimento Social de Inserção (RSI), tal como a companheira. Encontra-se desempregado há cerca de um ano, após ter perdido o trabalho como cantoneiro. Mas diz que gostaria de pagar renda, se a sua “situação” fosse legalizada. “Penso que eles sabem que estou aqui, porque nunca me vieram chatear”, diz.

Uns poucos metros mais à frente, também Jorge Corneta, 23 anos, e Sónia, 18, dizem-se dispostos para regularizar a sua ocupação ilegal do património municipal, que dura há já sete anos. Ambos com o sexto ano de escolaridade e também dependentes do RSI – no conjunto, recebem 379 euros – , queixam-se da dificuldade em encontrar habitação a preços compatíveis com as sua possibilidades. E as listas de espera da Gebalis, dizem, são de molde a deixá-los desencorajados. “Todos os anos vou lá inscrever-me”, diz Jorge, encolhendo os ombros, justificando assim a ilegalidade. “Estou disposta a pagar uma renda à medida das nossas necessidades”, diz Sónia, mãe de uma criança de três anos e à espera do segundo filho. Interrogados se alguma vez trabalharam, ambos abanam a cabeça em sinal de reprovação. “Eu quero trabalhar, mas, com o sexto ano, não arranjamos emprego em lado nenhum”, queixa-se Sónia, contendo as lágrimas.

 Ouvindo tal descrição, a vereadora Teresa Leal Coelho lembra-lhes a importância de “estudar e trabalhar”. Algo que já fizera no início da visita, quando dizia ao chefe da comunidade daquela zona, Novélio Maia Fonseca (69), que “uma das preocupações na Ameixoeira é a de que as crianças ciganas vão à escola”. “A ida para a universidade é fundamental, até por uma questão de igualdade de oportunidades”, dizia a também deputada na Assembleia da República. “Não havendo discriminação, eles infiltram-se na sociedade”, retorqui-lhe, sorridente, o líder comunitário.

 Neste momento, porém, a preocupação maior, tanto de Leal Coelho, como do seu colega João Pedro Costa, é constituída pelo que ambos consideram ser “a grave crise habitacional da cidade”, que acreditam estar a ser intensificada pela “incapacidade da Câmara de Lisboa em dar resposta às 4.600 famílias que se encontram em lista de espera, apesar de o município dispor de um enorme parque habitacional, seja em bairros ou propriedade dispersa”. De acordo com dados recolhidos pelo PSD, “um número significativo” dos 1300 espaços não habitacionais sob gestão da Gebalis “acabam por não desempenhar a função para a qual foram destinados, encontrando-se actualmente vazios ou abusivamente ocupados”. O problema, diz Teresa Leal Coelho, é que os próprios serviços camarários não são capazes de avançar com uma estimativa do número de fracções nessa situação de ocupação ilegal.

 “Não pactuamos com ocupações. Mas a câmara deve recuperar este património e atribuí-lo a quem precisa. Não há razões para termos esta situação”, afirma a vereadora, que se confessou “chocada” com os casos ontem revelados. “Esta é uma Lisboa esquecida”, disseram em uníssono os vereadores social-democratas, acusando a câmara liderada por Fernando Medina (PS) de “incapacidade, falta de método e planeamento”. “Estamos a viver um grave problema de habitação na cidade e a câmara poderia resolver isto com método, organização e uma correcta gestão, fazendo uso de uma base de dados actualizada, que responda às necessidades das pessoas”, considera João Pedro Costa, afirmando que a câmara “tem de ajudar a criar condições para que o mercado de habitação volte a funcionar”. O vereador promete ainda que o PSD apresentará, nos próximos meses, uma proposta de relevo para o sector na capital.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Our planet can’t take many more populists like Brazil’s Bolsonaro



Plantação de soja na Amazônia resultado da desflorestação da Floresta Virgem

Our planet can’t take many more populists like Brazil’s Bolsonaro
Jonathan Watts

Just when Earth badly needs pro-environment leaders, we get big-business strongmen. There’s a reason for this grim irony
"The Brazilian election results were announced on 8 October – just as climate scientists were issuing their most dramatic warning yet that humanity has just 12 years to slash emissions or suffer the consequences of dangerous global warming. If countries do not start planting trees and cutting fossil fuels now, they said, then it will be impossible to prevent a rise of more than 0.5C, which would completely eradicate all of the world’s corals and irreversibly disrupt weather systems, bringing droughts, floods and extreme heat that will push hundreds of millions into poverty."

Wed 24 Oct 2018 06.00 BST Last modified on Wed 24 Oct 2018 17.35 BST

Unless every poll is wildly wrong, Brazil will probably elect a racist, sexist, homophobic advocate of torture at the end of this month. The former army captain Jair Bolsonaro nearly won outright in the first round, securing the votes of almost 50 million people – despite his extreme views being well known.

What is less well understood, however, is the catastrophic environment implications of his rise to the brink of power. And in this, Bolsonaro is not unique: around the world, diminishing resources are fuelling a global rise of authoritarian leaders dedicated to doing the bidding of some of the world’s most environmentally damaging interests.

The Brazilian election results were announced on 8 October – just as climate scientists were issuing their most dramatic warning yet that humanity has just 12 years to slash emissions or suffer the consequences of dangerous global warming. If countries do not start planting trees and cutting fossil fuels now, they said, then it will be impossible to prevent a rise of more than 0.5C, which would completely eradicate all of the world’s corals and irreversibly disrupt weather systems, bringing droughts, floods and extreme heat that will push hundreds of millions into poverty.

History tells us that when environments deteriorate, societies turn to 'strongmen' and zealots rather than pragmatic leaders
History tells us that when environments deteriorate, societies turn to supposed strongmen and religious zealots rather than smart, pragmatic leaders. That is happening now. In addition to the dictatorships of China, Russia and Saudi Arabia, a growing number of young democracies have relapsed into authoritarianism: the Philippines under Rodrigo Duterte, Turkey under Recep Tayyip Erdoğan, Egypt under Abdel Fattah el-Sisi, and next, it would seem, Brazil under Bolsonaro. And underlying this is environmental stress, which has been building for over two centuries.

Starting in Britain, the carbon-capitalist industrial model has long been extracting minerals and organic resources, and discharging the waste into the air, sea and land. As more nations developed, they exported their environmental stress to the next country rising up the economic ladder.

Now that this paradigm is being replicated by the world’s most populous country, China, there are very few places left to absorb the impact. Competition for what is left is growing. So is violence and extremism. Centre-ground politicians who once talked chummily about “win-win solutions” have been pushed to the sidelines. No one believes this any more. Voters may not see this in environmental terms, but consciously or subconsciously they know something is broken, that tinkering is no longer enough.

A soy plantation in the Amazon rainforest near Santarém, Pará, north Brazil. Photograph: Ricardo Beliel/LightRocket/Getty Images
In the US, with massive support from the fossil-fuel industry, Donald Trump has undermined the Environmental Protection Agency, opened up swaths of national parks to industry, cut pollution controls and promised to pull out of the Paris accord. In Australia, Malcolm Turnbull was ejected from power by his colleagues because he tried to fulfil promises to cut carbon emissions. And now in Brazil, voters are backing a politician who has vowed to pull his country out of the Paris deal, abolish the main government agency tackling deforestation and end the demarcation of indigenous land.

Bolsonaro has the backing of agribusiness and mining leaders, who are rubbing their hands in glee at the prospect of an Amazon denuded of its greatest protections. The markets – which are heavily driven by extractive industries – also love him. The main stock index and exchange rate of the Brazilian real spiked after his first round win. An editorial in the Wall Street Journal endorsed him as a “conservative populist”.

Such neo-fascist politicians should not be blithely dismissed. They are the hired guns of the industries working against the Paris accord and other international agreements that aim to prevent further environmental catastrophes, which hit the poorest hardest. Their “anti-globalism” is first and foremost anti-nature and anti-future. An extraction-first approach may bring economic benefits in the short term, as cronies and campaign donors clear more forests, open up plantations and dig more mines – but the profits are concentrated while the environmental stress is shared.

The great fear climate scientists have is that a warming planet could create feedback loops that will make everything much worse. But there has not been enough study of economic and political feedback loops. How drought in China puts pressure on the Amazon to produce more food and clear more forest. Or how powerful business interests will choose a dictator over a democrat if it means easing environmental controls that threaten their ability to meet quarterly growth targets.

We are already seeing a widening gap between politicians and scientists. While the latter urge more ambitious climate action, the former know they will receive more campaign funds if they oppose emissions cuts, support extractive industries and weaken pollution regulations. It is not just dictatorships. Britain is pushing ahead with fracking, Germany with coal and Norway with oil exploration.

At some point, voters will realise that ecological stress is at the core of the world’s current woes. The aha! moment may be when water grows prohibitively expensive, or crops fail owing to successive heatwaves, or the refugee crisis sparks war, but at some point the weakness of the strongmen will be apparent, and people will seek change. The danger is, by then it may be too late. Climate and politics alike will have passed a tipping point, leading to social chaos and the morphing of populists into full-blown dictators-for-life.

That is not yet inevitable, but the risks are growing. What has become clearer than ever is that the best way to avoid climate and ecological collapse is by voting for leaders who make this a priority. It will be impossible to fix the economy unless you first fix the environment. The global instinct for radical change is right, but unless that is geared towards ecological rebuilding the world’s democracies may go extinct before the corals do.

• Jonathan Watts is the Guardian’s global environment editor


Bolsonaro backers wage war on the rainforest

 Polls show Jair Bolsonaro has 78% support in the heavily deforested Amazon state of Rondônia on Brazil’s western border.
Most in Brazil’s heavily-deforested western border support Jair Bolsonaro and his promises of progress instead of protection

by Dom Phillips in Porto Velho
Thu 25 Oct 2018 06.00 BST Last modified on Thu 25 Oct 2018 16.40 BST


The growl of a chainsaw and the howl of a straining tractor engine were enough to draw the environment officials up a rutted track into the forest.

In the clearing at the end of the road, three young loggers silenced their machines and proffered their documents. They were paid in cash, they said – nearly four times the Brazilian minimum monthly salary of £200 ($258) – to ship out up to two truckloads a day of huge hardwood logs.

And like most people in the heavily-deforested Amazon state of Rondônia on Brazil’s western border, they are sure who they will vote for in Sunday’s presidential run-off vote.

“It has to be Bolsonaro. He supports us,” said Edivaldo da Silva, 22.

Polls show that Jair Bolsonaro, the far-right former army captain has 78% support in Rondônia, leaving his leftist rival Fernando Haddad in the dust.

In the Amazon, Bolsonaro has promised progress instead of protection.

And his radical proposals – to withdraw Brazil from the Paris climate deal, neuter federal environment agencies, give the green light to destructive hydro-electric dams, freeze the demarcation of new indigenous reserves and open up existing ones to mining – chime with voters here, including those breaking environmental laws.

Loggers, illegal gold miners and squatters on a protected reserve all told the Guardian they are voting for Bolsonaro because they believe he will make their lives easier.

Environmentalists argue Bolsonaro’s plans will prove disastrous for the Amazon and 33 non-government groups have warned his proposals represent “concrete and irreversible risks” to Brazil’s forests, biodiversity and even the reputations of its agribusiness producers.

Bolsonaro’s allies rubbish such concerns. His planned chief of staff and his party’s candidate for governor of Rondônia criticised foreign “interference” in the Amazon and told the Guardian they harboured doubts over global warming science.

Such views are common in a state where where smallholders say they are unjustly penalised for breaking environmental rules and argue that responsibility for climate change should be shared globally.

Lucemar Kouchut drives a shipment of logs. Photograph: Dom Phillips
The three loggers showed the environment officials documents which they said showed their work was licenced under a plan permitting “sustainable” tree-cutting.

But the officials later concluded the papers referred to another patch of land 400 metres away – not this area next to a protected forest and an indigenous reserve.

This was a common ploy, said Sebastiana Almeida, a forest engineer in Rondônia’s environmental development agency. “With that document in their hands, they steal wood from inside the protected area or indigenous reserve,” she said.

People in Rondônia – 43% of whose territory has been deforested – largely agree on two things: that they will vote for Bolsonaro, and that the state is getting hotter and drier.

Government data backs that up. Average annual temperatures in the northern part of Rondônia averaged between 26C-28C (79F-82F) in 2017, two degrees higher than five years previously. Annual rainfall has also fallen across the state.

“The weather is all confused,” said Wagner Matos, 37, an Uber driver in its capital Porto Velho, who blamed deforestation.

But congressman Onyx Lorenzoni, Bolsonaro’s probable chief of staff, disputes that global warming is a problem.

“There are things that are solid and there are things that are ideological,” he told the Guardian, before criticising Greenpeace for meddling in the Brazilian environment. “Brazilians will be in charge in the Amazon, my brother, not the Europeans.”

 Brazilians will be in charge in the Amazon, my brother, not the Europeans
Onyx Lorenzoni

Other Bolsonaro allies have called for more industry in the Amazon. Colonel João Chrisóstomo, a retired army engineer elected as one of the state’s federal deputies on 7 October for Bolsonaro’s Social Liberal Party (PSL) said the military should asphalt its dirt roads. “The environment can’t hold up development,” he said.

Better roads would please Rondônia residents like Sheila Barros, 44, who lives with her fisherman husband Adegilton Lopes, 44, and their two children inside the protected Lago do Cuniã reserve.

“There is no highway, no way to get our produce out,” she said. The reserve is just 70km (43 miles) from Porto Velho, but reaching it involves driving hours on dirt roads, two boat trips and a hair-raising motorbike ride down a narrow forest trail.

But Amazon history has shown that paving roads bring development and destruction to forest reserves like Lago do Cuniã, run by the government’s Chico Mendes Institute (ICMBio), which only allows small scale fishing and sustainable farming for 400 residents living beside a majestically beautiful lagoon home to alligators and flocks of birds.

Fisherman Mabel Lopes, 65, said that until the reserve was created in 1999, the lagoon was overfished by outsiders. Nowadays, he said, there is plenty of fish. Nodding at the lush forest, he asked: “Where else is there this much greenery?”

Bolsonaro says he will put an end to “environmental activism” by ICMBio, and the environment agency Ibama, and may fold the environment ministry into the agriculture ministry – whose chief will be chosen by the agribusiness lobby.

He has also promised help for artisanal miners known as garimpeiros , some of whom work illegally, dredging mud from Amazon rivers in search of gold – and in the process dumping tons of mercury and poisoning fish stocks.

On a recent afternoon, several wooden garimpeiro barges were moored on the River Madeira near the Lago do Cuniã. Two men manning the chugging pumps onboard one of the vessels admitted they were working illegally, and feared raids from Ibama – then said Bolsonaro’s promise to bring them “dignity and security” had won their votes.

“He promised he would legalise it, for us to work,” said Aroldo da Silva, 53, the barge’s owner, as a rainstorm whipped up the river. “He promised changes in the law.”\

Marcos Rocha, a retired police colonel from Bolsonaro’s PSL party who is leading polling for Sunday’s runoff vote for governor of Rondônia, also believes garimpeiros should be legalised because people needed to work.

 Aroldo da Silva’s garimpeiro barge.
 Aroldo da Silva’s garimpeiro barge. Photograph: Dom Phillips
“The garimpeiros and the loggers were the people who started our state, but today they are marginalised. There are many people in poverty,” he said in an interview. “We want to generate riches and income for our country.”

The Amazon needed “more industry”, he said, before suggesting the planet’s alarming temperature rises could be cyclical and naturally occurring.

Rondônia’s state’s current governor Daniel Pereira and its state legislature are locked in judicial deadlock over 11 new forest reserves created by his predecessor and then overturned by state deputies. Rocha sided with lawmakers and said people squatting on protected reserves should be allowed to stay.

Some of those squatters live on Jaci Paraná, a state-government run reserve around 100km (62 miles) from Porto Velho which only permits sustainable, small-scale agriculture by members of a cooperative. Cattle are prohibited, but the reserve has been widely deforested by ranchers.

Last week, a group of state environment officials toured the reserve with an armed police escort. They stopped by a wooden farmhouse surrounded by grazing cattle, where Jessica da Silva, 23, was sitting with her two young children while her husband, Alex dos Santos, tended the herd.

 A Rondônia state environmental protection officer Nei Peres looks over a deforested section of land in Jaci Paraná reserve.
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 A Rondônia state environmental protection officer Nei Peres looks over a deforested section of land in Jaci Paraná reserve. Photograph: Dom Phillips
Da Silva said she was not planning to vote because she is registered in another town but that her husband would vote for Bolsonaro.

Further down the dirt road, they passed a motorbike whose pillion rider was carrying a chainsaw in his lap. Officers waved the bike over and approached, but before they had got far with their questions, the passenger made a dash for the undergrowth. One of the officers fired a shot and the man was brought back in handcuffs – but he was later released.

Nobody pays much attention to environmental laws here.

Ednesio Diogo, 51, and Jonas Dantas, 22, were cooking lunch beside the frame of a wooden house they were building when the officials arrived.

Diogo said the house was for his son, Wallan, 21, who had been given the land where he planned to raise cattle, plant coffee and build a fish nursery.

When environmental protection officer Nei Peres told the men, that they were there illegally and would have to leave, Diogo just nodded. Both men said they’d be voting for Bolsonaro.

On Saturday, Ibama vehicles were set on fire in Buritis, a day after ICMBio agents on an anti-deforestation mission were left stranded when locals torched a bridge in Pará, another Amazon state.

Brazil’s new war on its forests and those who defend them has already begun.

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